20 de out. de 2008

Viva o Hoje

Várias vezes durante nossa existência ouvimos falar que a vida é curta, que devemos viver o dia-a-dia e que não adianta nada ficar preocupado com o futuro. No entanto, poucas são as pessoas que conseguem ter esse desprendimento.Sempre estamos preocupados, tensos, pensando nas coisas que podem, de uma hora pra outra, acontecer. Somos condicionados a pensar em tempo futuro. As pessoas que passam pela experiência da proximidade da morte geralmente passam a ver a vida por outro ângulo. Desprendem-se com mais facilidade das preocupações do amanhã e vive com mais intensidade o presente. Não tenha dúvida. A coisa mais importante que possuímos é o dia de hoje. Mesmo que esteja espremido entre o ontem e o amanhã, ele deve merecer sua entrega total. Só hoje você pode ser feliz; o amanhã é uma grande incógnita e ainda não chegou, e agora já é tarde para ser feliz ontem. A grande maioria das dores é fruto dos restos de ontem ou dos medos do amanhã. Nada de egoísmos, inveja e sentimentos pequenos que só atrapalham os planos de hoje e não ajudam a preparar o espírito para o amanhã. Viva o dia de hoje com sabedoria: decida como irá alimentar seus minutos, no seu trabalho, no seu descanso, e faça tudo o que for possível para que o dia de hoje seja seu, já que ele lhe foi doado com tanta generosidade. Respeite-o de tal maneira que quando for dormir, você possa dizer: hoje eu fui capaz de viver e de realizar!!! Os livros religiosos fundamentais como o Corão e a Bíblia tratam do assunto da mesma forma: a cada dia bastam suas tribulações. Tenha sempre um bom dia ... Carpe Diem : viva o dia!

6 de out. de 2008

O sol continua a brilhar

Nos molhes da barra me vi tomado pelas preocupações daquela quinta-feira tensa. O sol novamente aparecera depois de longos dias de chuva, e as tarrafas voltavam a bailar no céu do pontal. Na minha cabeça a constante lembrança da saúde abalada de minha irmã .Senti-me pequeno e solitário apesar dos muitos caniços que ali apontavam para o mar. Do mirante ao lado do farol, a ilha dos Lobos também sozinha, na imensidão do Atlântico. No lado sul do canal os grandes guindastes inertes sem movimentar qualquer carga. E no alto do Morro da Glória, a Santa virada de costas. Eu era só preocupação. Meus olhos, então, percorrem o espelho de água do canal que leva ao Porto e repousa na névoa da maresia que esconde os prédios que adornam a orla do Mar Grosso. Um forte açoite das ondas sobre as pedras, um cheiro de mar a prenunciar o verão na primavera lagunense. Navegando entre as ondas um barco sai barra afora a pescar. Quem sabe, levasse meus temores para além mar. Na viagem aos corredores dos meus vinte anos dourados encontrei um rapaz moço, encantado com os amores vividos em sessões de filmes renomados. No Cinema Paradiso dos meus sonhos os porteiros já partiram e o rapaz que vendia balas no hall de entrada, hoje é um respeitável senhor de sessenta anos. Restou um ponto de ônibus num prédio abandonado. Sob suas marquises, num vai e vem sem cessar, chegam pessoas de todo lugar e também partem sem regressar. Uma imitação da vida no cotidiano da cidade. Por onde andará Mariazinha? A namorada das nossas fantasias juvenis. Os biguás continuavam a mergulhar entre as pedras e, vagarosamente, fui me retirando daquele lugar mágico. Ah!...minha irmã. Minha preocupação.... Tudo não passou de um grande susto. Do exame sobrou apenas algumas dores no corpo e uma sensação de frio. O Sol continua a brilhar.Graças a Deus!

21 de set. de 2008

A terra vista de uma amostra

"Alguém pode dizer que é falta de assunto. Eu poderia escrever sobre as divergências quanto ao uso de grampos telefônicos, criticar a contradição da meca do capitalismo – que decidiu estatizar empresas privadas para salvar o que não tem conserto – ou falar das obscuridades da razão humana, tão claramente analisadas por Immanuel Kant. Poderia ainda dizer do estigma curitibano de fazer tempo bom durante a semana e chover, quase sempre, no sábado e domingo. E (por que não?) tecer esperança de uma primavera de dias ensolarados. Mas o tema que me comove é outro. Milhões em todo o mundo já viram o vídeo, outros milhões leram o texto. É assunto batido. Tudo bem, vá lá, mas numa época em que o mundo mergulha num oceano de crise sem saber a profundidade, nunca é demais tratar desses temas.
Trata-se de um texto/vídeo intitulado A Terra em Miniatura. Pode não ter lá o rigor científico – muitos dados têm mais de 10 anos –, mas nunca é demais. Mesmo que seja para lembrar que o planeta, muitas vezes, não é da cor que pintamos.
Mesmo que Iuri Gagarin tenha anunciado: "A Terra é azul".
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A Terra em Miniatura Se pudéssemos reduzir a população da Terra a uma pequena aldeia deexatamente 100 habitantes, mantendo as proporções existentes atualmente,seria algo assim: - 57 asiáticos- 21 europeus- 8 africanos- 4 americanos. - 52 mulheres- 48 homens- 70 não seriam brancos- 30 seriam brancos- 70 não cristãos- 30 cristãos- 89 heterossexuais- 11 homossexuais. - 6 pessoas possuiriam 59% de toda riqueza- 6 (sim, 6 de 6) seriam norte-americanos- Das 100 pessoas, 80 viveriam em condições sub-humanas. - 70 não saberiam ler, 50 sofreriam de desnutrição- 1 pessoa estaria a ponto de morrer e 1 bebê estaria prestes a nascer- Só 1 teria educação universitária- Apenas 1 pessoa teria computador- 40 pessoas não teriam acesso a água tratada. Restaria saber quantos são:
- os sem esperança
- os arrogantes
- os desprezados
- os sem escrúpulo
- os bons e os maus
- os sem destino.
Os.... Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Caetano Veloso"

Jornalista Célio Martins – Jornal a Gazeta do Povo – Londrina-PR

Aos leitores do papodaesquina um texto que considero de qualidade irretocável.

17 de set. de 2008

As possibilidades perdidas

Tomei conhecimento de alguns versos de um poeta mineiro chamado Emilio Moura. Era amigo de outro grande poeta, Carlos Drumond de Andrade. Se vivo fosse, teria completado 100 anos no mês de agosto próximo passado. Um desses versos, em especial, me chamou a atenção: "Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive". Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se realizaram. Por que sofremos tanto quando perdemos um ente querido?
Já que a morte é uma coisa inevitável e previsível da vida, o certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos convivido com uma pessoa, tão bacana, que nos proporcionou momentos agradáveis e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversarcom um amigo, para nadar, para estar com a pessoa amada. Sofremos não porque nossos pais são impacientes conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a eles nossas mais profundas angústias se eles estivesseminteressados em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos aexperimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: iludindo-se menos e vivendo mais.

6 de set. de 2008

Domingo

Mais um domingo. O primeiro domingo de setembro de 2008. Dia de sol, de almoço com a família, de shopping lotado. Na TV o anuncio de mais um futebol de uma seleção que não nos empolga mais. Dia em que também não passa nada que preste na mesma TV. E quem não tem TV por assinatura fica sem alternativa. Mas ainda bem que existem as locadoras: comédia, romance, drama, terror, documentário, temporadas de séries... às vezes, nada que combine com o domingo. Um livro pode ser a melhor saída, ou até a primeira escolha. Mas domingo também é dia de não fazer nada disso. Resolver ficar em casa no aconchego da família. Lá fora apenas o barulho dos carros e o vento a balançar a copa das arvores. Questão de opção, nada mais. Lembrei que pode ser dia de adiantar as coisas do dia-a-dia. Trabalhos, relatórios, releases, pesquisas... Ah! A internet voltou a funcionar. Vou dar uma expiada no papodaesquina. Domingo também é dia de navegar na rede mundial. Ainda bem que ela existe! Por outro lado, enche o saco. E como! Sempre achei e continuo achando o domingo um dia melancólico. Não tem jeito. Muitas pessoas já tentaram mudar essa minha impressão. Não teve jeito. Domingo é Dia das Mães, domingo é Dia dos Pais, domingo é Páscoa. Domingo é domingo e acabou. Mas feriado cair no domingo... ninguém merece! Domingo é dia de se reunir com os pais, do lanche com os amigos, de dormir até mais tarde, de sair da dieta. Domingo também é dia de ir ao Shopping. Não para uns conhecidos, que vão ao shopping todos os dias, só não no domingo. Estranho. Para os religiosos, ou não, domingo é dia de missa, dia de culto. Seja qual for a religião. Nas minhas retinas cansadas guardo a imagem das centenárias ruas da Laguna com as famílias caminhando em direção à Matriz. Cenas de domingo. Tenho certeza que todo mundo tem alguma registrada. Mas se isso tudo não basta, ou não agrada, acho que é melhor nem acordar no domingo. Domingo também é dia de dormir. É o que eu vou fazer agora.

20 de ago. de 2008

Navegando

Não faz muito tempo que desse fato nada se ouvia falar. Em qualquer momento o assunto, agora, é corriqueiro. É Internet pra cá, Internet pra lá ! Num país com índices significativos de analfabetos o assunto predileto é a inclusão digital. Cria-se um mito por trás de uma novidade. Blogs, sites de relacionamentos, MSN, skape, IM, uma infinidade de invenções comunicativas. Tempos atrás ao falar com um atendente de um call center qualquer se ouvia a pergunta: Qual é seu telefone de contato? Hoje se pede o e-mail.... Sem ter noção que a maioria das pessoas sequer sabe o que é e-mail. Dia desses, observei uma cena intrigante numa agência bancária. Ao ajudar a preencher um formulário, a atendente esbarrou na pergunta do cliente: O que é e-mail? Aqui pede um “e-mail”, disse ele. A funcionaria explicou que era um tipo de carta eletrônica e ali deveria ser inserido o endereço dele. Notei que o homem ficou, um tanto, desconcertado. Mas ela não lhe perguntou se ele tinha entendido. Só quem nunca teve acesso, desconhece. Só mesmo vendo pra crer. É um mundo inexplicável para alguém que tenha conhecido as máquinas de escrever Remington e Olivetti. Entretanto é um mundo extasiante. Imagens e sons surgem a vista, num piscar de olhos. Países, cidades, vilas, pessoas e variedades inigualáveis. Viaja-se e desvenda-se um mundo desconhecido. Mas a despeito de toda essa parafernália virtual tecnológica a fustigar nossa inteligência, nada há de se comparar à visão real da diversidade de cores, cheiros e sons que a mãe natureza põe ao alcance de nossos sentidos.Nada se compara ao cheiro de terra molhada pela chuva, numa tarde de outono; ouvindo a conversa alegre de pessoas e a algazarra de crianças entoando a antiga cantiga de roda, que faz lembrar nossa velha infância

