27 de mar. de 2020

Quarentena

E de repente a cidade vira um deserto de concreto, sombrio e mudo, sem teto, sem vida. Por entre ruas e vielas o silencio passeia impune, nas calçadas e jardins, cheio de lembranças e pleno de solidão. Na torre da Igreja o relogio, entoa seu som, marcando mais uma hora  de um tempo cheio de nada.  A incerteza do amanhã refletida no olhar das pessoas, denuncia um medo terrivel do inimigo que conhecemos só  de nome.
 Compulsoriamente recolhidos em nossos lares somos privados de cumprimentos efusivos e reuniões. O aperto de mão, e o abraço foi postergado por decreto e deu lugar ao afeto a distancia e outras maneiras pouco convencionais de cumprimento. É verdade que perdemos a liberdade das caminhadas de fim de tarde e o gole gelado daquela cerveja no bar da esquina, mas redescobrimos a oportunidade de recuperar os prazeres, de há muito esquecidos, nos arquivos de nosso convívio familiar. Teremos tempo para abrir o antigo álbum de familia guardado no fundo do armário, renovador das nossas recordaçoes;  recomeçaremos a leitura daquele livro, na pagina, que nem lembravamos mais; falaremos com ela aquilo que a pressão do tempo, nunca nos deixou falar; e quem sabe ate colocaremos a rodar, na antiga vitrola aquele vinil de Gonzaguina.  Sob o som de  Começaria tudo outra vez, dançaremos um bolero em nossa sala. E com a cuba livre da coragem em minhas  mãos, aguardaremos toda essa tempestade passar, para voltarmos a apreciar da sacada, o pôr de sol de nossos dias ensolarados de esperança.

4 comentários:

Dário disse...

Recluso em seu ambiente, o poeta mostra toda a angustiada e amargura desses dias. Entretanto, mostra como esperança, o sabor de viver no convite e prazer de ouvir e brindar, como na música do mestre Gonzaguinha

Geovana disse...

Começaremos tudo outra vez e, por vezes, sem precisar.
Revivo, nesses dias,a lembrança do cheiro da comida da dona Maria, das brincadeiras mágicas de seu Dario e do barulho daquela casa, cujo o aconchego,não encontro em lugar algum no mundo. E, quando tudo passar, vou valorizar cada ser que divide meus dias e abraçar sem pressa de largar...porque, os afazeres dos dias, não me tirarão a magia de estar sentindo amor.
LINDO TEXTO.
AMO-TE

ALBERTO MENDONÇA COELHO disse...

Esse Mauro faz "cousas". Forte abraço.

ALBERTO MENDONÇA COELHO disse...

Bloco da pracinha, Ana Gondin, campinho do Magalhães, Ginasio Lagunense