13 de out. de 2010

A terra comprometida

Na linha abaixo do equador nossa república desafia a inteligência do mundo com uma democracia exuberante mas um enredo de decisões dos seus poderes constituídos, capaz de deixar boquiaberto até mesmo os mais céticos dos cidadãos. O povo ordeiro e obediente assiste a tudo conformado e paciente, na esperança de uma eleição renovadora do pensamento político vigente, capaz de mudar a relação e as práticas das lides partidárias. Mas os atropelos se sobrepõem um ao outro demonstrando a falta de liderança nos poderes e uma disfarçada interferência na independência dos mesmos. As soluções simplistas encontradas, em equações de ultima hora, para a resolução dos problemas só complicam ainda mais, o processo democrático. É assim que a três dias do pleito, a justiça eleitoral decide pela não obrigatoriedade da apresentação do titulo de eleitor, durante a votação. Interessante ressaltar que tal documento, é obrigatório em quase todos os passos importantes da vida civil do cidadão. Ele só não o é, para a finalidade primeira para o qual foi criado. Do mesmo modo a instância superior de nossa justiça não teve dentes para barrar a candidatura dos eternos abutres da política, decepcionando a sociedade no empate dos votos de seus ministros no julgamento do processo de um candidato com provas incontestáveis de corrupção. Cabe aqui acrescentar que o presidente da corte negou-se a usar da prerrogativa do voto minerva. Essa indecisão da nossa justiça jogou por terra o melhor acontecimento dessa eleição: a lei da ficha limpa. Mas, por outro lado, a mesma justiça afiou sua garra para o candidato palhaço, que abocanhou a maior votação que um deputado federal já conseguiu em nossa república, tentando desqualificá-lo com o argumento de seu presumível analfabetismo. Tal comportamento revela o quão poderosa é a arma do deboche e do humor no país onde o palhaço/deputado federal, mais votado, chega a ameaçar o sistema. Com todo esse repertório hilário de acontecimentos e ações corruptas que aparecem nos noticiários políticos, quem conhece e representa melhor o Brasil profundo do que o palhaço/deputado federal, hoje na política? Chama a atenção, também, o elitismo suspeito nesse preconceito contra o suposto analfabetismo do palhaço. Quem melhor que um analfabeto ou semi-analfabeto para representar os milhões de mal educados do país? Se assim não fosse, certamente, o projeto equilibrado baseado nos valores políticos e no desenvolvimento sustentável de uma candidata ex-seringueira lá do Acre teria aval da sociedade já no primeiro turno dessas eleições presidenciais. O que restou pra nós foi uma decisão, em segundo turno, entre duas correntes de pensamentos opostos que se digladiam nas emissoras de radio e TV, com acusações pessoais e políticas, sem apresentar seus programas de governo. O que se conhece até agora é que uma dessas correntes tem caráter centralizador e prima pela presença estatal nos setores que considera de importância vital para a independência econômica do país; enquanto a outra, de tendência liberal, defende a descentralização do poder e uma maior participação do capital estrangeiro em todos os segmentos nacionais. A nossa sorte já está lançada. È só votar e esperar pra ver.