15 de set. de 2010

O Boitatá

Nas minhas recordações de infância lembro-me dos anos de Laguna de ruas muito escuras. As noites eram de uma beleza indescritível. Corria os olhos pelo céu e avistava-se com nitidez a via láctea. Parecia que, se nos esticássemos um pouco, conseguiríamos tocar nas estrelas. Era um tempo de cidades com iluminação escassa. A pequena usina instalada na área do porto para alimentar de energia dois possantes guindastes de carga, tinha também, que produzir eletricidade para parte da cidade. Isto sobrecarregava seus geradores, ocasionando seguidos blecautes e deixando a cidade, durante horas, totalmente às escuras. É nesse ambiente bucólico, propício a imaginação humana, que aconteciam os relatos de fenômenos sobrenaturais relacionados à cultura folclórica do povo. Lembro que minha mãe contava a história da aparição do Boitatá lá pelas bandas do Porto. Contava-nos que era um monstro com olhos de fogo, enormes, que corria de um lado para outro da mata perseguindo as pessoas. De dia era quase cego, à noite via tudo. O Boitatá, uma lenda do folclore açoriano, é descrito como uma espécie de cobra sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra. Para escapar ele entrou num buraco e lá ficou no escuro, assim, seus olhos cresceram. Desde então anda pelos campos em busca de restos de animais. Algumas vezes, assume a forma de uma cobra com os olhos flamejantes do tamanho de sua cabeça e persegue as pessoas nas noites sem luar. O Boitatá descrito por minha mãe era puro e singelo e sua história despertava em nós o sentimento do medo necessário para enfrentar as contingências da vida. Inconscientemente, ela acrescentava a nossa personalidade o instinto voltado para ações pensadas e contidas diante de situações adversas. A ciência, que funciona como um contraponto entre a verdade e a fé, explica o Boitatá através de um fenômeno chamado Fogo-fátuo, que são os gases inflamáveis que emanam dos pântanos, sepulturas e carcaças de grandes animais mortos, e que visto de longe parecem grandes tochas em movimento. Mas como a força da fé é, muitas vezes, infinitamente maior que a da verdade, o Boitatá continua a existir no imaginário coletivo do povo. E hoje, com o advento de todo este aparato comunicativo, ele nos aparece numa versão moderna e mais assustadora. Bem apresentado e com um falso brilho nos olhos entra, sem pedir licença, em nossos lares nos horários nobres televisivos, mentindo e pregando um tempo de maravilhas. E tudo acontece com o aval de leis criadas pelos nossos poderes constituídos, para protegê-lo. Ele não nos deixa temeroso, somente. É capaz, também, de ludibriar e acabar com o que resta da esperança de todo um povo. Tenho saudade da abençoada história do Boitatá, contada pela dona Maria. Era ingênua e despretensiosa. Só queria nos incutir a sensação do medo.

23 de ago. de 2010

Pensando sobre a cidade

Sabado, 07 de agosto-19:00 horas- chegando no monumento de tordesilhas em direção ao centro. Um deserto de frio intenso cobria a rua da praia. A solidão do mercado e das docas denunciava o silencio soturno dos casarios antigos. Logo a frente o predio do antigo cine mussi, sozinho, guardava a lembrança das memoráveis sessões de cinema de outrora. Contorno a rotatória em direção ao jardim e deparo com os casarios coloniais, desbotados pelo tempo, debruçados sobre ruas solitárias. Na igreja matriz, o relógio permanecia parado na hora de um dia passado qualquer, enquanto no jardim dos anos dourados de nossa juventude ecoava a ladaina da missa das sete, repetida como um mantra, pelos fiéis. Estacionado a beira da calçada senti um mixto de angustia e tristeza percorrer meu corpo. A cidade estava abandonada a sua própria sorte, pensei! Debruçei-me por sobre o volante do carro e meus pensamentos viajaram no tempo, no transe da reza ritmada dos fieís, por labirintos desconhecidos ao encontro de um jardim de luzes brihantes, arvores aparadas e canteiros de flores vivas e cuidadas, ornamentado por um chafariz de águas coloridas. Em seu entorno as construções coloniais com fachadas restauradas onstentavam suas cores. Um perfeito jogo de luz deixava em evidência a bonita igreja matriz e as ruas brilhavam na cidade iluminada. O Calheiro da Graça encheu-se, por fim, de casais enamorados enquanto uma procissão de pessoas circulavam, conversando animadamente, em seu redor. Tal como num dia futuro a cidade, por certo, será. Quem sabe!?

