29 de jan. de 2009

Reminiscências

Era um cheiro, um aroma forte e bom. Quente como o verão lagunense. Ele entrava pelos cantos todos e hoje viaja pelos túneis de minha memória. Saía das muitas casquinhas de siri que se inventavam nos finais de semana. Para mim, ele começava antes, quando minha mãe se punha a amassar a farinha com a receita tradicional. Era um cenário completo, com personagens e gestos. Os elementos dessa narrativa não precisavam mudar. Depois dessa faina de organizar a mesa e amassar os ingredientes, as casquinhas eram colocadas sobre a mesa da cozinha, prontas para ir ao fogo. Quantas? Não sei, não saberia dizer, porque meus olhos se distraíam em meio à multiplicação das delícias, enfileiradas pouco a pouco na mesa, com minha mãe a pincelá-las com gema de ovo. Depois dos acabamentos elas se transformavam. Voltavam do fogão quentes e dourados, com muito brilho. Elas carregavam dentro da massa o carinho que minha mãe punha em todas as fritadas. Os amigos que visitavam a casa sempre saíam com esse presente possivelmente muito desejado por todos. A música andava também pelo ambiente, junto ao calor de tudo. Solidão nenhuma cabia por ali. Será que eu fantasiei um tanto cenário e personagens? Depois de tanto tempo, a memória ganhou licença para qualquer seleção imaginativa e livre. Talvez eu esteja me perguntando agora: “onde estão todos?” A vida anda. Os cenários mudam e também as personagens e cenários em nossas narrativas de vida.Mas a memória guarda aquela repetição que sempre cumpria o ritual da fundação do bem fazer, do espírito da comunhão. E ela sabia como ninguém preservar a família, a amizade e a união. Ouço suas risadas. Sinto o movimento da casa. Persigo pelo ar o cheiro das casquinhas. Ele ainda paira em minhas narinas. Vejo minha mãe andando pelo corredor ao lado da casa. Ela ainda acende a luz na caminhada da minha vida.

18 de jan. de 2009

Perdas e Ganhos

Pouca gente costuma levar a sério o antigo ditado popular. “Pra quem espera o tempo abre suas portas” Sempre se alimenta a esperança em algo que aguardamos....ao menos uma luzinha no final do túnel ( mais um) mas esse túnel não acaba nunca. Pra ver a luz mesmo, só morrendo pra nascer de novo, iniciando a vida novamente em uma outra realidade do tempo. O certo é que depois de anos na escola e cursinhos, faculdades e dificuldades (isso não foi um simples trocadilho), depois de anos e anos numa mesma instituição, numa mesma rotina, mesmos colegas e o stress dos chefes... ninguém agüenta! Então é chegado o dia de comemorar a independência seja lá do que for, o importante é comemorar, afinal resta pouco tempo, olha-se pra trás e faz-se o balanço das perdas e ganhos... Perdeu os cabelos, alguns ou todos os dentes, ganhou barriga, a alegria dos filhos, a preocupação com os filhos, ganhou umas entortadas na coluna,... à essa altura, com certeza, você já não é mais o príncipe que ela sonhou ....mas afinal, são anos investidos, então é melhor continuar a lavar suas próprias cuecas. Mas as reclamações por certo, continuarão com outras coisas banais quaisquer, não se faz necessário mencionar aqui a tampa do vaso sanitário essa já “Deu no saco!” ou então a atenção sem medidas, ao neto, deixando-o confiado demais. Enfim, uma infindável lista de impertinências caberia aqui. Então é olhar mesmo pra trás, imaginar-se lá com seus quinze aninhos novamente e sonhar tudo de novo. Mas agora com muito cuidado! Antes, é bom procurar ver se não existe um manual de instruções pra viver. É pra chorar ou pra rir?

9 de jan. de 2009

Informação

O papodaesquina está disponibilizando aos seus leitores a Barra de Vídeo onde é apresentado via youtube, videos de músicas nacionais e internacionais.

4 de jan. de 2009

Uma questão cultural

Seis de janeiro é lembrado como o dia que os três reis magos-posteriormente santificado no século VIII- teriam visitado o recém nascido menino Jesus. Na península ibérica, a data tem praticamente a mesma importância que o Natal. São 12 dias, a partir do natal até 6 de janeiro, que acontecem as apresentações dessa herança européia incorporada às nossas tradições populares chamada Terno de Reis. Ele, freqüentemente é associado à religião, e normalmente envolve cantigas, preces, toque de instrumentos de confecção caseira e artesanal, com tambor, pandeiro, reco-reco, violão, rabeca (espécie de violino rústico), sanfona, e muita cantoria. Além das bandeiras e estandartes que dão visibilidade a esta manifestação folclórica própria das nossas origens. Essa é uma tradição de origem luso-espanhola incorporada à nossa cultura popular. A vida moderna, através de suas facilidades, tem nos possibilitado o conhecimento de outras culturas que, de certa maneira, nos leva a negligenciar tradições centenárias trazidas por nossos ancestrais portugueses. A verdade é que a falta de incentivo, por parte de nossos órgãos de cultura, a esses grupos que representam a verdadeira expressão de nosso legado cultural desfavorecem a continuidade dos costumes. Mas o Terno de Reis, da localidade de Ponta da Barra da nossa Laguna, ignoram o descaso e resistem, heroicamente, continuando a fazer suas apresentações. Tempos atrás, esses grupos vinham para o bairro Magalhães e visitavam as casas cantando suas cantigas. Lembro-me bem que se aproximavam entoando uma canção que meu ouvido de menino jamais esqueceu do refrão: Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Eles chegavam à noite com essa canção de chegada, que de longe se ouvia, onde o líder do grupo pedia permissão ao dono da casa para entrar. Despertavam quem estivesse dormindo. Era servido café aos componentes pelo dono da casa. Na saída cantavam a canção de despedida que agradecia a acolhida e as doações. Feliz o povo que consegue manter vivo seus costumes e suas tradições. Por favor, salvem a cultura da nossa terra. Viva, o Terno de Reis, o boi de mamão e o pau de fita.