15 de ago. de 2008

Zé da Silva

Domingo de sol, céu banhado num azul de dar inveja a brigadeiro. Na praça principal da cidade, atônitos, ouviamos Zé da Silva, morador das marquises da cidade. Com a veia do pescoço estufada, nas pontas dos pés e o dedo em riste gritava para a platéia numa espécie de discurso-profecia, ele dizia, com a simplicidade de suas palavras, mais ou menos assim: “ O Brasil está passando por muita mudança no seu jeito político. E a nossa cidade, também. Algema não é mais só pra ladrãozinho pobre, não! Lá pra cima tão prendendo e algemando os bacanas corruptos. Pena que eles logo são solto por um bacana, importante, também. Mas tão prendendo! Mesmo que não acredita, os derrotista, um novo jeitão está presente. Aquela velha politiquinha de dar com uma mão e pegar com a outra está se acabando. O povo dessa cidade conheceu outro tempero na eleição passada, o tempero da consciência. Aqui nessa cidade a última eleição mostrou resultado diferente do que era esperado por muita gente que já tão aí na política a muito tempo. Não era sem tempo. Aí é que eu digo - essas eleições municipais pode trazer muitas surpresas! Nem será tanta surpresa se nossa cidade escolher o candidato sem aqueles vícios antigos, de preferência um candidato que não venha escolhido antes da gente escolher. Olha, estamos caminhando prá isso. As famílias daqui já perceberam que ficar esperando favor, com o pires na mão, é pura ilusão. Por isso é que os mais novos já estão escolhendo candidatos com jeito de fazer política, diferente; por isso é que os mais velhos já estão mudando de posição, saindo do conformismo e concordando com as idéias boas. Mas logo vão aparecer os compradores de votos, aqueles que de uma hora prá outra passa a cumprimentar todo mundo, prometer emprego, promover churrasco.etc. e tal - Eu troco teu voto por uma carrinho cheio de compras, um punhado de tijolos ou de telhas! Aquela mania politiqueira cansativa e sem imaginação." -E nesse momento Zé da Silva é interrompido por policiais que querem retirá-lo, de qualquer maneira, do local. Mas com a intermediação de alguns ouvintes e aos gritos de Fica ! Fica! Fica! do povo, ele permaneceu ali no seu discurso. "Por isso, continuou o Zé, é que eu digo que nossa cidade vai escolher de um jeito diferente; nada de cartas marcadas, o jogo tem que ser limpo. Mas a gente precisa ficar ligado. Se a gente ficar acreditando naqueles candidatos com promessa de mudança facil, só vai sobrar pra nós ficar vendo os urubus se fartando na carniça.” Foi quando alguém gritou do meio do povo: - Solta o verbo Zé da Silva! Então Zé terminou sua fala, gritando e batendo no próprio peito: - Eu sou madeira de dá em doido. Eu sou o Zé da Silva!

29 de jul. de 2008

Um time chamado Avenida

Eramos jovens entusiastas e jogávamos futebol quase todos os dias. Os campeonatos de finais de semana, no campinho (praça Polidoro Santiago) nos incentivava a prática das famosas peladas, disputadas nas tardes ensolaradas da Laguna. Foi assim que aconteceu a fundação do Avenida. Time de futebol, pra lá de amador, da garotada da rua Getulio Vargas do nosso Magalhães. Eu , Marcio, Édio, Zelão, Edu, Gilmar e mais outros tantos vizinhos arrebanhados para formar a equipe. Foram muitos os adversários que enfrentamos descalços e sem camisas. Até que um belo dia, alguém, não me lembro quem, apareceu com um jogo de camisas emprestadas. Foi uma festa. Toda branca, com faixas azuis na frente e números pretos nas costas. E o Avenida, muito incentivado, continuava sua saga futebolística com atuações irregulares e inusitadas; perdia quando achava que ia vencer e vice-versa. Mas não demorou muito para o inesperado acontecer. O Tupizinho, time infanto juvenil do Tupi, uma equipe conceituada, com grandes atuações em campeonatos da cidade, do bairro Campo de Fora, convidou-nos para uma partida. Confesso que relutei, em aceitar, pois não tínhamos currículo e nem estrutura para tal desafio. Mas fui voto vencido. E lá fomos nós, numa tarde de sábado, a pé, com o saco de camisas nas costas. O nordeste soprava tão forte, que na paixão, ao darmos um passo a frente ele parecia nos arrastar dois pra trás. O campo do Barriga Verde, ficava onde atualmente é o Ginásio de Esportes, próximo ao nosso terminal Rodoviário. Ao chegarmos jogamos as camisas ao lado da trave e sentamos para descansar da caminhada. O Tupizinho já estava lá, com aquele ar de superioridade. Nunca tinhamos visto tamanha organização. Eles tinham técnico. Era o Afonsinho! A beira do gramado faziam alongamento enquanto o técnico se preparava para dar instruções.Uma frescura geral. Um detalhe importante: o árbitro da partida eles trouxeram, a tiracolo. Nós, do Avenida, apreciávamos aquilo tudo de longe. Até que, em dado momento, iniciamos o jogo. Começamos jogando a favor do vento, é claro. E logo nos quinze minutos iniciais inauguramos o placar- 1 a 0. O Avenida usava uma tática de jogo que somente muito mais tarde os grandes times europeus viriam utilizar. Ninguém guardava posição e todos atacavam e defendiam. Coisa de louco! Dez minutos para terminar o primeiro tempo fizemos o segundo gol e eles descontaram em seguida. Fomos para o segundo tempo vencendo de 2 a 1. Eles não se mostravam muito preocupados com a desvantagem no placar. Afinal, tratava-se de um time experiente com muitas horas de futebol. E agora jogariam a favor do vento, iriam contar com o cansaço e a maneira desorganizada de jogar, do Avenida. Mas a reação do Tupizinho demorou a chegar e aos quinze minutos para terminar a partida, fizemos o terceiro gol. Ai, então o desacerto foi total; os craques do Tupizinho começaram a discutir; um xingava o outro e parecia que iriam a qualquer momento se agredirem; e o técnico, desesperado, não parava de gritar da beira do gramado. Tinha uns auxiliares. È, os enjoados, tinham até auxiliares técnico! Um deles era o Edson(da Telesc) que foi embora, antes do jogo acabar.
Terminou a partida e a confusão entre eles era generalizada. Nós todos sentados próximo a uma das traves assistíamos a saída desastrada do Tupizinho. Sumiram de uma só vez por entre os grandes pés de eucalipto, que existia no campo do Barriga Verde. Esbravejavam e atiravam, aquela camisa amarela, na cara um do outro.
Saudades do Avenida. Era um grande time peladeiro.

14 de jul. de 2008

Um cidadão

Eis que, de repente, me encontro pensando em pessoas modestas de vida simples, sem destaques em grandes rodas sociais ou políticas, mas importante para o cotidiano das cidades. Dessas que geralmente são conhecidas por um codenome por não sabermos direito seu verdadeiro nome. Sem muita pesquisa e nem muito esforço lembrei-me de um lagunense nato, cidadão calmo, amigo de todos e um constante sorriso estampado no rosto. Tem em Antonio o seu nome de batismo. Funcionário publico federal aposentado; viveu os tempos áureos do Porto da Laguna. Colega de trabalho e amigo de meu saudoso pai. Ele é o Catarina. Assim é que o conhecemos. Seria, somente mais um lagunense se não fosse um cidadão trabalhador, dedicado a família e fortemente identificado com o nosso carnaval. Sua paixão e desprendimento o fizeram um mestre do samba para nossas gerações de carnavalescos. Com abnegação e humildade franciscana ele nos ensina como caminhar pela vida sem se deixar perturbar com a poeira e os buracos da estrada. Poderia ser um personagem de qualquer cidade, se quisesse, mas Catarina é lagunense. Seu vínculo afetivo e espiritual com o samba o fez fundar, junto com outros companheiros, a ex- Escola de Samba Mangueira e mais tarde viria ser também fundador da já consagrada Vila Izabel. Difícil esquecer sua maneira especial de tocar sua cuíca e o malabarismo no seu pandeiro à frente da bateria da escola. Benzia-se sem perder o ritmo do pandeiro e a cadência da bateria da Vila Izabel. Espetacular..... É dessas pessoas que parecem nascer determinadas para harmonizar o meio onde vive, teve uma atuação irretocável como funcionário público e guarda uma identidade grande com suas raízes e com aquilo que faz. Seria difícil imaginá-lo dissociado do carnaval e da vida da cidade. Tinha por hábito, todos os dias, como num ritual, iniciar um passeio pela sua Laguna através do Mar Grosso, encontrando amigos e visitando lugares. Retornava ao aconchego do seu lar, via centro histórico, quando o sol se punha por entre os morros da Lagoa Santo Antonio dos Anjos. Hoje, nos altos dos seus quase noventa anos o nosso herói já se ressente de melhores condições físicas para empreender tamanha façanha. Mas fica aqui meu registro a esse cidadão lagunense que tem como norte de sua conduta a honradez, a seriedade e nobres gestos de humanidade para com seus semelhantes. Salve a gente simples, honesta e dedicada da minha terra. Abenção! Catarina...

3 de jul. de 2008

Falando das Pandorgas

Quando paramos pra pensar sentimos que o tempo já passou mais rápido que nosso pensamento. Ele parece ter sido varrido; é como se fora sugado por um daqueles dias de vento nordeste que visita, com freqüência, a nossa Laguna. Por isso existe uma urgência em nós de arrumarmos tempo, para criar os bons momentos, antes que sejamos consumidos apenas pelo trabalho, pelo cansaço, pela fadiga ou outros males que o stress explica. Mesmo que não sejamos poeta de nada, todos precisamos nos encontrar em um daqueles momentos em que observamos uma paisagem, como se pudessemos tirar dela alguma poesia. Eu sei que mesmo não sabendo escrever nada direito, com pressa ou sem pressa, todo mundo tem o seu momento de reflexão e sentimento em relação as coisas que estão em sua volta, e possuir este momento é o que importa. Por exemplo, desde que me sentei aqui e me propus a escrever alguma coisa rapidamente, me veio logo em mente o jeitinho ingênuo e maroto do Henrique, meu neto; muito dessas coisas que escrevo tem como pano de fundo o seu angelical sorriso. Mas hoje o dia nublado e chuvoso me inspirou a pensar em filmes que assisti e gostei muito. E muitas frases do filme o Caçador de Pipas- peço licença para chamar de pandorga, como no meu tempo de garoto- não tem me abandonado. Bem como aquele diálogo em que Rahim Khan diz a baba que crianças não são livros de colorir. Assim sendo nenhum pai pode colorir seus filhos com suas cores prediletas. Estava lá ele querendo dizer que o filho não seria como ele era. E o filme tem tantas riquezas culturais e velhos e belos valores que só a milenar civilização do Oriente pode nos ensinar... Eu falo, velho por eles já quase não existirem, nesse novo mundo de espertezas e variedades de vilões em que vivemos. Mas o mais belo no filme é a possibilidade de resgatar esses valores. Olha quanta mensagem bonita nos traz o enredo que a história oferece. Se pensarmos bem, nunca acabaram os campeonatos de pandorgas. Onde há shows há campeões. Nem, sempre quem perde é o fraco. Será que os vilões deixam o bom vencer de fato? Estamos numa era em que precisamos arrumar tempo para apreciar as modernas pandorgas (pipas). Pode até ser a pandorga que mora em nós. E ao aprendermos a olhar dentro de nós ficará mais fácil olhar o outro. Passaremos também a enxergar as pandorgas coloridas que passam por nossos céus, quase nos tocando. Pandorgas de pessoas que podem tornar nossos dias felizes e agradáveis. Esta é a harmonia que buscamos para todos. Encontro de sorrisos iguais ao do Henrique, capaz de proporcionar a nós todos, felicidades....

