29 de fev. de 2008

Visitando a Escola

Pedras de costões enrubecidos, no calor dos dias de sol, pela salinidade das ondas do Atlântico. Um rosário de praias de areias brancas, um menir a desafiar nossa inteligência e um centenário farol iluminando o extremo sul de seu território.
Das docas de um antigo mercado, um pôr-do-sol ao entardecer, numa lagoa com nome de Santo. E aquela fatia de Terra que avança na direção do cabo de Santa Marta.
Essa é Laguna. Um enredo de histórias que se funde, com exatidão, aos elementos da sua bonita paisagem.
Tranquila, ordeira; ela ainda continua a despertar curiosidades e a fomentar minha saudade.
È lá que eu relaxo, baixo a guarda e entro em ressonancia com a natureza pura e preservada; me liberto das amarras presas ao homem de hoje, viajo pelo túnel implacável do tempo e chuto latas que nem um menino arredio atrevido.
Ainda, dia desses, quando caminhava pelo Magalhães nas proximidades da Praça Polidoro Santiago ( O Campinho) onde outrora acontecia, nas tardes de domingo, os concorridos e aguerridos campeonatos de futebol, uma sóbria construção com muros altos e grades de ferro, despertou minha atenção.
No portão entreaberto encontrei o motivo para atender ao apelo da minha curiosidade. Empurrei com cuidado e subi vagarosamente, a passos cansados, os degraus que dão acesso a porta principal, também aberta, do então Grupo Escolar Ana Gondin.
Um sentimento mixto de alegria e melancolia invadiu meu coração.
A escola que me ensinara os primeiros símbolos de nosso alfabeto estava ali, na minha frente. Um lugar onde os seguidos exercícios nos antigos cadernos de caligrafia tornara definitivo o estilo de minha grafia. E o som da cantoria ritmada das taboadas, ecoava pela vizinhança, anunciando nossa iniciação à matemática.
Observei, então que a árvore frondosa situada à frente do canto direito do terreno cedeu lugar a uma nova construção. A sala do diretor e a secretaria que ficavam à direita e á esquerda respectivamente, logo a entrada do prédio, parecem continuar nos mesmos lugares. O átrio do mastro da bandeira e das memoráveis apresentações festivas é, justamente, a parte que mais se mantém preservada na construção originária do edifício.
No campo de futebol, local das nossas aulas de educação fisica, agora estão construidas novas salas.
O patio de recreação, visto a distância, não sofreu mudança com relação a sua estrutura inicial; a não ser pelo aumento de sua área que avançou sobre a rua que existia atras do terreno da atual Escola Básica Ana Gondin.
A lembrança da pequena cozinha, anexa ao pátio, me remeteu para a fila formada por nós, alunos, para degustar, na hora do "recreio" a sopa oferecida pela escola.
No caneco esmaltado, "Dona Mariazinha" a senhora magra e elétrica que tratava a todos pelo nome e tinha afinidades com nossos pais, servia-nos com carinho e afeição.
Muito cuidado era dispensado ao pé de Pau Brasil, a àrvore simbolo de nossa terra; logicamente, já não tem seu lugar cativo, ao fundo, no lado esquerdo do terreno da escola.
Apesar do sério castigo imposto, pelo diretor, a quem ousasse apanhar algumas de suas folhas, eram poucos aqueles que não tinham um ramo da prestigiosa árvore entre as páginas de seus livros.
Ao me retirar, pensando estar despercebido, ouvi um murmurar de pessoas e notei um professor de pé, junto à porta de uma das salas de aula, me acenando amigavelmente.
Saudei-o, cordialmente, e apressei minha saida sem sequer lhe dirigir qualquer palavra.
Mas trouxe comigo a certeza dos relevantes serviços que a Escola Básica Ana Gondin vem prestando, durante todos esses anos, a educação da comunidade do nosso Magalhães.
Um ícone na história do ensino catarinense a prover de conhecimento as gerações lagunenses.

8 de fev. de 2008

Pensando no Carnaval

Fevereiro e Laguna me faz refletir sobre o Carnaval. Penso ser esta uma festa abençoada por Deus ou pelo outro; ou até se os dois, nessa época, não saem pra sambar juntos. O interessante é que a consciência de que somos irmãos, acontece somente em tempo de desgraças. Todas as vítimas de um desastre fazem parte de um grupo que, derepente, se torna o grupo mais importante do mundo, o grupo dos vitimados. O único evento alegre que provoca a mesma sensação de união que o acontecimento de uma catástrofe, é o carnaval. Há horas em que simplesmente somos obrigados a ficar felizes. No Natal temos que sorrir, no ano novo temos que estar desesperadamente eufóricos. O carnaval não. O carnaval é tão liberal que você pode se esbaldar que nem aquela princesinha menina, no sambódromo da Laguna, rebolando, que nem gente grande, na frente da bateria da escola de samba feito uma rainha, ou ficar marcando o passo como um coroa no meio do jardim Calheiros da Graça. Tanto faz, o carnaval é um grande "cada um por si". Podemos até ficar triste. Sim, você tem a permissão de odiar o carnaval (No Natal se o fizer será considerado um herege, mesmo com toda a parafernália comercial tendo tão pouco a ver com Deus). Você pode ir ao cinema, pode ir só à praia, ou só sair à noite. Pode dançar em frente à TV, pode fazer cara de nojo para aqueles bêbados e suados que estão invadindo a sua rua, pode ligar o ar e apagar a luz, pode abrir um livro. O carnaval deixa. O carnaval é festa até para quem não gosta de carnaval. Sabe por quê? Porque em algum lugar do seu eu (nem Freud explica o carnaval...) você vai estar feliz por ser carnaval. Por estar livre. O carnaval é festa da liberdade. No Natal você precisa encontrar parentes, no réveillon precisa vestir branco, ver fogos, tomar champanhe. No carnaval você não precisa fazer nada que não queira. Pessoas respeitáveis têm tanto direito de odiar ou amar o carnaval quanto as não-respeitáveis. Sua atitude perante o carnaval nada diz sobre sua personalidade, mesmo que você se vista de mulher e saia no fabuloso bloco da Pracinha antes de voltar ao escritório, na quarta feira. Feriado universal, o carnaval não agrada só a quem gosta de samba, axé ou pagode. Agrada a quem gosta de suspense, videogame, qualquer coisa. Pode-se fazer o que quiser, é um feriado livre para qualquer atividade. O Rio do carnaval passa e você faz o que estiver a fim, se quiser nadar, faz nada, se quiser pular, mergulha de cabeça, se quiser só se molhar, vai aos pouquinhos. Quando passa, o Rio do carnaval, leva consigo a obrigação das festas de fim de ano, as ilusões perdidas, leva finalmente aquelas tristezas que não foram embora no ano novo, só depois do carnaval o ano começa. Você não precisa comer lentilhas, nem pular sete ondas. Pode ficar quietinho em casa enquanto o rio passa e nos traz um rio novinho, com as águas de março (seja em que mês for) fechando o verão e nos trazendo uma promessa de vida em nosso coração.
Bendito seja o Carnaval.