25 de set. de 2009

A Delegada da Pracinha

Não sei direito o seu nome Nisia ou Anisia. Era mulher de um senhor que conhecíamos como Baio - Aquele senhor que trabalhava no Porto.
A Delegada da pracinha. Assim é que a chamávamos devido ao seu cuidado com os bancos e tudo o mais que fizesse parte daquela praça. Já naquele tempo ela exercia seu direito de cidadã afugentando os moleques que tentavam bagunçar o patrimônio público. Uma senhora com espírito inquieto e sensível a proteção ambiental, numa época em que, praticamente, não se falava em ecologia. A hoje, quase centenária árvore, plantada no centro da nossa pracinha era sua protegida favorita. Ai, de quem ousasse se dependurar em seus galhos! Por detrás da janela de sua casa ela observava tudo e botava pra correr a molecada que, propositadamente, subia em sua copa. A antiga casa já não existe mais. Mas a sua vigília e a sua perseverança foram ingredientes indispensáveis ao florescimento da árvore que considero símbolo da praça Souza França. Sem o cuidado daquela senhora talvez ela não resistisse às peraltices da garotada, de pés descalços, livre e solta daquela década. São muitas as gerações que, até hoje, se abrigam sob a sua sombra. Embaixo de sua copa passaram as confrarias de amigos, o esquenta para os bailes do clube 3 de maio e os incontáveis namoros com direito a coração e flecha de cupido gravado, à canivete, em seu caule. Ela fomentou as reuniões de nascimento e acompanhou o amadurecimento do maior bloco carnavalesco de rua do carnaval lagunense- O Bloco da pracinha- e as diversas idéias que atravessaram o tempo e culminaram nos eventos que se instalaram, em definitivo, no calendário turístico da cidade. Dona Nísia ou Anisia deve estar cuidando de árvores iguais a esta, no paraíso, junto a Deus. E a sua árvore é a imagem do cotidiano, refletida na liberdade de pensar e fazer de uma gente vizinha a pequenina pracinha, no coração do nosso Magalhães.

11 de set. de 2009

Salve-nos,Deus

Ontem, a praia de todos, lustrada por um sol imponente e bordada pela espuma que derretia ao quebrar das ondas me fazia lembrar o barulho do refrigerante que tomei à pouco. Fazia festa as nossas vistas. Hoje, no horizonte do Mar Grosso, sumido na névoa do tempo de chuva, surge um barco de pescadores e cria um ângulo de esperança. De repente, tenho vontade de ir ao encontro do barco. Caminhar por sobre as águas? Que loucura! Lá pelo lado do pontal os botos dão uma trégua ao trabalho e as baleias não se atrevem a nadar no canal. Gaivotas escorregam no céu, entre a neblina. Mergulham no nada e tem tudo. Gosto de vê-las. Elas lembram liberdade aqui no leste. Bem longe daqui, no extremo de nosso território, notícias de ferro torcido, casas destroçadas, arvores arrancadas.... noites sem luz. A natureza revoltada, protesta! Florestas sem árvores, rios sem água, atmosfera carregada. No choro do homem o desespero de quem tudo perdeu. A mão estendida da criança a clamar por comida. O lamento da mulher cujo filho desapareceu. Do poder, a promessa do auxílio e o dinheiro que não chega. No universo de nosso coração só tristeza e solidariedade. Um sentimento de impotência.
Mais um barco de incertezas surge do nevoeiro, no horizonte. Salve-nos, Deus

19 de ago. de 2009

Tal como Antes

Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, pôs em sua boca a indignação popular “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, indagou Marco Túlio Cícero ao senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusa a renunciar ao mandato. “Ó tempos, ó costumes!”, exclamou Cícero movido por atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado. “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?”

16 de ago. de 2009

Vila Esperança

Era uma vila com povo pacato e acolhedor, de ruas estreitas pavimentadas com paralelepípedos e ornamentadas com construções coloniais raras que ostentavam grande riqueza cultural e histórica. Sua beleza retratada em pontos turísticos naturalmente preservados encantava seus moradores e turistas. Visitá-la era uma viagem no tempo pelos labirintos da memória nacional. Sua historia era contada nos escritos artisticamente trabalhados em vistosas placas de bronze colocadas na base dos monumentos distribuídos por suas diversas praças. No entanto o glorioso passado muito presente no futuro daquela vila parecia bloquear o entendimento da existência do que era novo. As pessoas eram como barcos com seus porões repletos de nostalgia ancorados num solitário porto. Elas ainda acreditavam em antigas praticas políticas e administrativas. Políticos de todas as partes socorriam-se, em épocas de eleição, de seu colégio eleitoral. Mas pouco ou nenhum trabalho ofereciam em benefício daquela vila. Tudo o que faziam era no intuito de atender interesses particulares dos seus moradores. Um dia, vieram os vândalos e começaram a mandar na vila. Depredaram seus monumentos e roubaram suas vistosas placas de bronze. E com elas levaram também um pouco da sua história. A insegurança, então, instaurara-se em suas ruas e vielas. O administrador parecia politicamente muito ocupado e não dispunha de tempo para se preocupar com acontecimentos que considerava corriqueiros na vida daquela vila. O Chefe da Segurança, uma autoridade com problemas de visão, também era portador de deficiência auditiva. Às vezes que conseguia ouvir a voz das ruas alegava falta de pessoal para realizar, com eficiência, seu trabalho. Noutro dia vieram uns técnicos e criaram o projeto de uma extensa ponte num ponto muito além de seu acesso principal, sobre a bonita lagoa que circundava aquela vila. Pareciam querer isolá-la geograficamente do resto da região. Era gritante o silencio das lideranças da comunidade em relação aos problemas que afligiam as pessoas. Eles eram incapazes de visualizar algo que viesse em beneficio daquele pedaço de terra. Depois vieram os ladrões e roubaram o banco que guardava as poucas economias do povo daquela vila. A comunidade foi empobrecendo cada vez mais, e nada se fazia para aliviar o sofrimento das pessoas. Ninguém comentava nada. Ninguém conseguia ver nada. A síndrome do Chefe de Segurança havia contagiado o povo. Não havia quem enxergasse uma luz no final do túnel. Os indivíduos perderam seu senso crítico e além de não fazer comentário sobre aquela situação ainda evitavam quem se insurgisse contra aquele estado de coisas. Uma grande escassez de suprimentos e de oportunidades, então, começou a se abater sobre a comunidade. E seus moradores partiram levando seus pertences, abandonando suas terras e casas, deixando a vila solitária. Uns poucos que permaneceram reuniram-se numa romaria a um monte que consideravam sagrado para orar e pedir aos céus, melhores dias. Acreditavam no milagre da vinda de um Deus surgido do mar para reabilitar suas vidas. E assim eles passam o tempo contemplando o mar. Na certeza que um dia Deus virá salvar, a Vila Esperança.

8 de ago. de 2009

Ciencia e milagre

Dia desses li nos jornais a reportagem de uma mulher que além de ouvir musica, via e sentia o gosto. Tal fenômeno tem uma explicação cientifica complicada que eu, pobre mortal e leigo seria incapaz de explicá-lo. Mas o importante é o fato, em si. Ela enxerga e sente, literalmente, a música. Meu pensamento então, reportou-se para a Idade Média onde uma mulher que revelasse ser portadora de tal prodígio, seria considerada uma bruxa e seu destino, certamente, seria a fogueira. Noutro tempo mais recente tratar-se-ia de um milagre. Atualmente, segundo estudos científicos este fenômeno embora raro e previsível é resultado de ligações neuroquímicas cuja manifestação acontece em um número muito pequeno de indivíduos. O progresso é uma das determinadas certezas do mundo da qual, particularmente, não sou muito entusiasta. As minhas leituras da época da faculdade apenas me fizeram crer que neste terceiro milênio triunfaria a razão. E isso não é ilusório diante do que a ciência pode oferecer. O problema são as contradições. Embora, no mundo, se produza comida para todos, ainda há fome. Desenvolve-se tecnologia de exploração em águas profundas enquanto que em terra firme há gente sem moradia. Enquanto no planeta Terra surge diariamente uma variedade de espécies de vida não catalogadas traçamos metas para conquistar o universo. Chove torrencialmente hoje enquanto a previsão do tempo previa muito sol o dia todo. Ainda falta muita coisa embora o conhecimento humano nos mostre que pode dar tudo. Acreditar em milagres torna-se um antídoto, diante da força da ciência e da imparcialidade dos números. O problema é definir o que seria um milagre. Seria um fenômeno que ultrapassa o desconhecido, que insolentemente desafia as fronteiras do real? Fica a pergunta no ar. Mas a coisa que eu sempre acreditei mesmo, é que o êxito das pessoas está em desafiar o que está estabelecido, não se omitir nem silenciar mesmo sob pressões poderosas e ameaçadoras e muitas vezes até, ir ao extremo dando a própria vida por suas convicções. Temos muitos desses exemplos na historia da humanidade. Penso que com tudo que se vê hoje em dia, saber da existência de pessoas capazes de perceber o mundo de maneira diferente, como enxergar e sentir o gosto da música, por exemplo, não deixa de ser um milagre.

12 de jul. de 2009

Saudade

Palavras são símbolos que quando pronunciadas suscitam em nós todas as emoções; de surpresa, de terror, de nostalgia, de pesar.... Elas são poderosas e podem desmoralizar uma pessoa até a apatia ou então exaltá-la a extremos da experiência espiritual e estética. Elas têm um poder arrebatador. Sua força, sua resistência e seu poder suplantam quase tudo que existe em nossa volta. Elas são perenes e firmes como a rocha. Tudo passa através dos tempos, exércitos, impérios e repúblicas. Mas as palavras não passam. Na nossa Língua Portuguesa existe uma palavra que não encontra significado igual em nenhuma parte do mundo seja em sentido e força, tanto no aspecto denotativo ( se isto for possível) quanto no conotativo. A palavra saudade, de origem tão obscura como o fundo dos mares portugueses, e tão misteriosa como a virgindade das selvas brasileiras não encontra par em nenhum dos idiomas falado no nosso globo. Os estudiosos da etimologia da língua portuguesa, também não são convincentes ao procurar uma explicação plausível para sua origem. Sem a possibilidade de definir a matriz dessa grata herança que a riqueza da língua portuguesa nos presenteou, resta-nos apenas a satisfação e a honra de tê-la em nosso vocabulário, sem o perigo de competição por parte de qualquer língua de dentro ou de fora de nossa família latina. E o que é mesmo saudade? Um sentimento que deve existir no coração de toda criatura humana, seja ela de qualquer raça, de qualquer parte do mundo, seja pobre, seja rica. A saudade não escolhe, não discrimina, não se faz de rogada para existir. Ela vem de mansinho ou vem fortemente, chegando quando menos se espera. A saudade é amiga da solidão, companheira inseparável do amor, visita invisível da amizade, às vezes pedaço de paixão, em muitos casos suave perfume de momentos de carinho e ternura. Realmente, não é fácil falar do sentimento da saudade. E é talvez por isso que ela só exista, como palavra, na Língua Portuguesa, na mística do povo de nossa raça, principalmente no brasileiro, esta maravilhosa mistura de sangue tropical. Defini-la com palavras é um exercício mental de difícil articulação. Ela encontra explicação somente nas lembranças solitárias de nossos pensamentos. Saudade é dor que sufoca o coração e alegra a alma. Saudade é um sentimento de presença do ausente, é lembrança do bem-querer, um doce convívio com a distância, uma alegre e agradável tristeza do ver-não-vendo, do amar sem o objeto do amor... Saudades de um tempo, de amigos, de familiares, de amores vividos, da terra natal... “Saudades de Laguna” sentimento de ausência da terra, titulo de uma música muito pouco lembrada, onde seu compositor Pedro Raimundo demonstra toda sua ternura na homenagem a nossa eterna, Laguna.

