31 de out. de 2019


DEUS, SPINOZA E EINSTEIN


Quando perguntaram a Einstein se ele acreditava em Deus, ele respondeu: “Acredito no Deus de Spinoza, que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, não no Deus que se interessa pela sorte e pelas ações dos homens”.
MENSAGEM DE DEUS, SEGUNDO BARUCH SPINOZA
“Pare de ficar rezando e batendo no peito! O que quero que faça é que saia pelo mundo e desfrute a vida. Quero que goze, cante, divirta-se e aproveite tudo o que fiz pra você.
Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que você mesmo construiu e acredita ser a minha casa! Minha casa são as montanhas, os bosques, os rios, os lagos, as praias, onde vivo e expresso Amor por você.
Pare de me culpar pela sua vida miserável! Eu nunca disse que há algo mau em você, que é um pecador ou que sua sexualidade seja algo ruim. O sexo é um presente que lhe dei e com o qual você pode expressar amor, êxtase, alegria. Assim, não me culpe por tudo o que o fizeram crer.
Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo! Se não pode me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de seus amigos, nos olhos de seu filhinho, não me encontrará em nenhum livro.
Confie em mim e deixe de me dirigir pedidos! Você vai me dizer como fazer meu trabalho?
Pare de ter medo de mim! Eu não o julgo, nem o critico, nem me irrito, nem o incomodo, nem o castigo. Eu sou puro Amor.
Pare de me pedir perdão! Não há nada a perdoar. Se eu o fiz, eu é que o enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpá-lo se responde a algo que eu pus em você? Como posso castigá-lo por ser como é, se eu o fiz?
Crê que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que Deus faria isso? Esqueça qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei, que são artimanhas para manipulá-lo, para controlá-lo, que só geram culpa em você!
Respeite seu próximo e não faça ao outro o que não queira para você! Preste atenção na sua vida, que seu estado de alerta seja seu guia!
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é só o que há aqui e agora, e só de que você precisa.
Eu o fiz absolutamente livre. Não há prêmios, nem castigos. Não há pecados, nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Você é absolutamente livre para fazer da sua vida um céu ou um inferno.
Não lhe poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso lhe dar um conselho: Viva como se não o houvesse, como se esta fosse sua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não houver nada, você terá usufruído da oportunidade que lhe dei.
E, se houver, tenha certeza de que não vou perguntar se você foi comportado ou não. Vou perguntar se você gostou, se se divertiu, do que mais gostou, o que aprendeu.
Pare de crer em mim! Crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que você acredite em mim, quero que me sinta em você. Quero que me sinta em você quando beija sua amada, quando agasalha sua filhinha, quando acaricia seu cachorro, quando toma banho de mar.
Pare de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra você acredita que eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me agradeçam. Você se sente grato? Demonstre-o cuidando de você, da sua saúde, das suas relações, do mundo. Sente-se olhado, surpreendido? Expresse sua alegria! Esse é um jeito de me louvar.
Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que o ensinaram sobre mim! A única certeza é que você está aqui, que está vivo e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisa de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procure fora. Não me achará. Procure-me dentro de você. É aí que estou, batendo em você.”