17 de jun. de 2008

O passeio de um santo

Eu vi um santo passeando na noite de junho de Laguna. Muito iluminado, um meio sorriso no rosto, ele parecia levitar sobre o povo. Eram muitos os seus seguidores, e sua inconfundível silhueta destacava-se no meio da multidão. Uns carregavam cruz, outros acendiam velas e todos rezavam pedindo proteção divina e cura para suas agonias e preocupações. Debruçadas nas janelas, as pessoas oravam, enquanto os fogos de artifícios surgiam dos quintais das casas e ascendiam aos céus riscando o véu escuro da noite. Eu vi políticos alegres passeando a frente dele, dando uma trégua as praças e ao discurso de promessas fáceis, acenando e sorrindo para a multidão. Talvez até nem lembrassem mais, que no meio da barra da Laguna continua a ter uma pedra... Tem uma pedra no meio da barra da Laguna... Por onde passava, o nosso santo arrebanhava fiéis para acompanhar seus passos. Era um pastor reunindo suas ovelhas... cuidando do seu rebanho. Em frente ao seu templo gente que viera de todos os cantos, saudá-lo. Em sua maioria conhecidos conterrâneos lá de nossos tempos juvenis, agora já com cabelos embranquecidos, estampando no rosto alegre, a saudade e o desgaste dos anos. Eu vi moços e velhos a se emocionar com o repicar dos sinos da velha matriz e um espetáculo de fogos a brilhar no céu do jardim Calheiros da Graça. Ouvi atento, o nosso consagrado coral rezar a famosa trezena no eterno latim, recitado em gregoriano. Eu vi o discurso do orador a enaltecer autoridades e o povo ávido pelas lembranças distribuídas durante a liturgia. Na amostra de relíquias e coisas da terra montadas em estande em frente ao salão, a criatividade dos festeiros. Eu vi, por fim, uma procissão de abnegados fiéis, a acompanhar nosso santo pelas ruas da Laguna. É bem verdade que não havia um padre. Mas ficou também evidente, que o povo lagunense não precisa de intermediário para conversar com Antonio.

8 de jun. de 2008

Alma de um bar

Com nome nada convencional para um bar, o Necrotério é um templo. Pode ser também, um estado de espírito....Ele é o reino onde os solitários se sentem devidamente servidos de seus copos. Cismando. Refletindo. Arrazoando. Ponto de parada dos amigos, vindos de qualquer parte, em direção a praia do Mar Grosso, o nosso já consagrado bar encontra-se encravado num dos cantos da rua que circunda a praça Souza França (a pracinha) no Magalhães Testemunha auditiva e ocular dos acontecimentos do bairro, incentiva e participa da Corrida de São Silvelho, do baile das Bonecas, do esquenta do Bloco da Pracinha e do Boi no Rolete, do bloco do barulho; eventos consagrados do calendário de festas da cidade. Ele é o habitat comum dos confrades de copo ou simplesmente o local de papear com os amigos. Aliás, nada mais perfeito do que uma amizade iniciada no Necrotério. Os amigos dificilmente se visitam nas suas respectivas casas. Não tomam grana emprestada e não pedem para firmar promissória. No Necrotério fala-se de mulher – quase nunca da nossa – e de política, música e futebol. Mas não vale debater de modo tenso. É que lá não se vai para esquentar a cabeça. Camaradas do Necrotério bar são amigos de velhas jornadas. Um sabe como afagar o ego do outro; e suas divergências são quase sempre postas de lado. Eu falei, quase... Poderia ser mais um botequim qualquer, mas é o Necrotério, e o seu ambiente cheio de palavras amenas e discussões acaloradas, oscila freneticamente entre o santo e o profano. Tem hora que suas mesas são quase confessionários noutra palco de discurso e contestação. Numa mesma conversa, um companheiro ensina as saídas para os problemas materiais, um outro traz as últimas novidades para resolver as questões no plano sentimental. Desconfio até que sejam melhores do que o gerente do banco, o psicanalista e a cartomante. Já me fez até pensar se não seria mais perfeito que os consultórios de psicanálise tivessem mais cara de bar. O espaço se tornaria mais democrático. Os dois poderiam falar. È que observando o consultório freudiano ou junguiano do Necrotério bar, notei que ora se é analista, ora se é paciente. Sem dúvida alguma o Necrotério é um lugar sagrado. Ele inspira porres e papos, músicas e cantadas, frases e compassos, verdades e mentiras. Ainda que se sobreponha as mentiras sobre as verdades. Viva o Necrotério bar! Se Deus quiser e a cerveja não faltar.

31 de mai. de 2008

Frio

E cá estamos nós, tremendo outra vez, tomando conhaque, buscando o chocolate ou o café quentinho... coitado do catador de lixos, do entregador de coisas, dos solitários que perambulam pela cidade... Parece que não há nada que os aqueça, nem cobertas, nem jornais, que já não nos aquecem com boas e novas notícias e nem aqueles que necessitam deles para se proteger do frio.
Para algumas pessoas que conheço o frio não deveria existir, infelizmente necessitamos dele para o equilíbrio das nossas florestas... do nosso ecossistema.
Porém é claro que tem algumas vantagens...para quem tem dinheiro e pode desfrutar delas... no mais é apenas a geada das plantas e a solidão de ruas frias sem brincadeiras de crianças.
O frio é melancólico, sofrido e nos faz sofrer...então se aqueça e aqueça, com abraços, sorrisos e afetos...mas também com cobertores, agasalhos; desentoque roupas do guarda-roupas e dê pelo simples fato de dar e aquecer...seja quente...seja acolhedor e aquecedor... não endureça com o frio...estique-se, mexa-se e não fique apático como o frio diante da tv apenas vendo a procissão de descamisados a sofrer. Enquanto delicia do chocolate quente, troque de atitude...pare...pense....reflita... e resolva aquecer. Abra o guarda roupa e veja só que calorão que vai dar esta separação de roupas e cobertas que já estão cansadas de não serem usadas, pulando de alegria, porque vão aquecer alguém... Seja um raio de sol gostoso neste inverno rigoroso... Até, rimou...e deu calor, pelo menos nos meus dedos...

24 de mai. de 2008

Desideratu

-Vá calmamente entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio. -Tanto quanto possível, sem capitular, esteja de bem com todas as pessoas. -Fale a sua verdade calma e claramente; e escute os outros, mesmo os estúpidos e ignorantes; também eles têm a sua história. -Evite pessoas barulhentas e agressivas. Elas são um tormento para o espírito. -Se você se comparar a outros, pode tornar-se vaidoso e amargo; porque sempre haverá pessoas superiores e inferiores a você. -Desfrute suas conquistas assim como seus planos. -Mantenha-se interessado em sua própria carreira, mesmo que humilde; é o que realmente se possui na sorte incerta dos tempos. -Exercite a cautela nos negócios; porque o mundo é cheio de artifícios. -Mas não deixe que isso o torne cego à virtude que existe; muitas pessoas lutam por altos ideais; e por toda parte a vida é cheia de heroísmo. -Seja você mesmo. Principalmente não finja afeição, nem seja cínico sobre o amor; porque em face de toda aridez e desencantamento ele é perene como a grama. -Aceite gentilmente o conselho dos anos, renunciando com benevolência às coisas da juventude. -Cultive a força do espírito para proteger-se num infortúnio inesperado. Mas não se desgaste com temores imaginários. Muitos medos nascem da fadiga e da solidão. -Acima de uma benéfica disciplina, seja bondoso consigo mesmo. Você é filho do universo, não menos que as árvores e as estrelas. -Você tem o direito de estar aqui. E, quer seja claro ou não para você, sem dúvida o universo se desenrola como deveria. Portanto, esteja em paz com Deus, qualquer que seja sua forma de concebê-lo e seja qual for a sua lida e as suas aspirações, na barulhenta confusão da vida, mantenha-se em paz com a sua alma. -Com todos os enganos, penas e sonhos desfeitos, este é ainda um mundo maravilhoso. Esteja atento. Empenhe-se em ser feliz. (Do Latim 'desideratu': aquilo que se deseja; aspiração ) (Texto encontrado na velha igreja de Saint Paul, Baltimore, datado de 1692 )

16 de mai. de 2008

E conseguimos sobreviver...

Não posso acreditar que fizemos isso! Olhando para trás, é duro acreditar que estejamos vivos até hoje.
Nós viajávamos em carros sem cintos de segurança ou airbag. Não tivemos nenhuma tampa à prova de crianças em vidros de remédios, portas, ou armários e andávamos de bicicleta sem capacete, sem contar que pedíamos carona.
Bebíamos água direto da torneira e não da garrafa.Nós gastamos horas construindo nossos carrinhos de rolimã para descer ladeira abaixo e só então descobríamos que tínhamos esquecido dos freios. Depois de colidir com algumas árvores, aprendemos a resolver o problema.
Saíamos de casa pela manhã e brincávamos o dia inteiro, só voltando quando se acendiam as luzes da rua. Dificilmente alguém nos localizava. Não havia telefone celular.
Nós quebramos ossos e dentes, e não havia nenhuma lei para punir os culpados. Eram acidentes. Ninguém para culpar, só a nós mesmos.Nós tivemos brigas e esmurramos uns aos outros e aprendemos a superar isto.Nós comemos doces e bebemos refrigerantes mas não éramos obesos.
Estávamos sempre ao ar livre, correndo e brincando. Compartilhamos garrafas de refrigerante e ninguém morreu por causa disso.
Não tivemos Playstations,Nintendo 64, vídeo games, 99 canais a cabo, filmes em vídeo, surround sound,celular, computadores ou Internet. Nós tivemos sim... muitos amigos. Nós saíamos e os encontrávamos. Íamos de bicicleta ou caminhávamos até a casa deles e batíamos à porta. Imagine tal coisa! Sem pedir permissão aos pais, por nós mesmos! Lá fora, no mundo cruel! Sem nenhum responsável! Como fizemos isso?
Nós fizemos jogos com tacos e bolinhas de borracha e subíamos nas àrvores para comer frutas... não conhecíamos agrotóxicos. Nos jogos da escola nem todo mundo fazia parte do time. Os que não fizeram, tiveram que aprender a lidar com a decepção...
Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros. Eles repetiam o ano! Que horror! Não inventavam testes extras.
Éramos responsáveis por nossas ações e arcávamos com as conseqüências. Não havia ninguém que pudesse resolver isso. A idéia de um pai nos protegendo, se desrespeitássemos alguma lei, era inadmissível! Eles protegiam as leis! Imagine só isso!
Nossa geração produziu alguns dos melhores compradores de disco, criadores de soluções e inventores. Os últimos 50 anos foram uma explosão de inovações e novas idéias.Tivemos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade, e aprendemos a lidar com isso.Você é um deles. Parabéns!