27 de jun. de 2009

Por que Escrevemos?

Aqui deste lugar, presenciando a luz refletida nas poças de chuva das ruas desertas de frio, vendo o mês junino escoar pelos ralos dos seus últimos dias, me ponho a refletir sobre as necessidades humanas. Mais precisamente sobre a necessidade da comunicação. E então surge a pergunta: Por que escrevemos? Escrevemos por instinto de auto-expressão. Escrevemos para diminuir a tensão emocional e não explodir e virar pedacinhos. Para entender nosso próprio mundo. Através da escrita comunicamos nossas impressões, idéias, pensamentos, sentimentos. Escrevemos para comunicar nossos medos e angustias, nossas coragens e ousadias e nossas descobertas. Para entendermos a nós mesmos. Escrevemos para espantar a sensação de desamparo. Para acabar com o isolamento. Para sair do exílio que, ás vezes, nos submetemos. Para nos livrar da solidão de nosso próprio casulo.
Estes são alguns dos motivos que nos levam a escrita. Mas na verdade, escrever é um ato vital. Escrevemos para continuarmos vivos. Escrever não é prazer, nem diversão. É sobrevivência!
O ato de escrever é um ato solitário de revelação. O escritor surpreende-se redigindo um texto inusitado. Ou mesmo um texto regular ou ruim. Mas ele se descobre na sua obra.
Para escrever precisamos vencer a anarquia latente que existe em nós, libertar a mente do ente físico e submetê-la ao espírito.

21 de jun. de 2009

Um sonho de junho

Caminhava apressadamente pela diagonal que corta o centro do jardim em direção a Igreja matriz. Queria sentir a egrégora daquele templo. Admirar suas artes sacras, sua arquitetura barroca e aproximar-me da imagem de Santo Antonio dos Anjos da nossa Laguna. Ofegante..., encontrei a porta da igreja trancada.
Um sentimento de frustração arrebatou-me por alguns momentos. Irritei-me por mais outros instantes e resolvi bater energicamente três fortes pancadas na entrada principal. Já ia desistindo, quando a porta entreabriu e alguém me franqueou a entrada. Caminhei, então, até entre as duas colunas que sustenta o mezanino, onde o Coral se reúne para entoar os cantos das magistrais trezenas.
Ergui a cabeça e avistei Antonio no centro do altar rodeado de pessoas. Tenso e surpreso esbocei gestos na tentativa de falar algumas palavras. Mas Antonio com um olhar firme e sereno interrompeu-me com perguntas, estabelecendo um diálogo que jamais eu os apagaria de minha memória. Perguntou-me ele, então: - De onde vindes, visitante? - Eu venho de longe para abraçar a tua causa. - O que vens aqui trazer? - trago um coração amigo, um espírito de paz e desejo prosperidade a todos. - Nada mais trazeis? - O povo da minha terra vos saúda e venera. - O que se faz em vossa morada? - Enaltecemos as virtudes e desprezamos os vícios. - O que vindes aqui fazer? - Esquecer minhas vaidades e purificar minha alma. - O que desejais? - Ser mais um entre vós. Nesse momento um facho de luz iluminou meu rosto. Acordei sobressaltado. Notei que havia sonhado um inusitado sonho. Por detrás da janela do quarto de hotel o sol castigava meus olhos. Lá fora um céu limpo e um sol de inverno. Uma névoa fria cobria a praia do Mar Grosso. Era 13 de junho.

24 de mai. de 2009

Crônica

De olhos perdidos na tela do computador, o homem sentiu a necessidade de espairecer lá fora. E então, saiu pelos corredores e pátios do condomínio, afora. O insuportável calor que sentiu quando deixou pra trás a sala refrigerada não amenizava a espécie de dor que congelava a sua alma e quase o paralisava. Encontrou pessoas e esboçou sorrisos obrigatórios. Tudo para ele era uma grande angústia. Abraçou afetuosamente a mulher que tratava da limpeza dos corredores -tudo indicava ser sua conhecida -Falaram-se. Na sua simplicidade ela contou-lhe de câncer e de enterros e do calvário das doenças e falou, também, das pessoas impiedosas. Ele só foi ouvidos. Disse-lhe apenas que era a vontade de Deus ” Deus sabe o que faz”. Ela assentiu com um gesto e despediu-se. Ele continuou pátio afora padecendo dos infortúnios do desamor, sentindo-se distante e solitário. Viu então ao longe um grande passaro voando no alto do morro, acima do ângulo da visão que seus olhos estivera toda aquela tarde. Sua plumagem era de uma brancura que ele pensara que nunca vira antes. Ele nem percebera que no vôo do pássaro havia um céu cor de chumbo ao fundo. Era um dia sem sol.
Então o homem viu graça na sua dor emocional. Ele era um homem qualquer.
"Felicidade se acha é em horinhas de descuido." Guimarães Rosa

10 de mai. de 2009

Por onde andas, Mulher?

Por onde andas mulher da concepção, da gestação e de todas as belezas que a ti reservou a criação.
Por onde andas mulher das sublimes canções de ninar da minha vida.
Da dor contida, das noites mal dormidas, da proteção destemida e das chineladas atrevidas.
Por onde andas, mulher da coragem disfarçada em fraqueza que mostrava com sabedoria e beleza a lição do seu dia a dia.
Da gargalhada altaneira e das diversas maneiras de tornar as dificuldades em mera brincadeira.
Por onde andas , mulher que embalastes meus sonhos de liberdade fazendo-me sentir senhor de minhas responsabilidades.
Que choravas teu pranto, calada, sem nos deixar pressentir preocupada com os muitos obstáculos dessa longa estrada.
Por onde andas mulher da palavra de conforto das horas atribuladas.
Da mão amiga, da solidariedade hipotecada, da caridade assistida e da decisão acertada.
Por onde andas mulher da fé bendita, da oração que clamava ao céu a proteção para teu filho fiel.
Da esperança infinita nas horas aflitas.
Por onde andas mulher que abraçavas com candura todas as ocorrências de tuas criaturas tanto na alegria quanto na amargura.
Por onde andas mulher, que só te vejo em antigos álbuns de fotografia, e em cada gesto em cada poesia, encontro a saudade de tua simpatia.
Por onde andas, mulher?

27 de abr. de 2009

Opinião

Pensar no turismo religioso como mais uma alternativa para nossa cidade é uma boa idéia. Basta tomarmos como exemplo o que acontece a Nova Trento com o culto a Madre Paulina.Um monumento à Santo Antonio conforme prevê o projeto do governo é magnífico. Já inicia agregado na sua concepção uma tradição religiosa centenária de uma cidade cujo patrimonio histórico é parte da historia nacional. Sem sombra de dúvida, neste quesito o projeto é irretocável.
Mas somente a obra sem a mudança da visão de turismo de nossos administradores creio não ser suficiente para proporcionar o efeito que tão magistralmente o projeto nos apresenta.
Vamos partir, agora, para uma visão mais abrangente e pensar de como sempre foi tratado o turismo na nossa cidade. Já observaram em que condições estão os pontos turisticos, que considero importantes, de nossa cidade? Tentem chegar ao Morro da Gloria! As estradas de acesso são as piores possíveis e não existe uma manutenção de conservação periódica do monumento. Também não temos um projeto de revitalização do local. Até hoje não foi criado um plano urbanistico com infraestrutura voltada para a exploração turística. E assim acontece com a Pedra do Frade, com o Farol de Santa Marta e com os Molhes da Barra. Além das más condições de acesso, é visível a nossa falta de estrutura voltada para a industria do turismo. Isso é fruto do nosso despreparo para administrar essa questão. E o problema não é dessa ou daquela administração, não! Sempre tratamos o assunto turismo, com muito amadorismo.
Como se não bastasse ainda temos o agravante político para não nos ajudar. Muda a politica estadual e os planos são deixados de lado. Por onde anda aquele projeto de implemento turístico estadual da interpraias?

24 de mar. de 2009

O Vírus é Prata

Ano de 1982. Na TV, o Programa do Chacrinha era a MTV tropicalista da época. A cantora Elis Regina morre de overdose. O melhor time de futebol que vi jogar, a Seleção Brasileira de 82, é eliminado da Copa do Mundo. A musica das paradas cantada no planeta era We Are The World, canção beneficente em prol do combate à fome na África. Um adolescente americano de 15 anos, Richard Skrenta cria, naquele ano, um “bichinho” que se tornaria um astro na orbe da informática: o vírus de computador. Batizado de Elk Cloner, ele estreou infectando os computadores da Apple II. Não era dos mais destrutivos. Ao celebrar as Bodas de Prata – 25 anos – os vírus evoluíram. E muito! Inauguraram roteiros virtuais que incluem cenas de discos rígidos aniquilados, dados destruídos, sites derrubados, informações roubadas e empresas paralisadas. Tornaram-se uma praga. Os vírus começaram se alastrando via disquete. Creio que os pendrive não lembram dele. Com a chegada da internet, passaram a se propagar por meio das estradas digitais. São os “bichinhos” virtuais mais difundidos atualmente. Quem já não foi “infectado” por um deles? Com o advento da internet, os vírus ficaram famosos. Ganharam nomes tão divertidos e surpreendentes quantos os das operações secretas da Polícia Federal brasileira, que caçam outras espécies de vírus. Esses, em muitos casos, letais. Ficaram famosos os vírus Sexta-Feira 13, Jerusalém, Anna Kournikova (tenista russa), Melissa, Love Letter (carta de amor), Michelangelo, I Love You (eu te amo). No submundo da internet transitam ainda os spyware e cavalos-de-tróia, parentes consangüíneos dos vírus. São lobistas cibernéticos. Eles têm a tarefa de abrir portas para os golpistas. Qualquer semelhança relacionada ao nosso submundo real é mera coincidência. Nos primórdios dos anos 90, territórios virtuais e reais são afetados pelo Vírus da Traição. Aprendi que não há vacina e nem antivírus. Ele já surgiu com as mais diversas extensões virais: .exe, .pdt, .bat, .doc, .dem, .pt, .psdb, .pif, .paf, .prof, .pof. Enfim. Putz! Apareceu um vírus.

24 de fev. de 2009

Lá vai..

Lá vai o bloco das multidões Getulio Vargas à dentro com gente de todas as tribos, de todos os credos, de todas as raças, de todos os cantos do país. A pequenina Pracinha se agigante com essa diversidade de estilos e cores. Bebem, pulam, confraternizam-se... Parecem astronautas flutuando no espaço sem gravidade, contagiados pelo universo do som das ritmadas canções baianas. Lá vai o bloco da Pracinha puxado pelo Trio elétrico. Nele está um pouco de nós um pouco de todos os vizinhos da Praça que o ajudaram a ser o maior bloco carnavalesco do sul do país. Um orgulho do carnaval lagunense, nascido e criado no nosso Magalhães. Êle já não exibe mais seu estandarte, orgulhosamente, desfraldado por uma porta bandeira franzina e muito conhecida de nossa comunidade que partiu sem dizer adeus. Mas o tempo sorriu e aliou-se a nós, tornando-o grande o bastante, para abraçar com seus tentáculos toda a rua Getulio Vargas. O povo se aglomera, se espreme nas calçadas, se dependura nos muros e se debruça nas soleiras das janelas. È muita a alegria que emerge da efervescente mistura de ritmo e satisfação em rever, no meio da folia, parentes e amigos que vivem distante e aparecem na melhor hora do nosso Carnaval. Ninguém se agüenta quando ele passa. Todos sacodem, gritam, exorcizam seus males, suas angustias. Lá vai ele tomando os espaços da rua em direção ao Monumento dos Trabalhadores. Símbolo da saga de uma gente desiludida, ludibriada por promessas insípidas que só vingam em épocas eleitoreiras. Lá vai o Bloco da Pracinha levando nossas alegrias e nossas fantasias. Lá vai o Bloco da Pracinha. Lá vai.....

