2 de out. de 2013

O homem das tarrafas



Não vou falar de tempo ruim e nem de mais uma enchente que tristemente chega para atrasar a vida de todos, principalmente daqueles cidadãos mais desafortunados de nosso Estado.
Vou falar, sim, de uma dessas manhãs de sol que me dispus a caminhar pela Beira Mar, aqui em Florianópolis.
Num dia de céu limpo e temperatura agradável, caminhando no contorno da vegetação do mangue através da avenida da saudade, resolvi, finalmente, me aproximar e conversar com o senhor que costumeiramente, expõe e vende tarrafas naquele local.  Queria saber da maneira como fazê-las e de onde aprendera aquele costume, tão próprio, dos habitantes do nosso litoral.  Aproximei-me e comecei a puxar conversa. Ele apresentou-se como João e  logo se dispôs a me mostrar as tarrafas que já tinha confeccionado.
Eu comecei, então, a entrar em detalhes e perguntei-lhe se ele conhecia uma planta chamada Tucum. O cidadão logo abriu um sorriso e me fez lembrar a fiação do tucum, cujos fios, teciam-se as tarrafas e também as rendas de bilros- que vi minha avó, tão magistralmente tecer, ainda quando tinha meus 8 anos de idade. João falou do seu conhecimento de todas essas tradições  folclóricas que, infelizmente, está por se perder no tempo. Contou-me que chegou a participar da Fundação Franklin Cascaes onde tratava especificamente do resgate dessas tradições.
Eu queria saber mais da vida do cidadão e então perguntei de que região da ilha ele fora criado. E a resposta foi uma grande surpresa. João é natural da Laguna. Apresentei-me, como conterrâneo, e ele conhecia minha família. Sorriu muito, ao lembrar das caronas que pegava escondido, quando moleque, na locomotiva do porto, dirigida por meu pai.
Contou-me que era natural do Ribeirão, mas veio pequeno morar no Magalhaes. Primeiro na região da Coréia (Agora rua da Balça) e depois foi para a Ponta das Pedras. Veio nos anos setenta para Florianópolis. Seu pai era pescador e sempre fora muito envolvido com a política nos tempos da UDN, na década de sessenta. Seu nome era José. E por arrumar muita confusão durante sua aguerrida militância politica, na Laguna, recebera o apelido de Zé Diabo.
Era um tempo em que as famílias e consequentemente os políticos, nasciam e morriam, dentro de um partido. Os programas partidários eram bem definidos e diferenciados. Existia fidelidade partidária e os políticos ainda tinham vergonha na cara. Um tempo em que  a  instância superior do nosso Judiciário,  embasava suas decisões em cima da Lei e não do Regimento.
O homem das tarrafas, que parecia uma pessoa tão distante, mostrou-me o quão pequeno é este mundo. E, que da época do Zé Diabo pra cá o sistema político e o judiciário, neste país, infelizmente, mudou muito, pra pior.
Bons tempos, aquele do Zé Diabo. Bons tempos!   
 

22 de ago. de 2013

Sem controle




É inegável o desenvolvimento que a industrialização trouxe para a nossa vida nos dias de hoje. A produção agrícola, atual, desenvolveu-se de tal maneira que a colheita por hectare praticamente duplicou nestas últimas décadas. As pesquisas genéticas com sementes de frutas e  de  grãos criou uma nova era de produtos agrícolas mais resistentes e rentáveis.

Mas por outro lado, podemos dizer, que a qualidade de nossos produtos caíram muito nestas ultimas décadas.

Só como exemplo eu vou citar o café. Alguém sabe me responder por onde anda o aroma marcante do nosso café? Lembro-me de uma fabrica, localizada ali no Magalhães- café Salete- eu acho que era esse o nome. Quando acontecia a torra do produto o bairro ficava tomado pelo cheiro. Na verdade, fazer café há tempos atrás, era um verdadeiro ritual.  Enquanto a água fervia, preparava-se o pó, dentro de um coador de pano, geralmente confeccionado em casa. Com o coador pendurado na boca do bule de alumínio ou de barro, o café era passado. O aroma se espalhava por toda casa. O seu cheiro denunciava a hora do café para toda a vizinhança. Era como se estivéssemos acendendo um incenso na casa. Ela ficava toda dominada por aquele aroma inconfundível.

