Nos idos da década de 1950 o estudo básico do país era dividido em primário,
ginasial e secundário.
Lembro que comecei a frequentar a escola primaria em 1955 estudando no
Grupo Escolar Ana Gondim. O diretor era o nosso ilustre professor Rubens Ulisséa.
Eram sete anos de extrema ingenuidade, normal naquela idade; muita
desinformação, muitos tabus e uma falta de veículos de comunicação que
permitissem acesso facilitado a informação. O conteúdo curricular do ensino era
exemplar, mas os assuntos extracurriculares inexistiam.
Uma realidade totalmente diferente dos dias atuais. Imaginem que
telefone e televisão ainda não existiam nos lares das famílias. É nesse
contexto que a escola se inseria na vida dos nossos estudantes.
Tínhamos entre os dois períodos de aula, o Recreio, onde era servido uma
suculenta sopa naqueles canecões
esmaltados. Nessa pausa também aproveitávamos para brincar de pegar com os
colegas e correr pelas áreas do estabelecimento. E foi, justamente, numa dessas corridas que
sou abruptamente entrelaçado pelos braços de uma menina que me lascou um beijo no rosto pegando de raspão na minha boca. Por
um momento fiquei perplexo e um tanto anestesiado pela sensação gostosa de ser
beijado pela menina. Mas quando me recompus, surgiu a preocupação....! Aquela
menina poderia vir a ter um neném. Sim, na cabeça daquela criança dos anos 50,
a fórmula era simples: beijo na boca= neném.
Voltei para sala de aula sem ter a quem recorrer. Não poderia perguntar
a professora e muito menos em casa. Esse era um assunto tabu, até para os
adultos, imagina para uma criança de sete anos!
Mas eu poderia contar com a ajuda de um amigo confidente para
esclarecer e aconselhar sobre o acontecido- o Peco! Ele conhecia tudo, uma
verdadeira enciclopédia- era uma Barsa.
Sabia muito, mas estudava noutra sala. E assim, apos a aula, fui para casa com aquela preocupação assombrando
minha cabeça. No outro dia, cedinho, fui
um dos primeiros a chegar a escola. Lá estava eu no portão do Ana Gondim esperando
o Peco. Aquela espera já era uma eternidade quando, finalmente, avistei o meu
amigo letrado chutando uma peteca no meio do campinho, vindo em direção ao
grupo. Mal cruzou o portão e eu lhe puxei pelo braço para lhe contar o acontecido
e de sua provável consequência. Ele olhou pra mim e desatou uma estridente e
longa gargalhada. Contrariado e com cara de abestalhado, fiquei imóvel esperando
alguma explicação do meu amigo inteligente. Afinal de contas eu precisava de
uma luz.
De repente ele parou de rir e soltou sua teoria. Disse-me que nós
meninos tínhamos birro para fazer xixi e que as meninas tinham pombinha! Até aí, tudo bem! Nenhuma novidade pra mim. E
continuou seu discurso dizendo que a menina somente poderia ter neném se ela
pegasse minha mão e a colocasse na sua pombinha .
Era tudo que eu queria ouvir! Meu amigo Peco me livrou de uma grande
preocupação. Mas, por via da duvida, daquele dia em diante, toda vez que a menina se aproximava de mim eu empurrava
minhas mãos no bolso. O seguro morreu de velho.
4 comentários:
Mauro, muito bem escrito. O Peço foi muito inteligente kkkk...
Bem escrito Mauro! Naqueles tempos éramos inocentes mesmo. Agora o Peco foi muito inteligente. Kkkkk...
As lembranças que marcam na vida, são retratadas, de maneira leve e sutil na escrita do poeta.
Muito bom! Adorei a teoria do Peco hahaha
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