14 de fev. de 2009

Porto solidão

Seria uma noite qualquer não fosse o lugar e o Luar. As pessoas passeavam, indiferentes, pela praia pisando a paisagem desnudada pelo clarão. Era uma imagem criada por um sonho. A Lua parecia uma medalha de prata brilhante pendurada no peito do céu do Mar Grosso. Lá estava ela, altiva e soberba com seu facho de luz iluminando nosso pedaço de Atlântico. Diva do seresteiro dos anos quarenta que por ela se encantou e do saudável romantismo da década de sessenta que a modernidade nos roubou ela também é testemunha das mudanças, dos fatos e das histórias que contribuíram positiva ou negativamente na formação do atual cenário sócio-econômico lagunense. Contemplá-la não é só um lampejo de nossa veia romântica; é também um exercício de reflexão e de lembranças. Uma viagem de volta ao passado. E eu, de repente, me vi pensando sobre o ciclo de acontecimentos que culminou na desativação do Porto de nossa cidade. È uma história que marcou a vida de todos os lagunenses e muito particularmente, a minha. Seu funcionamento envolvia um intenso movimento de estivadores a carregar os vagões com estoques do armazém central. Um vai e vem sem parar de duas locomotivas modernas movidas a óleo diesel que puxavam as cargas para cima do caís onde dois guindastes elétricos possantes as transportavam para os porões dos navios. Esse serviço, na maioria das vezes virava a madrugada com o pagamento de horas-extras aos trabalhadores, às custas dos armadores. Era uma fonte significativa dentre todas que ajudavam a movimentar a economia da cidade. Vítima da mesquinharia e da indiferença política, hoje, jaz, abandonado à sorte de uma retificação que não tem tempo de acabar. Mas ele guarda a saudade daqueles que partiram e a indelével marca dos que, por décadas, ali entregaram seu trabalho. Ainda ouço o barulho dos vagões sobre os trilhos, dos guindastes manobrando para suspender as cargas, do apito da locomotiva puxando o trem da saudade, dirigido por meu pai. O céu já é todo noite. A Lua, agora, vai alta iluminando a área escura e abandonada que restou de um Porto seguro. As ruas estão sozinhas sem vestígio de vida e me convidam a ir a lugar nenhum. Laguna...Praia.....Luar.....Porto solidão.

29 de jan. de 2009

Reminiscências

Era um cheiro, um aroma forte e bom. Quente como o verão lagunense. Ele entrava pelos cantos todos e hoje viaja pelos túneis de minha memória. Saía das muitas casquinhas de siri que se inventavam nos finais de semana. Para mim, ele começava antes, quando minha mãe se punha a amassar a farinha com a receita tradicional. Era um cenário completo, com personagens e gestos. Os elementos dessa narrativa não precisavam mudar. Depois dessa faina de organizar a mesa e amassar os ingredientes, as casquinhas eram colocadas sobre a mesa da cozinha, prontas para ir ao fogo. Quantas? Não sei, não saberia dizer, porque meus olhos se distraíam em meio à multiplicação das delícias, enfileiradas pouco a pouco na mesa, com minha mãe a pincelá-las com gema de ovo. Depois dos acabamentos elas se transformavam. Voltavam do fogão quentes e dourados, com muito brilho. Elas carregavam dentro da massa o carinho que minha mãe punha em todas as fritadas. Os amigos que visitavam a casa sempre saíam com esse presente possivelmente muito desejado por todos. A música andava também pelo ambiente, junto ao calor de tudo. Solidão nenhuma cabia por ali. Será que eu fantasiei um tanto cenário e personagens? Depois de tanto tempo, a memória ganhou licença para qualquer seleção imaginativa e livre. Talvez eu esteja me perguntando agora: “onde estão todos?” A vida anda. Os cenários mudam e também as personagens e cenários em nossas narrativas de vida.Mas a memória guarda aquela repetição que sempre cumpria o ritual da fundação do bem fazer, do espírito da comunhão. E ela sabia como ninguém preservar a família, a amizade e a união. Ouço suas risadas. Sinto o movimento da casa. Persigo pelo ar o cheiro das casquinhas. Ele ainda paira em minhas narinas. Vejo minha mãe andando pelo corredor ao lado da casa. Ela ainda acende a luz na caminhada da minha vida.

18 de jan. de 2009

Perdas e Ganhos

Pouca gente costuma levar a sério o antigo ditado popular. “Pra quem espera o tempo abre suas portas” Sempre se alimenta a esperança em algo que aguardamos....ao menos uma luzinha no final do túnel ( mais um) mas esse túnel não acaba nunca. Pra ver a luz mesmo, só morrendo pra nascer de novo, iniciando a vida novamente em uma outra realidade do tempo. O certo é que depois de anos na escola e cursinhos, faculdades e dificuldades (isso não foi um simples trocadilho), depois de anos e anos numa mesma instituição, numa mesma rotina, mesmos colegas e o stress dos chefes... ninguém agüenta! Então é chegado o dia de comemorar a independência seja lá do que for, o importante é comemorar, afinal resta pouco tempo, olha-se pra trás e faz-se o balanço das perdas e ganhos... Perdeu os cabelos, alguns ou todos os dentes, ganhou barriga, a alegria dos filhos, a preocupação com os filhos, ganhou umas entortadas na coluna,... à essa altura, com certeza, você já não é mais o príncipe que ela sonhou ....mas afinal, são anos investidos, então é melhor continuar a lavar suas próprias cuecas. Mas as reclamações por certo, continuarão com outras coisas banais quaisquer, não se faz necessário mencionar aqui a tampa do vaso sanitário essa já “Deu no saco!” ou então a atenção sem medidas, ao neto, deixando-o confiado demais. Enfim, uma infindável lista de impertinências caberia aqui. Então é olhar mesmo pra trás, imaginar-se lá com seus quinze aninhos novamente e sonhar tudo de novo. Mas agora com muito cuidado! Antes, é bom procurar ver se não existe um manual de instruções pra viver. É pra chorar ou pra rir?

9 de jan. de 2009

Informação

O papodaesquina está disponibilizando aos seus leitores a Barra de Vídeo onde é apresentado via youtube, videos de músicas nacionais e internacionais.

4 de jan. de 2009

Uma questão cultural

Seis de janeiro é lembrado como o dia que os três reis magos-posteriormente santificado no século VIII- teriam visitado o recém nascido menino Jesus. Na península ibérica, a data tem praticamente a mesma importância que o Natal. São 12 dias, a partir do natal até 6 de janeiro, que acontecem as apresentações dessa herança européia incorporada às nossas tradições populares chamada Terno de Reis. Ele, freqüentemente é associado à religião, e normalmente envolve cantigas, preces, toque de instrumentos de confecção caseira e artesanal, com tambor, pandeiro, reco-reco, violão, rabeca (espécie de violino rústico), sanfona, e muita cantoria. Além das bandeiras e estandartes que dão visibilidade a esta manifestação folclórica própria das nossas origens. Essa é uma tradição de origem luso-espanhola incorporada à nossa cultura popular. A vida moderna, através de suas facilidades, tem nos possibilitado o conhecimento de outras culturas que, de certa maneira, nos leva a negligenciar tradições centenárias trazidas por nossos ancestrais portugueses. A verdade é que a falta de incentivo, por parte de nossos órgãos de cultura, a esses grupos que representam a verdadeira expressão de nosso legado cultural desfavorecem a continuidade dos costumes. Mas o Terno de Reis, da localidade de Ponta da Barra da nossa Laguna, ignoram o descaso e resistem, heroicamente, continuando a fazer suas apresentações. Tempos atrás, esses grupos vinham para o bairro Magalhães e visitavam as casas cantando suas cantigas. Lembro-me bem que se aproximavam entoando uma canção que meu ouvido de menino jamais esqueceu do refrão: Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Eles chegavam à noite com essa canção de chegada, que de longe se ouvia, onde o líder do grupo pedia permissão ao dono da casa para entrar. Despertavam quem estivesse dormindo. Era servido café aos componentes pelo dono da casa. Na saída cantavam a canção de despedida que agradecia a acolhida e as doações. Feliz o povo que consegue manter vivo seus costumes e suas tradições. Por favor, salvem a cultura da nossa terra. Viva, o Terno de Reis, o boi de mamão e o pau de fita.

30 de dez. de 2008

Adeus, Ano Velho!

Lá vai ele sumindo por entre os últimos dias de dezembro; levando consigo os dias de sonhos não realizados e noites mal dormidas. Sai de cena à francesa, sem se despedir e nem pedir desculpas pelos tropeços ocasionalmente provocados. Em sua bagagem vão os planos não concretizados.... o trabalho que não conseguimos, a vaga na universidade que não alcançamos, os amores não vividos, a palavra não dita , o gesto não revelado. O que chega vem trazendo a esperança de óculos. O otimismo iluminado nos fogos de artifícios e a paz desejada compartilhada nas refrescantes taças de champanhe. Aquele que parte sai, sem festa, carregado pelos sucessos de uns e desenganos de outros tantos. Entretanto eles trazem em comum o dia, esse pedaço de tempo destinado à criação humana situado entre o alvorecer e o crepúsculo. Que por sua vez nos entrega ao sol, o companheiro inseparável, que na sua viagem diária do Oriente em direção ao Ocidente nos acompanha nessa caminhada em direção ao futuro. E assim tem sido, ano após ano, pelos milênios da nossa existência. Mas o velho cumpriu sua missão. Cedeu, generosamente, seu período para que utilizássemos da maneira mais eficiente possível. Não se responsabilizará, em momento algum, pela consecução de nossos intentos. Nós o culpamos pelas crises e catástrofes que aconteceram durante seu ciclo. São 365 dias proporcionalmente distribuídos em estações que às vezes exageram na dose de seus atributos. E este ano, especificamente, parte deixando marcas pelos fenômenos e acontecimentos inusitados. O padre que, literalmente, foi para o céu; a enchente que varreu o Vale de Itajaí em nosso Estado; e a crise econômica mundial que alguns iluminados ainda insistem em dizer que não irá nos afetar. Só nos resta esperar pra ver. Ainda falta um dia e algumas horas. Eu só me lembrei das coisas desagradáveis que ele nos proporcionou. E nós já estamos ansiosos pelo novo que virá. Adeus, Ano Velho!

