6 de dez. de 2009

O panetone nosso de cada dia

As imagens divulgadas na TV mostram uma bandidagem escondendo dinheiro no bolso, na cueca e nas meias, no episódio do mensalão, tudo isso prá quê? Oh, céus, pra comprar panetones e distribuí-los aos pobres. Estava lá o primeiro escalão do governo do distrito federal e o próprio governador José Roberto Arruda (DEM - vixe, vixe!), flagrados com a mão no cofre pela Policia Federal, na Operação Caixa de Pandora. Sem qualquer escrúpulo, os sacripantas criaram um grupo de oração. As imagens são chocantes e patéticas. De mãos dadas e olhos fechados, três bandidos de colarinho branco rezam, agradecendo a Deus a “graça especial” alcançada. Com a versão candanga do Pai Nosso, impetraram um habeas corpus preventivo: - O Panetone nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai a formação do Caixa 2, assim como nós perdoamos os outros partidos que antes de nós desviaram recursos. Esse é o dado novo do mensalão do DEM (vixe, vixe!). Eles criaram um modus operandi inédito e despudorado: usar a reza como alavanca para arrombar cofres públicos, o que não foi registrado em nenhum lugar do mundo, nem com os dois mensalões operados pelo careca Marcos Valério: o do PSDB de MG, em 1998, e o do PT, em 2005. O Brasil é mesmo o país mais cristão do mundo. Até pra roubar, a gente reza. E na falta de cueca, esconde dólar dentro da bíblia, como fez a bispa Sônia. Arruda já solicitou ao Papa Bento XVI a canonização de Judas Iscariotes - o que botou na ceroula trinta dinares - para sagrá-lo padroeiro da Pastoral da Propina. A Oração a São Judas Iscariotes, rezada em Brasília, diz: - São Judas Iscariotes, apóstolo incompreendido de Cristo, eu te saúdo e te louvo, por haveres usados os 30 dinares para pagar a conta da Última Ceia, sendo injustamente acusado de vendilhão e traidor. Quero te imitar, comprometendo-me a usar o dinheiro desviado em obras sociais. E$pero alcançar a graça que imploro através de tua interce$ão. Amém. No Amazonas, surgiram vários grupos de oração. Um deles, com os agentes de pastoral Amazonino Mendes, Carijó, os irmãos Souza e Orleir Messias Cameli, do Acre. O outro com Dudu Braga, Belão, Mello e Adair, todos eles rezando a versão regional do Pai Nosso: - A Pupunha nossa de cada dia, nos dai hoje. Todos esses agentes da Pastoral usam cuecas com seis bolsos sanfonados, três na frente e três atrás. Com a voz embargada, Arruda disse que confia na Justiça. Todos eles confiam. Pudera! Até eu! Na reeleição para governador de Minas, no século passado, mais precisamente em 1998, Eduardo Azeredo (PSDB) montou esquema de desvio de dinheiro e só agora, no dia 3 de dezembro, é que o STF, em votação apertada, abriu ação penal para investigar as denúncias. A defesa dele vai apresentar “embargo de declaração”, e não há previsão de quando deve começar a ação penal. Eu falei começar, porque onze anos depois do crime, ela ainda não começou. Numa atitude subserviente e de absoluta dependência, o novo ministro do STF e ex-advogado do PT, José Toffoli, votou a favor de Azeredo, pelo arquivamento da denúncia, talvez se precavendo com o processo aberto em 2007 contra 40 pessoas envolvidas no mensalão do PT, entre eles, o ex-ministro José Dirceu. Mais chocante ainda do que a imagem da bandidagem rezando e desmoralizando a oração, é a anestesia quase geral da nação e a impunidade desse tipo de crime. Nesse sentido, o que ainda nos salva é a invasão e ocupação da Assembléia Legislativa de Brasília pelos meninos do PSOL. Quem diria: na continuidade da ação desses meninos repousa a nossa esperança e o nosso destino!
Do professor José Ribamar Bessa Freire coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO).

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