10 de jul. de 2019

Santa Ingenuidade


Nos idos da década de 1950 o estudo básico do país era dividido em primário, ginasial e secundário.
Lembro que comecei a frequentar a escola primaria em 1955 estudando no Grupo Escolar Ana Gondim. O diretor era o nosso ilustre professor Rubens Ulisséa. Eram sete anos de extrema ingenuidade, normal naquela  idade; muita desinformação, muitos tabus e uma falta de veículos de comunicação que permitissem acesso facilitado a informação. O conteúdo curricular do ensino era exemplar, mas os assuntos extracurriculares inexistiam.
Uma realidade totalmente diferente dos dias atuais. Imaginem que telefone e televisão ainda não existiam nos lares das famílias. É nesse contexto que a escola se inseria na vida dos nossos estudantes.
Tínhamos entre os dois períodos de aula, o Recreio, onde era servido uma  suculenta sopa naqueles canecões esmaltados. Nessa pausa também aproveitávamos para brincar de pegar com os colegas e correr pelas áreas do estabelecimento.  E foi, justamente, numa dessas corridas que sou abruptamente entrelaçado pelos braços de uma menina que me lascou um beijo  no rosto pegando de raspão na minha boca. Por um momento fiquei perplexo e um tanto anestesiado pela sensação gostosa de ser beijado pela menina. Mas quando me recompus, surgiu a preocupação....! Aquela menina poderia vir a ter um neném. Sim, na cabeça daquela criança dos anos 50, a fórmula era simples: beijo na boca= neném.
Voltei para sala de aula sem ter a quem recorrer. Não poderia perguntar a professora e muito menos em casa. Esse era um assunto tabu, até para os adultos, imagina para uma criança de sete anos!
Mas eu poderia contar com a ajuda de um amigo confidente para esclarecer e aconselhar sobre o acontecido- o Peco! Ele conhecia tudo, uma verdadeira enciclopédia- era uma Barsa.
Sabia muito, mas estudava noutra sala. E assim, apos a aula, fui  para casa com aquela preocupação assombrando minha cabeça.  No outro dia, cedinho, fui um dos primeiros a chegar a escola. Lá estava eu no portão do Ana Gondim esperando o Peco. Aquela espera já era uma eternidade quando, finalmente, avistei o meu amigo letrado chutando uma peteca no meio do campinho, vindo em direção ao grupo. Mal cruzou o portão e eu lhe puxei pelo braço para lhe contar o acontecido e de sua provável consequência. Ele olhou pra mim e desatou uma estridente e longa gargalhada. Contrariado e com cara de abestalhado, fiquei imóvel esperando alguma explicação do meu amigo inteligente. Afinal de contas eu precisava de uma luz.
De repente ele parou de rir e soltou sua teoria. Disse-me que nós meninos tínhamos birro para fazer xixi e que as meninas tinham pombinha!  Até aí, tudo bem! Nenhuma novidade pra mim. E continuou seu discurso dizendo que a menina somente poderia ter neném se ela pegasse minha mão e a colocasse na sua pombinha .
Era tudo que eu queria ouvir! Meu amigo Peco me livrou de uma grande preocupação. Mas, por via da duvida, daquele dia em diante, toda vez  que a menina se aproximava de mim eu empurrava minhas mãos no bolso. O seguro morreu de velho.