9 de mai. de 2008

Mulheres

"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.
Pare para refletir sobre o sexto-sentido. Alguém duvida de que ele exista? E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você? E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento? E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco?
Florianópolis, 30 graus, você vai em viagem de visita a nossa Laguna. Normalmente, é só hora e meia de carro. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece? O carro fica preso no transito da BR-101, por mais de duas horas, e o tempo muda, começa a esfriar.. e Começam os murmúrios: "bem que minha mãe avisou"; "a minha mulher chegou a tirar meu casaco do armário e eu não quis trazer"... . Como é que elas sabiam? "Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..." Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado... O sexto sentido não faz sentido! É a comunicação direta com Deus! Assim é muito fácil...As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um ser só?
E não satisfeitas em gerar a vida, elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe".... Tudo isso é meio mágico... Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança.). E sua beleza? No reino animal, em geral, o macho é o mais belo.O leão, o pavão, o condor... Nem é preciso dizer que a raça humana foge à regra... As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravasam? Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê deamor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobreos homens... É choro feminino. É choro de mulher...
Já viram como as mulheres conversam com os olhos?Elas conseguem pedir uma a outra para mudar de assunto com apenas um olhar. Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar. E apontam uma terceira pessoa com outro olhar. Quantos tipos de olhar existem? Elas conhecem todos... Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens! E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.
En-fei-ti-çam!!!
E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas? Para estudar os homens, é claro! Embora algumas disfarcem e estudem Exatas... Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa área. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro". Quer evidência maior do que essa? Qualquer um que ama aproxima-se de Deus. E com a mulher é também assim.O amor as leva para perto dele, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida. Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado. Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor. É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos. E levitam. Algumas até voam. Mas os homens não sabem disso. E nem poderiam. Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora."

25 de abr. de 2008

Flashback

Voltar ao passado em flashback, reviver e lembrar os anos 60, é ouvir Roberto Carlos. Cresci praticamente ouvindo suas canções. Como a música no tempo do carro Cadillac, tempo em que pagávamos os sorvetes das meninas. E, claro, todos gritavam: “Só quero que você me aqueça neste inverno....E que tudo mais vá pro inferno.”
Meses atrás Roberto Carlos fez um show no Centro de Eventos, em Florianópolis. O clima estava agradável como em uma noite de verão. Era grande a aglomeração de famílias com filhos e netos para ver o espetáculo.
Uma das coisas mais incríveis que o Roberto tem é a forma como ultrapassou todas as gerações durante todos esses anos. Geralmente sua platéia é formada por pessoas entre 25 e 80 anos. São grupos, casais, senhoras que vão assisti-lo, com saudosismo e expectativa.
Assistir Roberto Carlos é lembrar de muitas histórias. É impossível não ter saudades de um tempo em que a inocência pairava no ar. E a repressão também! As músicas eram vistas como algo subversivo e poderiam conter mensagens proibidas, dos cabeludos que eram vistos como transgressores da lei.
O rock era a coqueluche do momento. A última pedida de modernidade.Num tempo, onde as meninas de classe média cresciam em ambientes fechados e separados dos rapazes, e estudavam em escolas de freiras ( como o Stela Maris) ou nos colégios evangélicos.
A receita: repressão, provocações, formava o cenário para grandes paixões. Os rapazes de lambreta e carro Cinca Chimbord faziam o papel de playboys da cidade. As moças de saias rodadas e cabelos com laquê. Os rapazes com brilhantina nos cabelos, todos preocupados com a boa imagem, corriam em busca de um amor que durasse a vida toda. Amor que se via nos filmes de Romeu e Julieta. Era essa a mentalidade dos jovens do Roberto Carlos.
Em meio às lembranças, as canções vão surgindo uma a uma, “Emoções”, “È tão Grande o Meu Amor Por Você”.... o cantor resume seu imenso repertório colando o refrão de uma música em outra, deixando a vontade de ouvir todas até o final. Sensação de quero mais no ar! Quando as luzes se acendem temos a impressão que aquela viagem pelos corredores de nossa juventude durou apenas alguns minutos e não duas horas.
Roberto une dois mundos em suas canções. Antes, havia a fantasia, os sonhos, a espera, a descoberta que só acontecia após o casamento. Como toda dualidade humana, causa de muitas separações e divórcios porque não nos era permitido a possibilidade de conhecer com quem se casava. E a união acontecia com nossas próprias fantasias e desejos.
E a realidade trazia de novo Roberto Carlos por baixo dos caracóis e com canções como “em lençóis macios amantes se dão”.
Hoje o cenário é diferente. Acabou o sonho, as paixões arrebatadoras foram trocadas pelo “ficar” e pelas relações cada vez mais descartáveis como o copo e o prato de plástico. Fica a nostalgia, a saudade, o vazio e a perda insubstituível de um tempo de romantismo. Nós que bancávamos tudo, e agüentávamos firme sem reclamar, abriamos portas e dava a vez para as senhoritas, e ajudávamos a carregar pacotes. A educação, as gentilezas.
No discurso da igualdade das novas gerações há maior liberdade, mas também mais desconfiança, menos gentilezas e sutilezas, mais violência e erros nos relacionamentos com menos comprometimento. Evoluímos para melhor? Ou estamos experimentando extremos para afinal encontrarmos o ponto de equilíbrio?

16 de abr. de 2008

A morte da (minha) Menina

"Tentei pensar em outro assunto. Tentei. Mas não consegui (aliás, não consigo). O rosto da filha dele me vem a toda hora, o rostinho dela. Uma menininha. Li nos jornais que ouviram ela dizer: "pára, papai". Ela pediu para parar? Valha-me minha Nossa Senhora, ela pediu para parar? Parar o quê? Há quem critique a imprensa por estar dando um destaque exagerado ao assassinato da menina Isabella, inclusive vendo excessos naquilo que chamam de "condenação prematura" do pai e da madrasta. E eu, querendo me agarrar numa lógica que sempre segui, de ver os dois lados, esperar os fatos - como se essa lógica fosse uma bóia - só me afundo num mar profundo de raiva, de dor. Essa bóia não me serve nesse mar. É que me vem o rosto dela, já sonhei e acordei pensando nele. E fiquei obcecado pela voz também, de tal maneira que me pus em pranto outro dia quando minha filha disse "pára, papai", isso quando eu fazia cócegas nela. A morte da filha dele pôs a minha bóia, na qual venho me sustentando por uma vida, em xeque. Me surpreendi querendo vingança. Descuidado, pensei em justiça a qualquer preço. Perdi um tanto de civilidade. A briga, a surra, o desfalecimento. Em seguida, o teatro: o corte da rede, primeiro com uma tesoura, depois com uma faca (depressa, depressa!) e então o arremesso da criança AINDA VIVA. Valha-me, valha-me, valha-me o diabo. De que somos feitos? Quem é que somos? É possível alguma ordem nesse inferno? Houve um crime terrível. Uma menina foi morta. Não, ela não se chama Isabella. Essa é a filha dele. Houve um "outro" crime terrível. E esse diz respeito a mim. Dentro de mim morreu uma menina que, apesar de eu ter envelhecido sempre procurei mantê-la assim, uma criança. E essa menina eu chamava de Ilusão." De José Pedro Goulart-jornalista, cineasta e diretor de filmes publicitários. Porto Alegre-RS.
Para a reflexão dos leitores do papodaesquina.

10 de abr. de 2008

Conto da Cidade

No livro“As Cidades Invisíveis “ o escritor Ítalo Calvino descreve em contos surrealistas os relatórios que Marco Pólo faz ao rei dos mongóis ( kublai Kan) sobre as cidades que visita nas suas viagens pelo grande império do Kan. Cada uma tem uma característica que a marca e distingue, e todas com nomes femininos, chegando por vezes a assaltar-nos a dúvida se Calvino não estará no fundo a falar de mulheres e não de cidades. Não por acaso. Uma cidade, qualquer cidade, mesmo nossa Laguna, humilhada pelos descasos políticos e pela falta de planejamento administrativo, tombada como Patrimônio Histórico Nacional e sem a devida atenção que a riqueza de seu conjunto arquitetônico requer, com ruas seculares cansadas de cidadãos sem distinguir seu povo de turistas,.... é mulher brejeira, encantadora, charmosa, mostrando sempre e melhor o que lhe cai bem.
E como lhe caem bem os contrastes de mulher madura que não esquece o jeito de ser menina, com seus contornos sinuosos, suas praias bronzeadas ensaiando sorrisos manhosos. Como toda mulher, também tem labirintos curvilíneos que vão dar em recantos misteriosos ou em lugar nenhum. É da natureza das cidades, faz parte deste mundo feminino. Tenho fascínio por ela, a minha cidade, porque além de mulher ela é madura, e pensa -- mas só pensa -- que já viveu tempos melhores. Uma mulher, tranqüila mas com um pouco de ansiedade que pode passar noites em claro cuidando dos filhos famintos e desorientados, e dos amigos que já partiram.
E como toda mulher que carrega tantos anos, que já viu de um tudo - até do que Deus duvida -, e que já sofreu um tanto, nem sempre consegue esconder as cicatrizes que o tempo lhe legou. Mas, o que ela guarda mesmo são os fogos das viradas de ano, os carnavais em que ela é destaque e especialmente, os dias de glória. Então, depois dessas noites insones, essa mulher generosa sorri para o sol que nasce por sobre o Mar Grosso, lança uma piscadela de olho sobre o pessimismo das más línguas, oferecendo tendenciosa beleza aos amigos e caloroso conforto aos seus filhos. Como uma bela mulher, cuja beleza e história de vida tanto a deixou famosa, atrai gente de muito longe para apreciar seus contornos. Uma mulher tão linda -- e dizem que toda a mulher linda demais é perigosa – deixa os visitantes maravilhados pelas suas noites enluaradas. A cidade da Laguna, charmosa e sensual, inspira os sambas de nossos carnavais, encena peça sobre sua vida, navega pela Lagoa Santo Antonio dos Anjos, admira-se diante da Pedra do Frade, banha-se na Praia do Mar Grosso. Laguna é mulher sestrosa, sem ser indecorosa.
Se tem pecados, eles parecem reduzidos por uma Nossa Senhora da Glória, de braços abertos, disposta a perdoa-los. Quem a conhece não pode deixar de amá-la, pois quem a vê iluminada de noite ou iluminando um dia, por ela se enamora quase repentinamente. Quem nunca lhe viu de tão perto e idealiza sua beleza tão exposta, tem um pé atrás do otimismo, acha que ela pode ser traiçoeira. O contrasenso é certo. Mulheres sempre despertam sentimentos contrários, e inseguros. As regras são simples para entender esse mistério: morar com uma mulher, seja ela qual for, exige adoração pelo seu calor e desprendimento. Já, para um visitante ela oferece alegria, mas pede cautela e um punhado de respeito -- e pré-disposição para conhecê-la de perto. Por isso, peço licença para dizer a quem na cidade de Laguna ainda não conseguiu pôr os pés, por falta de oportunidade ou também para aqueles que não conhecem todos os seus (re)cantos: "A mulher que não se conhece são as ruas não atravessadas, são os outros caminhos possíveis."

