25 de set. de 2009

A Delegada da Pracinha

Não sei direito o seu nome Nisia ou Anisia. Era mulher de um senhor que conhecíamos como Baio - Aquele senhor que trabalhava no Porto.
A Delegada da pracinha. Assim é que a chamávamos devido ao seu cuidado com os bancos e tudo o mais que fizesse parte daquela praça. Já naquele tempo ela exercia seu direito de cidadã afugentando os moleques que tentavam bagunçar o patrimônio público. Uma senhora com espírito inquieto e sensível a proteção ambiental, numa época em que, praticamente, não se falava em ecologia. A hoje, quase centenária árvore, plantada no centro da nossa pracinha era sua protegida favorita. Ai, de quem ousasse se dependurar em seus galhos! Por detrás da janela de sua casa ela observava tudo e botava pra correr a molecada que, propositadamente, subia em sua copa. A antiga casa já não existe mais. Mas a sua vigília e a sua perseverança foram ingredientes indispensáveis ao florescimento da árvore que considero símbolo da praça Souza França. Sem o cuidado daquela senhora talvez ela não resistisse às peraltices da garotada, de pés descalços, livre e solta daquela década. São muitas as gerações que, até hoje, se abrigam sob a sua sombra. Embaixo de sua copa passaram as confrarias de amigos, o esquenta para os bailes do clube 3 de maio e os incontáveis namoros com direito a coração e flecha de cupido gravado, à canivete, em seu caule. Ela fomentou as reuniões de nascimento e acompanhou o amadurecimento do maior bloco carnavalesco de rua do carnaval lagunense- O Bloco da pracinha- e as diversas idéias que atravessaram o tempo e culminaram nos eventos que se instalaram, em definitivo, no calendário turístico da cidade. Dona Nísia ou Anisia deve estar cuidando de árvores iguais a esta, no paraíso, junto a Deus. E a sua árvore é a imagem do cotidiano, refletida na liberdade de pensar e fazer de uma gente vizinha a pequenina pracinha, no coração do nosso Magalhães.

11 de set. de 2009

Salve-nos,Deus

Ontem, a praia de todos, lustrada por um sol imponente e bordada pela espuma que derretia ao quebrar das ondas me fazia lembrar o barulho do refrigerante que tomei à pouco. Fazia festa as nossas vistas. Hoje, no horizonte do Mar Grosso, sumido na névoa do tempo de chuva, surge um barco de pescadores e cria um ângulo de esperança. De repente, tenho vontade de ir ao encontro do barco. Caminhar por sobre as águas? Que loucura! Lá pelo lado do pontal os botos dão uma trégua ao trabalho e as baleias não se atrevem a nadar no canal. Gaivotas escorregam no céu, entre a neblina. Mergulham no nada e tem tudo. Gosto de vê-las. Elas lembram liberdade aqui no leste. Bem longe daqui, no extremo de nosso território, notícias de ferro torcido, casas destroçadas, arvores arrancadas.... noites sem luz. A natureza revoltada, protesta! Florestas sem árvores, rios sem água, atmosfera carregada. No choro do homem o desespero de quem tudo perdeu. A mão estendida da criança a clamar por comida. O lamento da mulher cujo filho desapareceu. Do poder, a promessa do auxílio e o dinheiro que não chega. No universo de nosso coração só tristeza e solidariedade. Um sentimento de impotência.
Mais um barco de incertezas surge do nevoeiro, no horizonte. Salve-nos, Deus