1 de jul. de 2019

Retalhos da memória



Vai longe no tempo a lembrança das noites de verão numa cidade pouco  iluminada. Atraves do  Porto, ainda muito movimentado por navios de pequeno porte, escoava a produção da região, trazidos pelos Trens fumacentos da estrada de ferro Dona Maria Tereza Cristina.
Sobre o Cais, dois potentes guindastes elétricos, responsáveis pelo carregamento dos navios, eram alimentados por uma pequena usina termoelétrica instalada na área portuária, cuja energia residual  iluminava as casas de uma Laguna pouco populosa. Os anos se passaram e aquela capacidade geradora instalada logo foi superada pelo consumo, ocasionando os inevitáveis e sucessivos blackouts. E vez por outra a cidade ficava,totalmente, ás escuras.
Iluminadas pelo clarão da lua cheia, as noites quentes e sem luz eram  refrescadas na amistosa familiaridade dos vizinhos. Sentadas, nas cadeiras enfileiradas em frente as casas,  as pessoas desfilavam animadas  conversas, regadas na simplicidade do cotidiano de suas vidas.
Entre um e outro assunto viajávamos com os olhos fixos na Via Láctea - uma estrada estrelar muito iluminada, desenhada no infinito, e escancaradamente visível, na escuridão limpa daquelas noites de verão.
Eramos uma sociedade de sonhos! Literalmente, "Olhávamos mais para as estrelas que para nossos pés." Como queria, que assim fizessemos, nosso gênio- fisico cosmologo-Stefen Hawkens.
No meio da sala daquela casa, uma senhora, a quem mais tarde reconheci minha avó, tecia sua renda de bilros, sentada de pernas cruzadas, em frente a uma almofada. Sob a luz tênue de uma vela, fazia aos poucos tomar forma, as toalhas que enfeitariam as cômodas e mesas do lar.
O fio com o qual  tecia as toalhas, resultava de um  processo rudimentar preparado através da folha de uma planta, chamada "tucum".
Eu, um menino nos meus oito anos, lembro-me do processo de preparação do fio.
A folha era desfiada numa madeira cheia de pregos e colocada para secar, ao sol. Com o auxilio do "rufo" - uma espécie de pião com uma grande aste, confeccionava-se a linha. Prendia-se o fiapo desfiado do tucum neste instrumento e rodava-se até a formação de um tipo de barbante fino e  resistente. Era um conhecimento da  cultura  indígena que, tempos atrás ainda existia, como tradição, na nossa comunidade da Barra  e atualmente é preservada nas comunidades açorianas da Ilha-Capital.
Naquele tempo, de valorização da convivência em grupo, as conversas eram presenciais e aconteciam no cara a cara. Fazia-se amigos com mais facilidade. Reuníamos pelo simples prazer de ver e conversar com os amigos sobre os diversos assuntos da semana. Lotavamos as sessões de cinema do Cine Mussi, as missas da matriz, as reuniões dançantes do SESC, as festinhas americanas e até o Jardim Calheiros da Graça para apreciar o desfile da meninada.
Na antiga Venda adquiríamos alimentos e demais necessidades domesticas, e o proprietário fazia anotação das compras em cadernetas, cujos valores, eram devidamente saudados pelos clientes a cada fim de mês.
A comunicação, a distancia, a disposição da sociedade era a escrita (carta e telegrama) via correio e o telefone.   Uma carta para a capital demorava, no mínimo, dez dias para chegar ao destinatário, enquanto as ligações telefônicas eram solicitadas na central telefônica da companhia. A telefonista fazia a ligação e transferia para o numero solicitante.
Os processos de elaboração de produtos eram manuais e as maquinas das linhas de produção  funcionavam  por meios mecânicos. Não se imaginava a existência da  eletrônica que viria, mais tarde, revolucionar a indústria.
Uma realidade distante da vida atual e diferente das produções em série que, mais tarde, alimentariam o comercio e surgiriam para mudar, definitivamente, o modo de vida das nossas cidades modernas.
Com o desenvolvimento perdemos o olhar das estrelas para ganharmos a eficiente iluminação artificial das hidrelétricas; e um combo cujo pacote inclui uma cidade cheia de automóveis em estacionamentos lotados, e pessoas apressadas querendo chegar a lugar nenhum. As cadeiras em frente as casas foram recolhidas para as salas de estar das famílias e, hoje, as conversas versam muito mais sobre os programas padronizados das televisões, principalmente aqueles relacionados ao mundo das telenovelas. 
Mais recentemente, o desenvolvimento tecnológico, trouxe para a palma de nossas mãos um volume de conhecimento e informação  quase instantâneo - O celular.  Digitamos mais através de emails e aplicativos e conversamos menos. Com os olhos presos nos aplicativos de conversação, onde quer que estejamos, ignoramos os acontecimentos ao  nosso redor.
O mundo da internet  abriu um leque de possibilidades jamais imaginada até mesmo por seus criadores. Compra-se de tudo virtualmente, no cartão de crédito, com entrega em domicilio, sem a necessidade de  conhecer o estabelecimento ou conversar com o vendedor.
Se por um lado essas vantagens contribuem positivamente para o aprimoramento intelectual e informativo da sociedade, de outro modo elas podem estar interferindo nas relações entre as pessoas, provocando um tipo de isolamento voluntário, capaz de nos deixar tomar gosto pela solidão.
E diante de toda essa mudança criada pela ciência que nos fascina, um incerto enredo para o futuro, se descortina  impondo a pergunta que o consagrado samba, nos setencia: Como será o amanhã? Responda quem puder. O que irá nos acontecer? Nosso destino será como Deus quiser.....
 

