30 de dez. de 2007

A Virada

E esses anos apressados que não param de passar! O ritual sempre se repete. Vestimos nossas roupas brancas, nos lançamos em lembranças de acontecimentos, de pessoas que passaram por nossas vidas, de empreendimentos concretizados, de desilusões..... E um momento de solidão nos arrebata a alma ao tempo em que a alegria dos fogos de artifícios traz efusivos abraços liberados nos estalos das rolhas de garrafas de champanhes. Promessas para santos, flores pra iemanjá, pula-pula de ondas na praia tudo com o intuito em alcançar objetivos próprios traçados em cima de nossos egoismos. Mas o tempo nos torna indiferentes sobre a magia das coisas. E não tem santo que me cure desse desatino repleto de vontades do tocar em frente, de buscar nos passos dados as promessas da caminhada. Por que agendar certezas, quando o próprio tempo, com seu andar milimétrico e sem ponteiros, é em si apenas o convite ao hoje? O jovem tímido, inquieto e dançante que mora em mim toda a vida parece me puxar pela perna da calça, vasculha alegrias nas fotos tiradas, revira papéis e mais papéis de palavras escritas, rasga dúvidas e tristezas, pede caneta, rabisca flores, e repousa os olhos no horizonte cheio de vontades sem limites. Cuidássemos mais da possibilidade de sermos felizes como cuidamos da ceia de natal, das bonecas e carrinhos, dos mimos, quem sabe a magia daria naquele lugar que os olhares que eu colhia alcançavam. Pois posso até ter minhas ressalvas sobre como muitos de nós, inclusive eu, lidamos com as verdadeiras importâncias. Mas não questiono nossa capacidade de voltar ao início das coisas e seguir adiante com o coração repleto dessas boas intenções - e o desejo verdadeiro de colocá-las em prática - que a maioria só se permite pensar contemplar e vivenciar em datas determinadas em um calendário. Que bom!... Se o balaio de nossas boas intenções estivesse permanentemente cheio todos os dias de nossa caminhada. Aí, sim! O reveillon, efetivamente, aconteceria. No tempo certo, na hora exata da virada interna.