27 de jul. de 2010

A baleia franca

A noticia circulou nos jornais – Imbituba é a capital nacional da baleia franca. A indicação feita por um deputado federal da região tornou-se a lei 12282, assinada pelo presidente em 05 de julho de 2010, e confere o título àquela cidade. A baleia Franca migra para o nosso litoral, nos meses de julho a outubro a procura das águas quentes para procriar. Uma das mais impressionantes baleias do mundo e como todas as outras, sabemos muito pouco sobre a espécie. Pesquisadores acreditam que a fêmea tenha filhotes de 3 a 4 anos. Alimenta-se basicamente de krill ( é o nome colectivo dado a um conjunto de espécies de animais invertebrados semelhantes ao camarão). Vivem geralmente em grupos individuais de 3. Encontram-se distribuídas em todos os oceanos do Hemisfério Sul. No Brasil, o litoral de Santa Catarina representa uma importante área de concentração durante seu período migratório de reprodução devido as suas inúmeras baías e enseadas de águas calmas, que propiciam um habitat ideal para fêmeas acompanhadas de filhotes. As fêmeas são ligeiramente maiores que os machos. Interessante constatar que a baleia franca durante seu período de migração, circula através do oceano pelas costas das praias de nossas cidades catarinenses. Os aficcionados e observadores da espécie, geralmente se deslocam para costões e outros tipos de elevações junto às praias para terem uma visão mais acurada da espécie. No entanto, como que fazendo uma exceção a sua rotina de viagem, quando elas dobram o cabo de Santa Marta resolvem fazer uma visita a Laguna. È a única cidade que elas entram barra à dentro para banhar-se na Lagoa. Ficam a poucos metros de suas margens e dão um espetáculo a seus observadores. Não duvido, que também sejam devotas, e para seguir viagem precisam da benção de Santo Antonio. Nunca se sabe!

21 de jul. de 2010

Não sei pra que!

Era um sujeito muito inteligente. Professor conceituado com doutorado em universidade da França, mas incapaz de ouvir aquelas pessoas mais desprovidas de conhecimento. Dizia professar a fé espírita apesar de apresentar um conteúdo essencialmente materialista. Esforçava-se para conseguir ser atencioso com os mais humildes; mas mostrava pouco interesse em ouvir suas queixas. Achava que nada tinha a aprender com tais indivíduos. Arrogante, orgulhoso e firme nas suas convicções, gostava de estar sempre em evidência. O importante eram sempre seus objetivos, não importava a maneira como alcançá-los. O seu comportamento excessivamente egoísta acabou por afastar de seu convívio, sua mulher e mais tarde também seus filhos. No decorrer dos anos foi se tornando uma pessoa solitária e intolerante. É quando descobre, estar acometido de uma doença incurável. Seguiu à risca um longo tratamento que levou todas as suas economias e também o próprio apartamento onde residia. Mas, infelizmente veio a falecer. Em seu velório, a ironia da vida; uma cena que se ele pudesse teria evitado. No cemitério municipal num canto da sala do necrotério um casal pobre velava um familiar cuja urna modesta revelava toda sua humildade e no outro professores e conhecidos revezavam-se na vigília ao douto senhor. Jaz na urna mortuária o individuo perfeitamente perfilado e com fisionomia de autoridade. O sujeito parecia um rei da dinastia egípcia. Acreditem! O homem fez pose até pra morrer. Não sei, pra que!