30 de jun. de 2018

Um amigo chamado Frodo.



Era um amigo inseparável! Não entendia muito o que se passava na nossa cabeça mas estava sempre pronto para obedecer. Sua percepção aguçada permitia-lhe sentir nossos momentos de tristeza ou aborrecimento e se recolhia para um canto qualquer.  Nessas horas não se sentia sua presença. Nunca reclamava das broncas que levava e estava sempre disposto a perdoar.
Nas diversas vezes que veio me visitar sentiu-se em casa. Era o primeiro a se postar próximo a porta na hora do passeio.
Vamos passear? Esta era a frase mágica que o deixava feliz e com olhos reluzentes. Frodo nos deixou muito rápido. Surdo, cego e com uma dificuldade enorme para se locomover permaneceu silencioso no seu sofrimento; não deixou escapar no seu  ambiente familiar, nenhum gemido de dor. Foram quatorze anos de amor incondicional doado aqueles  que partilharam da  sua convivência. Frodo, nosso cachorrinho estimado, nos deixou muito rápido. Foi como se tivesse pego carona na cauda de um cometa e sumido ,repentinamente, pela imensidão do desconhecido. Deixou muito de si e um profundo vazio no nosso coração. Levou muito pouco de nós, pobres humanos, que  estamos longe de aprender a lição de humilde, resignação e amor incondicional, incansavelmente, demonstrado pelo nosso Frodo. Descanse em paz, querido cachorrinho!

19 de mai. de 2017

Uma nova chance

Tudo seria igual aos outros dias se não fosse aquela fatídica segunda-feira. Foi um evento tranformador da maneira como se desenrolava os acontecimentos na minha vida.
As preocupações a atormentar minha mente,  o ritmo da cidade acelerada forçando a passagem para um futuro incerto em suas perspectivas e aquele punhado de sonhos que as contingências da vida e a urgência do tempo, não permitiu realizar.
O transito caótico e um corre-corre de pessoas querendo chegar a lugar algum parece sempre denunciar a descrença na possibilidade de um outro amanhã.
E os dias se sucederam assim.... presenciando as mesmas histórias construidas pela saga de diferentes pessoas, vindas de diversos lugares para habitar essa linda e conturbada cidade.
Nos ombros, o peso de um fardo, molhado por noites mal dormidas; e no peito a tristeza de ver a esposa, amiga, companheira e mãe, amor primeiro de minha vida, numa interminável luta contra uma doença que a ciência ainda não desvendou.
E meu coração banhado no romantismo dos consagrados anos dourados onde a cuba livre da coragem incentivava  jovens sonhadores a dançar de corpos colados, não suportou vivenciar tantas mudanças acontecidas por todas essas decadas e cedeu a pressão a que fora posto, à prova,  sucumbindo diante de uma UTI na SOS Cardio. Foram sete eternos dias de tratamento intensivo que culminou com um procedimento de angioplastia.
Quiz o criador, senhor dos mundos, que eu continuasse minha viagem nesse trem da vida, valorizando, ainda mais, cada chegada e cada partida até a parada na estação derradeira onde nosso espirito repousará na eternidade.

