
Aquela tarde de calmaria insinuava um convite para um olhar diferente sobre a Laguna. E, do alto da Glória, meus olhos foram as lentes que focaram, com encantamento, a visão das construções barrocas do nosso centro urbano.
Testemunho da arquitetura açoriana, os casarios, as praças, e as ruas vão revelando uma a uma a maravilha do acervo construído, com requinte artístico, pelos marcenerios e pedreiros de outrora.
Obra de nossos construtores de templos vindos de além oceano, a cidade é uma obra de arte entalhada numa pedaço de terra que aponta para o mar.
Mais de três séculos de brasilidade estão presentes nas ruas estreitas e típicas da Laguna. Elas são o testemunho da história da cidade e do cotidiano de seus moradores.
Em meio a uma arquitetura colonial, a natureza colorida preservada da poluição industrial de nosso tempo, encanta seus filhos e visitantes e torna a cidade um verdadeiro convite à vida. Sem dúvida alguma, pelo caráter de nosso povo cordial, comunicativo e acolhedor, somos a terra da amizade.
É um cenário perfeito do encontro de uma viagem pelos corredores do tempo e a beleza da mata atlantica do litoral sul do Brasil.
São 600 casarões de diferentes períodos econômicos, retratando uma cultura de origem, predominantemente açoriana, encravadas numa geografia unica.
A torre da Matriz sobressai por entre os casarios coloniais e as altas palmeiras reais do Jardim Calheiros da Graça.
O verde do morro da Cruz e da mata nativa que protege a secular Fonte da Carioca contrasta com o cinza dos telhados do conjunto arquitetônico que constitui parte da história da cidade.
As docas, o prédio centenário do mercado e o sol se pondo por detrás dos montes que ladeiam a Lagoa, impressiona e arrebata o coração daqueles que apreciam a beleza que a natureza derramou sobre Laguna. Na revoada do bando de pássaros o prenuncio de um fim de dia.
A exuberância das cores criadas ao acaso passeia entre o amarelo, o laranja, e o vermelho a medida que o espetacular ocaso vai se desenrolando.
A lagoa que, à noite, se veste de dourado para a pesca do camarão pinta-se de laranja. E aquele coração de igarapé que, caprichosamente, a natureza mantém desenhado em seu leito, parece pulsar num vermelho escaldante no meio da Lagoa Santo Antonio dos Anjos.
Cria-se assim um enredo maravilhoso para um final de tarde de verão no alto do Morro da Glória. E aos poucos o astro vai se escondendo por detrás do monte no formato de uma medalha de ouro muito brilhante.
É quando eu me ponho, inadvertido, na ponta dos pés tal qual um menino inquieto, como se fosse me debruçar por cima dos morros que envolvem a Lagoa, para não perder os últimos raios de sol que sustenta o fenômeno. Percebo o movimento instintivo e me refaço.
Volto, então a observar esse grandioso painel pintado pelo artista de todos os mundos.
E no profundo sentimento da sua presença uma evidente constatação de nossa pequenez.
Um longo momento de silencio e de reflexão...
2 comentários:
Realmente meu querido, ficamos tão pequenos perante o mergulho do sol na nossa linda lagoa quando chega o fim da tarde...Que vontade que dá de sermos melhores, mais humanos, mais leves...Espero que mesmo depois da festa do camelo você continue conseguindo nos embalar com esses belos escritos...Beijos Lola
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