14 de fev. de 2009

Porto solidão

Seria uma noite qualquer não fosse o lugar e o Luar. As pessoas passeavam, indiferentes, pela praia pisando a paisagem desnudada pelo clarão. Era uma imagem criada por um sonho. A Lua parecia uma medalha de prata brilhante pendurada no peito do céu do Mar Grosso. Lá estava ela, altiva e soberba com seu facho de luz iluminando nosso pedaço de Atlântico. Diva do seresteiro dos anos quarenta que por ela se encantou e do saudável romantismo da década de sessenta que a modernidade nos roubou ela também é testemunha das mudanças, dos fatos e das histórias que contribuíram positiva ou negativamente na formação do atual cenário sócio-econômico lagunense. Contemplá-la não é só um lampejo de nossa veia romântica; é também um exercício de reflexão e de lembranças. Uma viagem de volta ao passado. E eu, de repente, me vi pensando sobre o ciclo de acontecimentos que culminou na desativação do Porto de nossa cidade. È uma história que marcou a vida de todos os lagunenses e muito particularmente, a minha. Seu funcionamento envolvia um intenso movimento de estivadores a carregar os vagões com estoques do armazém central. Um vai e vem sem parar de duas locomotivas modernas movidas a óleo diesel que puxavam as cargas para cima do caís onde dois guindastes elétricos possantes as transportavam para os porões dos navios. Esse serviço, na maioria das vezes virava a madrugada com o pagamento de horas-extras aos trabalhadores, às custas dos armadores. Era uma fonte significativa dentre todas que ajudavam a movimentar a economia da cidade. Vítima da mesquinharia e da indiferença política, hoje, jaz, abandonado à sorte de uma retificação que não tem tempo de acabar. Mas ele guarda a saudade daqueles que partiram e a indelével marca dos que, por décadas, ali entregaram seu trabalho. Ainda ouço o barulho dos vagões sobre os trilhos, dos guindastes manobrando para suspender as cargas, do apito da locomotiva puxando o trem da saudade, dirigido por meu pai. O céu já é todo noite. A Lua, agora, vai alta iluminando a área escura e abandonada que restou de um Porto seguro. As ruas estão sozinhas sem vestígio de vida e me convidam a ir a lugar nenhum. Laguna...Praia.....Luar.....Porto solidão.

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