22 de nov. de 2008

Olha só

Olha só, essa chuva incessante a encharcar os nossos dias. Há quase um mês ela inunda os planos de fim de semana, afogando em definitivo a nossa paciência. A água dessa primavera é tanta que até as flores parecem não ter coragem de desabrochar. Dirigindo no trânsito ou com guarda-chuvas nas mãos livrando-se das poças d`água, parecemos malabaristas. È só parar para observar o quanto de equilíbrio necessitamos para sair de casa com tamanha quantidade de chuva. Por onde anda nosso sol? Por onde anda o fabuloso ocaso do entardecer lagunense? O lindo por de sol que me encanta e alimenta minha alma com a performance de sua poesia silenciosa desapareceu por trás das nuvens escuras carregadas Deve estar se guardando para descortinar depois de um dia desses morimbundo de chuva. Mas ele voltará radiante pendurado na primeira oportunidade azul de um belo dia. Então irei me deleitar, quando o por do sol regressar com seu manto suave la adiante por trás dos morros pintando a Lagoa com seus raios, feito pinceis; finalizando num lugar muito distante, inalcançável, para nós. E quando o sol deitar para dormir vamos torcer para que o tempo não nos roube mais uma vez um novo alvorecer. Na esperança que os dias permaneçam limpos e puros sem a possibilidade de perdermos mais um fascinante por de sol.

12 de nov. de 2008

A história se repete

Quando chegava com meus filhos para visitar maus pais em Laguna, nossa entrada era pela porta da cozinha; a pequena casa parecia solitária e grande demais para minha mãe e meu pai. Ela sempre se colocava junto á cabeceira da mesa. Tinha um olhar distante, um semblante pensativo e preocupado. Perguntava-lhe sorrindo o motivo da sua preocupação e tristeza; e ela falava com um meio sorriso no rosto e lágrimas nos olhos da sua apreensão com relação ao nosso futuro. Isto a mais ou menos trinta anos atrás. Confesso que não conseguia entender o motivo de sua tristeza. Somos sete filhos, e todos fomos saindo para cuidar de nossas próprias vidas, com esposas, filhos, maridos. Mas o tempo, como um mestre exigente, vai dia após dia ensinando a lição da vida. E hoje, tal qual minha mãe a trinta anos atrás, me pego com os olhos marejados e o coração apertado quando vejo meus filhos adultos arrumando suas coisas e querendo partir atrás de seu futuro. Agora a preocupação é nossa, os pais somos nós: eu e minha esposa. Companheira das alegrias e dos infortúnios. Eles saem por alguns dias e o apartamento fica imenso, silencioso. Nesse silencio dá pra ouvir o eco de crianças correndo, de adolescentes implicando, de adultos dividindo comigo suas dúvidas, seus problemas e tristezas. As lágrimas me enchen os olhos. Lembranças me levam ao passado. Lembro-me que quando li depoimentos, reportagens e vários outros escritos sobre o assunto, me sentia preparado para o momento, mas nada se compara ao fato em si, ao instante em que se vive a realidade. Então me vem a mente o velho ditado que diz: “ os filhos não são criados para os pais e sim para o mundo”. Os nossos são três. Estão saindo, crescendo, querendo voar. “ Olá! Que cara de triste é esta? “ É minha filha sorrindo, com meu neto pela mão, entrando cozinha adentro vindo nos visitar. Convida-nos para sair e conversar. Tal como a trinta anos atrás, a história se repete.