29 de mar. de 2008

O Quase

"Ainda pior que a convicção do não, e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu ainda está vivo, quem quase amou não amou.Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, ás vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto.A resposta eu sei de cor, está estampada na distancia e frieza dos sorrisos na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom Dia” quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, mas não são.Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia á duvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque embora quem quase morre está vivo, quem quase vive já morreu."
Luis Fernando Verissimo - Um orgulho de nossa lingua portuguêsa, uma satisfação de ser brasileiro.

21 de mar. de 2008

Reminiscências de nossa infância

Dos românticos anos 60, as reminiscências de lugares, aromas e sabores que marcaram a infância na Laguna, reduto de belas recordações. O saboroso bolo de milho feito na folha de bananeira cozido na chapa do fogão a lenha ao tempo que a batata doce inteira e com casca, colocada providencialmente por minha avó, assava no calor do borralho. O café novo passado no coador de pano e adoçado no jarro de barro com pão de farofa e manteiga de colono, da feira do seu Effting, que ficava nas dependências do nosso Mercado. Língua vermelha dos sucos de groselha servido nos aniversários dos amiguinhos da rua, quase sempre presenteados com sabonetes. O agradável e borbulhante sabor dos guaranás Champagne, tomados no gargalo da garrafa, deixando a boca entorpecida e uma sensação de ar preso na barriga. A maciez e o sabor dos gostosos tabletes de côco (Dalva). Da puxa-puxa, pé-de-moleque e os cartuchos de amendoim comprados na quitanda do seu Vieirinha e da Dona Adalziza situada na esquina do campinho do Magalhães. Os pedaços de côco da feirinha do seu Vitalzinho, que ficava ali na rua João Pessoa. A delícia do picolé e sorvete de côco da sorveteria do seu Capanema. A galinha caipira ensopada criada no quintal de casa, servida com arroz e maionese nos almoços de domingo. E de sobremesa, a deliciosa caçarola italiana divinamente preparada pela mãe Maria. Os pastéis e quibes do Bar da dona Lizete, durante o intervalo do lanche, das nossas aulas no “curso ginásio” do CEAL-Conjunto Educacional Almirante Lamego. As “fatias douradas” e os “cavaquinhos”, feitos por minha mãe, nas abençoadas tardes chuvosas do inverno lagunense. O Alagamar, com muitos trapiches, suas bateiras e canoas, povoado de gaivotas e biguás; e os escondidos banhos de mar no “saquinho”. A paquera com as alunas internas do Colégio Stela Maris, durante o dia da procissão do Corpo de Cristo, que trabalhavam na confecção de tapetes. Beijos trocados com a namorada, mergulhado no brilho dos seus olhos, e na boca o sabor de chicletes de hortelã. Outros lugares, sabores e aromas foram próprios do nosso tempo de infância e juventude na saudosa Laguna. Só para encerrar, a carroça de água fresca da carioca, vendida de porta em porta; o cheiroso pacote de pão deixado pelo padeiro, ao alvorecer, nas soleiras de nossas janelas; os inventos do seu Olindino e seu serviço de alto-falante; e aquelas reuniões juvenis nas noites enluaradas da pracinha.

29 de fev. de 2008

Visitando a Escola

Pedras de costões enrubecidos, no calor dos dias de sol, pela salinidade das ondas do Atlântico. Um rosário de praias de areias brancas, um menir a desafiar nossa inteligência e um centenário farol iluminando o extremo sul de seu território.
Das docas de um antigo mercado, um pôr-do-sol ao entardecer, numa lagoa com nome de Santo. E aquela fatia de Terra que avança na direção do cabo de Santa Marta.
Essa é Laguna. Um enredo de histórias que se funde, com exatidão, aos elementos da sua bonita paisagem.
Tranquila, ordeira; ela ainda continua a despertar curiosidades e a fomentar minha saudade.
È lá que eu relaxo, baixo a guarda e entro em ressonancia com a natureza pura e preservada; me liberto das amarras presas ao homem de hoje, viajo pelo túnel implacável do tempo e chuto latas que nem um menino arredio atrevido.
Ainda, dia desses, quando caminhava pelo Magalhães nas proximidades da Praça Polidoro Santiago ( O Campinho) onde outrora acontecia, nas tardes de domingo, os concorridos e aguerridos campeonatos de futebol, uma sóbria construção com muros altos e grades de ferro, despertou minha atenção.
No portão entreaberto encontrei o motivo para atender ao apelo da minha curiosidade. Empurrei com cuidado e subi vagarosamente, a passos cansados, os degraus que dão acesso a porta principal, também aberta, do então Grupo Escolar Ana Gondin.
Um sentimento mixto de alegria e melancolia invadiu meu coração.
A escola que me ensinara os primeiros símbolos de nosso alfabeto estava ali, na minha frente. Um lugar onde os seguidos exercícios nos antigos cadernos de caligrafia tornara definitivo o estilo de minha grafia. E o som da cantoria ritmada das taboadas, ecoava pela vizinhança, anunciando nossa iniciação à matemática.
Observei, então que a árvore frondosa situada à frente do canto direito do terreno cedeu lugar a uma nova construção. A sala do diretor e a secretaria que ficavam à direita e á esquerda respectivamente, logo a entrada do prédio, parecem continuar nos mesmos lugares. O átrio do mastro da bandeira e das memoráveis apresentações festivas é, justamente, a parte que mais se mantém preservada na construção originária do edifício.
No campo de futebol, local das nossas aulas de educação fisica, agora estão construidas novas salas.
O patio de recreação, visto a distância, não sofreu mudança com relação a sua estrutura inicial; a não ser pelo aumento de sua área que avançou sobre a rua que existia atras do terreno da atual Escola Básica Ana Gondin.
A lembrança da pequena cozinha, anexa ao pátio, me remeteu para a fila formada por nós, alunos, para degustar, na hora do "recreio" a sopa oferecida pela escola.
No caneco esmaltado, "Dona Mariazinha" a senhora magra e elétrica que tratava a todos pelo nome e tinha afinidades com nossos pais, servia-nos com carinho e afeição.
Muito cuidado era dispensado ao pé de Pau Brasil, a àrvore simbolo de nossa terra; logicamente, já não tem seu lugar cativo, ao fundo, no lado esquerdo do terreno da escola.
Apesar do sério castigo imposto, pelo diretor, a quem ousasse apanhar algumas de suas folhas, eram poucos aqueles que não tinham um ramo da prestigiosa árvore entre as páginas de seus livros.
Ao me retirar, pensando estar despercebido, ouvi um murmurar de pessoas e notei um professor de pé, junto à porta de uma das salas de aula, me acenando amigavelmente.
Saudei-o, cordialmente, e apressei minha saida sem sequer lhe dirigir qualquer palavra.
Mas trouxe comigo a certeza dos relevantes serviços que a Escola Básica Ana Gondin vem prestando, durante todos esses anos, a educação da comunidade do nosso Magalhães.
Um ícone na história do ensino catarinense a prover de conhecimento as gerações lagunenses.

8 de fev. de 2008

Pensando no Carnaval

Fevereiro e Laguna me faz refletir sobre o Carnaval. Penso ser esta uma festa abençoada por Deus ou pelo outro; ou até se os dois, nessa época, não saem pra sambar juntos. O interessante é que a consciência de que somos irmãos, acontece somente em tempo de desgraças. Todas as vítimas de um desastre fazem parte de um grupo que, derepente, se torna o grupo mais importante do mundo, o grupo dos vitimados. O único evento alegre que provoca a mesma sensação de união que o acontecimento de uma catástrofe, é o carnaval. Há horas em que simplesmente somos obrigados a ficar felizes. No Natal temos que sorrir, no ano novo temos que estar desesperadamente eufóricos. O carnaval não. O carnaval é tão liberal que você pode se esbaldar que nem aquela princesinha menina, no sambódromo da Laguna, rebolando, que nem gente grande, na frente da bateria da escola de samba feito uma rainha, ou ficar marcando o passo como um coroa no meio do jardim Calheiros da Graça. Tanto faz, o carnaval é um grande "cada um por si". Podemos até ficar triste. Sim, você tem a permissão de odiar o carnaval (No Natal se o fizer será considerado um herege, mesmo com toda a parafernália comercial tendo tão pouco a ver com Deus). Você pode ir ao cinema, pode ir só à praia, ou só sair à noite. Pode dançar em frente à TV, pode fazer cara de nojo para aqueles bêbados e suados que estão invadindo a sua rua, pode ligar o ar e apagar a luz, pode abrir um livro. O carnaval deixa. O carnaval é festa até para quem não gosta de carnaval. Sabe por quê? Porque em algum lugar do seu eu (nem Freud explica o carnaval...) você vai estar feliz por ser carnaval. Por estar livre. O carnaval é festa da liberdade. No Natal você precisa encontrar parentes, no réveillon precisa vestir branco, ver fogos, tomar champanhe. No carnaval você não precisa fazer nada que não queira. Pessoas respeitáveis têm tanto direito de odiar ou amar o carnaval quanto as não-respeitáveis. Sua atitude perante o carnaval nada diz sobre sua personalidade, mesmo que você se vista de mulher e saia no fabuloso bloco da Pracinha antes de voltar ao escritório, na quarta feira. Feriado universal, o carnaval não agrada só a quem gosta de samba, axé ou pagode. Agrada a quem gosta de suspense, videogame, qualquer coisa. Pode-se fazer o que quiser, é um feriado livre para qualquer atividade. O Rio do carnaval passa e você faz o que estiver a fim, se quiser nadar, faz nada, se quiser pular, mergulha de cabeça, se quiser só se molhar, vai aos pouquinhos. Quando passa, o Rio do carnaval, leva consigo a obrigação das festas de fim de ano, as ilusões perdidas, leva finalmente aquelas tristezas que não foram embora no ano novo, só depois do carnaval o ano começa. Você não precisa comer lentilhas, nem pular sete ondas. Pode ficar quietinho em casa enquanto o rio passa e nos traz um rio novinho, com as águas de março (seja em que mês for) fechando o verão e nos trazendo uma promessa de vida em nosso coração.
Bendito seja o Carnaval.

