24 de fev. de 2009

Lá vai..

Lá vai o bloco das multidões Getulio Vargas à dentro com gente de todas as tribos, de todos os credos, de todas as raças, de todos os cantos do país. A pequenina Pracinha se agigante com essa diversidade de estilos e cores. Bebem, pulam, confraternizam-se... Parecem astronautas flutuando no espaço sem gravidade, contagiados pelo universo do som das ritmadas canções baianas. Lá vai o bloco da Pracinha puxado pelo Trio elétrico. Nele está um pouco de nós um pouco de todos os vizinhos da Praça que o ajudaram a ser o maior bloco carnavalesco do sul do país. Um orgulho do carnaval lagunense, nascido e criado no nosso Magalhães. Êle já não exibe mais seu estandarte, orgulhosamente, desfraldado por uma porta bandeira franzina e muito conhecida de nossa comunidade que partiu sem dizer adeus. Mas o tempo sorriu e aliou-se a nós, tornando-o grande o bastante, para abraçar com seus tentáculos toda a rua Getulio Vargas. O povo se aglomera, se espreme nas calçadas, se dependura nos muros e se debruça nas soleiras das janelas. È muita a alegria que emerge da efervescente mistura de ritmo e satisfação em rever, no meio da folia, parentes e amigos que vivem distante e aparecem na melhor hora do nosso Carnaval. Ninguém se agüenta quando ele passa. Todos sacodem, gritam, exorcizam seus males, suas angustias. Lá vai ele tomando os espaços da rua em direção ao Monumento dos Trabalhadores. Símbolo da saga de uma gente desiludida, ludibriada por promessas insípidas que só vingam em épocas eleitoreiras. Lá vai o Bloco da Pracinha levando nossas alegrias e nossas fantasias. Lá vai o Bloco da Pracinha. Lá vai.....

14 de fev. de 2009

Porto solidão

Seria uma noite qualquer não fosse o lugar e o Luar. As pessoas passeavam, indiferentes, pela praia pisando a paisagem desnudada pelo clarão. Era uma imagem criada por um sonho. A Lua parecia uma medalha de prata brilhante pendurada no peito do céu do Mar Grosso. Lá estava ela, altiva e soberba com seu facho de luz iluminando nosso pedaço de Atlântico. Diva do seresteiro dos anos quarenta que por ela se encantou e do saudável romantismo da década de sessenta que a modernidade nos roubou ela também é testemunha das mudanças, dos fatos e das histórias que contribuíram positiva ou negativamente na formação do atual cenário sócio-econômico lagunense. Contemplá-la não é só um lampejo de nossa veia romântica; é também um exercício de reflexão e de lembranças. Uma viagem de volta ao passado. E eu, de repente, me vi pensando sobre o ciclo de acontecimentos que culminou na desativação do Porto de nossa cidade. È uma história que marcou a vida de todos os lagunenses e muito particularmente, a minha. Seu funcionamento envolvia um intenso movimento de estivadores a carregar os vagões com estoques do armazém central. Um vai e vem sem parar de duas locomotivas modernas movidas a óleo diesel que puxavam as cargas para cima do caís onde dois guindastes elétricos possantes as transportavam para os porões dos navios. Esse serviço, na maioria das vezes virava a madrugada com o pagamento de horas-extras aos trabalhadores, às custas dos armadores. Era uma fonte significativa dentre todas que ajudavam a movimentar a economia da cidade. Vítima da mesquinharia e da indiferença política, hoje, jaz, abandonado à sorte de uma retificação que não tem tempo de acabar. Mas ele guarda a saudade daqueles que partiram e a indelével marca dos que, por décadas, ali entregaram seu trabalho. Ainda ouço o barulho dos vagões sobre os trilhos, dos guindastes manobrando para suspender as cargas, do apito da locomotiva puxando o trem da saudade, dirigido por meu pai. O céu já é todo noite. A Lua, agora, vai alta iluminando a área escura e abandonada que restou de um Porto seguro. As ruas estão sozinhas sem vestígio de vida e me convidam a ir a lugar nenhum. Laguna...Praia.....Luar.....Porto solidão.