4 de jan. de 2009

Uma questão cultural

Seis de janeiro é lembrado como o dia que os três reis magos-posteriormente santificado no século VIII- teriam visitado o recém nascido menino Jesus. Na península ibérica, a data tem praticamente a mesma importância que o Natal. São 12 dias, a partir do natal até 6 de janeiro, que acontecem as apresentações dessa herança européia incorporada às nossas tradições populares chamada Terno de Reis. Ele, freqüentemente é associado à religião, e normalmente envolve cantigas, preces, toque de instrumentos de confecção caseira e artesanal, com tambor, pandeiro, reco-reco, violão, rabeca (espécie de violino rústico), sanfona, e muita cantoria. Além das bandeiras e estandartes que dão visibilidade a esta manifestação folclórica própria das nossas origens. Essa é uma tradição de origem luso-espanhola incorporada à nossa cultura popular. A vida moderna, através de suas facilidades, tem nos possibilitado o conhecimento de outras culturas que, de certa maneira, nos leva a negligenciar tradições centenárias trazidas por nossos ancestrais portugueses. A verdade é que a falta de incentivo, por parte de nossos órgãos de cultura, a esses grupos que representam a verdadeira expressão de nosso legado cultural desfavorecem a continuidade dos costumes. Mas o Terno de Reis, da localidade de Ponta da Barra da nossa Laguna, ignoram o descaso e resistem, heroicamente, continuando a fazer suas apresentações. Tempos atrás, esses grupos vinham para o bairro Magalhães e visitavam as casas cantando suas cantigas. Lembro-me bem que se aproximavam entoando uma canção que meu ouvido de menino jamais esqueceu do refrão: Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Eles chegavam à noite com essa canção de chegada, que de longe se ouvia, onde o líder do grupo pedia permissão ao dono da casa para entrar. Despertavam quem estivesse dormindo. Era servido café aos componentes pelo dono da casa. Na saída cantavam a canção de despedida que agradecia a acolhida e as doações. Feliz o povo que consegue manter vivo seus costumes e suas tradições. Por favor, salvem a cultura da nossa terra. Viva, o Terno de Reis, o boi de mamão e o pau de fita.

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