12 de jan. de 2008

A Televisão de 1960

Era um tempo de transformação, aquele da década de 60. A maneira de vestir e de pensar, a música e todo um contexto de costumes passava por mudanças radicais aos olhos e ouvidos dos cidadãos da época.
E a televisão começava seu processo de popularização com a extinta TV Tupí monopolizando a mídia do país.
O ícone inconfundível e incontestável do índio, no centro da tela, anunciava o ínicio da programação da emissora.
A TV Piratini de Porto Alegre, canal 5 transmitia, para o sul do país, a programação da TV Tupi do Rio de Janeiro. Era uma empresa do Grupo Diarios Associados criado pelo jornalista- expoente da imprensa brasileira- Assis Chateaubriand.
No canto da sala da casa o aparelho GE-Custom sintonizava, numa imagem chuviscada, mais um capítulo da novela "O direito de Nascer". Eram poucos os domicilios, em Laguna, naquela época, com aparelhos de televisão, o que tornava comum a reunião de uns poucos vizinhos convidados para assistir as programações.
As antenas suspensas em grandes tubos de ferro denunciavam as casas com aparelhos- pareciam estações rastreadoras de sinais de vida extraterrestre-necessárias para a captação do sinal que nos chegava muito fraco, devido a falta de repetidoras.
Vez por outra, no desenrolar da cena da novela, lá se ia a imagem; e sempre tinha um encarregado, de plantão, que segurava providencialmente o tubo que sustentava a antena, rodando de um lado para outro; na procura, desesperada, do sinal.
Lá da sala de projeção a impaciente platéia gritava em coro:
Vira!... Mais!... Mais!... Aí!.....Deeuu!....
A cena era engraçada para aqueles que se dispunham a presenciá-la. O fascínio das pessoas pelo enredo das novelas era indescritível. E a situação se tornava ainda mais perturbadora com o ir e vir das imagens, que acontecia quase sempre em momentos críticos do desenrolar da história.
Já em meados dessa década era possível sintonizar, ainda com problemas, a TV Record para assistir a efervescencia de seus consagrados festivais, que revelou para a musica popular brasileira nomes como Elis Regina, Edu Lobo e Chico Buarque de Holanda.
E assim a televisão foi cada vez mais, tomando espaço cativo no cotidiano das pessoas.
Olhando para a tela da TV começamos a sonhar nossos sonhos modernos.
Com o encerramento das atividades dos Diários Associados, a TV Tupi perdeu sua concessão juntamente com suas afiliadas. É quando começa a despontar uma nova era na comunicação televisiva do país.
As novas regularizações no setor para concessão de canais incentivaram novos investimentos o que veio modernizar todo o aparato gerador de imagens juntamente com uma nova tecnologia de propagação dos sinais, fazendo acontecer, já na década de 70, a primeira transmissão a cores.
E a TV caiu, definitivamente, na graça do povo brasileiro. Ela uniu e igualou um país cuja realidade é constituída de contrastes regionais. Ajudou a construir a verdadeira identidade brasileira e a formar o país do jeito que o conhecemos, hoje.
Não é exagero afirmar que sem a Televisão o Brasil não se reconheceria Brasil.

30 de dez. de 2007

A Virada

E esses anos apressados que não param de passar! O ritual sempre se repete. Vestimos nossas roupas brancas, nos lançamos em lembranças de acontecimentos, de pessoas que passaram por nossas vidas, de empreendimentos concretizados, de desilusões..... E um momento de solidão nos arrebata a alma ao tempo em que a alegria dos fogos de artifícios traz efusivos abraços liberados nos estalos das rolhas de garrafas de champanhes. Promessas para santos, flores pra iemanjá, pula-pula de ondas na praia tudo com o intuito em alcançar objetivos próprios traçados em cima de nossos egoismos. Mas o tempo nos torna indiferentes sobre a magia das coisas. E não tem santo que me cure desse desatino repleto de vontades do tocar em frente, de buscar nos passos dados as promessas da caminhada. Por que agendar certezas, quando o próprio tempo, com seu andar milimétrico e sem ponteiros, é em si apenas o convite ao hoje? O jovem tímido, inquieto e dançante que mora em mim toda a vida parece me puxar pela perna da calça, vasculha alegrias nas fotos tiradas, revira papéis e mais papéis de palavras escritas, rasga dúvidas e tristezas, pede caneta, rabisca flores, e repousa os olhos no horizonte cheio de vontades sem limites. Cuidássemos mais da possibilidade de sermos felizes como cuidamos da ceia de natal, das bonecas e carrinhos, dos mimos, quem sabe a magia daria naquele lugar que os olhares que eu colhia alcançavam. Pois posso até ter minhas ressalvas sobre como muitos de nós, inclusive eu, lidamos com as verdadeiras importâncias. Mas não questiono nossa capacidade de voltar ao início das coisas e seguir adiante com o coração repleto dessas boas intenções - e o desejo verdadeiro de colocá-las em prática - que a maioria só se permite pensar contemplar e vivenciar em datas determinadas em um calendário. Que bom!... Se o balaio de nossas boas intenções estivesse permanentemente cheio todos os dias de nossa caminhada. Aí, sim! O reveillon, efetivamente, aconteceria. No tempo certo, na hora exata da virada interna.

11 de dez. de 2007

Dezembro

O mês dos balanços, de olhar para trás, do que foi bom e do que não foi. O mês dos planos, de olhar para frente e sonhar com tudo o que ainda pode acontecer. Planejar como se um novo ano signifique mais que novos nomes dados aos dias de nossas vidas. Como ocorre nos inícios, onde as máculas inexistem e o vislumbre é do belo e do bom, como um caderno em branco no início de um ano letivo, que sonhamos preencher com uma bela caligrafia todos os dias, sem amassados, rasgos ou rasuras. Talvez seja uma ilusão, mas é assim que vejo dezembro. É o mês dos araçás, dos butiás, das pitangas. Em dezembro, a grande novidade era o comércio abrir à noite. As Lojas, todos localizadas no Centro, abriam até as vinte e duas horas. Muitos iam às compras, outros somente para passear, paquerar, para se divertir. E havia o cine Mussi.Após as compras ou no final do passeio pelo centro, com a costumeira volta ao redor do jardim Calheiros da Graça, a parada obrigatória era sempre na Miscelânea. Considero uma bênção poder morar em Laguna, onde ainda se pode sair por aí, sem rumo certo ou propósito definido, pelo simples prazer de passear, sentir o cheiro do mar, ver a beleza de suas praias a imponência de seu centro histórico e ainda, extasiar-se no pôr do sol da Lagoa Santo Antonio dos Anjos. Entregue as lembranças, gosto quando me surge a oportunidade, principalmente em dezembro, de percorrer as ruas iluminadas de Natal de nossa cidade. Alguém teve a idéia genial de cortar o tempo em fatias, assim poetou Drummond.
E essa fatia de tempo que cabe a dezembro é toda dedicada ao Natal. Cada fatia de nosso tempo tem uma duração. Lendo ou escrevendo, o tempo voa. Em qualquer sala de espera, ou fila, os minutos somem magicamente pelas largas mangas do tempo e não temos como recuperar aqueles pedaços de momentos perdidos. Pensar resolver-se sem entender-se é pura perda de tempo. Ganhar tempo é ser ágil nas ações e conclusões. O tempo deixa os cabelos brancos, as rugas, e uma gordurinha a mais, mas a alma (ah! Essa sim!), continua atemporal. Continua no inicio das eras quando a vida fresca e orvalhada brilha à luz do sol do amanhã que sempre chegará. E o tempo de Natal é sonoro, cheio de gentilezas e enriquecimentos, quando os sentimentos do coração verbalizam-se. É tempo de semear amor, atenção, carinho, solidariedade. É tempo de sorrir, mesmo sem saber o porquê. É tempo de significâncias, quando reavaliamos nossa trajetória de vida, mudamos nossos rançosos pensamentos, e nossos olhares opacos, embaçados, reaprendem a brilhar, enxergam as pessoas ao nosso redor sob novo prisma e alongam-se na direção do horizonte em busca de novas manhãs. O tempo de Natal é alegre, musical, de solidariedade, de cumplicidade. É tempo de olhar o próximo e descobrir nele um filho de Deus igual a nós, o nosso espelho, a nossa face mais nítida, com compreensões diferentes da vida, com um modo peculiar de olhar os acontecimentos por ângulos que desconhecemos, mas nem por isso menos verdadeiros. É o tempo de mutações pessoais, de troca de energia, de incluir-se no mundo do outro e de excluir-se do egoísmo, da falsidade, do desentendimento. É tempo de sinceridade, de generosidade, de amorosidade não só com o nosso próximo: também conosco. É tempo de sabermos o quanto somos importantes na orquestra da vida, mesmo que apenas carreguemos as partituras.Que somos deuses, mesmo com nossos defeitos. Que somos amados por Deus, mesmo com nossos atos falhos. Que somos a suprema instância da maravilhosa criação divina , mesmo que queiramos nos destruir. E que jamais fugiremos ao destino que nos foi reservado: a felicidade! Feliz Natal, Leitores do papodaesquina!

5 de dez. de 2007

Pianorquestra e João Bosco

Uma hora e meia viajando pelas entranhas da musica popular brasileira. Um dos melhores sons da nossa canção aportou em Florianópolis , nesta quarta-feira. Foram quatro as capitais escolhidas pela Funarte e Petrobras para homenagear os 30 anos do projeto pinxinguinha: Vitória, Florianópolis, São Paulo e Porto Alegre. O show Pianorquestra e João Bosco empolgou os presentes no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina.
O grupo Pianorquestra formado por quatro pianistas e uma percussionista consegue transformar o piano em uma orquestra. Com o uso de objetos corriqueiros tais como luvas, correntes de metal, baquetas e até sandálias havaianas, reproduzem, sem qualquer efeito eletronico, sons similares a contrabaixo, guitarra, cavaquinho, e os mais variados timbres percurssivos.
O repertório, privilegia a nossa música popular brasileira, percorre o erudito e o popular, passeando por composições de Vila-Lobos, Claudio Santoro e Milton Nascimento, e ritmos de samba, coco, maracatu e ciranda.
Uma apresentação capaz de mostrar toda a expontaneidade e criatividade do musico genuinamente nacional.
Como se não bastasse para o espetáculo, João Bosco entra em cena e a platéia em transe musical, delira ao som de Papel Maché, Mestre sala dos mares, De frente para o crime, Dois prá lá dois prá cá, O bebado e o equilibrista, Perversa, Cabaré,.....
Cantor, violonista e compositor, João Bosco faz na voz e no seu violão a melodia parecer universal aos nossos ouvidos.
Um show para enaltecer ainda mais a competência de nossos musicos e ratificar a qualidade e diversidade do ritmo brasileiro.
A noite quente e chuvosa da capital me proporcionou a agradável oportunidade de assistir à apresentação inequívoca de um gênio de nossa canção popular.

