24 de set. de 2007

Relembrando

Um nordeste insistente soprava a chuvinha fina que eu via escorrer por sobre o capô do carro. O ritmo da chuva persistente era marcado pelo barulho do vai e vem do limpador de para-brisas fazendo aflorar na mente, lembranças remanescentes, que já se houvera apagado da memória. Atento no trânsito, eu viajava em pensamentos que povoaram nossos sonhos de um jovem passado na Laguna
E foi, assim, tomado pela recordação de fatos acontecidos na juventude que comecei a divagar sobre coisas de um passado sem precedente na história de nossa centenária cidade. Lembrei-me de um tempo onde o cheiro do butiá maduro nos campos da Barbacena, impregnava o ar das proximidades do trevo de entrada de Laguna.
Dos napoleões, um arbusto de folhas muito compridas e espinhosa, debruçados por sobre os limites de nossos quintais formando uma cerca viva que protegia nossas casas. E nossas primaveras eram anunciadas pelo desabrochar de seus lindos bouquets de flores brancas.
Um passado que o banho de mar na praia do Mar Grosso era precedido pela travessia suada de um pequeno deserto de comoros de areias, muito branca e quentes, que castigavam nossos pés descalços.
Das jovens festinhas americanas, onde embalados nos sons que contrariavam os padrões da época, premeditávamos a mudança de comportamento de nossas futuras gerações.
Das memoráveis sessões de cinema das seis, onde a namorada vaidosa nos deliciava com seus carinhos banhados no delirio de seus perfumes .
Do carnaval da rua Raulino Horn. Do cacareco do seu Iris e do pirão d´àgua do Mané pintado; e daquela escola de samba Bem amado, cuja novela veiculada no canal de Televisão de então, retratava com fidelidade as práticas políticas que continuam a perdurar até os dias atuais.
Da Bandinha Maluca que ainda faz da ruas da Laguna um palco sem igual, cujos personagens, gente do nosso cotidiano, representam com maestria um singular papel; pintam o rosto e fazem brincadeiras de palhaço para animar nosso carnaval.
Das entradas trinfais dos inesquecíveis cordões carnavalesco Bola preta e Bola branca nos carnavais de nossas sociedades; e daqueles sabados de carnaval do 3 de maio que entravam pela manhã de domingo, a dentro.
Que delicia de sorvete! Aquele, de coco, da Miscelânea.
Mas hoje quando me ponho a observar o paredão de prédios que adornam toda a orla da praia do Mar Grosso, sinto a mudança de nossos dias.
Aquele prédio majestoso de outrora que abrigara o Cine teatro Mussi, agora jaz abandonado a própria sorte, guarda somente a lembrança de filmes como: Rei dos Reis, Moisés, Flor do Pântano, Princesinha de Luxo, Taras Bulba, sete Homens e um destino, Juventude Transviada, Assim Caminha a Humanidade e tantos outros que deixaram sua marca em nossas memórias e fizeram sucesso neste mundo maravilhoso da sétima arte.
E vejo a procissão de lampeões que iluminava a lagoa, e anunciava a chegada dos camarões sendo, aos poucos, substituidas pelas artificiais fazendas criadoras de camarão em cativeiro.
Sinto-me envolvido na realidade de um outro tempo; onde as mudanças não dão trégua a criatividade humana, tornando a novidade de hoje a coisa ultrapassada e obsoleta do amanhã.

2 comentários:

Anônimo disse...

Só escrevesse coisa boa de nosso tempo na terrinha.Abraços.Juarez.Chapecó.

Anônimo disse...

Adoro essa sessão naftalina da nossa Laguna. Quero q a Isadora (a tua sobrinha neta) conheça a nossa história. E, vamos combinar q tais ficando um velhinho com ótima memória! hehehe bjo Patrícia