21 de fev. de 2010

Encontro fortuito

Dias desses, num encontro fortuito em um shopping aqui na capital, revi um amigo da época de nossa adolescência. Notei que o tempo brindara seus cabelos com algumas camadas de neve e colocara no seu rosto um sorriso brilhante. Mas fiquei surpreso com a sua falta de receptividade. Como se estivesse perdido pelos labirintos da vaidade fez questão de deixar transparecer que o tempo lhe fora generoso. Minha felicidade ao vê-lo foi aos poucos se transformando em desapontamento ao notar que ele não parecia querer conversar. Mostrava-se apressado, e sua esposa, embora me conhecesse, sequer me cumprimentou, seguindo em frente com os filhos que por sinal mostraram-se mais receptivos. Na rápida conversa que forçosamente, travou comigo notei sua falta de lembrança de certos acontecimentos de juventude e uma vontade grande de me deixar seguir em frente. Mas, propositadamente, e já irritado, eu insisti e tentei lembrá-lo de amigos comuns e de algumas fotos nossa dos anos 60. Disse-me lembrar de muitas fotos daquela década, mas, nenhuma que eu estivesse junto. Senti que minha presença o estava incomodando. Parecia que eu lhe fazia lembrar de um passado, que embora bonito e sadio, ele queria esquecer. Sem precisar consultar seu coração pude notar que seu espírito tinha sido impregnado pelo sentimento da soberba. Não precisou perguntar sobre a sua vida, sobre o tempo que o escondeu dos meus olhos. Ele próprio, através de seu comportamento, revelou toda a extensão de seu orgulho fazendo questão de demonstrar que a vida lhe fora grata e justa. Mas eu não queria alimentar sua maré cheia. E tentei falar do passado, de amigos, de nossas origens, dos alicerces que formaram a base de nossas personalidades, do que hoje somos. Ele, ainda apressado, desconversou. Senti que embora bem sucedido, ele tinha perdido muito do seu conteúdo existencial e humano. E que o passado lhe parecia uma dor sem remédios. O presente reinava absoluto pelos seus dias. Então comecei a lhe falar somente daquilo que considero, os sucessos da minha vida. Revelou-se atento, naquele momento, porque pouco sabia de mim. Deu-me, verbalmente, seu email, por fim. Mas numa atitude pequena quis mostrar-se grande ao revelar, orgulhosamente, a sua ignorância em lidar com computadores, pois sua secretaria era quem lia seus email’s. Como se o sinal estivesse abrindo, partiu rapidamente. Não me deu tempo de lhe dizer mais nada.
Adeus! ex-amigo de juventude.

3 comentários:

Lola disse...

Não fique aborrecido com esse desagradável encontro. Esses momentos servem para fortalecer seus valores e provar que a vida é generosa com quem sabe respeitar suas origens e seus verdadeiros amigos. Sua felicidade provocou em seu ex-amigo o pior sentimento humano:a inveja. Pobre vivente. Que Deus o perdoe!

Geovana disse...

Penso que todo encontro que nos remete a lembranças de tempos tão marcantes, é recheado de coisas boas. Embora, cada pessoa que compôs nossa história toma um rumo diferente e, talvez, essa pessoa se envergonhe dos motivos que te fizeram forte. Lamento por ele.
"John, o tempo andou mexendo com a gente sim. John eu não esqueço, a felicidade é uma arma quente..."
(Belchior)

Ademir (didi) disse...

pois é caro amigo mauro, isto infelizmente já me aconteceu e mais de uma vez,inclusive fui o protagonista - felizmente em apenas uma vez, aqui em balneario camboriu(SC), é que fiquei desconfiado da pessoa e não lembrava dela - ainda mais pra mim que trabalhei em 11 cidades, 3 estados, imagina quantas pessoas encontro e tenho dificuldade para lembrar de onde, mas nada justifica isto e depois daquela vez sempre procuro fazer diferente, ainda mais que gosto de lembrar das coisas passadas, dos bons tempos de estudante em laguna.
Aproveito pra lembrar que temos que nos encontrar ai em floripa e conversar muito, tenho muitas "lacunas" que preciso preencher.abraços.