Hoje, o nosso café, infelizmente, só tem cor. Sem cheiro e sem sabor ele é uma coisa qualquer a desafiar o paladar do brasileiro. E não se sabe nem a quem reclamar. Via de regra, os produtos que circulam pelos supermercados do país não sofrem fiscalização nenhuma, na sua qualidade. É a inoperância e a negligencia do estado convivendo com a ditadura dos grandes e poderosos conglomerados da indústria alimentícia. Somente quando há denuncia é que as autoridades descobrem a adulteração feita no produto. 

O caso de adição de amônia ao leite acontecido no Rio grande do Sul é um desses abusos cujos responsáveis  mereceriam uma punição exemplar.  Não poderia acontecer uma coisa dessas com um produto que é a base da alimentação de nossas crianças.  Isto compromete o futuro da saúde de nossa sociedade e consequentemente do país. Parece que ninguém para pra pensar. O assunto foi rapidamente sacado das páginas dos jornais. Ninguém sabe que fim deu o processo instaurado contra os malfeitores. Não lembro ter ouvido  falar mais nada a respeito do assunto. Nada aconteceu. Um absurdo!  

Bons tempos onde o leite, que consumíamos, vinha da Madre. As embarcações desciam o rio Tubarão e atracavam nas docas.  Acondicionado em grandes latões, de alumínio, era assim distribuídos em nossas casas. É bem verdade que as más línguas diziam, à época,  que os leiteiros(como eram chamados aqueles que comercializavam o produto) sempre adicionavam a mais, um pouco de água do rio. Mas bastava uma simples fervura para colocar tudo nos seus devidos lugares. Não se ouvia falar em nenhuma química misturada ao produto. O leite tinha o seu sabor assegurado.

A falta de políticas para a área de fiscalização, neste país, é surpreendente. Esta mais que na hora de se criar, a exemplo dos Estados Unidos, um órgão de controle que cuide especificamente e com seriedade da qualidade e das formulas dos produtos que consumimos. 

20 de jul. de 2013

Conserta com durex



Vez por outra me passa pelas mãos textos que eu, sinceramente, queria ter escrito. Este texto do Blog Cronicas Urbanas da jornalista Monica que trago ao conhecimento dos leitores do papodaesquina, fala de verdades com toque de humor.

“A presidentA deste patropi abençoado por Deus e bonito por natureza (mas que beleza!) né boba nada. Junto com seus coleguinhas da Corte, arrumam solução facinha pra tudo quanto é problema na brasilândia, com um toque de mágica que faria Samantha Stephens (lembra dela, a bruxinha de A Feiticeira?) sapatear de inveja. Caos na saúde, como resolver? Bora importar médicos de outras paragens (sadly, dr. Doug Ross, dr. Gregory House e dr. Derek Shepherd não constam da lista, o que é positivamente uma lástima). Tá pouco? Pouco é esse bando de estudantes de medicina, todos fortes e bem nutridos, formando em apenas seis anos e caindo na residência, ao invés de serem aproveitados por, digamos, um par de anos a mais a serviço do SUS; hora de aumentar a duração do curso. Agora elA ainda quer estender a cortesia aos dentistas e psicólogos.
Vai que a moda pega, né? Professor? Vai dar aula nas escolas públicas antes de lecionar em qualquer outro lugar. Engenheiro ou arquiteto? Tá cheio de terreno baldio por aí a espera de milhares de residências pro Minha Casa, Minha Vida. A Justiça tá emperrada? E esse tanto de estudante de Direito dando mole, por que não botar essa meninada batuta pra ajudar agilizar  o serviço público? Como é que ninguém pensou nesse precioso nicho de mercado antes, olha, sinceramente eu não sei, prestenção no tanto de mão-de-obra barata pra tapar os buracos (buracos esses, naturalmente, que são beeem mais embaixo). Mas jogar fora uns suplentes de senadores aqui, cortar uns gastos ali, degolar uns ministérios sem-noção acolá? Jamé, como diriam os franceses.
Daí que nessas horas sempre me vem aquela frase da música do Pink Floyd na voz de mr. Roger Waters: ♪♫ Did they expect us to treat them with any respect? ♪♫( Será que eles esperam que nós o tratamos com algum respeito?)
Depois esses políticos ficam aí, reclamando com cara de susto.”

