Simplício era um sujeito muito sabido. Como dizia minha avó- uma pessoa
muito letrada. Sabia e explicava tudo
com tanta desenvoltura que deixava os mais desavisados, a sua volta, com cara
de perplexidade. Gesticulava e falava muito para fazer valer, a todo custo, seu
ponto de vista. Era bonachão, mas ingênuo, ao ponto de tomar como verdade, as
histórias criadas por sua imaginação.
Sua voluntariedade o tornara inconsequente. Sempre disposto a ajudar, mas na hora errada.
Sua voluntariedade o tornara inconsequente. Sempre disposto a ajudar, mas na hora errada.
Certa vez quando saiamos de uma prova na Universidade, ofereceu-me
carona. Tentei evitar, mas não tive como
recusar.
No volante, ele passou o tempo todo discutindo as questões. O pior é que as suas correções não batiam em nada com meus resultados. Eu, literalmente, tinha me ferrado.
No volante, ele passou o tempo todo discutindo as questões. O pior é que as suas correções não batiam em nada com meus resultados. Eu, literalmente, tinha me ferrado.
Menos mal que ele teve que passar numa oficina para regular as portas
do carro. Era inicio dos anos 70. O sabido tinha um DKW-Vemag- motor dois
tempos. Fazia uma fumaceira danada e as portas abriam no sentido contrario as
dos carros de hoje.
Ao chegar a mecânica deparou-se com um rapaz debruçado sobre o motor de
um carro tentando recuperar alguma coisa que teria deixado cair. Ele não conseguiu se segurar. Sem ser
solicitado, foi logo dando palpites e oferecendo sugestões para o rapaz
recuperar a porca da bateria que havia caído naquele labirinto de ferro.
Pega um arame e faz um gancho na ponta- dizia ele. Foram muitas as alternativas
de recuperação, geniais, ditadas por Simplício, sem nenhum resultado.
Encostado na mureta do galpão eu observava o espetáculo proporcionado
pelo letrado. O rapaz não sabia mais o que fazer para se livrar daquele
intruso.
Foi quando surgiu de dentro da oficina um senhor com cabelos,
totalmente brancos, usando um guarda-pó azul. De poucas palavras e atitudes firmes
tomou em suas mãos uma chave de fenda grande e encostou aos polos de uma
bateria. Ouviu-se um estalo seco. E, fez-se um silencio insuportável... Enfiou,
em seguida, a chave pelo bloco do motor e trouxe, na ponta da chave, a peça que
estava perdida.
Desconcertado, Simplício, finalmente, calou-se.
Visivelmente nervoso, cruzava e descruzava os braços. Não se conformara
com aquela cena. Encontrara alguém que sabia mais que ele.
Alguém se aproxima para lhe avisar que seu carro estava pronto.
Acertou as contas e seguimos em frente. Simplício, ainda meio pensativo, passou a
falar de futebol. Finalmente, sentiu que não era o dono da verdade.
Ainda bem que o resultado das questões da sua prova não bateram com
a minha. Ele saiu-se muito mal.