17 de ago. de 2015

O problema






Dia desses meu irmão me enviou, via wattsap, um problema matemático no qual sobre uma balança, se revezava para pesar, um cachorro, um coelho e um gato. E perguntava, no final, qual o peso de cada animal. Confesso que não me ative à resolução ao que meu irmão acusou tratar-se de um problema que poderia ser resolvido aplicando-se três equações com três incógnitas. E também me chamou atenção para a decepção que nossa,  já falecida, professora de matematica do CEAL, Dona Elza sentiria,  se soubesse dessa falta de conhecimento   de seu ex- aluno. Provavelmente esse meu vacilo diante dessa questão seria motivo de contestação daquela querida mestra, acerca do meu aprendizado. Mas aquelas questões que ,naquele tempo,pareciam complicadas eram sempre solucionadas na conversa com o colega de classe ou no socorro da professora. A verdade é que o tempo passou e a vida seguiu seu curso. E os conceitos matemáticos aprendidos no quadro negro do CEAL permanecem escondidos nos meus arquivos de memória. Somente os recupero quando encontro algum amigo para revirar as bonitas lembranças de juventude.
Os anos se passaram, e a idade se debruçou sobre meus ombros mostrando a dura realidade da vida.
Os problemas mudaram na sua forma e conteúdo exigindo muito de nós devido as suas complexidades. Eles agora vem acompanhado de elementos que não encontram mais respostas na pura aplicação racional das fórmulas matemáticas. 
E o problema que afeta diretamente minha vida, atualmente, vem tomando e consumindo todo o meu tempo e minha energia. Tento de todas as maneiras, desesperadamente, me abastecer de informação na tentativa de solucioná-lo.
Descobri que nem a ciência, por enquanto, conseguiu ainda uma equação capaz de resolvê-lo. Mas alimento a esperança que a solução apareça logo como fruto da pesquisa de um desses estudiosos iluminado por Deus.
O tempo teima em se apressar e os pesquisadores vem se desdobrando na procura de uma fórmula que  permita a solução definitiva.
Mas se ainda assim tudo falhar, restará por fim, a fé num milagre que só o criador será capaz de operar.
Quanta saudade tenho daqueles problemas de matemática da professora Elza lá do nosso CEAL.

