16 de ago. de 2009

Vila Esperança

Era uma vila com povo pacato e acolhedor, de ruas estreitas pavimentadas com paralelepípedos e ornamentadas com construções coloniais raras que ostentavam grande riqueza cultural e histórica. Sua beleza retratada em pontos turísticos naturalmente preservados encantava seus moradores e turistas. Visitá-la era uma viagem no tempo pelos labirintos da memória nacional. Sua historia era contada nos escritos artisticamente trabalhados em vistosas placas de bronze colocadas na base dos monumentos distribuídos por suas diversas praças. No entanto o glorioso passado muito presente no futuro daquela vila parecia bloquear o entendimento da existência do que era novo. As pessoas eram como barcos com seus porões repletos de nostalgia ancorados num solitário porto. Elas ainda acreditavam em antigas praticas políticas e administrativas. Políticos de todas as partes socorriam-se, em épocas de eleição, de seu colégio eleitoral. Mas pouco ou nenhum trabalho ofereciam em benefício daquela vila. Tudo o que faziam era no intuito de atender interesses particulares dos seus moradores. Um dia, vieram os vândalos e começaram a mandar na vila. Depredaram seus monumentos e roubaram suas vistosas placas de bronze. E com elas levaram também um pouco da sua história. A insegurança, então, instaurara-se em suas ruas e vielas. O administrador parecia politicamente muito ocupado e não dispunha de tempo para se preocupar com acontecimentos que considerava corriqueiros na vida daquela vila. O Chefe da Segurança, uma autoridade com problemas de visão, também era portador de deficiência auditiva. Às vezes que conseguia ouvir a voz das ruas alegava falta de pessoal para realizar, com eficiência, seu trabalho. Noutro dia vieram uns técnicos e criaram o projeto de uma extensa ponte num ponto muito além de seu acesso principal, sobre a bonita lagoa que circundava aquela vila. Pareciam querer isolá-la geograficamente do resto da região. Era gritante o silencio das lideranças da comunidade em relação aos problemas que afligiam as pessoas. Eles eram incapazes de visualizar algo que viesse em beneficio daquele pedaço de terra. Depois vieram os ladrões e roubaram o banco que guardava as poucas economias do povo daquela vila. A comunidade foi empobrecendo cada vez mais, e nada se fazia para aliviar o sofrimento das pessoas. Ninguém comentava nada. Ninguém conseguia ver nada. A síndrome do Chefe de Segurança havia contagiado o povo. Não havia quem enxergasse uma luz no final do túnel. Os indivíduos perderam seu senso crítico e além de não fazer comentário sobre aquela situação ainda evitavam quem se insurgisse contra aquele estado de coisas. Uma grande escassez de suprimentos e de oportunidades, então, começou a se abater sobre a comunidade. E seus moradores partiram levando seus pertences, abandonando suas terras e casas, deixando a vila solitária. Uns poucos que permaneceram reuniram-se numa romaria a um monte que consideravam sagrado para orar e pedir aos céus, melhores dias. Acreditavam no milagre da vinda de um Deus surgido do mar para reabilitar suas vidas. E assim eles passam o tempo contemplando o mar. Na certeza que um dia Deus virá salvar, a Vila Esperança.

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