24 de mai. de 2009

Crônica

De olhos perdidos na tela do computador, o homem sentiu a necessidade de espairecer lá fora. E então, saiu pelos corredores e pátios do condomínio, afora. O insuportável calor que sentiu quando deixou pra trás a sala refrigerada não amenizava a espécie de dor que congelava a sua alma e quase o paralisava. Encontrou pessoas e esboçou sorrisos obrigatórios. Tudo para ele era uma grande angústia. Abraçou afetuosamente a mulher que tratava da limpeza dos corredores -tudo indicava ser sua conhecida -Falaram-se. Na sua simplicidade ela contou-lhe de câncer e de enterros e do calvário das doenças e falou, também, das pessoas impiedosas. Ele só foi ouvidos. Disse-lhe apenas que era a vontade de Deus ” Deus sabe o que faz”. Ela assentiu com um gesto e despediu-se. Ele continuou pátio afora padecendo dos infortúnios do desamor, sentindo-se distante e solitário. Viu então ao longe um grande passaro voando no alto do morro, acima do ângulo da visão que seus olhos estivera toda aquela tarde. Sua plumagem era de uma brancura que ele pensara que nunca vira antes. Ele nem percebera que no vôo do pássaro havia um céu cor de chumbo ao fundo. Era um dia sem sol.
Então o homem viu graça na sua dor emocional. Ele era um homem qualquer.
"Felicidade se acha é em horinhas de descuido." Guimarães Rosa

10 de mai. de 2009

Por onde andas, Mulher?

Por onde andas mulher da concepção, da gestação e de todas as belezas que a ti reservou a criação.
Por onde andas mulher das sublimes canções de ninar da minha vida.
Da dor contida, das noites mal dormidas, da proteção destemida e das chineladas atrevidas.
Por onde andas, mulher da coragem disfarçada em fraqueza que mostrava com sabedoria e beleza a lição do seu dia a dia.
Da gargalhada altaneira e das diversas maneiras de tornar as dificuldades em mera brincadeira.
Por onde andas , mulher que embalastes meus sonhos de liberdade fazendo-me sentir senhor de minhas responsabilidades.
Que choravas teu pranto, calada, sem nos deixar pressentir preocupada com os muitos obstáculos dessa longa estrada.
Por onde andas mulher da palavra de conforto das horas atribuladas.
Da mão amiga, da solidariedade hipotecada, da caridade assistida e da decisão acertada.
Por onde andas mulher da fé bendita, da oração que clamava ao céu a proteção para teu filho fiel.
Da esperança infinita nas horas aflitas.
Por onde andas mulher que abraçavas com candura todas as ocorrências de tuas criaturas tanto na alegria quanto na amargura.
Por onde andas mulher, que só te vejo em antigos álbuns de fotografia, e em cada gesto em cada poesia, encontro a saudade de tua simpatia.
Por onde andas, mulher?