Eramos jovens entusiastas e jogávamos futebol quase todos os dias. Os campeonatos de finais de semana, no campinho (praça Polidoro Santiago) nos incentivava a prática das famosas peladas, disputadas nas tardes ensolaradas da Laguna.
Foi assim que aconteceu a fundação do Avenida. Time de futebol, pra lá de amador, da garotada da rua Getulio Vargas do nosso Magalhães. Eu , Marcio, Édio, Zelão, Edu, Gilmar e mais outros tantos vizinhos arrebanhados para formar a equipe.
Foram muitos os adversários que enfrentamos descalços e sem camisas. Até que um belo dia, alguém, não me lembro quem, apareceu com um jogo de camisas emprestadas. Foi uma festa. Toda branca, com faixas azuis na frente e números pretos nas costas. E o Avenida, muito incentivado, continuava sua saga futebolística com atuações irregulares e inusitadas; perdia quando achava que ia vencer e vice-versa.
Mas não demorou muito para o inesperado acontecer. O Tupizinho, time infanto juvenil do Tupi, uma equipe conceituada, com grandes atuações em campeonatos da cidade, do bairro Campo de Fora, convidou-nos para uma partida. Confesso que relutei, em aceitar, pois não tínhamos currículo e nem estrutura para tal desafio. Mas fui voto vencido.
E lá fomos nós, numa tarde de sábado, a pé, com o saco de camisas nas costas. O nordeste soprava tão forte, que na paixão, ao darmos um passo a frente ele parecia nos arrastar dois pra trás.
O campo do Barriga Verde, ficava onde atualmente é o Ginásio de Esportes, próximo ao nosso terminal Rodoviário.
Ao chegarmos jogamos as camisas ao lado da trave e sentamos para descansar da caminhada. O Tupizinho já estava lá, com aquele ar de superioridade. Nunca tinhamos visto tamanha organização. Eles tinham técnico. Era o Afonsinho! A beira do gramado faziam alongamento enquanto o técnico se preparava para dar instruções.Uma frescura geral. Um detalhe importante: o árbitro da partida eles trouxeram, a tiracolo.
Nós, do Avenida, apreciávamos aquilo tudo de longe. Até que, em dado momento, iniciamos o jogo. Começamos jogando a favor do vento, é claro. E logo nos quinze minutos iniciais inauguramos o placar- 1 a 0.
O Avenida usava uma tática de jogo que somente muito mais tarde os grandes times europeus viriam utilizar. Ninguém guardava posição e todos atacavam e defendiam. Coisa de louco!
Dez minutos para terminar o primeiro tempo fizemos o segundo gol e eles descontaram em seguida. Fomos para o segundo tempo vencendo de 2 a 1.
Eles não se mostravam muito preocupados com a desvantagem no placar. Afinal, tratava-se de um time experiente com muitas horas de futebol. E agora jogariam a favor do vento, iriam contar com o cansaço e a maneira desorganizada de jogar, do Avenida.
Mas a reação do Tupizinho demorou a chegar e aos quinze minutos para terminar a partida, fizemos o terceiro gol.
Ai, então o desacerto foi total; os craques do Tupizinho começaram a discutir; um xingava o outro e parecia que iriam a qualquer momento se agredirem; e o técnico, desesperado, não parava de gritar da beira do gramado.
Tinha uns auxiliares. È, os enjoados, tinham até auxiliares técnico! Um deles era o Edson(da Telesc) que foi embora, antes do jogo acabar.
Terminou a partida e a confusão entre eles era generalizada. Nós todos sentados próximo a uma das traves assistíamos a saída desastrada do Tupizinho. Sumiram de uma só vez por entre os grandes pés de eucalipto, que existia no campo do Barriga Verde. Esbravejavam e atiravam, aquela camisa amarela, na cara um do outro.
Saudades do Avenida. Era um grande time peladeiro.