25 de dez. de 2008

A vida de trás pra frente

A Vida Deveria Ser de Trás Para Frente...A coisa mais injusta sobre a vida, é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás para frente. Nós deveríamos morrer 1º, e livrar-se disso logo. Daí, viveria em um asilo até ser chutado para fora de lá por estar muito novo. Ganharia um relógio de ouro e iria trabalhar. Então você trabalharia 35 anos até ficar novo o bastante para aproveitar a sua aposentadoria. Aí você curtiria tudo, beberia bastante, faria festas e se prepararia para fazer uma faculdade. Depois você iria pro colégio teria várias namoradas, viraria criança, não teria nenhuma responsabilidade, se tornaria um bebezinho de colo, voltaria para o útero da mãe, passaria seus últimos 9 meses de vida flutuando ..... E tudo terminaria com um ótimo orgasmo. (Charles Chaplin-Carlitos)

10 de dez. de 2008

O ditador do tempo

Li os jornais de hoje, e nada. Recorri ao rádio e à televisão. Mas somente um assunto dominava os jornais falados e os tele-jornais: a tragédia de nosso Estado. Pensei: escrever o que, sobre esse terrível acontecimento? Sobre ele tem muita gente falando e escrevendo até o que não deve. Com este pra lá e pra cá; lendo isso e lendo aquilo, eu buscava nada mais do que um assunto para postar no meu blog. Foi então que me veio à lembrança o quanto essa procura estava tomando do meu tempo. Como dependemos dele em nossa vida. A cada instante estamos sendo consumido pelo tempo. Essa impiedosa medida cronológica marca e controla sistematicamente nossa vida através de um austero ditador de ponteiros. E tudo que fazemos ou deixamos de fazer passa a ser controlado por ele, que tem, a audácia ou a habilidade de fragmentar, o tempo, em espaços cada vez menores. Acordamos, dormimos, estudamos de acordo com os intervalos por ele dividido. O tempo cronológico inelástico pode apenas ser dividido, re-dividido, mas jamais aumentado na sua proporcionalidade, a não ser que inventamos um novo sistema cronológico. E ele passa velozmente como água escorrendo entre nossos dedos. Vivemos embalados por esses segundos, que parece ter cada vez mais, uma duração menor. A aldeia global que democratizou a informação através da moderna tecnologia, diminuiu as distancias pela rapidez na propagação das noticias e na facilidade dos contatos pessoais. Este fenômeno parece ter encurtado o nosso tempo físico. Os acontecimentos, e eventos estão a se repetir em intervalos menores. Será que os anos estão ficando mais curtos? Olha aí, um outro Dezembro já batendo na nossa porta. Um outro Natal se avizinhando do nosso coração. O nosso espírito brilhando de solidariedade. Olha, o Papai-Noel sentado na poltrona, em sua Vila, na beira das Docas do Mercado. Olha, o centro histórico da Laguna todo iluminado. O comércio movimentado nas compras de presentes para os namorados, pais, filhos. Não esqueça daquela creche,... daquele necessitado. Não deixemos o tempo escapar sem nos doar,... sem participar. Bem,... eu vou parando por aqui. O ditador de ponteiros está trabalhando a toda velocidade. E eu preciso, também, fazer a minha parte. Feliz Natal!

22 de nov. de 2008

Olha só

Olha só, essa chuva incessante a encharcar os nossos dias. Há quase um mês ela inunda os planos de fim de semana, afogando em definitivo a nossa paciência. A água dessa primavera é tanta que até as flores parecem não ter coragem de desabrochar. Dirigindo no trânsito ou com guarda-chuvas nas mãos livrando-se das poças d`água, parecemos malabaristas. È só parar para observar o quanto de equilíbrio necessitamos para sair de casa com tamanha quantidade de chuva. Por onde anda nosso sol? Por onde anda o fabuloso ocaso do entardecer lagunense? O lindo por de sol que me encanta e alimenta minha alma com a performance de sua poesia silenciosa desapareceu por trás das nuvens escuras carregadas Deve estar se guardando para descortinar depois de um dia desses morimbundo de chuva. Mas ele voltará radiante pendurado na primeira oportunidade azul de um belo dia. Então irei me deleitar, quando o por do sol regressar com seu manto suave la adiante por trás dos morros pintando a Lagoa com seus raios, feito pinceis; finalizando num lugar muito distante, inalcançável, para nós. E quando o sol deitar para dormir vamos torcer para que o tempo não nos roube mais uma vez um novo alvorecer. Na esperança que os dias permaneçam limpos e puros sem a possibilidade de perdermos mais um fascinante por de sol.

12 de nov. de 2008

A história se repete

Quando chegava com meus filhos para visitar maus pais em Laguna, nossa entrada era pela porta da cozinha; a pequena casa parecia solitária e grande demais para minha mãe e meu pai. Ela sempre se colocava junto á cabeceira da mesa. Tinha um olhar distante, um semblante pensativo e preocupado. Perguntava-lhe sorrindo o motivo da sua preocupação e tristeza; e ela falava com um meio sorriso no rosto e lágrimas nos olhos da sua apreensão com relação ao nosso futuro. Isto a mais ou menos trinta anos atrás. Confesso que não conseguia entender o motivo de sua tristeza. Somos sete filhos, e todos fomos saindo para cuidar de nossas próprias vidas, com esposas, filhos, maridos. Mas o tempo, como um mestre exigente, vai dia após dia ensinando a lição da vida. E hoje, tal qual minha mãe a trinta anos atrás, me pego com os olhos marejados e o coração apertado quando vejo meus filhos adultos arrumando suas coisas e querendo partir atrás de seu futuro. Agora a preocupação é nossa, os pais somos nós: eu e minha esposa. Companheira das alegrias e dos infortúnios. Eles saem por alguns dias e o apartamento fica imenso, silencioso. Nesse silencio dá pra ouvir o eco de crianças correndo, de adolescentes implicando, de adultos dividindo comigo suas dúvidas, seus problemas e tristezas. As lágrimas me enchen os olhos. Lembranças me levam ao passado. Lembro-me que quando li depoimentos, reportagens e vários outros escritos sobre o assunto, me sentia preparado para o momento, mas nada se compara ao fato em si, ao instante em que se vive a realidade. Então me vem a mente o velho ditado que diz: “ os filhos não são criados para os pais e sim para o mundo”. Os nossos são três. Estão saindo, crescendo, querendo voar. “ Olá! Que cara de triste é esta? “ É minha filha sorrindo, com meu neto pela mão, entrando cozinha adentro vindo nos visitar. Convida-nos para sair e conversar. Tal como a trinta anos atrás, a história se repete.

20 de out. de 2008

Viva o Hoje

Várias vezes durante nossa existência ouvimos falar que a vida é curta, que devemos viver o dia-a-dia e que não adianta nada ficar preocupado com o futuro. No entanto, poucas são as pessoas que conseguem ter esse desprendimento.Sempre estamos preocupados, tensos, pensando nas coisas que podem, de uma hora pra outra, acontecer. Somos condicionados a pensar em tempo futuro. As pessoas que passam pela experiência da proximidade da morte geralmente passam a ver a vida por outro ângulo. Desprendem-se com mais facilidade das preocupações do amanhã e vive com mais intensidade o presente. Não tenha dúvida. A coisa mais importante que possuímos é o dia de hoje. Mesmo que esteja espremido entre o ontem e o amanhã, ele deve merecer sua entrega total. Só hoje você pode ser feliz; o amanhã é uma grande incógnita e ainda não chegou, e agora já é tarde para ser feliz ontem. A grande maioria das dores é fruto dos restos de ontem ou dos medos do amanhã. Nada de egoísmos, inveja e sentimentos pequenos que só atrapalham os planos de hoje e não ajudam a preparar o espírito para o amanhã. Viva o dia de hoje com sabedoria: decida como irá alimentar seus minutos, no seu trabalho, no seu descanso, e faça tudo o que for possível para que o dia de hoje seja seu, já que ele lhe foi doado com tanta generosidade. Respeite-o de tal maneira que quando for dormir, você possa dizer: hoje eu fui capaz de viver e de realizar!!! Os livros religiosos fundamentais como o Corão e a Bíblia tratam do assunto da mesma forma: a cada dia bastam suas tribulações. Tenha sempre um bom dia ... Carpe Diem : viva o dia!

6 de out. de 2008

O sol continua a brilhar

Nos molhes da barra me vi tomado pelas preocupações daquela quinta-feira tensa. O sol novamente aparecera depois de longos dias de chuva, e as tarrafas voltavam a bailar no céu do pontal. Na minha cabeça a constante lembrança da saúde abalada de minha irmã .Senti-me pequeno e solitário apesar dos muitos caniços que ali apontavam para o mar. Do mirante ao lado do farol, a ilha dos Lobos também sozinha, na imensidão do Atlântico. No lado sul do canal os grandes guindastes inertes sem movimentar qualquer carga. E no alto do Morro da Glória, a Santa virada de costas. Eu era só preocupação. Meus olhos, então, percorrem o espelho de água do canal que leva ao Porto e repousa na névoa da maresia que esconde os prédios que adornam a orla do Mar Grosso. Um forte açoite das ondas sobre as pedras, um cheiro de mar a prenunciar o verão na primavera lagunense. Navegando entre as ondas um barco sai barra afora a pescar. Quem sabe, levasse meus temores para além mar. Na viagem aos corredores dos meus vinte anos dourados encontrei um rapaz moço, encantado com os amores vividos em sessões de filmes renomados. No Cinema Paradiso dos meus sonhos os porteiros já partiram e o rapaz que vendia balas no hall de entrada, hoje é um respeitável senhor de sessenta anos. Restou um ponto de ônibus num prédio abandonado. Sob suas marquises, num vai e vem sem cessar, chegam pessoas de todo lugar e também partem sem regressar. Uma imitação da vida no cotidiano da cidade. Por onde andará Mariazinha? A namorada das nossas fantasias juvenis. Os biguás continuavam a mergulhar entre as pedras e, vagarosamente, fui me retirando daquele lugar mágico. Ah!...minha irmã. Minha preocupação.... Tudo não passou de um grande susto. Do exame sobrou apenas algumas dores no corpo e uma sensação de frio. O Sol continua a brilhar.Graças a Deus!

21 de set. de 2008

A terra vista de uma amostra

"Alguém pode dizer que é falta de assunto. Eu poderia escrever sobre as divergências quanto ao uso de grampos telefônicos, criticar a contradição da meca do capitalismo – que decidiu estatizar empresas privadas para salvar o que não tem conserto – ou falar das obscuridades da razão humana, tão claramente analisadas por Immanuel Kant. Poderia ainda dizer do estigma curitibano de fazer tempo bom durante a semana e chover, quase sempre, no sábado e domingo. E (por que não?) tecer esperança de uma primavera de dias ensolarados. Mas o tema que me comove é outro. Milhões em todo o mundo já viram o vídeo, outros milhões leram o texto. É assunto batido. Tudo bem, vá lá, mas numa época em que o mundo mergulha num oceano de crise sem saber a profundidade, nunca é demais tratar desses temas.
Trata-se de um texto/vídeo intitulado A Terra em Miniatura. Pode não ter lá o rigor científico – muitos dados têm mais de 10 anos –, mas nunca é demais. Mesmo que seja para lembrar que o planeta, muitas vezes, não é da cor que pintamos.
Mesmo que Iuri Gagarin tenha anunciado: "A Terra é azul".
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A Terra em Miniatura Se pudéssemos reduzir a população da Terra a uma pequena aldeia deexatamente 100 habitantes, mantendo as proporções existentes atualmente,seria algo assim: - 57 asiáticos- 21 europeus- 8 africanos- 4 americanos. - 52 mulheres- 48 homens- 70 não seriam brancos- 30 seriam brancos- 70 não cristãos- 30 cristãos- 89 heterossexuais- 11 homossexuais. - 6 pessoas possuiriam 59% de toda riqueza- 6 (sim, 6 de 6) seriam norte-americanos- Das 100 pessoas, 80 viveriam em condições sub-humanas. - 70 não saberiam ler, 50 sofreriam de desnutrição- 1 pessoa estaria a ponto de morrer e 1 bebê estaria prestes a nascer- Só 1 teria educação universitária- Apenas 1 pessoa teria computador- 40 pessoas não teriam acesso a água tratada. Restaria saber quantos são:
- os sem esperança
- os arrogantes
- os desprezados
- os sem escrúpulo
- os bons e os maus
- os sem destino.
Os.... Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Caetano Veloso"

Jornalista Célio Martins – Jornal a Gazeta do Povo – Londrina-PR

Aos leitores do papodaesquina um texto que considero de qualidade irretocável.

