17 de set. de 2008

As possibilidades perdidas

Tomei conhecimento de alguns versos de um poeta mineiro chamado Emilio Moura. Era amigo de outro grande poeta, Carlos Drumond de Andrade. Se vivo fosse, teria completado 100 anos no mês de agosto próximo passado. Um desses versos, em especial, me chamou a atenção: "Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive". Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se realizaram. Por que sofremos tanto quando perdemos um ente querido?
Já que a morte é uma coisa inevitável e previsível da vida, o certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos convivido com uma pessoa, tão bacana, que nos proporcionou momentos agradáveis e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversarcom um amigo, para nadar, para estar com a pessoa amada. Sofremos não porque nossos pais são impacientes conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a eles nossas mais profundas angústias se eles estivesseminteressados em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos aexperimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: iludindo-se menos e vivendo mais.

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