7 de out. de 2023

Nossa rua Ramalhete





 No arquivo  da minha memória dos dias que já são saudades, fui abrindo  recordações  escondidas nas esquinas do passado! 
Pelas antigas ruas da cidade, tenho a lembrança de jovens colegiais desfilando entre os tapetes coloridos, sob a vigília das religiosas Irmãs da Sociedade Divina Providencia, na celebração da procissão de Corpus Christus.
Acompanhadas por olhares maliciosos de rapazes em uniformes do CEAL, elas seguravam seus vestidos protegendo-se do atrevido nordeste que soprava, ruidosamente, a rua da "Paixão", e sacudia as palmeiras reais do Jardim.
Sobre o  muro do colegio Estela Maris, nas tardes ensolaradas de verão, o namoro despretensioso e sem aparente razão, era trocado em bilhetes cheios de frases que tocavam o coração! 
Na pasta do arquivo referente a eventos escolares, está gravada aquela  conturbada aula pratica de  Quimica onde a professora Isabel, ao manipular os elementos da experiencia, queimou os dedos.
O fato não teria acontecido, se a equipe escolhida para redigir o jornal Alvorada, não tivesse se reunido, na noite anterior no laboratório de quimica, acompanhada do famoso "limãozinho" trago por um colega, escondido na garrafa de café! 
Até hoje não se soube quem, inadvertidamente, misturou as substancias da reação quimica que causou o acidente!
E naquela mesma noite, que por coincidencia antecedia a comemoração do dia do Estudante, houve tambem uma "encenação religiosa", realizada pelos incautos colegas no altar construido no interior do CEAL, para a Celebração da missa do Estudante.
Tal fato chegou aos ouvidos do Padre da Paroquia que desabou um ruidoso sermão aos fiéis na missa de domingo, contra a heresia praticada por aqueles alunos  infieis!
Isto foi a gota d'água para um posicionamento mais firme da direção do estabelecimento que  determinou a suspensão ás aulas, por tres dias, de alguns "redatores" do então jornal Alvorada, e a decretação do fim das proximas edições pelo, então, diretor, professor Rubens Ulisséa.
O Alvorada era um apanhado de conhecimentos de diversas areas da cultura e da ciencia, anualmente elaborado pelos alunos do terceiro ano do Científico, cujo destino final seria a biblioteca do CEAL, onde existia um acervo cultural, caprichosamente, cuidado pela Olga ( Olguinha), zelosa funcionaria daquele importante recinto!
Mais uma fustigada no arquivo da  memória e vem a baila a gazeada da prova de Fisica, que aconteceria naquela tarde, ministrada pelo então, Mestre Sergio ( in memoriam), hoje no Oriente Eterno 
 Um colega de Turma, chegou anunciando,  ruidosamente, aos quatro cantos do CEAL, que as alunas internas do Estela Maris estavam se banhando na praia do Mar Grosso.
Todos, sem exceção, colocaram seus materiais embaixo do braço e rumaram, pelo morro da Carioca, em direção a praia.
Infeliz engano! Fomos traidos pela meia informação; a praia que elas teriam ido seria a da Tereza, onde existia uma espécie de retiro das Irmãs do Colégio.
Tivemos que estudar dobrado o resto do ano, para superar o Zero tomado pela turm.
Na parte da memória que estão guardados os eventos sociais a lembrança  dos bailes onde o conjunto musical The Claytons, embalava nossos sonhos no ritmo quente das canções das antigas "paradas de sucessos".
A cuba-libre da coragem  em nossas mãos era o bálsamo milagroso para chegar nas meninas com o convite decorado, tal como um refrão:
-- Muito prazer! Vamos dançar?
De rosto colado e atento a canção, falavamos coisas no ouvido de  faze-las tremer dentro do vestido.
Isso, quase sempre, era o estopim de um namoro que continuava nas badaladas "festinhas americanas" onde deixávamos rodar, a todo  volume, o som dos Beatles  no toca discos á pilha  (novidade tecnológica da época), dançando e sonhando com a esperança de um dia, quem sabe, eles viessem aqui para cantar as canções que a gente sempre quer ouvir! Anos dourados que antigos jovens de cabelos prateados  nunca conseguirão deletar de suas memórias.