30 de dez. de 2014

A Viagem


Foram oito horas de voo direto, entre São Paulo e Miami. Uma viagem um tanto cansativa, mas instigante pelas novidades e descobertas que encontrávamos por onde passávamos. A viagem de Miami a Orlando, nosso destino final, num automóvel confortável e espaçoso foi nos revelando aos poucos a beleza das estradas e da estrutura que a administração americana põe a disposição do seu cidadão. O Duarte e a Fabiana pareciam cidadãos americanos, tamanha a desenvoltura com que dirigiam e tratavam o idioma Ingles. Na localidade de Kissimmee, já na cidade de Orlando, uma casa confortável num condomínio fechado, o Windsor Palm, nos esperava equipada com todas as condições tecnológicas modernas, inclusive internet.  Não foi necessário contatar  pessoas ou responsáveis. Era só apresentar as credencias na entrada do condomínio e digitar a senha, criada quando da locação ainda no Brasil, na fechadura da porta. E eu lembrei de como é difícil locar uma casa aqui no nosso Pais. Uma papelada desgraçada, vistoria para entrar e para sair. Uma afronta a dignidade do brasileiro.
Mas estávamos nos EUA para visitar a fabrica de sonhos da Disney. O Magic Kingdom, O Animal Kingdom, o Epcot  e também a Legoland o Hollywood Studios e o  Universal Studios. Neste ultimo, o que chamou a atenção foi a construção do ambiente do filme Harry Potter. As ruas e casas foram edificadas tal qual no filme. No passeio por entre as ruelas de Londres encontra-se o Beco diagonal com um dragão sobre o telhado do prédio expelindo labaredas de fogo, e paramos para saborear a famosa cerveja de manteiga. O castelo de Hogwarts, a escola de bruxaria, foi fielmente retratado. Ali, como na série, cria-se a ilusão que passamos por uma parede de tijolos quando vamos em direção a estação de trem que nos levará a Hogsmeade, o vilarejo bruxo da Grã Bretanha. Por ultimo ainda ,nos aventuramos numa viagem multidimensional sobrevoando os arredores do castelo acompanhados por Harry Potter e seus amigos.
O Henrique estava eufórico e ficava, as vezes aflito, para ir nos brinquedos radicais. Foram muitas as montanhas russas e elevadores que despencavam em queda livre, como o do Hollywood tower onde um mordomo sinistro incitava o pessoal.
No Magic Kingdom, entre tantas atrações destaco a fantasia do filme Frozen que foi mostrada pelo musical em frente ao castelo, ao cair da tarde, com a presença da princesa Elza e Ana e da rabujenta feiticeira. A divina Luisa, nem piscava, quando no auge da apresentação, os fogos de lágrimas clarearam o céu e o castelo congelou, literalmente sob o efeito da avançada tecnologia empregada no jogo de luz que proporcionou o espetáculo. Visitamos miniaturas de lugares turísticos de importantes cidades americanas,  montadas em Lego, além de inúmeros jogos no parque Legoland.
Nm passeio pela floresta tropical Africana, no parque Animal Kingdoom, com um jeep devidamente caracterizado para um Safari nós apreciamos os animais e seu habitat.
A passagem pelo EpCot foi mais uma aventura emocionante. A palavra é um acrônimo para Comunidade Protótipo Experimental do Amanhã; uma cidade utópica do futuro planejado por Walt Disney.
O Spaceship Earth é um passeio dentro de um tunel que mostra a história da comunicação humana desde a idade da Pedra até a Era dos computadores.
Quando fomos para o brinquedo Mission Space o Henrique tomou o controle do foguete e decolou com o vovô Mauro e a vovó Nilba rumo ao espaço detonando meteoros com seu canhão de raios laser e abrindo caminho para o infinito. Uma emoção de tirar o folêgo.
No Soarin, um voo de asa Delta, multidimensional, sobre as paisagens da Califórnia é uma sensação fantástica. Passa-se sobre os Canions, Lagos, Plantações, mares e cidades. Para se ter a verdadeira dimensão daquela realidade virtual, sente-se o cheiro da laranja quando se está voando pelos pomares.
No EpCot também experimentamos a variedade das comidas tipicas das diversas nacionalidades. No la Cantina de San Angel provamos a autentica comida mexicana. No Chefs de France a famosa sopa de cebola e a perrie foram os destaques. A carne de cordeiro e o cuscus marroquino do restaurant Marrakesh foi acompanhado pelo show da dança do ventre interpretado pela bonita dançarina.
Fora dos parques, Orlando mostrou sua ótima infra estrutura turística. Estradas, hotéis e a organização e disciplina do povo.
Conhecemos os grandes Supermarkets e os outlets onde são comercializados marcas como: Tommy Hilfiger, Victoria Secret, Calvin Klein, Lacost e uma variedade de produtos de ponta com preços acessíveis no varejo. Visitamos também, as redes de restaurantes Chesecake Factory, Olive Garden e Red Lobster. 
Uma viagem para ficar para sempre na memória e nas imagens gravadas pelas lentes da nossa máquina fotográfica. Chama a atenção a organização, disciplina e educação do povo americano. Quem sabe um dia conseguiremos nos livrar dessa parafernalha corrupta que assola o país e nos tornemos uma grande nação.
Quem sabe!
Feliz Ano Novo a todos.