15 de nov. de 2007

Panorama

Aquela tarde de calmaria insinuava um convite para um olhar diferente sobre a Laguna. E, do alto da Glória, meus olhos foram as lentes que focaram, com encantamento, a visão das construções barrocas do nosso centro urbano.
Testemunho da arquitetura açoriana, os casarios, as praças, e as ruas vão revelando uma a uma a maravilha do acervo construído, com requinte artístico, pelos marcenerios e pedreiros de outrora.
Obra de nossos construtores de templos vindos de além oceano, a cidade é uma obra de arte entalhada numa pedaço de terra que aponta para o mar. Mais de três séculos de brasilidade estão presentes nas ruas estreitas e típicas da Laguna. Elas são o testemunho da história da cidade e do cotidiano de seus moradores.
Em meio a uma arquitetura colonial, a natureza colorida preservada da poluição industrial de nosso tempo, encanta seus filhos e visitantes e torna a cidade um verdadeiro convite à vida. Sem dúvida alguma, pelo caráter de nosso povo cordial, comunicativo e acolhedor, somos a terra da amizade. É um cenário perfeito do encontro de uma viagem pelos corredores do tempo e a beleza da mata atlantica do litoral sul do Brasil.
São 600 casarões de diferentes períodos econômicos, retratando uma cultura de origem, predominantemente açoriana, encravadas numa geografia unica.
A torre da Matriz sobressai por entre os casarios coloniais e as altas palmeiras reais do Jardim Calheiros da Graça.
O verde do morro da Cruz e da mata nativa que protege a secular Fonte da Carioca contrasta com o cinza dos telhados do conjunto arquitetônico que constitui parte da história da cidade.
As docas, o prédio centenário do mercado e o sol se pondo por detrás dos montes que ladeiam a Lagoa, impressiona e arrebata o coração daqueles que apreciam a beleza que a natureza derramou sobre Laguna. Na revoada do bando de pássaros o prenuncio de um fim de dia.
A exuberância das cores criadas ao acaso passeia entre o amarelo, o laranja, e o vermelho a medida que o espetacular ocaso vai se desenrolando.
A lagoa que, à noite, se veste de dourado para a pesca do camarão pinta-se de laranja. E aquele coração de igarapé que, caprichosamente, a natureza mantém desenhado em seu leito, parece pulsar num vermelho escaldante no meio da Lagoa Santo Antonio dos Anjos.
Cria-se assim um enredo maravilhoso para um final de tarde de verão no alto do Morro da Glória. E aos poucos o astro vai se escondendo por detrás do monte no formato de uma medalha de ouro muito brilhante.
É quando eu me ponho, inadvertido, na ponta dos pés tal qual um menino inquieto, como se fosse me debruçar por cima dos morros que envolvem a Lagoa, para não perder os últimos raios de sol que sustenta o fenômeno. Percebo o movimento instintivo e me refaço.
Volto, então a observar esse grandioso painel pintado pelo artista de todos os mundos.
E no profundo sentimento da sua presença uma evidente constatação de nossa pequenez.
Um longo momento de silencio e de reflexão...

1 de nov. de 2007

O Menir Lagunense

Ainda lembro como se fosse hoje! As formações arredondadas das rochas vermelhas da praia do Iró, tão perfeitamente desenhadas pela natureza, que pareciam obras de arte entalhadas em pedra, pela mão do homem. Seguindo em frente ultrapassei a majestosa rocha que avança mar à dentro, cortada no meio, para dar passagem a estrada que leva o Mar Grosso a Praia do Gi. Foram seis quilômetros de areia, mar e vento, os companheiros da minha odisséia à ponta do morro do Gi. A esquerda, os cômoros com sua vegetação rasteira de trepadeiras e juncos, judiadas pelo nordeste persistente. Suas rajadas desarrumavam e arrumavam os montes de areia numa ordem indefinida. Era a natureza tentando organizar o caos. Com seu marulhar ritmado, o mar, varria com suas ondas, a praia do Gi, trazendo em sua crista o alimento que o mergulho certeiro das gaivotas pescadoras, recolhia das águas. E assim, aos poucos, foi sumindo na distancia, a imagem do Hotel construído sobre a rocha no inicio da praia. A medida que me aproximava do morro do Gi as mais diversas perguntas investigativas tomavam conta de meu pensamento. O que seria aquele monumento na ponta do morro banhado pelo mar? Os Menires, popularizado pelas histórias em quadrinhos de Asterix e Obelix, estão presentes nos quatro cantos do planeta; seja em Cromeleque Almendres, em Portugal, seja na Bretanha, França ou na Grã-Bretanha onde existe o Circulo de Pedra de Stonehenge que serve de referência ao início de cada solstício de verão e as estações do ano. Menir, é uma palavra que vem do bretão e significa pedra grande.... Perdido nas indagações sem que encontrasse, sequer, qualquer resposta para as minhas divagações, encontrei-me já caminhando sobre a pequena elevação de terra e pedra, que forma a ponta do Gi. Por uma trilha estreita que me levou a uma majestosa lage que se inclina para o mar, cheguei ao grande Menir da Laguna - a Pedra do Frade. Desafiando a lei da gravidade ela parece que vai se precipitar, a qualquer instante, para dentro do oceano. Com aproximadamente cinco metros de diâmetro e oito metros de altura, impressiona pelo seu porte e localização. São trinta toneladas de granito a desafiar a imaginação de visitantes e curiosos. Também chama a atenção a pedra triangular sobre o seu topo parecendo lhe servir de tampo. É um monumento intrigante pela sua forma perfeita de paralelepípedo, apoiado verticalmente, sobre aquela laje inclinada para o mar. È, também, instigante porque suscita na imaginação das pessoas as mais diversas histórias sobre seu surgimento, naquela área do território lagunense. Entre elas, aquela que há muitos anos, enquanto alguns sábios meditavam naquele lugar, começou uma forte tempestade que provocou uma espécie de avalanche de pedras que em vez de os atingirem, simplesmente pararam. Permanecendo da maneira como a conhecemos, hoje. Conta-se, também, que foram os fenícios que a cerca de dois mil anos antes de Cristo, a tenham colocado ali como uma referência.Já para alguns ufólogos o Menir é considerado uma obra dos deuses astronautas.O fato é que o Menir lagunense do Frade é um ponto turístico importante da cidade. E, está lá, imponente, fascinando os visitantes e desafiando nossas mentes a encontrar uma explicação plausível para aquele fenômeno.

8 de out. de 2007

Farol de Santa Marta

Uma rara visão de beleza a arquitetura que dá forma ao Farol de Santa Marta.
Esse tipo de equipamento foi projetado pelo francês Augustin Fresnel, em 1822, e seu sistema de lentes de cristal era capaz de concentrar os raios luminosos em fachos superpotentes. Atualmente, cada farol emite um sinal de cor, número e intervalo de piscadas diferentes. Não há dois faróis iguais no país. Tecnologias de navegação via satélite poderiam abolir os faróis, mas, no mar, acima de qualquer avanço tecnológico, os faróis resistem como símbolos de um certo romantismo. A travessia pela balsa é o começo de uma viagem inusitada.
Os botos, a vista do porto e da garganta formada pelos molhes de entrada da barra nos dá a dimensão do empreendimento ao qual nosso espirito aventureiro esta a nos proporcionar.
Na brisa leve do vento de norte e com um céu azul de brigadeiro tomamos a estrada poerenta de chão batido, ladeada por dois lagos visitados por biguás e garças que permaneciam indiferentes a nossa presença.
Ao atravessar a localidade da passagem da barra, notamos as raras construções açorianas que ainda adornam a paisagem.
De vinte a trinta minutos viajamos na estrada aberta entre a vegetação rasteira, própria da nossa região de mata atlantica, até avistar as dunas que formam os grandes sitios arqueológicos que se põem a poucos metros do morro do Farol. São 15 km de estrada de chão, atravessando um cenário inusitado entre dunas e lagoa, que parece levar o motorista a lugar nenhum. Quando a última duna é contornada, surge o morro do Farol imponente compondo espaço com pequenas casinhas ao redor.
Ali encontramos um pedaço de nossa Laguna avançando por sobre o Atlântico.
Le Phare de Santa Marta, como chamavam os franceses que o edificaram, possui 29 metros de altura. É um torreão com paredes de dois metros de espessura construido de pedra, areia, barro e óleo de baleia, encimando uma casa de forma quadrada. A escadaria que dá acesso ao alto da torre compõem-se de 142 degraus.
O aparelho ótico do farol foi construído na França pela empresa Barbier, Benard & Turenne. É a luz do Farol de Santa Marta, que guia as embarcações avisando-as do perigo iminente. Considerado um dos maiores das Américas, foi construído em 1891. Um foco com altitude de 74 metros e alcance geográfico de 92Km. Sua luz emite lampejos brancos e vermelhos a cada 15 segundos, do alto de uma colina, e intriga a mente de quem observa, a grande distancia, o horizonte sul. Parece ser uma nave tentando pousar naquela ponta de terra de nossa cidade.
Mas é o farol de Santa Marta hipnotizando os viajantes e aventureiros para aquele lugar mágico, cheio de energia e belas paisagens. Ele domina, imponente, a ponta do cabo que lhe dá o nome, cercado por dunas brancas e belas praias.
Observamos mais ao sul, o litoral afastando-se da serra, e as praias tornando-se longas lâminas de areia varridas pelo vento, escasseando as povoações. Este é um dos espetaculares cartões postais da pequena grande cidade da Laguna a esbanjar belezas naturais, ainda preservadas e fatos históricos que só engrandecem o nosso Brasil.

1 de out. de 2007

Circ du soleil du Brésil

Este fim de semana tive uma boa surpresa. Conheci e assisti um grupo de artistas que conseguiu reunir numa mesma receita de divertimento um mixto de teatro, circo, e humor.
Foi uma surpresa agradável descobrir o Grupo Tholl, imagem e sonho do estado do Rio Grande do Sul. Para quem sonha em assistir a uma apresentação do Cirque du Soleil, como eu, é inevitável a admiração por este grupo chamado Oficina Permanente de Técnicas Circenses(OPTC), de Pelotas, que eu só fui conhecer esta semana. A OPTC existe desde 1987 e segundo a Secretaria de Cultura, é a precursora da nova arte circense no Estado, desenvolvendo também atividades sociais, como oficinas para meninos e meninas de rua.
Patrocinado pela Eletrosul, o grupo se apresentou, aqui em Florianópolis, no ginásio de esportes da Elase.
No espetáculo de uma hora e meia a companhia mostrou toda a sua capacidade de arrebatar a platéia. Com números de clown, equilíbrio em bola, acrobacia, tecido-aéreo, arco-aéreo, monociclos, pernas-de-pau, pirofagia, contorcionismo, equilibrismo e malabarismo muito bem ensaiados e apresentados sob efeitos de luz e sons esplendorosos, aqueles artistas ofereceram aos que lá estiveram um espetáculo glamuroso, preciso e emocionante..
Na apresentação de Tholl, Imagem e Sonho os artistas usam as emoções como linguagem, libertando o espectador para fazer sua própria leitura de forma simples e sincera. Utiliza, ainda, a força da interpretação corporal, a luz, os figurinos e os efeitos especiais para transportar o público ao mundo de sonhos e fantasias.
É um espetáculo que sublima a forma como linguagem principal, associando às emoções, libertando o espectador para que este faça sua própria leitura de uma forma simples e sincera.Com a força da interpretação, pelo instrumento principal o corpo, a luz que cria um clima mágico, figurinos e efeitos que transportam a um mundo de sonhos e fantasia.
Com dezessete atores em cena, revezando em várias técnicas, eles abrem as cortinas criando um grande Portal da alegria que separa o mundo imaginário de “THOLL” do mundo real.
Os artistas desta mundo mágico ultrapassa esses limites, com a intenção de contagiar o público com sua alegria e paixão, fazendo de pequenos momentos imagens inesquecíveis, resgatando em todos, o sonho de um dia fazer parte de um circo.
Ou simplesmente brincar, pular em um número de corda acrobática, flutuar em tecidos pelos ares, rir dos palhaços com suas estripulias, vibrar com ágeis acrobatas em seus saltos, trancar a respiração quando o equilíbrio e a gravidade são desafiados, ter a coragem dos pernas-de-pau, ficar hipnotizados com o fascínio e a magia do fogo, a precisão dos malabares, a sincronia dos monociclos, a beleza e plasticidade dos movimentos no arco-aéreo até que, como em tudo...
E quando cerram as cortinas do espetáculo deixam a idéia de que nossos sonhos nunca serão esquecidos por mais impossíveis que pareçam, deixando cair uma chuva prateada sobre estes sonhos, levando-os para dentro de nossos corações,e resgatando em nós a Alegria do bem viver.
Viva o mundo da fantasia criado pela Troup Tholl, imagem e sonho.