16 de jan. de 2013

Simplício


Simplício era um sujeito muito sabido. Como dizia minha avó- uma pessoa muito letrada. Sabia e explicava tudo com tanta desenvoltura que deixava os mais desavisados, a sua volta, com cara de perplexidade. Gesticulava e falava muito para fazer valer, a todo custo, seu ponto de vista. Era bonachão, mas ingênuo, ao ponto de tomar como verdade, as histórias criadas por sua imaginação. 
Sua voluntariedade o tornara inconsequente. Sempre disposto a ajudar, mas na hora errada.
Certa vez quando saiamos de uma prova na Universidade, ofereceu-me carona.  Tentei evitar, mas não tive como recusar. 
No volante, ele passou o tempo todo discutindo as questões.  O pior é que as suas correções não batiam em nada com meus resultados. Eu, literalmente,  tinha me ferrado. 
Menos mal que ele teve que passar numa oficina para regular as portas do carro. Era inicio dos anos 70. O sabido tinha um DKW-Vemag- motor dois tempos. Fazia uma fumaceira danada e as portas abriam no sentido contrario as dos carros de hoje.
Ao chegar a mecânica deparou-se com um rapaz debruçado sobre o motor de um carro tentando recuperar alguma coisa que teria deixado cair.  Ele não conseguiu se segurar. Sem ser solicitado, foi logo dando palpites e oferecendo sugestões para o rapaz recuperar a porca da bateria que havia caído naquele labirinto de ferro.
Pega um arame e faz um gancho na ponta- dizia ele. Foram muitas as alternativas de recuperação, geniais, ditadas por Simplício, sem nenhum resultado. 
Encostado na mureta do galpão eu observava o espetáculo proporcionado pelo letrado. O rapaz não sabia mais o que fazer para se livrar daquele intruso.
Foi quando surgiu de dentro da oficina um senhor com cabelos, totalmente brancos, usando um guarda-pó azul. De poucas palavras e atitudes firmes tomou em suas mãos uma chave de fenda grande e encostou aos polos de uma bateria. Ouviu-se um estalo seco. E, fez-se um silencio insuportável... Enfiou, em seguida, a chave pelo bloco do motor e trouxe, na ponta da chave, a peça que estava perdida.
Desconcertado, Simplício, finalmente, calou-se.
Visivelmente nervoso, cruzava e descruzava os braços. Não se conformara com aquela cena. Encontrara alguém que sabia mais que ele.
Alguém se aproxima para lhe avisar que seu carro estava pronto.
Acertou as contas e seguimos em frente.  Simplício, ainda meio pensativo, passou a falar de futebol. Finalmente, sentiu que não era o dono da verdade.
Ainda bem que o resultado das questões da sua prova não bateram com a  minha. Ele saiu-se muito mal.
 