21 de abr. de 2014

Peixada dos Pereira

Num sábado de sol escancarado atravessei, à balsa, o canal que liga o Magalhães a Ponta da Barra. Lá encontramos uma comunidade lagunense que guarda muito no seu cotidiano, as características de nossos colonizadores portugueses. Os grupos folclóricos do boi de mamão, da bandeira do divino, dos ternos de reis, graças a Deus, ainda sobrevivem nos costumes daquele nosso pedaço de terra habitado por uma gente acolhedora e fraterna. Um  povoado que cultiva, com sabedoria, nossas heranças açorianas sem, contudo,  negligenciar a modernidade de nossos dias.
A travessia, por si só, já é um passeio para encher nossos olhos. De cima da balsa colhemos uma visão diferente do cais do porto e do corredor de agua que desagua no mar, através da boca da barra.
Uma outra maneira de observar a paisagem lagunense. 
Mas o propósito do passeio, além de admirar a beleza do lugar,  era a " peixada dos pereira". Uma reunião,como não poderia deixar de ser, regada a peixe, idealizada e organizada pelo Tavinho para reunir os irmãos. O local, um chalé próximo a prainha do Seis, de tão aconchegante e bonito não pode passar despercebido aos comentários  dos presentes. O canal que separa o molhe norte, corre logo abaixo da janela do sobrado e o morro da barra ao fundo, deixam aquele pedaço especialmente bonito e reservado para um encontro daquela natureza. E lá estávamos, nós, sete irmãos reunidos numa algazarra muito  particular rodeado de sobrinhos, filhos, netos, cunhadas e alguns amigos, bagunçando um pouco o silencio daquele lugar mágico.
Enquanto a conversa rolava facil entre familiares e convidados e o peixe super cheirava na churrasqueira supervisionada pelo idealizador do evento o Marcio aproveitava para relembrar seus velhos tempos, tentando abrir a tarrafa lá na ponta do espigão. As meninas dos anos setenta, improvisavam brincadeiras e tentavam organizar  os irmãos para as fotografias e filmagens do Guilherme.  Foi quando dona Amená, uma senhora simpática e de sorriso fácil, chegou com um ensopado de peixes, especialmente, preparados para aquela ocasião. O almoço, entao, foi servido e a descontração não teve mais idade.  É nesse clima que o China, muito chegado num bom som, sacou de um violão e começou a tocar as músicas que acompanhou a festa até o sol se por, no final daquela tarde. O Guilherme registrou tudo na memória da sua máquina. O que resultou na gravação de um DVD, muito bem editado, que me foi presenteado pelo Marcos.  A Peixada dos Pereira foi um evento  que marcou, mais uma vez, a importância da lição de união legado por nossos pais. A barra do tempo sobre nossos ombros aconselha que muito mais que antes, devemos celebrar a vida. Até a próxima peixada, Pereirada!

25 de dez. de 2013

Uma história de Natal



Aqui estou eu bem no meio de dezembro. Shoppings lotados, pessoas apressadas, perdidas entre pacotes de presentes comprados na ultima hora.  Nesta época, quando tantas hiprocrisias se purgam com votos de felicidades da boca para fora eu me ponho a pensar na inocência das crianças que ingenuamente apostam suas esperanças no presente que papai Noel deixará em suas portas. Doce ingenuidade aqueles sonhos que sempre estão a iluminar a mente sagrada de nossos pequenos. Dia desses conversando com o Henrique -meu neto- agora já um moço com oito anos-  me fez lembrar de um  desses maravilhosos natais, onde me pedira, como sempre era de costume, que lhe contasse uma história de natal. E eu não pensei duas vezes. Contei-lhe, naquela ocasião, uma história inusitada.
_ Papai Noel recolhido na sua casa próximo ao polo norte estava muito ocupado carregando seu trenó para distribuir presentes numa vila de crianças pobres. A neve tinha parado de cair, mas, a paisagem continuava toda branca tal como as fotos de cartões de Natal que chegam por aqui nessa época do ano. Os pinheiros, todos coberto de branco, pareciam refletir a silhueta do bom velhinho. 
No céu uma lua imensamente clara  iluminava todo aquele ambiente de sonho. E Papai Noel começou a encilhar as renas-8 ao todo- para poder puxar aquele trenó carregado.  La pela Meia noite o bom velhinho partiu em direção a vila para entregar os presentes para as criancinhas. Mas nem tudo era tranquilidade. Numa caverna próxima dali uma quadrilha de maus feitores se reuniam para assaltar o carregamento da bondade dirigido pelo nosso velhinho. O Coringa, o Pinguim, o Charada e o Duas caras  arquitetavam um plano diabólico para roubar o Papai Noel. Quando o trenó do velhinho contornava a estrada ao redor do ultimo desfiladeiro coberto de neve, antes de chegar a vila, a turma liderada pelos anti-heróis tomaram a frente do comboio anunciando o assalto. As renas assustadas começaram a pular desordenadamente e papai Noel, sem saber o que fazer, já estava por entregar a carga de presentes, quando uma parte da lua começou a escurecer e um grande morcego começou a se formar bem no seu centro. Um barulho ensurdecedor de um motor a jato surgiu do nada e o Batman apareceu arremessando seu bumerangue de fogo afugentando com toda aquela corja de ladrões. O homem morcego, como sempre foi de seu feitio, saiu assim como chegou, misteriosamente, sem revelar sua identidade.  Agiu como todos aqueles heróis que, deliberadamente, praticam o bem sem que saibamos quem são.
E Papai Noel pode cumprir mais uma vez sua missão. Distribuindo os presentes a todas aquelas criancinhas pobres da vila.
Henrique, sorriu ao lembrar da história de Natal. Certo que apesar de todo o mau exemplo que se ve estampado em programas de  TV’s e páginas dos nossos jornais a prevalência dos bons princípios e a retidão de nosso caráter ainda são instrumentos que norteiam o comportamento das pessoas.