11 de dez. de 2007

Dezembro

O mês dos balanços, de olhar para trás, do que foi bom e do que não foi. O mês dos planos, de olhar para frente e sonhar com tudo o que ainda pode acontecer. Planejar como se um novo ano signifique mais que novos nomes dados aos dias de nossas vidas. Como ocorre nos inícios, onde as máculas inexistem e o vislumbre é do belo e do bom, como um caderno em branco no início de um ano letivo, que sonhamos preencher com uma bela caligrafia todos os dias, sem amassados, rasgos ou rasuras. Talvez seja uma ilusão, mas é assim que vejo dezembro. É o mês dos araçás, dos butiás, das pitangas. Em dezembro, a grande novidade era o comércio abrir à noite. As Lojas, todos localizadas no Centro, abriam até as vinte e duas horas. Muitos iam às compras, outros somente para passear, paquerar, para se divertir. E havia o cine Mussi.Após as compras ou no final do passeio pelo centro, com a costumeira volta ao redor do jardim Calheiros da Graça, a parada obrigatória era sempre na Miscelânea. Considero uma bênção poder morar em Laguna, onde ainda se pode sair por aí, sem rumo certo ou propósito definido, pelo simples prazer de passear, sentir o cheiro do mar, ver a beleza de suas praias a imponência de seu centro histórico e ainda, extasiar-se no pôr do sol da Lagoa Santo Antonio dos Anjos. Entregue as lembranças, gosto quando me surge a oportunidade, principalmente em dezembro, de percorrer as ruas iluminadas de Natal de nossa cidade. Alguém teve a idéia genial de cortar o tempo em fatias, assim poetou Drummond.
E essa fatia de tempo que cabe a dezembro é toda dedicada ao Natal. Cada fatia de nosso tempo tem uma duração. Lendo ou escrevendo, o tempo voa. Em qualquer sala de espera, ou fila, os minutos somem magicamente pelas largas mangas do tempo e não temos como recuperar aqueles pedaços de momentos perdidos. Pensar resolver-se sem entender-se é pura perda de tempo. Ganhar tempo é ser ágil nas ações e conclusões. O tempo deixa os cabelos brancos, as rugas, e uma gordurinha a mais, mas a alma (ah! Essa sim!), continua atemporal. Continua no inicio das eras quando a vida fresca e orvalhada brilha à luz do sol do amanhã que sempre chegará. E o tempo de Natal é sonoro, cheio de gentilezas e enriquecimentos, quando os sentimentos do coração verbalizam-se. É tempo de semear amor, atenção, carinho, solidariedade. É tempo de sorrir, mesmo sem saber o porquê. É tempo de significâncias, quando reavaliamos nossa trajetória de vida, mudamos nossos rançosos pensamentos, e nossos olhares opacos, embaçados, reaprendem a brilhar, enxergam as pessoas ao nosso redor sob novo prisma e alongam-se na direção do horizonte em busca de novas manhãs. O tempo de Natal é alegre, musical, de solidariedade, de cumplicidade. É tempo de olhar o próximo e descobrir nele um filho de Deus igual a nós, o nosso espelho, a nossa face mais nítida, com compreensões diferentes da vida, com um modo peculiar de olhar os acontecimentos por ângulos que desconhecemos, mas nem por isso menos verdadeiros. É o tempo de mutações pessoais, de troca de energia, de incluir-se no mundo do outro e de excluir-se do egoísmo, da falsidade, do desentendimento. É tempo de sinceridade, de generosidade, de amorosidade não só com o nosso próximo: também conosco. É tempo de sabermos o quanto somos importantes na orquestra da vida, mesmo que apenas carreguemos as partituras.Que somos deuses, mesmo com nossos defeitos. Que somos amados por Deus, mesmo com nossos atos falhos. Que somos a suprema instância da maravilhosa criação divina , mesmo que queiramos nos destruir. E que jamais fugiremos ao destino que nos foi reservado: a felicidade! Feliz Natal, Leitores do papodaesquina!

5 de dez. de 2007

Pianorquestra e João Bosco

Uma hora e meia viajando pelas entranhas da musica popular brasileira. Um dos melhores sons da nossa canção aportou em Florianópolis , nesta quarta-feira. Foram quatro as capitais escolhidas pela Funarte e Petrobras para homenagear os 30 anos do projeto pinxinguinha: Vitória, Florianópolis, São Paulo e Porto Alegre. O show Pianorquestra e João Bosco empolgou os presentes no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina.
O grupo Pianorquestra formado por quatro pianistas e uma percussionista consegue transformar o piano em uma orquestra. Com o uso de objetos corriqueiros tais como luvas, correntes de metal, baquetas e até sandálias havaianas, reproduzem, sem qualquer efeito eletronico, sons similares a contrabaixo, guitarra, cavaquinho, e os mais variados timbres percurssivos.
O repertório, privilegia a nossa música popular brasileira, percorre o erudito e o popular, passeando por composições de Vila-Lobos, Claudio Santoro e Milton Nascimento, e ritmos de samba, coco, maracatu e ciranda.
Uma apresentação capaz de mostrar toda a expontaneidade e criatividade do musico genuinamente nacional.
Como se não bastasse para o espetáculo, João Bosco entra em cena e a platéia em transe musical, delira ao som de Papel Maché, Mestre sala dos mares, De frente para o crime, Dois prá lá dois prá cá, O bebado e o equilibrista, Perversa, Cabaré,.....
Cantor, violonista e compositor, João Bosco faz na voz e no seu violão a melodia parecer universal aos nossos ouvidos.
Um show para enaltecer ainda mais a competência de nossos musicos e ratificar a qualidade e diversidade do ritmo brasileiro.
A noite quente e chuvosa da capital me proporcionou a agradável oportunidade de assistir à apresentação inequívoca de um gênio de nossa canção popular.