17 de set. de 2008

As possibilidades perdidas

Tomei conhecimento de alguns versos de um poeta mineiro chamado Emilio Moura. Era amigo de outro grande poeta, Carlos Drumond de Andrade. Se vivo fosse, teria completado 100 anos no mês de agosto próximo passado. Um desses versos, em especial, me chamou a atenção: "Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive". Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se realizaram. Por que sofremos tanto quando perdemos um ente querido?
Já que a morte é uma coisa inevitável e previsível da vida, o certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos convivido com uma pessoa, tão bacana, que nos proporcionou momentos agradáveis e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversarcom um amigo, para nadar, para estar com a pessoa amada. Sofremos não porque nossos pais são impacientes conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a eles nossas mais profundas angústias se eles estivesseminteressados em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos aexperimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: iludindo-se menos e vivendo mais.

6 de set. de 2008

Domingo

Mais um domingo. O primeiro domingo de setembro de 2008. Dia de sol, de almoço com a família, de shopping lotado. Na TV o anuncio de mais um futebol de uma seleção que não nos empolga mais. Dia em que também não passa nada que preste na mesma TV. E quem não tem TV por assinatura fica sem alternativa. Mas ainda bem que existem as locadoras: comédia, romance, drama, terror, documentário, temporadas de séries... às vezes, nada que combine com o domingo. Um livro pode ser a melhor saída, ou até a primeira escolha. Mas domingo também é dia de não fazer nada disso. Resolver ficar em casa no aconchego da família. Lá fora apenas o barulho dos carros e o vento a balançar a copa das arvores. Questão de opção, nada mais. Lembrei que pode ser dia de adiantar as coisas do dia-a-dia. Trabalhos, relatórios, releases, pesquisas... Ah! A internet voltou a funcionar. Vou dar uma expiada no papodaesquina. Domingo também é dia de navegar na rede mundial. Ainda bem que ela existe! Por outro lado, enche o saco. E como! Sempre achei e continuo achando o domingo um dia melancólico. Não tem jeito. Muitas pessoas já tentaram mudar essa minha impressão. Não teve jeito. Domingo é Dia das Mães, domingo é Dia dos Pais, domingo é Páscoa. Domingo é domingo e acabou. Mas feriado cair no domingo... ninguém merece! Domingo é dia de se reunir com os pais, do lanche com os amigos, de dormir até mais tarde, de sair da dieta. Domingo também é dia de ir ao Shopping. Não para uns conhecidos, que vão ao shopping todos os dias, só não no domingo. Estranho. Para os religiosos, ou não, domingo é dia de missa, dia de culto. Seja qual for a religião. Nas minhas retinas cansadas guardo a imagem das centenárias ruas da Laguna com as famílias caminhando em direção à Matriz. Cenas de domingo. Tenho certeza que todo mundo tem alguma registrada. Mas se isso tudo não basta, ou não agrada, acho que é melhor nem acordar no domingo. Domingo também é dia de dormir. É o que eu vou fazer agora.

20 de ago. de 2008

Navegando

Não faz muito tempo que desse fato nada se ouvia falar. Em qualquer momento o assunto, agora, é corriqueiro. É Internet pra cá, Internet pra lá ! Num país com índices significativos de analfabetos o assunto predileto é a inclusão digital. Cria-se um mito por trás de uma novidade. Blogs, sites de relacionamentos, MSN, skape, IM, uma infinidade de invenções comunicativas. Tempos atrás ao falar com um atendente de um call center qualquer se ouvia a pergunta: Qual é seu telefone de contato? Hoje se pede o e-mail.... Sem ter noção que a maioria das pessoas sequer sabe o que é e-mail. Dia desses, observei uma cena intrigante numa agência bancária. Ao ajudar a preencher um formulário, a atendente esbarrou na pergunta do cliente: O que é e-mail? Aqui pede um “e-mail”, disse ele. A funcionaria explicou que era um tipo de carta eletrônica e ali deveria ser inserido o endereço dele. Notei que o homem ficou, um tanto, desconcertado. Mas ela não lhe perguntou se ele tinha entendido. Só quem nunca teve acesso, desconhece. Só mesmo vendo pra crer. É um mundo inexplicável para alguém que tenha conhecido as máquinas de escrever Remington e Olivetti. Entretanto é um mundo extasiante. Imagens e sons surgem a vista, num piscar de olhos. Países, cidades, vilas, pessoas e variedades inigualáveis. Viaja-se e desvenda-se um mundo desconhecido. Mas a despeito de toda essa parafernália virtual tecnológica a fustigar nossa inteligência, nada há de se comparar à visão real da diversidade de cores, cheiros e sons que a mãe natureza põe ao alcance de nossos sentidos.Nada se compara ao cheiro de terra molhada pela chuva, numa tarde de outono; ouvindo a conversa alegre de pessoas e a algazarra de crianças entoando a antiga cantiga de roda, que faz lembrar nossa velha infância

15 de ago. de 2008

Zé da Silva

Domingo de sol, céu banhado num azul de dar inveja a brigadeiro. Na praça principal da cidade, atônitos, ouviamos Zé da Silva, morador das marquises da cidade. Com a veia do pescoço estufada, nas pontas dos pés e o dedo em riste gritava para a platéia numa espécie de discurso-profecia, ele dizia, com a simplicidade de suas palavras, mais ou menos assim: “ O Brasil está passando por muita mudança no seu jeito político. E a nossa cidade, também. Algema não é mais só pra ladrãozinho pobre, não! Lá pra cima tão prendendo e algemando os bacanas corruptos. Pena que eles logo são solto por um bacana, importante, também. Mas tão prendendo! Mesmo que não acredita, os derrotista, um novo jeitão está presente. Aquela velha politiquinha de dar com uma mão e pegar com a outra está se acabando. O povo dessa cidade conheceu outro tempero na eleição passada, o tempero da consciência. Aqui nessa cidade a última eleição mostrou resultado diferente do que era esperado por muita gente que já tão aí na política a muito tempo. Não era sem tempo. Aí é que eu digo - essas eleições municipais pode trazer muitas surpresas! Nem será tanta surpresa se nossa cidade escolher o candidato sem aqueles vícios antigos, de preferência um candidato que não venha escolhido antes da gente escolher. Olha, estamos caminhando prá isso. As famílias daqui já perceberam que ficar esperando favor, com o pires na mão, é pura ilusão. Por isso é que os mais novos já estão escolhendo candidatos com jeito de fazer política, diferente; por isso é que os mais velhos já estão mudando de posição, saindo do conformismo e concordando com as idéias boas. Mas logo vão aparecer os compradores de votos, aqueles que de uma hora prá outra passa a cumprimentar todo mundo, prometer emprego, promover churrasco.etc. e tal - Eu troco teu voto por uma carrinho cheio de compras, um punhado de tijolos ou de telhas! Aquela mania politiqueira cansativa e sem imaginação." -E nesse momento Zé da Silva é interrompido por policiais que querem retirá-lo, de qualquer maneira, do local. Mas com a intermediação de alguns ouvintes e aos gritos de Fica ! Fica! Fica! do povo, ele permaneceu ali no seu discurso. "Por isso, continuou o Zé, é que eu digo que nossa cidade vai escolher de um jeito diferente; nada de cartas marcadas, o jogo tem que ser limpo. Mas a gente precisa ficar ligado. Se a gente ficar acreditando naqueles candidatos com promessa de mudança facil, só vai sobrar pra nós ficar vendo os urubus se fartando na carniça.” Foi quando alguém gritou do meio do povo: - Solta o verbo Zé da Silva! Então Zé terminou sua fala, gritando e batendo no próprio peito: - Eu sou madeira de dá em doido. Eu sou o Zé da Silva!

29 de jul. de 2008

Um time chamado Avenida

Eramos jovens entusiastas e jogávamos futebol quase todos os dias. Os campeonatos de finais de semana, no campinho (praça Polidoro Santiago) nos incentivava a prática das famosas peladas, disputadas nas tardes ensolaradas da Laguna. Foi assim que aconteceu a fundação do Avenida. Time de futebol, pra lá de amador, da garotada da rua Getulio Vargas do nosso Magalhães. Eu , Marcio, Édio, Zelão, Edu, Gilmar e mais outros tantos vizinhos arrebanhados para formar a equipe. Foram muitos os adversários que enfrentamos descalços e sem camisas. Até que um belo dia, alguém, não me lembro quem, apareceu com um jogo de camisas emprestadas. Foi uma festa. Toda branca, com faixas azuis na frente e números pretos nas costas. E o Avenida, muito incentivado, continuava sua saga futebolística com atuações irregulares e inusitadas; perdia quando achava que ia vencer e vice-versa. Mas não demorou muito para o inesperado acontecer. O Tupizinho, time infanto juvenil do Tupi, uma equipe conceituada, com grandes atuações em campeonatos da cidade, do bairro Campo de Fora, convidou-nos para uma partida. Confesso que relutei, em aceitar, pois não tínhamos currículo e nem estrutura para tal desafio. Mas fui voto vencido. E lá fomos nós, numa tarde de sábado, a pé, com o saco de camisas nas costas. O nordeste soprava tão forte, que na paixão, ao darmos um passo a frente ele parecia nos arrastar dois pra trás. O campo do Barriga Verde, ficava onde atualmente é o Ginásio de Esportes, próximo ao nosso terminal Rodoviário. Ao chegarmos jogamos as camisas ao lado da trave e sentamos para descansar da caminhada. O Tupizinho já estava lá, com aquele ar de superioridade. Nunca tinhamos visto tamanha organização. Eles tinham técnico. Era o Afonsinho! A beira do gramado faziam alongamento enquanto o técnico se preparava para dar instruções.Uma frescura geral. Um detalhe importante: o árbitro da partida eles trouxeram, a tiracolo. Nós, do Avenida, apreciávamos aquilo tudo de longe. Até que, em dado momento, iniciamos o jogo. Começamos jogando a favor do vento, é claro. E logo nos quinze minutos iniciais inauguramos o placar- 1 a 0. O Avenida usava uma tática de jogo que somente muito mais tarde os grandes times europeus viriam utilizar. Ninguém guardava posição e todos atacavam e defendiam. Coisa de louco! Dez minutos para terminar o primeiro tempo fizemos o segundo gol e eles descontaram em seguida. Fomos para o segundo tempo vencendo de 2 a 1. Eles não se mostravam muito preocupados com a desvantagem no placar. Afinal, tratava-se de um time experiente com muitas horas de futebol. E agora jogariam a favor do vento, iriam contar com o cansaço e a maneira desorganizada de jogar, do Avenida. Mas a reação do Tupizinho demorou a chegar e aos quinze minutos para terminar a partida, fizemos o terceiro gol. Ai, então o desacerto foi total; os craques do Tupizinho começaram a discutir; um xingava o outro e parecia que iriam a qualquer momento se agredirem; e o técnico, desesperado, não parava de gritar da beira do gramado. Tinha uns auxiliares. È, os enjoados, tinham até auxiliares técnico! Um deles era o Edson(da Telesc) que foi embora, antes do jogo acabar.
Terminou a partida e a confusão entre eles era generalizada. Nós todos sentados próximo a uma das traves assistíamos a saída desastrada do Tupizinho. Sumiram de uma só vez por entre os grandes pés de eucalipto, que existia no campo do Barriga Verde. Esbravejavam e atiravam, aquela camisa amarela, na cara um do outro.
Saudades do Avenida. Era um grande time peladeiro.

