16 de ago. de 2012

A partida




O leito sereno da Lagoa refletindo o casario do mercado e dos barcos ancorados nas Docas foi a ultima imagem de Laguna, antes de tomar o ônibus, que me levaria a Florianópolis.
A rodoviária era um prédio, já demolido, situado entre as Docas e os casarios da rua Gustavo Richard; onde, hoje, está o canteiro central da rua que termina na rotatória em frente ao prédio do antigo cine Mussi. 
Na partida meu sentimento era um misto de medo e angustia. Minha decisão representava um desafio para um jovem sem qualquer experiência. Mas eu precisava me aventurar. O mundo no qual vivia era pequeno para meus sonhos.   Foi assim que deixei para traz a segurança do convívio com os pais e irmãos e fui atrás dos desafios.
 Foram quase cinco horas de viagem na estrada de chão batido e empoeirada que me levaria ao desconhecido. Guardo tão bem comigo, nos  mínimos detalhes, a minha chegada a essa cidade.
O mar manso a um todo sol, a ponte Hercilio Luz dando passagem aos Opalas Comodoro, aos Dodges,  às Brasílias, às Variants, aos Fuscas... As placas nos bares anunciavam a Cola-Cola. Das fotografias daquele dia que carrego na memória, a mais perfeita na lembrança foi a da parelha de barcos, dos clubes de remo, que competiam embaixo da ponte e o morro da Cruz ao fundo, parecendo uma muralha que protegia a cidade.
Tenso mas disposto a enfrentar a vida  pressenti meu espírito alimentar esperança para com aquela nova realidade e com o ano de setenta e um que se aproximava.  Era certo que amanheceriam dias dourados.
O tempo passou e até sou feliz...  lógico que a vida é igual em qualquer lugar do mundo.  O tempo faz nossos dias oscilar entre  calmarias e ventanias.  E se quisermos sorrir e enxergar um mundo com mais cores é preciso fechar os olhos e sonhar com otimismo. Só então os ombros sentem mais leve o fardo – até nos entardeceres.
Assim, daquele ano de setenta e um em que se ouvia no radio a canção “detalhes” de Roberto Carlos -  dali em diante esta ilha de nome Florianópolis fortificou-se demasiadamente em mim, e quando, pela BR-101, volto de visitar, a minha querida Laguna e avisto a Ponte Hercilio Luz, tenho em mim a deleitosa sensação de não ser despovoado comigo, porque o meu encantamento é, também, de primeiro grau por esse lugar, por essa cidade,  por essa vida.

O que escrevo não tem rima nem verso. Tem somente o olhar, da alma, que empresto.

17 de jun. de 2012

Conversando com Antonio


É junho, Antonio! Chegamos de todas a partes para te reverenciar. Unidos pela tradição e pela fé  nos sensibilizamos com a beleza da tua  imagem. Porque tu és o Antonio dos Anjos da Laguna, a quem nossa devoção vai além dos limites das religiões.
Nós te pedimos, Antonio, que intercedas junto ao criador para acabar com nossos infortunios e com aqueles que afligem nossa centenária cidade. Suplicamos, através de nossas preces, um melhor destino para nossa sociedade.
O tempo é de promessas, Antonio! Pelas ruas e praças da cidade os profetas da demagogia anunciam um tempo de prosperidade. Falam de projetos mirabolantes e de uma majestosa ponte que haverá de sanar, de vez, com os problemas de desemprego e de infraestrutura que afligem nossa cidade.
Tu ouves, pacientemente, todas as promessas e preces e o teu rosto parece disfarçar um sorriso de esperança. Pois sabemos, Antonio, que somente tu serás capaz de construir a ponte que unirá nossos corações e nos conduzirá ao reino dos céus.
As tuas trezenas rezadas em latim e entoadas em gregoriano pelo teu coral, ecoam pelo jardim Calheiros da Graça e pelas ruas da laguna. Um espetáculo único, de celebração, jamais visto em outras catedrais.
Agora, venha Antonio! Vamos passear pelas ruas frias, do inverno, da Laguna. Nós te acompanharemos neste translado iluminando teus passos com fogos de artifícios atirados dos quintais de nossas casas. Eles brilharão no céu escuro da noite de junho ao tempo em que a banda musical entoará hinos de louvores em tua homenagem.
E no final da caminhada, um ultimo aceno ao povo. E a certeza que a tua mensagem de paz e fraternidade permanecerá viva no coração daqueles que persistirem na tua fé.

21 de mai. de 2012

O que será do amanhã



Para uns o mundo vai acabar. Outros dizem que, no futuro, ele será bem melhor. E a discussão sobre a continuidade da vida no nosso planeta está longe de terminar.

O certo é que a matriz energética responsável pelo desenvolvimento humano foi baseada  somente no aproveitamento dos nossos recursos naturais. E o aumento da população aliada ao progresso científico e social dos povos está a exigir maior capacidade de produção de energia.

Os cientistas alertam para o aumento da temperatura do planeta, o degelo das geleiras, a poluição dos rios e o aumento do nível e da acidez das águas dos oceanos. Mas nada de concreto é realizado em benefício do meio ambiente. A extração desses recursos continua num ritmo nunca visto. A tecnologia é utilizada na consecução de máquinas eficientes e produtivas capazes de extrair grandes quantidades de recursos.  O que está resultando em grandes áreas de florestas devastadas e extração de toneladas de minérios em espaços de tempo cada vez menores.

Onde e quando iremos parar?

Se as pesquisas relativas a fontes alternativas de energia caminham a passos lentos. E os fóruns mundiais de debates sobre problemas ambientais, por sua vez, sempre resultam em esvaziamento das pautas de debates sem um compromisso de comprometimento das nações, para o encaminhamento de soluções. Os interesses das grandes corporações e dos governos vão de encontro aos tratados propostos por essas convenções que aconselham a exploração racional dos nossos recursos naturais visando um desenvolvimento com mais sustentabilidade. 

Os apelos dos ambientalistas, quase sempre, não são levados a sério e invariavelmente esses profissionais são rotulados de eco-chatos sendo, inconvenientemente, colocados numa posição de marginalidade.

O planeta terra, um templo de vida consagrado por Deus, e dedicado especialmente a vida humana, não pode mais esperar. Ele precisa, urgentemente, de uma mão defensora do seu propósito maior; a de garantir a continuidade de nossa espécie.

Estamos, novamente, no limiar de uma nova era. A espera do aparecimento de uma personalidade marcante,  com vontade e coragem suficiente de chutar o balaio de mercadorias de procedência duvidosa, dos vendilhões do nosso templo.