20 de jun. de 2010

Conversa de amigo

Não gosto de me enclausurar em academia para cuidar do corpo. Sou mais adepto das caminhadas para manter o condicionamento físico. Nas minhas incursões diárias pela avenida beira mar aprecio o movimento urbano, revejo amigos e conheço outros tantos. Amigos e caminhada são ingredientes importantes para quem quer alcançar a longevidade. A ciência aprova essa combinação. Mas dia desses, um amigo que sempre passa por mim correndo, confessou-me que prefere corrida à caminhada. Afirmou com convicção que a corrida traz mais benefícios a saúde e aumenta, significativamente, nosso tempo de vida. Foi, então que lhe perguntei se ele corria daquele jeito porque pretendia viver pra sempre. Seu semblante iluminou-se, imediatamente, numa grande gargalhada. Noutra manhã encontrei um amigo psicólogo que não via há muito tempo. É uma dessas pessoas descoladas com uma maneira peculiar de olhar a vida. Quase sempre explica as coisas que vivencia de uma forma diferente. Perguntou-me se eu estava gostando da minha aposentadoria. Respondi-lhe que sim. Agora tinha tempo para me dedicar mais a família e fazer as coisas que sempre gostei. Quando indaguei sobre sua vida, contou-me que também, estava aposentado. Finalmente não tinha mais horário pra cumprir e nem um chefe a quem dar explicações. Contou-me que tem filhos maravilhosos, mas nunca pode acompanhar e curtir suas infância e adolescência como sempre desejou, porque o trabalho não lhe permitira. Não sabia como certos colegas, após trinta e cinco anos de trabalho, queriam voltar. O trabalho enobrece e dignifica o homem jovem, mas prejudica quando alcançamos uma certa idade. A essa altura da vida, disse-me ele, trabalho é pra quem não tem o que fazer. Eu tenho que viajar, conhecer lugares e cuidar de tudo aquilo que não fiz. Preciso realizar o que ficou pra trás. Agora, estou vivendo como nunca.
Eu não me contive diante dessa sua afirmação e comecei a rir da frase de duplo sentido que ele proferiu. Trabalho é pra quem não tem o que fazer.....Sei lá, eu!

3 de jun. de 2010

Quem me dera

Quem me dera ter aquela paisagem dos molhes da barra aqui na minha janela. Poderia diariamente, ver o vai e vem das ondas banhando a areia do Mar Grosso e o sol por inteiro, tingindo o céu de amarelo, quando nasce lá na linha do horizonte. Daria um tempo nesse ser recluso que o tempo me tornou e sairia caminhando descalço sobre a areia, com os braços soltos ao longo do corpo, como que desmaiados, ouvindo as musicas de amor, fé e liberdade daquelas canções dos anos 60. Esconderia do olhar dos curiosos, por alguns minutos, esse sujeito de coração quieto e contido, acostumado a ouvir muito e falar pouco. Certamente, estranharia a todos mudando o tom e o andamento de minha rotina. Não que quisesse ser outra pessoa, não! Seria só para curtir o momento e aproveitar aquele cenário de gaivotas escorregando pelo céu, fazendo lembrar de liberdade; e admirar aquela beleza estonteante grudada no infinito, lá nas lonjuras, além da ilha dos Lobos, parecendo bem perto de mim. Caminharia pelas manhãs e me entregaria ao sol e a beleza do mar daquele lugar.... e sorriria ainda com mais facilidade do que geralmente, se sorri. Penso, ás vezes, que minha visão otimista da vida me induz a ver, sentir e descrever a natureza, com um colorido nunca antes revelado. Mas é verdade, também, que o belo está no espírito das pessoas e na maneira como elas observam a paisagem. E assim, volto dessa viagem ao meu lugar comum, à minha cena real, onde tudo é palpável. Retorno à rotina sem muita pressa, com a certeza que a vida, deve sempre ser celebrada. E nas manhãs daqui da minha realidade cotidiana, observo o mesmo sol brilhando por trás de um velho flamboyant de folhas verdes e vistosas, e um Bem-te-vi, me despertando, gritando que já me viu. Quem me dera, vida!

