12 de nov. de 2008

A história se repete

Quando chegava com meus filhos para visitar maus pais em Laguna, nossa entrada era pela porta da cozinha; a pequena casa parecia solitária e grande demais para minha mãe e meu pai. Ela sempre se colocava junto á cabeceira da mesa. Tinha um olhar distante, um semblante pensativo e preocupado. Perguntava-lhe sorrindo o motivo da sua preocupação e tristeza; e ela falava com um meio sorriso no rosto e lágrimas nos olhos da sua apreensão com relação ao nosso futuro. Isto a mais ou menos trinta anos atrás. Confesso que não conseguia entender o motivo de sua tristeza. Somos sete filhos, e todos fomos saindo para cuidar de nossas próprias vidas, com esposas, filhos, maridos. Mas o tempo, como um mestre exigente, vai dia após dia ensinando a lição da vida. E hoje, tal qual minha mãe a trinta anos atrás, me pego com os olhos marejados e o coração apertado quando vejo meus filhos adultos arrumando suas coisas e querendo partir atrás de seu futuro. Agora a preocupação é nossa, os pais somos nós: eu e minha esposa. Companheira das alegrias e dos infortúnios. Eles saem por alguns dias e o apartamento fica imenso, silencioso. Nesse silencio dá pra ouvir o eco de crianças correndo, de adolescentes implicando, de adultos dividindo comigo suas dúvidas, seus problemas e tristezas. As lágrimas me enchen os olhos. Lembranças me levam ao passado. Lembro-me que quando li depoimentos, reportagens e vários outros escritos sobre o assunto, me sentia preparado para o momento, mas nada se compara ao fato em si, ao instante em que se vive a realidade. Então me vem a mente o velho ditado que diz: “ os filhos não são criados para os pais e sim para o mundo”. Os nossos são três. Estão saindo, crescendo, querendo voar. “ Olá! Que cara de triste é esta? “ É minha filha sorrindo, com meu neto pela mão, entrando cozinha adentro vindo nos visitar. Convida-nos para sair e conversar. Tal como a trinta anos atrás, a história se repete.

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