24 de jun. de 2023

Filosopapiando


O tempo, apesar das divisões que criamos para limitá-lo, não para. Ele segue em direção ao infinito sem descontinuidade. Então o ano novo já nasce velho. Os períodos e os ciclos, inventados pelo homem, são partes de tempo com validade limitada. Para nós, tudo está colocado num intervalo entre um inicio e um fim. Esses intervalos de tempo, vitais a nossa condição humana, são condicionantes criadas pelo homem, para melhor suportar o intolerável para nós humanos; a continuidade ininterrupta da vida. A limitação é da natureza do ser humano. Assim é que somos dotados de visão para enxergar somente em três dimensões e ouvir as ondas sonoras em determinada faixa de freqüência. E, talvez, por estarmos presos aos limites, temos dificuldades em conceber o universo sem fronteiras. O ilimitado, o infinito. É difícil pra nós, entender que o universo não é só grandioso; ele é infinito. Então, essa necessidade de partição do tempo em ciclos, para nos proporcionar sempre um recomeço. Isto sugere uma renovação de nossas esperanças em algo que pode ser melhor. E, essa sensação esperançosa de começar de novo, é o combustível que alimenta nosso ser para seguir adiante a vida. E a vida, por sua vez, é um sopro divino do criador ou uma multiplicação de células acontecidas ao acaso, num ambiente propício qualquer, como quer a ciência? Este é o grande ponto de interrogação que paira sobre nossas cabeças. Um mistério que desafia a inteligência de pobres mortais, como nós, e nos mostra nosso tamanho. É ai que o sentimento humano nos faz retornar para o nosso observatório cotidiano e nos coloca no nosso verdadeiro lugar para constatar com simplicidade, que chegamos nessa vida sem nada e iremos partir somente com nossas roupas surradas. Também, nos faz refletir sobre o refrão da canção que diz: Todos os dias é um vai e vem. A vida se repete na estação. Tem gente que chega pra ficar. Tem gente que vai pra nunca mais. Tem gente que vem e quer voltar. Tem gente que vai e quer ficar. Tem gente que veio só olhar. Tem gente a sorrir e a chorar. E assim chegar e partir são só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida. A plataforma dessa estação é a vida. E, finalmente pensar, que viemos para o mundo sem pedir e um dia iremos embora sem querer. Por isso devemos aproveitar, com sabedoria, esse pequeno intervalo.

Reflexão




O vento da esperança sopra em tua direção, menino obreiro da justiça e da igualdade; e o facho de luz que te orientou no caminho do bem e da ventura, continua a brilhar no coração daqueles que persistem na tua fé.
Lutastes bravamente tentando mudar os conceitos elitistas então vigentes, e tornastes escravos em homens livres e, arrogantes senhores em cidadãos, simplesmente.
A semente que plantastes no oriente gerou a árvores cujos frutos alimentam a numerosa legião de espíritos cristãos oriundos dos diversos segmentos sociais espalhados pelos quadrantes da terra.
Ergueram-se templos em tua memória e tuas sábias palavras foram perpetuadas no livro sagrado dos teus ensinamentos.
Mas, embora consistente, a lição de fraternidade que nos deixastes, ainda conflita com o sentimento de cobiça e de poder dos homens de nossos dias, onde a humildade e a tolerância vivem à margem de nossa sabedoria.
Os teus ensinamentos, mestre, desafiam os tabus e preconceitos impregnados na nossa inteligência, fazendo-nos eternos aprendizes daquilo que deveria ser atributo da natureza humana.
No entanto, tamanha é a verdade de tua pregação, que os dois milênios que a separam de nossa atualidade, em nada altera a extensão e o apelo de seu conteúdo, tornando-a cada vez mais necessária, aos desígnios da humanidade.
E hoje, mensageiro da paz e da concórdia, quando os sinos dobrarem nos campanários das igrejas a festejar a tua data natalícia, nós te presentearemos com o gesto que exaustivamente nos ensinastes; nos confraternizando e desejando uns aos outros, Feliz Natal!
Feliz Natal, Leitores do blog papodaesquina.