21 de set. de 2008

A terra vista de uma amostra

"Alguém pode dizer que é falta de assunto. Eu poderia escrever sobre as divergências quanto ao uso de grampos telefônicos, criticar a contradição da meca do capitalismo – que decidiu estatizar empresas privadas para salvar o que não tem conserto – ou falar das obscuridades da razão humana, tão claramente analisadas por Immanuel Kant. Poderia ainda dizer do estigma curitibano de fazer tempo bom durante a semana e chover, quase sempre, no sábado e domingo. E (por que não?) tecer esperança de uma primavera de dias ensolarados. Mas o tema que me comove é outro. Milhões em todo o mundo já viram o vídeo, outros milhões leram o texto. É assunto batido. Tudo bem, vá lá, mas numa época em que o mundo mergulha num oceano de crise sem saber a profundidade, nunca é demais tratar desses temas.
Trata-se de um texto/vídeo intitulado A Terra em Miniatura. Pode não ter lá o rigor científico – muitos dados têm mais de 10 anos –, mas nunca é demais. Mesmo que seja para lembrar que o planeta, muitas vezes, não é da cor que pintamos.
Mesmo que Iuri Gagarin tenha anunciado: "A Terra é azul".
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A Terra em Miniatura Se pudéssemos reduzir a população da Terra a uma pequena aldeia deexatamente 100 habitantes, mantendo as proporções existentes atualmente,seria algo assim: - 57 asiáticos- 21 europeus- 8 africanos- 4 americanos. - 52 mulheres- 48 homens- 70 não seriam brancos- 30 seriam brancos- 70 não cristãos- 30 cristãos- 89 heterossexuais- 11 homossexuais. - 6 pessoas possuiriam 59% de toda riqueza- 6 (sim, 6 de 6) seriam norte-americanos- Das 100 pessoas, 80 viveriam em condições sub-humanas. - 70 não saberiam ler, 50 sofreriam de desnutrição- 1 pessoa estaria a ponto de morrer e 1 bebê estaria prestes a nascer- Só 1 teria educação universitária- Apenas 1 pessoa teria computador- 40 pessoas não teriam acesso a água tratada. Restaria saber quantos são:
- os sem esperança
- os arrogantes
- os desprezados
- os sem escrúpulo
- os bons e os maus
- os sem destino.
Os.... Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Caetano Veloso"

Jornalista Célio Martins – Jornal a Gazeta do Povo – Londrina-PR

Aos leitores do papodaesquina um texto que considero de qualidade irretocável.

17 de set. de 2008

As possibilidades perdidas

Tomei conhecimento de alguns versos de um poeta mineiro chamado Emilio Moura. Era amigo de outro grande poeta, Carlos Drumond de Andrade. Se vivo fosse, teria completado 100 anos no mês de agosto próximo passado. Um desses versos, em especial, me chamou a atenção: "Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive". Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se realizaram. Por que sofremos tanto quando perdemos um ente querido?
Já que a morte é uma coisa inevitável e previsível da vida, o certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos convivido com uma pessoa, tão bacana, que nos proporcionou momentos agradáveis e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversarcom um amigo, para nadar, para estar com a pessoa amada. Sofremos não porque nossos pais são impacientes conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a eles nossas mais profundas angústias se eles estivesseminteressados em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos aexperimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: iludindo-se menos e vivendo mais.

6 de set. de 2008

Domingo

Mais um domingo. O primeiro domingo de setembro de 2008. Dia de sol, de almoço com a família, de shopping lotado. Na TV o anuncio de mais um futebol de uma seleção que não nos empolga mais. Dia em que também não passa nada que preste na mesma TV. E quem não tem TV por assinatura fica sem alternativa. Mas ainda bem que existem as locadoras: comédia, romance, drama, terror, documentário, temporadas de séries... às vezes, nada que combine com o domingo. Um livro pode ser a melhor saída, ou até a primeira escolha. Mas domingo também é dia de não fazer nada disso. Resolver ficar em casa no aconchego da família. Lá fora apenas o barulho dos carros e o vento a balançar a copa das arvores. Questão de opção, nada mais. Lembrei que pode ser dia de adiantar as coisas do dia-a-dia. Trabalhos, relatórios, releases, pesquisas... Ah! A internet voltou a funcionar. Vou dar uma expiada no papodaesquina. Domingo também é dia de navegar na rede mundial. Ainda bem que ela existe! Por outro lado, enche o saco. E como! Sempre achei e continuo achando o domingo um dia melancólico. Não tem jeito. Muitas pessoas já tentaram mudar essa minha impressão. Não teve jeito. Domingo é Dia das Mães, domingo é Dia dos Pais, domingo é Páscoa. Domingo é domingo e acabou. Mas feriado cair no domingo... ninguém merece! Domingo é dia de se reunir com os pais, do lanche com os amigos, de dormir até mais tarde, de sair da dieta. Domingo também é dia de ir ao Shopping. Não para uns conhecidos, que vão ao shopping todos os dias, só não no domingo. Estranho. Para os religiosos, ou não, domingo é dia de missa, dia de culto. Seja qual for a religião. Nas minhas retinas cansadas guardo a imagem das centenárias ruas da Laguna com as famílias caminhando em direção à Matriz. Cenas de domingo. Tenho certeza que todo mundo tem alguma registrada. Mas se isso tudo não basta, ou não agrada, acho que é melhor nem acordar no domingo. Domingo também é dia de dormir. É o que eu vou fazer agora.