20 de ago. de 2008

Navegando

Não faz muito tempo que desse fato nada se ouvia falar. Em qualquer momento o assunto, agora, é corriqueiro. É Internet pra cá, Internet pra lá ! Num país com índices significativos de analfabetos o assunto predileto é a inclusão digital. Cria-se um mito por trás de uma novidade. Blogs, sites de relacionamentos, MSN, skape, IM, uma infinidade de invenções comunicativas. Tempos atrás ao falar com um atendente de um call center qualquer se ouvia a pergunta: Qual é seu telefone de contato? Hoje se pede o e-mail.... Sem ter noção que a maioria das pessoas sequer sabe o que é e-mail. Dia desses, observei uma cena intrigante numa agência bancária. Ao ajudar a preencher um formulário, a atendente esbarrou na pergunta do cliente: O que é e-mail? Aqui pede um “e-mail”, disse ele. A funcionaria explicou que era um tipo de carta eletrônica e ali deveria ser inserido o endereço dele. Notei que o homem ficou, um tanto, desconcertado. Mas ela não lhe perguntou se ele tinha entendido. Só quem nunca teve acesso, desconhece. Só mesmo vendo pra crer. É um mundo inexplicável para alguém que tenha conhecido as máquinas de escrever Remington e Olivetti. Entretanto é um mundo extasiante. Imagens e sons surgem a vista, num piscar de olhos. Países, cidades, vilas, pessoas e variedades inigualáveis. Viaja-se e desvenda-se um mundo desconhecido. Mas a despeito de toda essa parafernália virtual tecnológica a fustigar nossa inteligência, nada há de se comparar à visão real da diversidade de cores, cheiros e sons que a mãe natureza põe ao alcance de nossos sentidos.Nada se compara ao cheiro de terra molhada pela chuva, numa tarde de outono; ouvindo a conversa alegre de pessoas e a algazarra de crianças entoando a antiga cantiga de roda, que faz lembrar nossa velha infância

15 de ago. de 2008

Zé da Silva

Domingo de sol, céu banhado num azul de dar inveja a brigadeiro. Na praça principal da cidade, atônitos, ouviamos Zé da Silva, morador das marquises da cidade. Com a veia do pescoço estufada, nas pontas dos pés e o dedo em riste gritava para a platéia numa espécie de discurso-profecia, ele dizia, com a simplicidade de suas palavras, mais ou menos assim: “ O Brasil está passando por muita mudança no seu jeito político. E a nossa cidade, também. Algema não é mais só pra ladrãozinho pobre, não! Lá pra cima tão prendendo e algemando os bacanas corruptos. Pena que eles logo são solto por um bacana, importante, também. Mas tão prendendo! Mesmo que não acredita, os derrotista, um novo jeitão está presente. Aquela velha politiquinha de dar com uma mão e pegar com a outra está se acabando. O povo dessa cidade conheceu outro tempero na eleição passada, o tempero da consciência. Aqui nessa cidade a última eleição mostrou resultado diferente do que era esperado por muita gente que já tão aí na política a muito tempo. Não era sem tempo. Aí é que eu digo - essas eleições municipais pode trazer muitas surpresas! Nem será tanta surpresa se nossa cidade escolher o candidato sem aqueles vícios antigos, de preferência um candidato que não venha escolhido antes da gente escolher. Olha, estamos caminhando prá isso. As famílias daqui já perceberam que ficar esperando favor, com o pires na mão, é pura ilusão. Por isso é que os mais novos já estão escolhendo candidatos com jeito de fazer política, diferente; por isso é que os mais velhos já estão mudando de posição, saindo do conformismo e concordando com as idéias boas. Mas logo vão aparecer os compradores de votos, aqueles que de uma hora prá outra passa a cumprimentar todo mundo, prometer emprego, promover churrasco.etc. e tal - Eu troco teu voto por uma carrinho cheio de compras, um punhado de tijolos ou de telhas! Aquela mania politiqueira cansativa e sem imaginação." -E nesse momento Zé da Silva é interrompido por policiais que querem retirá-lo, de qualquer maneira, do local. Mas com a intermediação de alguns ouvintes e aos gritos de Fica ! Fica! Fica! do povo, ele permaneceu ali no seu discurso. "Por isso, continuou o Zé, é que eu digo que nossa cidade vai escolher de um jeito diferente; nada de cartas marcadas, o jogo tem que ser limpo. Mas a gente precisa ficar ligado. Se a gente ficar acreditando naqueles candidatos com promessa de mudança facil, só vai sobrar pra nós ficar vendo os urubus se fartando na carniça.” Foi quando alguém gritou do meio do povo: - Solta o verbo Zé da Silva! Então Zé terminou sua fala, gritando e batendo no próprio peito: - Eu sou madeira de dá em doido. Eu sou o Zé da Silva!