14 de jul. de 2008

Um cidadão

Eis que, de repente, me encontro pensando em pessoas modestas de vida simples, sem destaques em grandes rodas sociais ou políticas, mas importante para o cotidiano das cidades. Dessas que geralmente são conhecidas por um codenome por não sabermos direito seu verdadeiro nome. Sem muita pesquisa e nem muito esforço lembrei-me de um lagunense nato, cidadão calmo, amigo de todos e um constante sorriso estampado no rosto. Tem em Antonio o seu nome de batismo. Funcionário publico federal aposentado; viveu os tempos áureos do Porto da Laguna. Colega de trabalho e amigo de meu saudoso pai. Ele é o Catarina. Assim é que o conhecemos. Seria, somente mais um lagunense se não fosse um cidadão trabalhador, dedicado a família e fortemente identificado com o nosso carnaval. Sua paixão e desprendimento o fizeram um mestre do samba para nossas gerações de carnavalescos. Com abnegação e humildade franciscana ele nos ensina como caminhar pela vida sem se deixar perturbar com a poeira e os buracos da estrada. Poderia ser um personagem de qualquer cidade, se quisesse, mas Catarina é lagunense. Seu vínculo afetivo e espiritual com o samba o fez fundar, junto com outros companheiros, a ex- Escola de Samba Mangueira e mais tarde viria ser também fundador da já consagrada Vila Izabel. Difícil esquecer sua maneira especial de tocar sua cuíca e o malabarismo no seu pandeiro à frente da bateria da escola. Benzia-se sem perder o ritmo do pandeiro e a cadência da bateria da Vila Izabel. Espetacular..... É dessas pessoas que parecem nascer determinadas para harmonizar o meio onde vive, teve uma atuação irretocável como funcionário público e guarda uma identidade grande com suas raízes e com aquilo que faz. Seria difícil imaginá-lo dissociado do carnaval e da vida da cidade. Tinha por hábito, todos os dias, como num ritual, iniciar um passeio pela sua Laguna através do Mar Grosso, encontrando amigos e visitando lugares. Retornava ao aconchego do seu lar, via centro histórico, quando o sol se punha por entre os morros da Lagoa Santo Antonio dos Anjos. Hoje, nos altos dos seus quase noventa anos o nosso herói já se ressente de melhores condições físicas para empreender tamanha façanha. Mas fica aqui meu registro a esse cidadão lagunense que tem como norte de sua conduta a honradez, a seriedade e nobres gestos de humanidade para com seus semelhantes. Salve a gente simples, honesta e dedicada da minha terra. Abenção! Catarina...

3 de jul. de 2008

Falando das Pandorgas

Quando paramos pra pensar sentimos que o tempo já passou mais rápido que nosso pensamento. Ele parece ter sido varrido; é como se fora sugado por um daqueles dias de vento nordeste que visita, com freqüência, a nossa Laguna. Por isso existe uma urgência em nós de arrumarmos tempo, para criar os bons momentos, antes que sejamos consumidos apenas pelo trabalho, pelo cansaço, pela fadiga ou outros males que o stress explica. Mesmo que não sejamos poeta de nada, todos precisamos nos encontrar em um daqueles momentos em que observamos uma paisagem, como se pudessemos tirar dela alguma poesia. Eu sei que mesmo não sabendo escrever nada direito, com pressa ou sem pressa, todo mundo tem o seu momento de reflexão e sentimento em relação as coisas que estão em sua volta, e possuir este momento é o que importa. Por exemplo, desde que me sentei aqui e me propus a escrever alguma coisa rapidamente, me veio logo em mente o jeitinho ingênuo e maroto do Henrique, meu neto; muito dessas coisas que escrevo tem como pano de fundo o seu angelical sorriso. Mas hoje o dia nublado e chuvoso me inspirou a pensar em filmes que assisti e gostei muito. E muitas frases do filme o Caçador de Pipas- peço licença para chamar de pandorga, como no meu tempo de garoto- não tem me abandonado. Bem como aquele diálogo em que Rahim Khan diz a baba que crianças não são livros de colorir. Assim sendo nenhum pai pode colorir seus filhos com suas cores prediletas. Estava lá ele querendo dizer que o filho não seria como ele era. E o filme tem tantas riquezas culturais e velhos e belos valores que só a milenar civilização do Oriente pode nos ensinar... Eu falo, velho por eles já quase não existirem, nesse novo mundo de espertezas e variedades de vilões em que vivemos. Mas o mais belo no filme é a possibilidade de resgatar esses valores. Olha quanta mensagem bonita nos traz o enredo que a história oferece. Se pensarmos bem, nunca acabaram os campeonatos de pandorgas. Onde há shows há campeões. Nem, sempre quem perde é o fraco. Será que os vilões deixam o bom vencer de fato? Estamos numa era em que precisamos arrumar tempo para apreciar as modernas pandorgas (pipas). Pode até ser a pandorga que mora em nós. E ao aprendermos a olhar dentro de nós ficará mais fácil olhar o outro. Passaremos também a enxergar as pandorgas coloridas que passam por nossos céus, quase nos tocando. Pandorgas de pessoas que podem tornar nossos dias felizes e agradáveis. Esta é a harmonia que buscamos para todos. Encontro de sorrisos iguais ao do Henrique, capaz de proporcionar a nós todos, felicidades....

17 de jun. de 2008

O passeio de um santo

Eu vi um santo passeando na noite de junho de Laguna. Muito iluminado, um meio sorriso no rosto, ele parecia levitar sobre o povo. Eram muitos os seus seguidores, e sua inconfundível silhueta destacava-se no meio da multidão. Uns carregavam cruz, outros acendiam velas e todos rezavam pedindo proteção divina e cura para suas agonias e preocupações. Debruçadas nas janelas, as pessoas oravam, enquanto os fogos de artifícios surgiam dos quintais das casas e ascendiam aos céus riscando o véu escuro da noite. Eu vi políticos alegres passeando a frente dele, dando uma trégua as praças e ao discurso de promessas fáceis, acenando e sorrindo para a multidão. Talvez até nem lembrassem mais, que no meio da barra da Laguna continua a ter uma pedra... Tem uma pedra no meio da barra da Laguna... Por onde passava, o nosso santo arrebanhava fiéis para acompanhar seus passos. Era um pastor reunindo suas ovelhas... cuidando do seu rebanho. Em frente ao seu templo gente que viera de todos os cantos, saudá-lo. Em sua maioria conhecidos conterrâneos lá de nossos tempos juvenis, agora já com cabelos embranquecidos, estampando no rosto alegre, a saudade e o desgaste dos anos. Eu vi moços e velhos a se emocionar com o repicar dos sinos da velha matriz e um espetáculo de fogos a brilhar no céu do jardim Calheiros da Graça. Ouvi atento, o nosso consagrado coral rezar a famosa trezena no eterno latim, recitado em gregoriano. Eu vi o discurso do orador a enaltecer autoridades e o povo ávido pelas lembranças distribuídas durante a liturgia. Na amostra de relíquias e coisas da terra montadas em estande em frente ao salão, a criatividade dos festeiros. Eu vi, por fim, uma procissão de abnegados fiéis, a acompanhar nosso santo pelas ruas da Laguna. É bem verdade que não havia um padre. Mas ficou também evidente, que o povo lagunense não precisa de intermediário para conversar com Antonio.

8 de jun. de 2008

Alma de um bar

Com nome nada convencional para um bar, o Necrotério é um templo. Pode ser também, um estado de espírito....Ele é o reino onde os solitários se sentem devidamente servidos de seus copos. Cismando. Refletindo. Arrazoando. Ponto de parada dos amigos, vindos de qualquer parte, em direção a praia do Mar Grosso, o nosso já consagrado bar encontra-se encravado num dos cantos da rua que circunda a praça Souza França (a pracinha) no Magalhães Testemunha auditiva e ocular dos acontecimentos do bairro, incentiva e participa da Corrida de São Silvelho, do baile das Bonecas, do esquenta do Bloco da Pracinha e do Boi no Rolete, do bloco do barulho; eventos consagrados do calendário de festas da cidade. Ele é o habitat comum dos confrades de copo ou simplesmente o local de papear com os amigos. Aliás, nada mais perfeito do que uma amizade iniciada no Necrotério. Os amigos dificilmente se visitam nas suas respectivas casas. Não tomam grana emprestada e não pedem para firmar promissória. No Necrotério fala-se de mulher – quase nunca da nossa – e de política, música e futebol. Mas não vale debater de modo tenso. É que lá não se vai para esquentar a cabeça. Camaradas do Necrotério bar são amigos de velhas jornadas. Um sabe como afagar o ego do outro; e suas divergências são quase sempre postas de lado. Eu falei, quase... Poderia ser mais um botequim qualquer, mas é o Necrotério, e o seu ambiente cheio de palavras amenas e discussões acaloradas, oscila freneticamente entre o santo e o profano. Tem hora que suas mesas são quase confessionários noutra palco de discurso e contestação. Numa mesma conversa, um companheiro ensina as saídas para os problemas materiais, um outro traz as últimas novidades para resolver as questões no plano sentimental. Desconfio até que sejam melhores do que o gerente do banco, o psicanalista e a cartomante. Já me fez até pensar se não seria mais perfeito que os consultórios de psicanálise tivessem mais cara de bar. O espaço se tornaria mais democrático. Os dois poderiam falar. È que observando o consultório freudiano ou junguiano do Necrotério bar, notei que ora se é analista, ora se é paciente. Sem dúvida alguma o Necrotério é um lugar sagrado. Ele inspira porres e papos, músicas e cantadas, frases e compassos, verdades e mentiras. Ainda que se sobreponha as mentiras sobre as verdades. Viva o Necrotério bar! Se Deus quiser e a cerveja não faltar.

31 de mai. de 2008

Frio

E cá estamos nós, tremendo outra vez, tomando conhaque, buscando o chocolate ou o café quentinho... coitado do catador de lixos, do entregador de coisas, dos solitários que perambulam pela cidade... Parece que não há nada que os aqueça, nem cobertas, nem jornais, que já não nos aquecem com boas e novas notícias e nem aqueles que necessitam deles para se proteger do frio.
Para algumas pessoas que conheço o frio não deveria existir, infelizmente necessitamos dele para o equilíbrio das nossas florestas... do nosso ecossistema.
Porém é claro que tem algumas vantagens...para quem tem dinheiro e pode desfrutar delas... no mais é apenas a geada das plantas e a solidão de ruas frias sem brincadeiras de crianças.
O frio é melancólico, sofrido e nos faz sofrer...então se aqueça e aqueça, com abraços, sorrisos e afetos...mas também com cobertores, agasalhos; desentoque roupas do guarda-roupas e dê pelo simples fato de dar e aquecer...seja quente...seja acolhedor e aquecedor... não endureça com o frio...estique-se, mexa-se e não fique apático como o frio diante da tv apenas vendo a procissão de descamisados a sofrer. Enquanto delicia do chocolate quente, troque de atitude...pare...pense....reflita... e resolva aquecer. Abra o guarda roupa e veja só que calorão que vai dar esta separação de roupas e cobertas que já estão cansadas de não serem usadas, pulando de alegria, porque vão aquecer alguém... Seja um raio de sol gostoso neste inverno rigoroso... Até, rimou...e deu calor, pelo menos nos meus dedos...