16 de ago. de 2012

A partida




O leito sereno da Lagoa refletindo o casario do mercado e dos barcos ancorados nas Docas foi a ultima imagem de Laguna, antes de tomar o ônibus, que me levaria a Florianópolis.
A rodoviária era um prédio, já demolido, situado entre as Docas e os casarios da rua Gustavo Richard; onde, hoje, está o canteiro central da rua que termina na rotatória em frente ao prédio do antigo cine Mussi. 
Na partida meu sentimento era um misto de medo e angustia. Minha decisão representava um desafio para um jovem sem qualquer experiência. Mas eu precisava me aventurar. O mundo no qual vivia era pequeno para meus sonhos.   Foi assim que deixei para traz a segurança do convívio com os pais e irmãos e fui atrás dos desafios.
 Foram quase cinco horas de viagem na estrada de chão batido e empoeirada que me levaria ao desconhecido. Guardo tão bem comigo, nos  mínimos detalhes, a minha chegada a essa cidade.
O mar manso a um todo sol, a ponte Hercilio Luz dando passagem aos Opalas Comodoro, aos Dodges,  às Brasílias, às Variants, aos Fuscas... As placas nos bares anunciavam a Cola-Cola. Das fotografias daquele dia que carrego na memória, a mais perfeita na lembrança foi a da parelha de barcos, dos clubes de remo, que competiam embaixo da ponte e o morro da Cruz ao fundo, parecendo uma muralha que protegia a cidade.
Tenso mas disposto a enfrentar a vida  pressenti meu espírito alimentar esperança para com aquela nova realidade e com o ano de setenta e um que se aproximava.  Era certo que amanheceriam dias dourados.
O tempo passou e até sou feliz...  lógico que a vida é igual em qualquer lugar do mundo.  O tempo faz nossos dias oscilar entre  calmarias e ventanias.  E se quisermos sorrir e enxergar um mundo com mais cores é preciso fechar os olhos e sonhar com otimismo. Só então os ombros sentem mais leve o fardo – até nos entardeceres.
Assim, daquele ano de setenta e um em que se ouvia no radio a canção “detalhes” de Roberto Carlos -  dali em diante esta ilha de nome Florianópolis fortificou-se demasiadamente em mim, e quando, pela BR-101, volto de visitar, a minha querida Laguna e avisto a Ponte Hercilio Luz, tenho em mim a deleitosa sensação de não ser despovoado comigo, porque o meu encantamento é, também, de primeiro grau por esse lugar, por essa cidade,  por essa vida.

O que escrevo não tem rima nem verso. Tem somente o olhar, da alma, que empresto.

17 de jun. de 2012

Conversando com Antonio


É junho, Antonio! Chegamos de todas a partes para te reverenciar. Unidos pela tradição e pela fé  nos sensibilizamos com a beleza da tua  imagem. Porque tu és o Antonio dos Anjos da Laguna, a quem nossa devoção vai além dos limites das religiões.
Nós te pedimos, Antonio, que intercedas junto ao criador para acabar com nossos infortunios e com aqueles que afligem nossa centenária cidade. Suplicamos, através de nossas preces, um melhor destino para nossa sociedade.
O tempo é de promessas, Antonio! Pelas ruas e praças da cidade os profetas da demagogia anunciam um tempo de prosperidade. Falam de projetos mirabolantes e de uma majestosa ponte que haverá de sanar, de vez, com os problemas de desemprego e de infraestrutura que afligem nossa cidade.
Tu ouves, pacientemente, todas as promessas e preces e o teu rosto parece disfarçar um sorriso de esperança. Pois sabemos, Antonio, que somente tu serás capaz de construir a ponte que unirá nossos corações e nos conduzirá ao reino dos céus.
As tuas trezenas rezadas em latim e entoadas em gregoriano pelo teu coral, ecoam pelo jardim Calheiros da Graça e pelas ruas da laguna. Um espetáculo único, de celebração, jamais visto em outras catedrais.
Agora, venha Antonio! Vamos passear pelas ruas frias, do inverno, da Laguna. Nós te acompanharemos neste translado iluminando teus passos com fogos de artifícios atirados dos quintais de nossas casas. Eles brilharão no céu escuro da noite de junho ao tempo em que a banda musical entoará hinos de louvores em tua homenagem.
E no final da caminhada, um ultimo aceno ao povo. E a certeza que a tua mensagem de paz e fraternidade permanecerá viva no coração daqueles que persistirem na tua fé.

21 de mai. de 2012

O que será do amanhã



Para uns o mundo vai acabar. Outros dizem que, no futuro, ele será bem melhor. E a discussão sobre a continuidade da vida no nosso planeta está longe de terminar.

