29 de jul. de 2008

Um time chamado Avenida

Eramos jovens entusiastas e jogávamos futebol quase todos os dias. Os campeonatos de finais de semana, no campinho (praça Polidoro Santiago) nos incentivava a prática das famosas peladas, disputadas nas tardes ensolaradas da Laguna. Foi assim que aconteceu a fundação do Avenida. Time de futebol, pra lá de amador, da garotada da rua Getulio Vargas do nosso Magalhães. Eu , Marcio, Édio, Zelão, Edu, Gilmar e mais outros tantos vizinhos arrebanhados para formar a equipe. Foram muitos os adversários que enfrentamos descalços e sem camisas. Até que um belo dia, alguém, não me lembro quem, apareceu com um jogo de camisas emprestadas. Foi uma festa. Toda branca, com faixas azuis na frente e números pretos nas costas. E o Avenida, muito incentivado, continuava sua saga futebolística com atuações irregulares e inusitadas; perdia quando achava que ia vencer e vice-versa. Mas não demorou muito para o inesperado acontecer. O Tupizinho, time infanto juvenil do Tupi, uma equipe conceituada, com grandes atuações em campeonatos da cidade, do bairro Campo de Fora, convidou-nos para uma partida. Confesso que relutei, em aceitar, pois não tínhamos currículo e nem estrutura para tal desafio. Mas fui voto vencido. E lá fomos nós, numa tarde de sábado, a pé, com o saco de camisas nas costas. O nordeste soprava tão forte, que na paixão, ao darmos um passo a frente ele parecia nos arrastar dois pra trás. O campo do Barriga Verde, ficava onde atualmente é o Ginásio de Esportes, próximo ao nosso terminal Rodoviário. Ao chegarmos jogamos as camisas ao lado da trave e sentamos para descansar da caminhada. O Tupizinho já estava lá, com aquele ar de superioridade. Nunca tinhamos visto tamanha organização. Eles tinham técnico. Era o Afonsinho! A beira do gramado faziam alongamento enquanto o técnico se preparava para dar instruções.Uma frescura geral. Um detalhe importante: o árbitro da partida eles trouxeram, a tiracolo. Nós, do Avenida, apreciávamos aquilo tudo de longe. Até que, em dado momento, iniciamos o jogo. Começamos jogando a favor do vento, é claro. E logo nos quinze minutos iniciais inauguramos o placar- 1 a 0. O Avenida usava uma tática de jogo que somente muito mais tarde os grandes times europeus viriam utilizar. Ninguém guardava posição e todos atacavam e defendiam. Coisa de louco! Dez minutos para terminar o primeiro tempo fizemos o segundo gol e eles descontaram em seguida. Fomos para o segundo tempo vencendo de 2 a 1. Eles não se mostravam muito preocupados com a desvantagem no placar. Afinal, tratava-se de um time experiente com muitas horas de futebol. E agora jogariam a favor do vento, iriam contar com o cansaço e a maneira desorganizada de jogar, do Avenida. Mas a reação do Tupizinho demorou a chegar e aos quinze minutos para terminar a partida, fizemos o terceiro gol. Ai, então o desacerto foi total; os craques do Tupizinho começaram a discutir; um xingava o outro e parecia que iriam a qualquer momento se agredirem; e o técnico, desesperado, não parava de gritar da beira do gramado. Tinha uns auxiliares. È, os enjoados, tinham até auxiliares técnico! Um deles era o Edson(da Telesc) que foi embora, antes do jogo acabar.
Terminou a partida e a confusão entre eles era generalizada. Nós todos sentados próximo a uma das traves assistíamos a saída desastrada do Tupizinho. Sumiram de uma só vez por entre os grandes pés de eucalipto, que existia no campo do Barriga Verde. Esbravejavam e atiravam, aquela camisa amarela, na cara um do outro.
Saudades do Avenida. Era um grande time peladeiro.