24 de mai. de 2008

Desideratu

-Vá calmamente entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio. -Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de bem com todas as pessoas. -Fale a sua verdade calma e claramente; e escute os outros, mesmo os estúpidos e ignorantes; também eles têm a sua história. -Evite pessoas barulhentas e agressivas. Elas são um tormento para o espírito. -Se você se comparar a outros, pode tornar-se vaidoso e amargo; porque sempre haverá pessoas superiores e inferiores a você. -Desfrute suas conquistas assim como seus planos. -Mantenha-se interessado em sua própria carreira, mesmo que humilde; é o que realmente se possui na sorte incerta dos tempos. -Exercite a cautela nos negócios; porque o mundo é cheio de artifícios. -Mas não deixe que isso o torne cego à virtude que existe; muitas pessoas lutam por altos ideais; e por toda parte a vida é cheia de heroísmo. -Seja você mesmo. Principalmente não finja afeição, nem seja cínico sobre o amor; porque em face de toda aridez e desencantamento ele é perene como a grama. -Aceite gentilmente o conselho dos anos, renunciando com benevolência às coisas da juventude. -Cultive a força do espírito para proteger-se num infortúnio inesperado. Mas não se desgaste com temores imaginários. Muitos medos nascem da fadiga e da solidão. -Acima de uma benéfica disciplina, seja bondoso consigo mesmo. Você é filho do universo, não menos que as árvores e as estrelas. -Você tem o direito de estar aqui. E, quer seja claro ou não para você, sem dúvida o universo se desenrola como deveria. Portanto, esteja em paz com Deus, qualquer que seja sua forma de concebê-lo e seja qual for a sua lida e as suas aspirações, na barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com a sua alma. -Com todos os enganos, penas e sonhos desfeitos, este é ainda um mundo maravilhoso. Esteja atento. Empenhe-se em ser feliz. (Do Latim 'desideratu': aquilo que se deseja; aspiração ) (Texto encontrado na velha igreja de Saint Paul, Baltimore, datado de 1692 )

16 de mai. de 2008

E conseguimos sobreviver...

Não posso acreditar que fizemos isso! Olhando para trás, é duro acreditar que estejamos vivos até hoje.
Nós viajávamos em carros sem cintos de segurança ou airbag. Não tivemos nenhuma tampa à prova de crianças em vidros de remédios, portas, ou armários e andávamos de bicicleta sem capacete, sem contar que pedíamos carona.
Bebíamos água direto da torneira e não da garrafa.Nós gastamos horas construindo nossos carrinhos de rolimã para descer ladeira abaixo e só então descobríamos que tínhamos esquecido dos freios. Depois de colidir com algumas árvores, aprendemos a resolver o problema.
Saíamos de casa pela manhã e brincávamos o dia inteiro, só voltando quando se acendiam as luzes da rua. Dificilmente alguém nos localizava. Não havia telefone celular.
Nós quebramos ossos e dentes, e não havia nenhuma lei para punir os culpados. Eram acidentes. Ninguém para culpar, só a nós mesmos.Nós tivemos brigas e esmurramos uns aos outros e aprendemos a superar isto.Nós comemos doces e bebemos refrigerantes mas não éramos obesos.
Estávamos sempre ao ar livre, correndo e brincando. Compartilhamos garrafas de refrigerante e ninguém morreu por causa disso.
Não tivemos Playstations,Nintendo 64, vídeo games, 99 canais a cabo, filmes em vídeo, surround sound,celular, computadores ou Internet. Nós tivemos sim... muitos amigos. Nós saíamos e os encontrávamos. Íamos de bicicleta ou caminhávamos até a casa deles e batíamos à porta. Imagine tal coisa! Sem pedir permissão aos pais, por nós mesmos! Lá fora, no mundo cruel! Sem nenhum responsável! Como fizemos isso?
Nós fizemos jogos com tacos e bolinhas de borracha e subíamos nas àrvores para comer frutas... não conhecíamos agrotóxicos. Nos jogos da escola nem todo mundo fazia parte do time. Os que não fizeram, tiveram que aprender a lidar com a decepção...
Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros. Eles repetiam o ano! Que horror! Não inventavam testes extras.
Éramos responsáveis por nossas ações e arcávamos com as conseqüências. Não havia ninguém que pudesse resolver isso. A idéia de um pai nos protegendo, se desrespeitássemos alguma lei, era inadmissível! Eles protegiam as leis! Imagine só isso!
Nossa geração produziu alguns dos melhores compradores de disco, criadores de soluções e inventores. Os últimos 50 anos foram uma explosão de inovações e novas idéias.Tivemos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade, e aprendemos a lidar com isso.Você é um deles. Parabéns!

9 de mai. de 2008

Mulheres

"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.
Pare para refletir sobre o sexto-sentido. Alguém duvida de que ele exista? E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você? E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento? E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco?
Florianópolis, 30 graus, você vai em viagem de visita a nossa Laguna. Normalmente, é só hora e meia de carro. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece? O carro fica preso no transito da BR-101, por mais de duas horas, e o tempo muda, começa a esfriar.. e Começam os murmúrios: "bem que minha mãe avisou"; "a minha mulher chegou a tirar meu casaco do armário e eu não quis trazer"... . Como é que elas sabiam? "Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..." Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado... O sexto sentido não faz sentido! É a comunicação direta com Deus! Assim é muito fácil...As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um ser só?
E não satisfeitas em gerar a vida, elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe".... Tudo isso é meio mágico... Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança.). E sua beleza? No reino animal, em geral, o macho é o mais belo.O leão, o pavão, o condor... Nem é preciso dizer que a raça humana foge à regra... As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravasam? Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê deamor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobreos homens... É choro feminino. É choro de mulher...
Já viram como as mulheres conversam com os olhos?Elas conseguem pedir uma a outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos... Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens! E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.
En-fei-ti-çam!!!
E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas? Para estudar os homens, é claro! Embora algumas disfarcem e estudem Exatas... Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa área. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro". Quer evidência maior do que essa? Qualquer um que ama aproxima-se de Deus. E com a mulher é também assim.O amor as leva para perto dele, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida. Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado. Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor. É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos. E levitam. Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora."

25 de abr. de 2008

Flashback

Voltar ao passado em flashback, reviver e lembrar os anos 60, é ouvir Roberto Carlos. Cresci praticamente ouvindo suas canções. Como a música no tempo do carro Cadillac, tempo em que pagávamos os sorvetes das meninas. E, claro, todos gritavam: “Só quero que você me aqueça neste inverno....E que tudo mais vá pro inferno.”
Meses atrás Roberto Carlos fez um show no Centro de Eventos, em Florianópolis. O clima estava agradável como em uma noite de verão. Era grande a aglomeração de famílias com filhos e netos para ver o espetáculo.
Uma das coisas mais incríveis que o Roberto tem é a forma como ultrapassou todas as gerações durante todos esses anos. Geralmente sua platéia é formada por pessoas entre 25 e 80 anos. São grupos, casais, senhoras que vão assisti-lo, com saudosismo e expectativa.
Assistir Roberto Carlos é lembrar de muitas histórias. É impossível não ter saudades de um tempo em que a inocência pairava no ar. E a repressão também! As músicas eram vistas como algo subversivo e poderiam conter mensagens proibidas, dos cabeludos que eram vistos como transgressores da lei.
O rock era a coqueluche do momento. A última pedida de modernidade.Num tempo, onde as meninas de classe média cresciam em ambientes fechados e separados dos rapazes, e estudavam em escolas de freiras ( como o Stela Maris) ou nos colégios evangélicos.
A receita: repressão, provocações, formava o cenário para grandes paixões. Os rapazes de lambreta e carro Cinca Chimbord faziam o papel de playboys da cidade. As moças de saias rodadas e cabelos com laquê. Os rapazes com brilhantina nos cabelos, todos preocupados com a boa imagem, corriam em busca de um amor que durasse a vida toda. Amor que se via nos filmes de Romeu e Julieta. Era essa a mentalidade dos jovens do Roberto Carlos.
Em meio às lembranças, as canções vão surgindo uma a uma, “Emoções”, “È tão Grande o Meu Amor Por Você”.... o cantor resume seu imenso repertório colando o refrão de uma música em outra, deixando a vontade de ouvir todas até o final. Sensação de quero mais no ar! Quando as luzes se acendem temos a impressão que aquela viagem pelos corredores de nossa juventude durou apenas alguns minutos e não duas horas.
Roberto une dois mundos em suas canções. Antes, havia a fantasia, os sonhos, a espera, a descoberta que só acontecia após o casamento. Como toda dualidade humana, causa de muitas separações e divórcios porque não nos era permitido a possibilidade de conhecer com quem se casava. E a união acontecia com nossas próprias fantasias e desejos.
E a realidade trazia de novo Roberto Carlos por baixo dos caracóis e com canções como “em lençóis macios amantes se dão”.
Hoje o cenário é diferente. Acabou o sonho, as paixões arrebatadoras foram trocadas pelo “ficar” e pelas relações cada vez mais descartáveis como o copo e o prato de plástico. Fica a nostalgia, a saudade, o vazio e a perda insubstituível de um tempo de romantismo. Nós que bancávamos tudo, e agüentávamos firme sem reclamar, abriamos portas e dava a vez para as senhoritas, e ajudávamos a carregar pacotes. A educação, as gentilezas.
No discurso da igualdade das novas gerações há maior liberdade, mas também mais desconfiança, menos gentilezas e sutilezas, mais violência e erros nos relacionamentos com menos comprometimento. Evoluímos para melhor? Ou estamos experimentando extremos para afinal encontrarmos o ponto de equilíbrio?

16 de abr. de 2008

A morte da (minha) Menina

"Tentei pensar em outro assunto. Tentei. Mas não consegui (aliás, não consigo). O rosto da filha dele me vem a toda hora, o rostinho dela. Uma menininha. Li nos jornais que ouviram ela dizer: "pára, papai". Ela pediu para parar? Valha-me minha Nossa Senhora, ela pediu para parar? Parar o quê? Há quem critique a imprensa por estar dando um destaque exagerado ao assassinato da menina Isabella, inclusive vendo excessos naquilo que chamam de "condenação prematura" do pai e da madrasta. E eu, querendo me agarrar numa lógica que sempre segui, de ver os dois lados, esperar os fatos - como se essa lógica fosse uma bóia - só me afundo num mar profundo de raiva, de dor. Essa bóia não me serve nesse mar. É que me vem o rosto dela, já sonhei e acordei pensando nele. E fiquei obcecado pela voz também, de tal maneira que me pus em pranto outro dia quando minha filha disse "pára, papai", isso quando eu fazia cócegas nela. A morte da filha dele pôs a minha bóia, na qual venho me sustentando por uma vida, em xeque. Me surpreendi querendo vingança. Descuidado, pensei em justiça a qualquer preço. Perdi um tanto de civilidade. A briga, a surra, o desfalecimento. Em seguida, o teatro: o corte da rede, primeiro com uma tesoura, depois com uma faca (depressa, depressa!) e então o arremesso da criança AINDA VIVA. Valha-me, valha-me, valha-me o diabo. De que somos feitos? Quem é que somos? É possível alguma ordem nesse inferno? Houve um crime terrível. Uma menina foi morta. Não, ela não se chama Isabella. Essa é a filha dele. Houve um "outro" crime terrível. E esse diz respeito a mim. Dentro de mim morreu uma menina que, apesar de eu ter envelhecido sempre procurei mantê-la assim, uma criança. E essa menina eu chamava de Ilusão." De José Pedro Goulart-jornalista, cineasta e diretor de filmes publicitários. Porto Alegre-RS.
Para a reflexão dos leitores do papodaesquina.