9 de mai. de 2010

Mães

Confesso a minha dependência afetiva e emocional em relação a mulher. O tempo não conseguiu romper o cordão umbilical que sempre me uniu a ela. Considero-me uma extensão, às avessas, desse ser magistralmente preparado pela criação. Pensem, bem!? Somos gerados e montados, peça por peça, no interior de seu corpo como se fossemos um robô; alimentado em seus seios e acariciado com todos os cuidados que um ser em estado latente requer. Impossível, que essa relação intensa dos primeiros anos não fique gravado no nosso subconsciente uma vida inteira. Somos parte dela.
Contrariamente ao que, através dos séculos as religiões tem nos ensinado, elas definitivamente, não foram criadas a partir de nossa costela. Todos os fatos demonstram que nós é que fomos criados a partir delas.
A ciência afirma as diferenças na utilização do cérebro e na maneira de pensar da mulher e do homem. E conclui, que pensamos de maneira diferente. Acho que não querem dizer que pensamos erroneamente.
Basta um olhar mais observador na sua maneira de tratar o ambiente ao seu redor para notar seu toque de sutileza.
É inevitável! Sempre associamos a imagem da mulher às de nossas mães. È um sentimento intuitivo e reflexivo. Ele está arraigado dentro de nosso subconsciente. E elas já nascem mães. Mães que acariciam, alimentam e incentivam o sonho de seus filhos. Por eles, se precisar, dão a vida.
O homem poderá um dia conhecer os mistérios guardados nas fronteiras do universo, mas com certeza, jamais poderá mensurar e entender a força que move o coração de uma mãe.
Mães, mulheres, adoráveis

5 de abr. de 2010

O coelhinho da Páscoa

Quando criança eu não conseguia me livrar dessa dúvida sobre sua existência. Lembro-me que ele começou a aparecer me presenteando com cartuchos cheios de amendoins, balas, pés de moleque e muitas guloseimas próprias das crianças daquela idade.
Mas quem seria esse coelho que, entrava escondido pela madrugada da Páscoa em minha casa e, me surpreendia com tais presentes?
Minha memória não cansava de se perguntar sobre o porque dos cartuchos e das cestas, elaboradas de véspera por meus pais, para esperar por essa criatura muito especial e misteriosa, que se chamava coelhinho. Mais tarde, eu já um garotinho, descobrira que os coelhos gostavam de cenouras. E porque, então, ele vivia carregando doces?
Mas a magia da Páscoa não poderia ser contaminada por perguntas incrédulas. Afinal, chocolates, amendoins, balas e todas essas doçuras é tudo o que uma criança precisa para calar.
E assim se repetia nos anos. Na procissão do Senhor dos Passos eu não entendia o choro de todas aquelas mulheres. Alheio aquele triste cerimonial religioso da semana santa, eu não conseguia esconder a minha cara de menino feliz da vida, contando nos dedos, o dia da chegada do coelhinho da Páscoa.
Mas o tempo passou e as respostas para as minhas perguntas de criança começaram a aparecer. Entendi que a Páscoa sempre foi uma data significativa para o povo judeu. E que para nós cristãos, ela representa a Ressurreição de Cristo após sua crucificação.
Ressurgir, então se tornou a palavra chave. Surgir novamente para uma outra vida onde possamos olhar para dentro de nós mesmos e entender nossos problemas. Somente dessa maneira poderemos compreender o todo que habita, em nossa volta. Essa é a metáfora da mensagem da Ressurreição. E sob esta ótica de pensamento, o coelhinho da Páscoa, vai continuar existindo, sim! Basta, querermos acreditar.

8 de mar. de 2010

Nossas Origens

Sempre acreditei que a felicidade está dentro de cada um de nós. Não adianta procurá-la fora de nosso mundo interior. E que o lado bom da vida reside nas coisas simples que realizamos e nos gestos humildes adotados no nosso quotidiano.
É claro que um pouco de sofisticação, às vezes, não nos faz nenhum mal. Mas confesso ser um mané assumido. Pra ser mais preciso, eu sou duplamente mané. Em primeiro lugar, sou manézinho com raízes fincadas na nossa querida Laguna. E depois, mais uma vez manézinho, por ter adotado essa ilha maravilhosa de Floripa, para viver.
Geralmente, aqueles que se acham sofisticados e não me conhecem mais profundamente, torcem o nariz para a minha maneira simples de lidar com as pessoas e coisas que se encontram em minha volta.
Mas, nas minhas entranhas de mane açoriano aqui do litoral está solidificado este tipo de comportamento. Ás vezes uma ingenuidade extrema, noutras... nem tanto assim.
Valorizo enfaticamente, nossas tradições culturais e gastronômicas. Sou capaz de ir muito longe para assistir uma apresentação do Boi de Mamão, do Pau de fita, ver a Bandeira do Divino passar ou mesmo acompanhar um Terno de Reis. Quanto a gastronomia...! Abençoados sejam aqueles índios que cultivaram a mandioca e nos legaram, através dos portugueses, sua farinha para o deleite de nossas refeições. Só assim surgiu o pirão nosso de cada dia para alimentar os menos favorecidos, e tornar deliciosa as refeições festivas dos mais abastados.
Estou falando isto, porque realizei um desejo há muito tempo adiado. Fui a Festa do Pirão com Lingüiça, que se realiza de fevereiro a março de cada ano, no município de Tijucas. Nada de especial no local. Instalações modestas, como deveria ser para o que se propõe o evento. Mas o calor humano, a simplicidade e educação no atendimento me chamaram a atenção. Próprias de um ambiente onde a farinha de mandioca é prioridade na refeição. No prato o pirão pronto com feijão por cima. Lingüiça, farofa e salada completavam a dieta. Um verdadeiro retorno ás origens da nossa rica cultura. Bendita farinha!