O certo é que a matriz energética responsável pelo desenvolvimento humano foi baseada  somente no aproveitamento dos nossos recursos naturais. E o aumento da população aliada ao progresso científico e social dos povos está a exigir maior capacidade de produção de energia.

Os cientistas alertam para o aumento da temperatura do planeta, o degelo das geleiras, a poluição dos rios e o aumento do nível e da acidez das águas dos oceanos. Mas nada de concreto é realizado em benefício do meio ambiente. A extração desses recursos continua num ritmo nunca visto. A tecnologia é utilizada na consecução de máquinas eficientes e produtivas capazes de extrair grandes quantidades de recursos.  O que está resultando em grandes áreas de florestas devastadas e extração de toneladas de minérios em espaços de tempo cada vez menores.

Onde e quando iremos parar?

Se as pesquisas relativas a fontes alternativas de energia caminham a passos lentos. E os fóruns mundiais de debates sobre problemas ambientais, por sua vez, sempre resultam em esvaziamento das pautas de debates sem um compromisso de comprometimento das nações, para o encaminhamento de soluções. Os interesses das grandes corporações e dos governos vão de encontro aos tratados propostos por essas convenções que aconselham a exploração racional dos nossos recursos naturais visando um desenvolvimento com mais sustentabilidade. 

Os apelos dos ambientalistas, quase sempre, não são levados a sério e invariavelmente esses profissionais são rotulados de eco-chatos sendo, inconvenientemente, colocados numa posição de marginalidade.

O planeta terra, um templo de vida consagrado por Deus, e dedicado especialmente a vida humana, não pode mais esperar. Ele precisa, urgentemente, de uma mão defensora do seu propósito maior; a de garantir a continuidade de nossa espécie.

Estamos, novamente, no limiar de uma nova era. A espera do aparecimento de uma personalidade marcante,  com vontade e coragem suficiente de chutar o balaio de mercadorias de procedência duvidosa, dos vendilhões do nosso templo.   

           

23 de mar. de 2011

A Lua e o perigeu

Não consigo olhar a lua com o pragmatismo dos homens da ciência. Naquele dia ela apareceu linda, cheia, mais brilhante e maior. E eu comecei a observá-la, com olhos de sonhos. Viajava por seus contornos desenhados no azul marinho do céu da noite. Ali estava ela a nos encantar com o seu reluzente prateado. Poetas, seresteiros, namorados, correi . É chegada a hora de escrever e cantar . Talvez, a derradeira noite de Luar .....cantarolei a canção. Naquela noite, ela apresentava-se bonita demais. Faríamos pouco caso, se a considerássemos somente um satélite qualquer, como querem os práticos e céticos. Estava acontecendo o perigeu Lunar, apressava-se para explicar a ciência. O fenômeno ocorre quando a Lua cheia encontra-se na sua órbita mais próxima da terra. Mas a explicação científica, empírica e desprovida de sentimento, desmistifica o belo com sua análise crua e tosca. Para sentir tamanha exuberância e beleza é preciso olhar com o coração. Já dizia o poeta. E nesse mundo de tantas catástrofes e guerras nós precisamos, mais do que nunca, de um tempo pra sonhar ...sonhar...e sonhar.... Quantos maravilhosos segredos esconde o nosso universo? E dizer que, mais uma vez, todo este esplendor é explicado por uma teoria científica chamada Big Bang. O fenômeno do surgimento do cosmos, diz a ciência, surgiu com uma descomunal explosão chamada Big Bang. O universo vai se resfriando à medida que se distende. Por isso ele está sempre em expansão. Simples e direto como qualquer outro conceito científico. Resta, entretanto nos explicar, o que permitiu a formação do Big Bang, antes dessa explosão. E então, por mais que os céticos queiram negar, vão ter que admitir: Por detrás do Big Bang existe, um Deus!