14 de jul. de 2008

Um cidadão

Eis que, de repente, me encontro pensando em pessoas modestas de vida simples, sem destaques em grandes rodas sociais ou políticas, mas importante para o cotidiano das cidades. Dessas que geralmente são conhecidas por um codenome por não sabermos direito seu verdadeiro nome. Sem muita pesquisa e nem muito esforço lembrei-me de um lagunense nato, cidadão calmo, amigo de todos e um constante sorriso estampado no rosto. Tem em Antonio o seu nome de batismo. Funcionário publico federal aposentado; viveu os tempos áureos do Porto da Laguna. Colega de trabalho e amigo de meu saudoso pai. Ele é o Catarina. Assim é que o conhecemos. Seria, somente mais um lagunense se não fosse um cidadão trabalhador, dedicado a família e fortemente identificado com o nosso carnaval. Sua paixão e desprendimento o fizeram um mestre do samba para nossas gerações de carnavalescos. Com abnegação e humildade franciscana ele nos ensina como caminhar pela vida sem se deixar perturbar com a poeira e os buracos da estrada. Poderia ser um personagem de qualquer cidade, se quisesse, mas Catarina é lagunense. Seu vínculo afetivo e espiritual com o samba o fez fundar, junto com outros companheiros, a ex- Escola de Samba Mangueira e mais tarde viria ser também fundador da já consagrada Vila Izabel. Difícil esquecer sua maneira especial de tocar sua cuíca e o malabarismo no seu pandeiro à frente da bateria da escola. Benzia-se sem perder o ritmo do pandeiro e a cadência da bateria da Vila Izabel. Espetacular..... É dessas pessoas que parecem nascer determinadas para harmonizar o meio onde vive, teve uma atuação irretocável como funcionário público e guarda uma identidade grande com suas raízes e com aquilo que faz. Seria difícil imaginá-lo dissociado do carnaval e da vida da cidade. Tinha por hábito, todos os dias, como num ritual, iniciar um passeio pela sua Laguna através do Mar Grosso, encontrando amigos e visitando lugares. Retornava ao aconchego do seu lar, via centro histórico, quando o sol se punha por entre os morros da Lagoa Santo Antonio dos Anjos. Hoje, nos altos dos seus quase noventa anos o nosso herói já se ressente de melhores condições físicas para empreender tamanha façanha. Mas fica aqui meu registro a esse cidadão lagunense que tem como norte de sua conduta a honradez, a seriedade e nobres gestos de humanidade para com seus semelhantes. Salve a gente simples, honesta e dedicada da minha terra. Abenção! Catarina...

3 de jul. de 2008

Falando das Pandorgas

Quando paramos pra pensar sentimos que o tempo já passou mais rápido que nosso pensamento. Ele parece ter sido varrido; é como se fora sugado por um daqueles dias de vento nordeste que visita, com freqüência, a nossa Laguna. Por isso existe uma urgência em nós de arrumarmos tempo, para criar os bons momentos, antes que sejamos consumidos apenas pelo trabalho, pelo cansaço, pela fadiga ou outros males que o stress explica. Mesmo que não sejamos poeta de nada, todos precisamos nos encontrar em um daqueles momentos em que observamos uma paisagem, como se pudessemos tirar dela alguma poesia. Eu sei que mesmo não sabendo escrever nada direito, com pressa ou sem pressa, todo mundo tem o seu momento de reflexão e sentimento em relação as coisas que estão em sua volta, e possuir este momento é o que importa. Por exemplo, desde que me sentei aqui e me propus a escrever alguma coisa rapidamente, me veio logo em mente o jeitinho ingênuo e maroto do Henrique, meu neto; muito dessas coisas que escrevo tem como pano de fundo o seu angelical sorriso. Mas hoje o dia nublado e chuvoso me inspirou a pensar em filmes que assisti e gostei muito. E muitas frases do filme o Caçador de Pipas- peço licença para chamar de pandorga, como no meu tempo de garoto- não tem me abandonado. Bem como aquele diálogo em que Rahim Khan diz a baba que crianças não são livros de colorir. Assim sendo nenhum pai pode colorir seus filhos com suas cores prediletas. Estava lá ele querendo dizer que o filho não seria como ele era. E o filme tem tantas riquezas culturais e velhos e belos valores que só a milenar civilização do Oriente pode nos ensinar... Eu falo, velho por eles já quase não existirem, nesse novo mundo de espertezas e variedades de vilões em que vivemos. Mas o mais belo no filme é a possibilidade de resgatar esses valores. Olha quanta mensagem bonita nos traz o enredo que a história oferece. Se pensarmos bem, nunca acabaram os campeonatos de pandorgas. Onde há shows há campeões. Nem, sempre quem perde é o fraco. Será que os vilões deixam o bom vencer de fato? Estamos numa era em que precisamos arrumar tempo para apreciar as modernas pandorgas (pipas). Pode até ser a pandorga que mora em nós. E ao aprendermos a olhar dentro de nós ficará mais fácil olhar o outro. Passaremos também a enxergar as pandorgas coloridas que passam por nossos céus, quase nos tocando. Pandorgas de pessoas que podem tornar nossos dias felizes e agradáveis. Esta é a harmonia que buscamos para todos. Encontro de sorrisos iguais ao do Henrique, capaz de proporcionar a nós todos, felicidades....