21 de fev. de 2010

Encontro fortuito

Dias desses, num encontro fortuito em um shopping aqui na capital, revi um amigo da época de nossa adolescência. Notei que o tempo brindara seus cabelos com algumas camadas de neve e colocara no seu rosto um sorriso brilhante. Mas fiquei surpreso com a sua falta de receptividade. Como se estivesse perdido pelos labirintos da vaidade fez questão de deixar transparecer que o tempo lhe fora generoso. Minha felicidade ao vê-lo foi aos poucos se transformando em desapontamento ao notar que ele não parecia querer conversar. Mostrava-se apressado, e sua esposa, embora me conhecesse, sequer me cumprimentou, seguindo em frente com os filhos que por sinal mostraram-se mais receptivos. Na rápida conversa que forçosamente, travou comigo notei sua falta de lembrança de certos acontecimentos de juventude e uma vontade grande de me deixar seguir em frente. Mas, propositadamente, e já irritado, eu insisti e tentei lembrá-lo de amigos comuns e de algumas fotos nossa dos anos 60. Disse-me lembrar de muitas fotos daquela década, mas, nenhuma que eu estivesse junto. Senti que minha presença o estava incomodando. Parecia que eu lhe fazia lembrar de um passado, que embora bonito e sadio, ele queria esquecer. Sem precisar consultar seu coração pude notar que seu espírito tinha sido impregnado pelo sentimento da soberba. Não precisou perguntar sobre a sua vida, sobre o tempo que o escondeu dos meus olhos. Ele próprio, através de seu comportamento, revelou toda a extensão de seu orgulho fazendo questão de demonstrar que a vida lhe fora grata e justa. Mas eu não queria alimentar sua maré cheia. E tentei falar do passado, de amigos, de nossas origens, dos alicerces que formaram a base de nossas personalidades, do que hoje somos. Ele, ainda apressado, desconversou. Senti que embora bem sucedido, ele tinha perdido muito do seu conteúdo existencial e humano. E que o passado lhe parecia uma dor sem remédios. O presente reinava absoluto pelos seus dias. Então comecei a lhe falar somente daquilo que considero, os sucessos da minha vida. Revelou-se atento, naquele momento, porque pouco sabia de mim. Deu-me, verbalmente, seu email, por fim. Mas numa atitude pequena quis mostrar-se grande ao revelar, orgulhosamente, a sua ignorância em lidar com computadores, pois sua secretaria era quem lia seus email’s. Como se o sinal estivesse abrindo, partiu rapidamente. Não me deu tempo de lhe dizer mais nada.
Adeus! ex-amigo de juventude.

