O leito sereno da
Lagoa refletindo o casario do mercado e dos barcos ancorados nas Docas foi a
ultima imagem de Laguna, antes de tomar o ônibus, que me levaria a Florianópolis.
A rodoviária era um prédio, já demolido, situado entre as Docas e os casarios
da rua Gustavo Richard; onde, hoje, está o canteiro central da rua que termina na rotatória
em frente ao prédio do antigo cine Mussi.
Na partida meu sentimento era um misto de medo e angustia. Minha decisão
representava um desafio para um jovem sem qualquer experiência. Mas eu
precisava me aventurar. O mundo no qual vivia era pequeno para meus sonhos. Foi assim que deixei para traz a segurança do
convívio com os pais e irmãos e fui atrás dos desafios.
Foram quase cinco horas
de viagem na estrada de chão batido e empoeirada que me levaria ao
desconhecido. Guardo tão bem comigo, nos mínimos detalhes, a minha chegada a essa
cidade.
O mar manso a um todo sol, a ponte Hercilio Luz dando passagem aos
Opalas Comodoro, aos Dodges, às
Brasílias, às Variants, aos Fuscas... As placas nos bares anunciavam a
Cola-Cola. Das fotografias daquele dia que
carrego na memória, a mais perfeita na lembrança foi a da parelha de barcos,
dos clubes de remo, que competiam embaixo da ponte e o morro da Cruz ao fundo,
parecendo uma muralha que protegia a cidade.
Tenso mas disposto a enfrentar a
vida pressenti meu espírito alimentar
esperança para com aquela nova realidade e com o ano de setenta e um que se
aproximava. Era certo que amanheceriam
dias dourados.
O tempo passou e até sou
feliz... lógico que a vida é igual em
qualquer lugar do mundo. O tempo faz nossos
dias oscilar entre calmarias e ventanias.
E se quisermos sorrir e enxergar um
mundo com mais cores é preciso fechar os olhos e sonhar com otimismo. Só então
os ombros sentem mais leve o fardo – até nos entardeceres.
Assim, daquele ano de setenta e um
em que se ouvia no radio a canção “detalhes” de Roberto Carlos - dali em diante esta ilha de nome Florianópolis
fortificou-se demasiadamente em mim, e quando, pela BR-101, volto de visitar, a
minha querida Laguna e avisto a Ponte Hercilio Luz, tenho em mim a deleitosa
sensação de não ser despovoado comigo, porque o meu encantamento é, também, de
primeiro grau por esse lugar, por essa cidade,
por essa vida.