18 de fev. de 2024

A pílula da vida

Nesse tempo de informação virtual a educação está, forçosamente, a passar por uma revolução na sua maneira de ensinar. As crianças já nascem predispostas a interagir com o atual mundo cibernético que vivemos. Eu estou constatando essa verdade no convívio diário que tenho com meu neto,Henrique. Ele tem apenas cinco anos e já lê tudo; escreve a grande maioria das palavras. Navega pela internet nos sites de desenhos infantis e realiza pesquisa no google . Eu tenho que estar sempre preparado para suas perguntas. A vivacidade dele, às vezes, deixa o vovô atrapalhado. Dias desses estávamos sentados no meio da sala arrumando seus carrinhos e ele de repente começou a me olhar e chorar copiosamente. Eu, assustado, perguntei-lhe o que estava acontecendo. Ele falou-me que eu estava envelhecendo e que iria morrer. E ele não queria que isso acontecesse. Fiquei desconcertado, não sabia o que dizer diante de sua constatação. Achei que falar a verdade não ajudaria em nada, naquele momento. Emocionado pela preocupação do Henrique e penalizado por seu choro, falei-lhe que não chorasse mais porque os cientistas da Nasa estavam pesquisando uma pílula para que ,no futuro, as pessoas não morressem. Era a pílula da vida. Ele imediatamente deixou de chorar e me ouviu atentamente. Usei um artifício nada pedagógico para aliviar a dor do Henrique pelo sentimento da possível perda do vovô, e a minha de vê-lo chorar. No dia seguinte, entretanto, minha filha me telefona e pergunta da história, porque o Henrique havia anunciado aos amiguinhos da escola a grande descoberta. Falou aos colegas que iria dar a pílula para o vovô e seus pais. Ela ainda acrescentou que se sentiu na obrigação de contar ao Henrique que isso não era verdade. O fato estava consumado. O efeito colateral do remédio para choro, que eu havia dado ao Henrique se manifestara. Um dia após esse acontecimento o Henrique volta a me visitar e me fala o inevitável. A mamãe lhe dissera que a pílula da vida não existia e que tudo era fantasia. Eu lhe respondi que era verdade o que a mamãe lhe falara. Mas, também, expliquei que a ciência cria a cada dia remédios cada vez mais eficientes e avançados e que os cientistas estão permanentemente pesquisando novas maneiras saudáveis de viver e descobrindo formulas de remédios capazes de prolongar por muito tempo a vida das pessoas. E que num futuro muito próximo, talvez, a pílula da vida poderia ser uma realidade. E o vovô, então, poderia permanecer por muito tempo ao lado dele. Ele acenou positivamente com a cabeça e abraçou-me. Esse acontecimento mostra o quão importante são nossas atitudes para com nossos filhos e netos. Para eles nós estamos acima do bem e do mal. Daí nossa responsabilidade com o que dizemos e fazemos. Que Deus proteja a sagrada ingenuidade de nossas crianças e abençoe o meu Henrique.

3 comentários:

Anônimo disse...

Um miúdo sem imaginação será mais tarde um adulto intelectualmente pobre.

Duarte disse...

Parabéns, meu sogro, pelo belo ensaio.
Abraço.

Rodrigo Costa disse...

Parabéns Sr. Mauro!!
Muito bom.
Rodrigo Costa.