18 de jan. de 2010

Um novo ano

E lá vamos nós outra vez, com o norte de nossa bússola apontado para um futuro de otimismo. Sentir o Ano Novo chegar, entrar nele com novas expectativas nos envolvendo é um presente que não é para todos. Às vezes me pego pensando nas muitas pessoas que não passaram no processo seletivo da vida e não alcançaram a primeira linha de chegada do último dia do ano. Quanta desventura. Por outro lado, quanta festa para os que ficam e têm a promessa de mais um ano para viver. A vida cintila com maior intensidade no começo dos novos anos e é preciso celebrar essa glória. Os risos barulhentos, os sorrisos abertos, e as gargalhadas soltas da comemoração, me traz no pensamento o inverno de gaivotas barulhentas voando em torno dos barcos carregados de pescados quando aproximam-se da praia em direção a barra....... A mistura de sons e conversas alegres de pessoas dançando me traz a lembrança da algazarra dessas aves planando no céu e festejando a fartura. Mas, é sempre bom lembrar que para mover esta esperança de barcos carregados é necessário olhar para dentro de nossos porões, e refletir sobre nossas conquistas e por aquelas dos dias por vir; e acreditar que um ano mais de vida esta, novamente, ao nosso alcance. Muitas vezes nossos planos são como bonecos construídos com a areia fina da praia. De repente vem uma onda mais comprida e carrega tudo pra dentro do mar... transformando tudo numa massa consistente, escura e indecifrável. A areia é matéria livre e, às vezes, dissimulada e seu manuseio requer observação e cuidado. Então, notamos que é preciso recomeçar e construí-los, novamente, fora do alcance das ondas.... E assim vamos perseverando na vida e seguindo em frente porque o tempo que destrói castelos é o mesmo que constrói cidades e levanta arranha-céus. Que tenhamos todos um ano de realizações. Deus, haverá de querer.

17 de dez. de 2009

Um outro tempo de Natal

No canto mais visível da sala de estar a grande flor de Napoleão rodeada de grama estilizada em arvore de Natal. Sem iluminação, e decorada com enfeites provisórios inventados na última hora, ela representava a humildade de uma simples família e retratava o que havia de mais singelo dentro de nós. Na véspera da chegada de Noel admirávamos o céu de Laguna de noite tranqüila, e de um absoluto silencio; parecíamos tomados de um profundo encantamento. A pouca iluminação elétrica das ruas daquela época, ainda possibilitava uma visão deslumbrante do infinito. Admirávamos a lua e a claridade de muitas estrelas. Uma delas mostrava-se tão brilhante e grande que imaginei fosse aquela que tantos séculos atrás, naquele mesmo dia, indicara o caminho aos reis magos, como parecia naquele momento indicar-nos o caminho de nossos futuros. Ao acordar, na manhã de Natal, sempre havia um presente junto à árvore. Papai Noel viera nos visitar. O cavalo de pau com a máscara e a capa do Zorro, o pássaro de madeira que quando empurrado batia suas asas ou o meu primeiro brinquedo de plástico uma bonita carruagem puxada por dois cavalos movidos “à corda” ( Era igual aqueles despertadores antigos que para funcionar precisava-se “dar corda”). Essas foram minhas primeiras boas experiências de menino com o ambiente festivo natalino. E desde estas mágicas experiências inesquecíveis de criança, de espera e recompensa, o natal começou a significar pra mim um momento privilegiado em que colocamos entre parênteses as desigualdades e mergulhamos fundo na unidade. Agora já adulto, a cada Natal relembro aquelas noites. Mas não foram aqueles presentes as lembranças mais fortes. Inesquecível era a boa sensação de paz que me trazia aquela esperança de Papai Noel de noites claras. Era mágico poder ver o céu com tamanha nitidez. Nossos olhos infantis vasculhavam, nervosamente, as constelações procurando entre as estrelas algum sinal do velhinho. Existia uma proximidade maior entre nós e o céu. Tínhamos a sensação que ele estava logo ali, acima de nossas cabeças. Hoje, o vai e vem de carros e o brilhar das luzes das cidades, ofuscam a beleza da contemplação noturna do firmamento. E ao tempo em que perdemos contato com o natural cedemos espaço a superficialidade. Assim acontece, também, com os eventos que consideramos sagrados. Mergulhado no impulso consumista e num barulhento apelo comercial, o Natal vai, sistematicamente, sendo distorcido no tempo. As árvores natalinas ganharam tecnologia e opulência alcançando valores que, ás vezes, constituem verdadeiros “presentes” ao interesses políticos e comerciais. E a festa de Natal tomou os espaços dos grandes shoppings para o arregalo dos olhos de crianças frenetizadas pela propaganda, cada vez mais direcionada as suas curiosidades. Tentamos a todo custo corrompê-lo no seu autêntico sentido. Mas, apesar da agitação feroz na tentativa de distorcê-lo, seu verdadeiro espírito ainda sobrevive, sob a inspiração da pureza do coração das Crianças. Persiste, iluminando nossos pecados e imperfeições, fazendo-nos esquecer, ainda que por poucos dias, de desencontros e aborrecimentos, impulsionados pela força e pela magia do espírito de Natal.