10 de abr. de 2008

Conto da Cidade

No livro“As Cidades Invisíveis “ o escritor Ítalo Calvino descreve em contos surrealistas os relatórios que Marco Pólo faz ao rei dos mongóis ( kublai Kan) sobre as cidades que visita nas suas viagens pelo grande império do Kan. Cada uma tem uma característica que a marca e distingue, e todas com nomes femininos, chegando por vezes a assaltar-nos a dúvida se Calvino não estará no fundo a falar de mulheres e não de cidades. Não por acaso. Uma cidade, qualquer cidade, mesmo nossa Laguna, humilhada pelos descasos políticos e pela falta de planejamento administrativo, tombada como Patrimônio Histórico Nacional e sem a devida atenção que a riqueza de seu conjunto arquitetônico requer, com ruas seculares cansadas de cidadãos sem distinguir seu povo de turistas,.... é mulher brejeira, encantadora, charmosa, mostrando sempre e melhor o que lhe cai bem.
E como lhe caem bem os contrastes de mulher madura que não esquece o jeito de ser menina, com seus contornos sinuosos, suas praias bronzeadas ensaiando sorrisos manhosos. Como toda mulher, também tem labirintos curvilíneos que vão dar em recantos misteriosos ou em lugar nenhum. É da natureza das cidades, faz parte deste mundo feminino. Tenho fascínio por ela, a minha cidade, porque além de mulher ela é madura, e pensa -- mas só pensa -- que já viveu tempos melhores. Uma mulher, tranqüila mas com um pouco de ansiedade que pode passar noites em claro cuidando dos filhos famintos e desorientados, e dos amigos que já partiram.
E como toda mulher que carrega tantos anos, que já viu de um tudo - até do que Deus duvida -, e que já sofreu um tanto, nem sempre consegue esconder as cicatrizes que o tempo lhe legou. Mas, o que ela guarda mesmo são os fogos das viradas de ano, os carnavais em que ela é destaque e especialmente, os dias de glória. Então, depois dessas noites insones, essa mulher generosa sorri para o sol que nasce por sobre o Mar Grosso, lança uma piscadela de olho sobre o pessimismo das más línguas, oferecendo tendenciosa beleza aos amigos e caloroso conforto aos seus filhos. Como uma bela mulher, cuja beleza e história de vida tanto a deixou famosa, atrai gente de muito longe para apreciar seus contornos. Uma mulher tão linda -- e dizem que toda a mulher linda demais é perigosa – deixa os visitantes maravilhados pelas suas noites enluaradas. A cidade da Laguna, charmosa e sensual, inspira os sambas de nossos carnavais, encena peça sobre sua vida, navega pela Lagoa Santo Antonio dos Anjos, admira-se diante da Pedra do Frade, banha-se na Praia do Mar Grosso. Laguna é mulher sestrosa, sem ser indecorosa.
Se tem pecados, eles parecem reduzidos por uma Nossa Senhora da Glória, de braços abertos, disposta a perdoa-los. Quem a conhece não pode deixar de amá-la, pois quem a vê iluminada de noite ou iluminando um dia, por ela se enamora quase repentinamente. Quem nunca lhe viu de tão perto e idealiza sua beleza tão exposta, tem um pé atrás do otimismo, acha que ela pode ser traiçoeira. O contrasenso é certo. Mulheres sempre despertam sentimentos contrários, e inseguros. As regras são simples para entender esse mistério: morar com uma mulher, seja ela qual for, exige adoração pelo seu calor e desprendimento. Já, para um visitante ela oferece alegria, mas pede cautela e um punhado de respeito -- e pré-disposição para conhecê-la de perto. Por isso, peço licença para dizer a quem na cidade de Laguna ainda não conseguiu pôr os pés, por falta de oportunidade ou também para aqueles que não conhecem todos os seus (re)cantos: "A mulher que não se conhece são as ruas não atravessadas, são os outros caminhos possíveis."

29 de mar. de 2008

O Quase

"Ainda pior que a convicção do não, e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu ainda está vivo, quem quase amou não amou.Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, ás vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto.A resposta eu sei de cor, está estampada na distancia e frieza dos sorrisos na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom Dia” quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são.Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia á duvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque embora quem quase morre está vivo, quem quase vive já morreu."
Luis Fernando Verissimo - Um orgulho de nossa lingua portuguêsa, uma satisfação de ser brasileiro.

21 de mar. de 2008

Reminiscências de nossa infância

Dos românticos anos 60, as reminiscências de lugares, aromas e sabores que marcaram a infância na Laguna, reduto de belas recordações. O saboroso bolo de milho feito na folha de bananeira cozido na chapa do fogão a lenha ao tempo que a batata doce inteira e com casca, colocada providencialmente por minha avó, assava no calor do borralho. O café novo passado no coador de pano e adoçado no jarro de barro com pão de farofa e manteiga de colono, da feira do seu Effting, que ficava nas dependências do nosso Mercado. Língua vermelha dos sucos de groselha servido nos aniversários dos amiguinhos da rua, quase sempre presenteados com sabonetes. O agradável e borbulhante sabor dos guaranás Champagne, tomados no gargalo da garrafa, deixando a boca entorpecida e uma sensação de ar preso na barriga. A maciez e o sabor dos gostosos tabletes de côco (Dalva). Da puxa-puxa, pé-de-moleque e os cartuchos de amendoim comprados na quitanda do seu Vieirinha e da Dona Adalziza situada na esquina do campinho do Magalhães. Os pedaços de côco da feirinha do seu Vitalzinho, que ficava ali na rua João Pessoa. A delícia do picolé e sorvete de côco da sorveteria do seu Capanema. A galinha caipira ensopada criada no quintal de casa, servida com arroz e maionese nos almoços de domingo. E de sobremesa, a deliciosa caçarola italiana divinamente preparada pela mãe Maria. Os pastéis e quibes do Bar da dona Lizete, durante o intervalo do lanche, das nossas aulas no “curso ginásio” do CEAL-Conjunto Educacional Almirante Lamego. As “fatias douradas” e os “cavaquinhos”, feitos por minha mãe, nas abençoadas tardes chuvosas do inverno lagunense. O Alagamar, com muitos trapiches, suas bateiras e canoas, povoado de gaivotas e biguás; e os escondidos banhos de mar no “saquinho”. A paquera com as alunas internas do Colégio Stela Maris, durante o dia da procissão do Corpo de Cristo, que trabalhavam na confecção de tapetes. Beijos trocados com a namorada, mergulhado no brilho dos seus olhos, e na boca o sabor de chicletes de hortelã. Outros lugares, sabores e aromas foram próprios do nosso tempo de infância e juventude na saudosa Laguna. Só para encerrar, a carroça de água fresca da carioca, vendida de porta em porta; o cheiroso pacote de pão deixado pelo padeiro, ao alvorecer, nas soleiras de nossas janelas; os inventos do seu Olindino e seu serviço de alto-falante; e aquelas reuniões juvenis nas noites enluaradas da pracinha.

29 de fev. de 2008

Visitando a Escola

Pedras de costões enrubecidos, no calor dos dias de sol, pela salinidade das ondas do Atlântico. Um rosário de praias de areias brancas, um menir a desafiar nossa inteligência e um centenário farol iluminando o extremo sul de seu território.
Das docas de um antigo mercado, um pôr-do-sol ao entardecer, numa lagoa com nome de Santo. E aquela fatia de Terra que avança na direção do cabo de Santa Marta.
Essa é Laguna. Um enredo de histórias que se funde, com exatidão, aos elementos da sua bonita paisagem.
Tranquila, ordeira; ela ainda continua a despertar curiosidades e a fomentar minha saudade.
È lá que eu relaxo, baixo a guarda e entro em ressonancia com a natureza pura e preservada; me liberto das amarras presas ao homem de hoje, viajo pelo túnel implacável do tempo e chuto latas que nem um menino arredio atrevido.
Ainda, dia desses, quando caminhava pelo Magalhães nas proximidades da Praça Polidoro Santiago ( O Campinho) onde outrora acontecia, nas tardes de domingo, os concorridos e aguerridos campeonatos de futebol, uma sóbria construção com muros altos e grades de ferro, despertou minha atenção.
No portão entreaberto encontrei o motivo para atender ao apelo da minha curiosidade. Empurrei com cuidado e subi vagarosamente, a passos cansados, os degraus que dão acesso a porta principal, também aberta, do então Grupo Escolar Ana Gondin.
Um sentimento mixto de alegria e melancolia invadiu meu coração.
A escola que me ensinara os primeiros símbolos de nosso alfabeto estava ali, na minha frente. Um lugar onde os seguidos exercícios nos antigos cadernos de caligrafia tornara definitivo o estilo de minha grafia. E o som da cantoria ritmada das taboadas, ecoava pela vizinhança, anunciando nossa iniciação à matemática.
Observei, então que a árvore frondosa situada à frente do canto direito do terreno cedeu lugar a uma nova construção. A sala do diretor e a secretaria que ficavam à direita e á esquerda respectivamente, logo a entrada do prédio, parecem continuar nos mesmos lugares. O átrio do mastro da bandeira e das memoráveis apresentações festivas é, justamente, a parte que mais se mantém preservada na construção originária do edifício.
No campo de futebol, local das nossas aulas de educação fisica, agora estão construidas novas salas.
O patio de recreação, visto a distância, não sofreu mudança com relação a sua estrutura inicial; a não ser pelo aumento de sua área que avançou sobre a rua que existia atras do terreno da atual Escola Básica Ana Gondin.
A lembrança da pequena cozinha, anexa ao pátio, me remeteu para a fila formada por nós, alunos, para degustar, na hora do "recreio" a sopa oferecida pela escola.
No caneco esmaltado, "Dona Mariazinha" a senhora magra e elétrica que tratava a todos pelo nome e tinha afinidades com nossos pais, servia-nos com carinho e afeição.
Muito cuidado era dispensado ao pé de Pau Brasil, a àrvore simbolo de nossa terra; logicamente, já não tem seu lugar cativo, ao fundo, no lado esquerdo do terreno da escola.
Apesar do sério castigo imposto, pelo diretor, a quem ousasse apanhar algumas de suas folhas, eram poucos aqueles que não tinham um ramo da prestigiosa árvore entre as páginas de seus livros.
Ao me retirar, pensando estar despercebido, ouvi um murmurar de pessoas e notei um professor de pé, junto à porta de uma das salas de aula, me acenando amigavelmente.
Saudei-o, cordialmente, e apressei minha saida sem sequer lhe dirigir qualquer palavra.
Mas trouxe comigo a certeza dos relevantes serviços que a Escola Básica Ana Gondin vem prestando, durante todos esses anos, a educação da comunidade do nosso Magalhães.
Um ícone na história do ensino catarinense a prover de conhecimento as gerações lagunenses.