18 de mar. de 2011

Crônica do Tempo Novo

Há por aí, espalhado no espaço invisível, um tempo novo. Um tempo que nos foge. Onde as crianças já não fazem brincadeiras como no meu tempo de meninice. Já ninguém joga mais peladas pelas várzeas das cidades, nem o pião faceiro vive mais enrolado nas fieiras a rodar pelas ruas e quintais das casas. Não existe mais as rodas de cirandas com suas cantigas, o amarelinho, o esconde-esconde. Já não há crianças que sintam esse tempo nas emoções das horas bem usadas e de boas companhias. Já pouco resta desse tempo de memórias bem absorvido pelo tempo novo de comunicações imediatas e sem limites de distâncias.
Há um tempo novo, apressado, no seio da sua própria solidão porque as companhias são distantes e, mesmo que conhecidas, são, majoritariamente, desfrutadas no plano virtual.
Há, portanto, neste tempo novo, uma conexão colada ao corpo e um computador por companhia quase constante e até nem importa a idade de cada um, porque é importante estar atualizado com as realidades vizinhas.
Sem que nos déssemos conta, num andar vagaroso e ao mesmo tempo apressado, este tempo novo foi-se instalando em nossa vida, definitivamente.
Hoje, só as memórias sabem do que falo e os meninos de outrora, agora homens e mulheres, podem explicar o que sinto, neste tempo novo roubado e jogado no de uma época.
Que outro tempo virá e derrubará este tempo novo?

5 de fev. de 2011

Repensando a cidade

Próximo ao mercado, encostado na árvore sobre o cais, à beira da lagoa, observo o por do sol pintar de vermelho o horizonte atrás do morro. O silencio que toma conta da histórica rua Gustavo Richard só é interrompido pelo barulho da tarrafa que o pescador solitário trabalha, incansavelmente, de cima da pedra. E eu ali, vivenciando o momento, a pescar reminiscências em minha memória. O mar, a Lagoa, os lugares, as ruas com seus traçados perfeitamente preservados. Tudo tal como na minha infância e juventude. Quando volto meus olhos para o céu sinto vontade de chutar latas ao lembrar de um tempo em que saia por ai, à toa, assoviando Beatles pelo Jardim Calheiros da Graça. Mas, subitamente, sou assaltado pela lembrança que o passado é assunto para ser contado através da historia. E o que nos reserva, o futuro, já está acontecendo agora. Enquanto aqui o silencio de antigas ruas e de seculares casas coloniais guardam a saga de famílias, pessoas e da própria cidade, por detrás da Nossa Senhora da Glória a modernidade se ergue e se agita ás margens do Atlântico. Dos molhes ao pontal o movimento de carros e pessoas é sem igual. O Jet-Sky que desliza sobre as águas do canal e o barco inflável que manobra junto a bóia de ferro.....tudo lembra o novo. O vai e vem do bote, lotado, que transporta as pessoas para a passagem da barra e a travessia da balsa cheia de automóveis para visitar a Tereza, a Galheta e a centenária construção do Farol e suas praias. No Mar Grosso uma moderna arquitetura levanta-se por toda a sua orla acrescentando beleza à paisagem. Uma perfeita harmonia entre passado e presente esperando uma mudança radical de nosso comportamento com tudo aquilo que entendemos como turismo. A dualidade do antigo e do novo retratada no complexo urbano de Laguna está a merecer um projeto turístico de longo prazo que leve em conta, também, esta característica de duplicidade, inerente a cidade. O passado e o presente. A cidade velha e a cidade nova. Assim é que somos conhecidos pelos que nos visitam.

