29 de nov. de 2009

Tempo de sonhos

Quando ainda jovem eu imaginava que para mover as intrincadas engrenagens do mundo bastavam a palavra, carisma, ações pontuais, perseverança e, é claro, um pouco de sorte.Naquela época havia na cabeça da juventude sonhadora, um projeto de luta no horizonte. As portas da utopia mostravam-se escancaradas para quem quisesse entrar... Mas os anos foram seguindo e os sonhos, aos poucos, sendo substituídos pela realidade mundana. O inegável avanço tecnológico nos colocou diante dos equipamentos eletrônicos deixando-nos um tanto robotizados; e nós humanos, infelizmente, largamos de perseguir certos objetivos menos tangíveis.Num mundo globalizado e excludente caímos na luta diária pela busca do nosso sustento material. Exaustos, após um dia de trabalho, desistimos de ser inquieto culturalmente, e entregamo-nos, então, aos cuidados de um meio de comunicação direcionado e massificado. Devido a falta de incentivo a leitura e aos altos custos dos livros o gosto literário passou a ser um costume de poucos. Aos partidos de cunho socialista restou a delegação do viés político da consciência ecológica; enquanto a procura pelo alimento da alma restringiu-se a participação mecânica em alguns rituais de nossas devoções religiosas. O ser humano comum preferiu a segurança do coletivo a desenvolver seu potencial individual.Mas resta, ainda, algum sinal de fumaça desse incêndio de utopia, no coração de alguns poucos. E eles surgem através da Internet, por exemplo, nos blogs de informação que se contrapõem ao noticiário da grande imprensa. E nos blogs culturais com idéias e talentos, ainda, sem a luminosidade dos autores já consagrados.Estas manifestações continuam, também, nos movimentos religiosos que sempre pregaram a priorização dos valores humanos. Ainda assim, apesar de todas as suas contradições a humanidade sempre tem tentado acomodar-se as variações técnicas e sociais de cada época para encontrar seu rumo. E ela haverá de achar seu norte através do crescimento espiritual e da compreensão mútua. Se Deus quiser.....

12 de nov. de 2009

A Estrela do Mar

Ao chegar na sala de trabalho deparava com aquela criatura de poucas palavras e um jeito carinhoso e doce no trato com as pessoas. Compenetrada nos seus afazeres ela tinha sempre um sorriso alegre em seu rosto. Fiel a sua descendência, cursava na universidade o italiano, e ainda nas horas vagas atendia as encomendas de echarpes -habilidade cujas colegas descobriram que possuía. -Maristela! Tu sei bella. – Eu a saudava ao encontrá-la no serviço. Ela respondia olhando-me com alegria e estampando um largo sorriso em seu rosto. Essa saudação virou quase um mantra que se repetia em determinados momentos de descontração naquele saudável ambiente de serviço. Tempos mais tarde, quando da minha aposentadoria, eu havia adotado o hábito de eventualmente passar no antigo local de trabalho para rever os colegas que por lá permaneciam. E numa dessas casuais visitas tomei conhecimento que a Mari- apelido carinhoso pelo qual era tratada - estava afastada, e também estivera hospitalizada, por motivo de doença. Procurei e liguei para o numero de seu telefone que uma colega havia me fornecido. Quando ela atendeu o telefone, eu a saudei: -Maristela! Tu sei bella. A identificação foi imediata: -Mauro! Como vais! -Eu vou Bem! Disseram-me que estivesse doente. -Sim, mas agora estou bem. Não te preocupas que eu não vou morrer, não! Notei um barulho de conversa ao fundo; e ela me disse, naquela oportunidade, que estava reunida com algumas amigas no seu apartamento. Colocamos a conversa em dia e nos despedimos. Aquela ligação me confortou. No entanto, meses depois Mari, infelizmente, foi hospitalizada novamente e veio a falecer com o diagnóstico de uma doença fatal. E eu fiquei a pensar o quão frágil é a nossa vida. É mesmo um pequeno sopro divino. Tem certas pessoas que nos deixam tão depressa! Será que elas vão ao infinito, em direção ao porto da eternidade? Será que elas correm naqueles campos vastos de verdes sinistros e flores campestres? Aqui nós ficamos sem entender essa partida e por mais que procuramos, nosso pouco conhecimento não nos fornecerá respostas para essas indagações. A mim, pobre mortal, só resta acreditar que a Estrela do Mar subiu ao céu para brilhar na constelação de Deus. Maristela!!! Tu sei bella.