24 de set. de 2007

Relembrando

Um nordeste insistente soprava a chuvinha fina que eu via escorrer por sobre o capô do carro. O ritmo da chuva persistente era marcado pelo barulho do vai e vem do limpador de para-brisas fazendo aflorar na mente, lembranças remanescentes, que já se houvera apagado da memória. Atento no trânsito, eu viajava em pensamentos que povoaram nossos sonhos de um jovem passado na Laguna
E foi, assim, tomado pela recordação de fatos acontecidos na juventude que comecei a divagar sobre coisas de um passado sem precedente na história de nossa centenária cidade. Lembrei-me de um tempo onde o cheiro do butiá maduro nos campos da Barbacena, impregnava o ar das proximidades do trevo de entrada de Laguna.
Dos napoleões, um arbusto de folhas muito compridas e espinhosa, debruçados por sobre os limites de nossos quintais formando uma cerca viva que protegia nossas casas. E nossas primaveras eram anunciadas pelo desabrochar de seus lindos bouquets de flores brancas.
Um passado que o banho de mar na praia do Mar Grosso era precedido pela travessia suada de um pequeno deserto de comoros de areias, muito branca e quentes, que castigavam nossos pés descalços.
Das jovens festinhas americanas, onde embalados nos sons que contrariavam os padrões da época, premeditávamos a mudança de comportamento de nossas futuras gerações.
Das memoráveis sessões de cinema das seis, onde a namorada vaidosa nos deliciava com seus carinhos banhados no delirio de seus perfumes .
Do carnaval da rua Raulino Horn. Do cacareco do seu Iris e do pirão d´àgua do Mané pintado; e daquela escola de samba Bem amado, cuja novela veiculada no canal de Televisão de então, retratava com fidelidade as práticas políticas que continuam a perdurar até os dias atuais.
Da Bandinha Maluca que ainda faz da ruas da Laguna um palco sem igual, cujos personagens, gente do nosso cotidiano, representam com maestria um singular papel; pintam o rosto e fazem brincadeiras de palhaço para animar nosso carnaval.
Das entradas trinfais dos inesquecíveis cordões carnavalesco Bola preta e Bola branca nos carnavais de nossas sociedades; e daqueles sabados de carnaval do 3 de maio que entravam pela manhã de domingo, a dentro.
Que delicia de sorvete! Aquele, de coco, da Miscelânea.
Mas hoje quando me ponho a observar o paredão de prédios que adornam toda a orla da praia do Mar Grosso, sinto a mudança de nossos dias.
Aquele prédio majestoso de outrora que abrigara o Cine teatro Mussi, agora jaz abandonado a própria sorte, guarda somente a lembrança de filmes como: Rei dos Reis, Moisés, Flor do Pântano, Princesinha de Luxo, Taras Bulba, sete Homens e um destino, Juventude Transviada, Assim Caminha a Humanidade e tantos outros que deixaram sua marca em nossas memórias e fizeram sucesso neste mundo maravilhoso da sétima arte.
E vejo a procissão de lampeões que iluminava a lagoa, e anunciava a chegada dos camarões sendo, aos poucos, substituidas pelas artificiais fazendas criadoras de camarão em cativeiro.
Sinto-me envolvido na realidade de um outro tempo; onde as mudanças não dão trégua a criatividade humana, tornando a novidade de hoje a coisa ultrapassada e obsoleta do amanhã.

21 de set. de 2007

Só muda o endereço

Quando abro os jornais com notícias da semana, sempre deparo com um rosário de reclamações.
A falta de energia que desliga a cidade o calçamento das ruas que nunca termina e o troca troca de partido, dos políticos que procuram suas beneces.
O cidadão esbraveja, critica e jura que não votará mais neste ou naquele partido da atual administração municipal.
Enganam-se aqueles que acham que estou falando da Laguna. Encontro-me sentado na sala de minha casa aqui na Capital, lendo o jornal, e assistindo noticias na televisão.
Doze horas, foi o tempo que o norte da ilha, aqui em Florianópolis, ficou às escuras.
O motivo do blecaut alegado pela concessionária, é o mesmo. Manutenção dos isoladores, baixa capacidade dos transformadores para atender a demanda da rede instalada.
No noticiário televisivo continua aquele cidadão a reclamar da obra do calçamento na sua rua, no bairro Trindade. Ele não me é estranho. Eu pego meus óculos, pois meus olhos já estão traindo a identificação das pessoas à distância, e chego perto do video. O sujeito é um velho conhecido da Laguna radicado na capital.
Os problemas são sempre os mesmos, a única coisa que muda é o endereço. A negligência com relação a boa continuidade dos serviços prestados pelas empresas é uma constante.
Não existe uma antecipação dos acontecimentos. Na maioria de nossas empresas, o departamento de manutenção não dispõe de um plano de trabalho preventivo, capaz de evitar essas imprudências.
Assim foi com o acidente na substação da Celesc no bairro Serraria em São José e com aquele acontecido com os cabos de energia que passam pela Ponte Colombo Sales, e alimentam toda a ilha de Florianópolis.
Ambos demonstram o pouco caso de nossos administradores com o quesito manutenção.
A negociação entre siglas partidárias sempre acaba em distribuição de cargos na administração pública. E, inevitavelmente, acaba colocando um indicado político a frente de órgãos que deveriam ser dirigidos por profissionais técnicos altamente qualificados.
Portanto, caros conterrâneos, não estamos sós a enfrentar tais problemas. Menos mal, que eles estão a acontecer num período fora da temporada de verão.
Foi providencial a incursão do prefeito junto a diretoria da Celesc. Seria lamentável que esses contratempos viessem a ocorrer quando a cidade estivesse lotada de turistas.
Já a obra de pavimentação trouxe um novo desenho para as ruas, deixando-as mais vistosas. Mas este trabalho não pode se estender até a proxima temporada; porque, certamente, seria prejudicial ao trânsito e ao visual da cidade. Vamos tentar fazer diferente e deixar a Laguna pronta para o verão.
Uma pergunta, ainda, não quer calar. Quantos políticos, por esse Brasil, negociavam uma mudança de sigla, enquanto este texto era escrito?

7 de set. de 2007

Pesquisa

ESPECIAL PESQUISA: Projeto do Departamento de Ecologia e Zoologia estuda pesca artesanal na Baía Norte-Florianópolis Em campo: 12 meses de contato com a pesca artesanal. Acompanhando durante 12 meses o trabalho de oito pescadores, o estudante da 8ª fase de Biologia da UFSC, Raphael Bastos Mareschi Aggio, caracterizou as principais atividades da pesca artesanal praticada na Baía Norte de Florianópolis. Foram longos dias de pesca, cerca de 250 horas trabalhando com os pescadores de Sambaqui e Saco Grande, em Florianópolis; da Caieira e da Fazenda
da Armação, em Governador Celso Ramos. A pesquisa faz parte do projeto “Caracterização da pesca artesanal no mosaico de áreas protegidas do litoral de Santa Catarina”, orientado pela professora Natalia Hanazaki, do Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC. A intenção é reunir dados sobre a arte da pesca nestes locais, as espécies capturadas e seus valores de mercado, números de pescadores artesanais e ainda a situação sócio-econômica da comunidade pesqueira. Transformação Trinta e quatro pescadores foram entrevistados Aggio explica que o crescimento acelerado de moradores no entorno da Baía Norte modificou a fisionomia e a dinâmica ambiental da região. Além disso, os dados sobre a pesca no local são escassos e não há estudo preciso sobre a técnica de trabalho dos pescadores artesanais. Até mesmo o número de pescadores é incerto, pois a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP) está efetuando um recadastramento. Sobre a condição de vida dos pescadores, o estudante diz que muitos reclamam da instabilidade econômica da profissão e da dificuldade em planejar suas vidas a longo prazo. Todos os 34 entrevistados não desejam a vida de pescador para seus filhos e investem na educação dos jovens. A renda média é de um a dois salários mínimos, o que faz 65% dos entrevistados buscarem outras fontes, como a maricultura, agricultura, criação de animais, o comércio e trabalho informal de verão, aproveitando o potencial turístico da capital. Visão crítica-O estudante revela que não foi fácil recolher os dados, pois havia muita desconfiança dos pescadores nas primeiras entrevistas. Mas a cada pescaria, que durava cerca de 4 a 5 horas, eles se sentiam mais à vontade para contar suas histórias e as dificuldades da profissão. A maioria dos problemas é relacionada à condição financeira e também aos conflitos com órgãos reguladores da pesca na região. Aggio cita o caso da Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim (APAA), onde existem regras para a pesca, como por exemplo, a proibição da prática do arrasto. A crítica levantada pelo estudante é a falta de preocupação dos órgãos competentes em orientar os pescadores sobre o porquê de certas proibições, evidenciando que ainda faltam informações básicas sobre a ecologia dos animais marinhos locais e sua interdependência. Na opinião do estudante, não adianta apenas proibir, é necessário conhecer a vida destas comunidades e investir no co-gerenciamento das áreas pesqueiras, assim será possível apontar alternativas para quem depende da pesca e tornar o pescador um aliado da conservação. O estudo mostra que os pescadores têm uma consciência ambiental e sabem o que deve ou não ser feito para sua manutenção da atividade. Inclusive concordam que a rede de arrasto mata larvas de diversos organismos e captura pescados muito pequenos. Entretanto, apesar de detectar essa visão, o projeto registrou transgressões de leis como o uso do arrasto em local proibido e redes fixas colocadas em costões rochosos. Em ambos os casos, os pescadores conheciam a lei, mas realizaram a pescaria ilegal. O estudante afirma que em nenhuma das pescarias acompanhadas houve fiscalização dos órgãos reguladores. Os resultados são parciais, já que Aggio renovou sua bolsa por mais um ano. A meta é formular documentos que apresentem um panorama dessa atividade, em linguagem acessível tanto para os pescadores artesanais como para a comunidade científica e para instituições governamentais e não-governamentais que atuam no local. Assim o projeto pretende ser uma fonte de dados para trabalhos futuros de análise e desenvolvimento da pesca artesanal na região da Baía Norte.
informações: http://www.ecoh.ufsc.br/, fone 3721 9460; e-mail: raphael.aggio@gmail.com
Por Fernanda Rebelo Pereira/ Bolsista de Jornalismo na Agecom -UFSC