14 de dez. de 2010

Crônica Distante

Começo escrevendo esta crônica sem saber onde ela pode me levar. Um assunto, uma inspiração, um tema...nada me passou pela cabeça nestes últimos dias. Sozinho, numa esquina de solidão, só a nudez de idéias, me acompanha. Por que caminhos andará minhas letras? Lá fora o tempo é chuvoso, com ruas desertas e molhadas. A temperatura é agradável e o tempo náo me apressa. A vida não para e as coisas continuam a acontecer sem a minha intervenção. Ao meu redor vejo apenas alguns objetos: canetas, impressora, som, régua, grampeador, porta, cadeira, computador e os meus dedos teclando palavras soltas no meu pensamento vazio. Ausento-me para matar minha sede no copo d’àgua como toda a sede deve ser aplacada. No telefone as pessoas tratam de assuntos não muito interessantes, mas que distraem, enquanto o tempo passa. O porteiro toca! Alguém a querer entregar um sofá que não comprei. Toca novamente. A insistência desarruma minhas certezas, cutuca a impaciência e sacode a tranquilidade. Então, volto e tento alinhar meu pensamento... Que tal um café?... Ele caiu fresco e quente sem antagonismo. O pensamento foge, novamente, e vai até onde nunca pretendeu chegar. Por fim, termino essa crônica sem saber onde ela me touxe. Vou remexer o baú dos meus conflitos, desfrutar da minha inquietude. E quem sabe até a próxima crônica, meu barco não se encontre tão , á deriva. E, eu saiba onde vou estar e o que caberá.

23 de nov. de 2010

A Escolinha do Carequinha

Vez por outra o pensamento me remete a lembranças que pareciam apagadas da memória. E quando algum fato ou prova física me possibilita construir a ponte de ligação ao acontecimento passado tudo aflora facilmente na memória, como se eu estivesse folheando um antigo álbum de fotografias. Ao passar em frente aquela velha casa abandonada, no caminho da praia para o Magalhães, lembrei que ali funcionava uma das escolas primárias dos anos 60, da nossa Laguna. Era a escola estadual Major João Nunes Neto. Nessa década, de uma maneira geral, os recursos para investimentos em qualquer área eram escassos e o sistema de comunicação do país não dispunha do aparato tecnológico nem a importância e o alcance do existente nos dias atuais. E é nesse contexto que a escola com apenas duas pequenas salas, comportando cada uma, no máximo 20 alunos, funcionava. Atendia principalmente, alunos carentes das comunidades da Coréia (Rua da Balsa), Lagoa Preta e Ponta das Pedras. Na “Escolinha do Carequinha”, assim carinhosamente apelidada pela comunidade, as matriculas eram feitas de porta em porta, nas casas dos alunos, convencendo as mães da necessidade de se colocar os filhos na escola. Elas justificavam a evasão escolar por falta de condições financeiras das familias para a aquisição dos materiais escolares. Mas a Caixa Escolar, criada e mantida pelas doações das próprias professoras e de terceiros viria, em parte, amenizar o problema. Lecionar naquela escola era um verdadeiro sacerdócio. As professoras, além de se preocuparem com o ensino daquelas crianças, intelectualmente defasadas, ainda tinham de resolver os problemas familiares que afligiam os alunos. A meninada chegava para as aulas com os pés descalços e alguns deles de carinhas lambuzadas passavam por uma primeira higienização realizada pelas abnegadas mestras/mães. Além do que ainda providenciavam, às suas custas, no horário do recreio, o lanche dos seus alunos. O trabalho do magistério se constituía numa árdua batalha de resgate da cidadania daqueles alunos e de suas famílias. Eram normais aulas de reforço, depois do horário, na casa da professora. A Escolinha do Carequinha encerrou suas atividades no ano de 1974 quando se instalou na cidade, a Escola da fundação Bradesco, mas deixou sua indelével marca na comunidade do Magalhães e no coração daqueles que se tornaram os homens e as mulheres de hoje e nela tiveram seu primeiro contato com o mundo das letras. O imóvel lá permanece a merecer uma boa restauração e quiçá uma inspiradora idéia de aquisição do que restou de seu patrimônio, pelo poder municipal, para a instalação daquilo que poderia ser a biblioteca pública municipal “Escolinha do Carequinha” do Magalhães. Aqui fica o registro da historia de uma escola mantida, praticamente, pela heróica resistência de professoras, provenientes do meio de uma comunidade, com uma fervorosa vocação voltada para o magistério, que fez mudar para melhor, o destino de crianças pobres desassistidas de nosso bairro.