Feliz Natal a todos os leitores do papodaesquina

2 de out. de 2013

O homem das tarrafas



Não vou falar de tempo ruim e nem de mais uma enchente que tristemente chega para atrasar a vida de todos, principalmente daqueles cidadãos mais desafortunados de nosso Estado.
Vou falar, sim, de uma dessas manhãs de sol que me dispus a caminhar pela Beira Mar, aqui em Florianópolis.
Num dia de céu limpo e temperatura agradável, caminhando no contorno da vegetação do mangue através da avenida da saudade, resolvi, finalmente, me aproximar e conversar com o senhor que costumeiramente, expõe e vende tarrafas naquele local.  Queria saber da maneira como fazê-las e de onde aprendera aquele costume, tão próprio, dos habitantes do nosso litoral.  Aproximei-me e comecei a puxar conversa. Ele apresentou-se como João e  logo se dispôs a me mostrar as tarrafas que já tinha confeccionado.
Eu comecei, então, a entrar em detalhes e perguntei-lhe se ele conhecia uma planta chamada Tucum. O cidadão logo abriu um sorriso e me fez lembrar a fiação do tucum, cujos fios, teciam-se as tarrafas e também as rendas de bilros- que vi minha avó, tão magistralmente tecer, ainda quando tinha meus 8 anos de idade. João falou do seu conhecimento de todas essas tradições  folclóricas que, infelizmente, está por se perder no tempo. Contou-me que chegou a participar da Fundação Franklin Cascaes onde tratava especificamente do resgate dessas tradições.
Eu queria saber mais da vida do cidadão e então perguntei de que região da ilha ele fora criado. E a resposta foi uma grande surpresa. João é natural da Laguna. Apresentei-me, como conterrâneo, e ele conhecia minha família. Sorriu muito, ao lembrar das caronas que pegava escondido, quando moleque, na locomotiva do porto, dirigida por meu pai.
Contou-me que era natural do Ribeirão, mas veio pequeno morar no Magalhaes. Primeiro na região da Coréia (Agora rua da Balça) e depois foi para a Ponta das Pedras. Veio nos anos setenta para Florianópolis. Seu pai era pescador e sempre fora muito envolvido com a política nos tempos da UDN, na década de sessenta. Seu nome era José. E por arrumar muita confusão durante sua aguerrida militância politica, na Laguna, recebera o apelido de Zé Diabo.
Era um tempo em que as famílias e consequentemente os políticos, nasciam e morriam, dentro de um partido. Os programas partidários eram bem definidos e diferenciados. Existia fidelidade partidária e os políticos ainda tinham vergonha na cara. Um tempo em que  a  instância superior do nosso Judiciário,  embasava suas decisões em cima da Lei e não do Regimento.
O homem das tarrafas, que parecia uma pessoa tão distante, mostrou-me o quão pequeno é este mundo. E, que da época do Zé Diabo pra cá o sistema político e o judiciário, neste país, infelizmente, mudou muito, pra pior.
Bons tempos, aquele do Zé Diabo. Bons tempos!