6 de dez. de 2009

O panetone nosso de cada dia

As imagens divulgadas na TV mostram uma bandidagem escondendo dinheiro no bolso, na cueca e nas meias, no episódio do mensalão, tudo isso prá quê? Oh, céus, pra comprar panetones e distribuí-los aos pobres. Estava lá o primeiro escalão do governo do distrito federal e o próprio governador José Roberto Arruda (DEM - vixe, vixe!), flagrados com a mão no cofre pela Policia Federal, na Operação Caixa de Pandora. Sem qualquer escrúpulo, os sacripantas criaram um grupo de oração. As imagens são chocantes e patéticas. De mãos dadas e olhos fechados, três bandidos de colarinho branco rezam, agradecendo a Deus a “graça especial” alcançada. Com a versão candanga do Pai Nosso, impetraram um habeas corpus preventivo: - O Panetone nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai a formação do Caixa 2, assim como nós perdoamos os outros partidos que antes de nós desviaram recursos. Esse é o dado novo do mensalão do DEM (vixe, vixe!). Eles criaram um modus operandi inédito e despudorado: usar a reza como alavanca para arrombar cofres públicos, o que não foi registrado em nenhum lugar do mundo, nem com os dois mensalões operados pelo careca Marcos Valério: o do PSDB de MG, em 1998, e o do PT, em 2005. O Brasil é mesmo o país mais cristão do mundo. Até pra roubar, a gente reza. E na falta de cueca, esconde dólar dentro da bíblia, como fez a bispa Sônia. Arruda já solicitou ao Papa Bento XVI a canonização de Judas Iscariotes - o que botou na ceroula trinta dinares - para sagrá-lo padroeiro da Pastoral da Propina. A Oração a São Judas Iscariotes, rezada em Brasília, diz: - São Judas Iscariotes, apóstolo incompreendido de Cristo, eu te saúdo e te louvo, por haveres usados os 30 dinares para pagar a conta da Última Ceia, sendo injustamente acusado de vendilhão e traidor. Quero te imitar, comprometendo-me a usar o dinheiro desviado em obras sociais. E$pero alcançar a graça que imploro através de tua interce$ão. Amém. No Amazonas, surgiram vários grupos de oração. Um deles, com os agentes de pastoral Amazonino Mendes, Carijó, os irmãos Souza e Orleir Messias Cameli, do Acre. O outro com Dudu Braga, Belão, Mello e Adair, todos eles rezando a versão regional do Pai Nosso: - A Pupunha nossa de cada dia, nos dai hoje. Todos esses agentes da Pastoral usam cuecas com seis bolsos sanfonados, três na frente e três atrás. Com a voz embargada, Arruda disse que confia na Justiça. Todos eles confiam. Pudera! Até eu! Na reeleição para governador de Minas, no século passado, mais precisamente em 1998, Eduardo Azeredo (PSDB) montou esquema de desvio de dinheiro e só agora, no dia 3 de dezembro, é que o STF, em votação apertada, abriu ação penal para investigar as denúncias. A defesa dele vai apresentar “embargo de declaração”, e não há previsão de quando deve começar a ação penal. Eu falei começar, porque onze anos depois do crime, ela ainda não começou. Numa atitude subserviente e de absoluta dependência, o novo ministro do STF e ex-advogado do PT, José Toffoli, votou a favor de Azeredo, pelo arquivamento da denúncia, talvez se precavendo com o processo aberto em 2007 contra 40 pessoas envolvidas no mensalão do PT, entre eles, o ex-ministro José Dirceu. Mais chocante ainda do que a imagem da bandidagem rezando e desmoralizando a oração, é a anestesia quase geral da nação e a impunidade desse tipo de crime. Nesse sentido, o que ainda nos salva é a invasão e ocupação da Assembléia Legislativa de Brasília pelos meninos do PSOL. Quem diria: na continuidade da ação desses meninos repousa a nossa esperança e o nosso destino!
Do professor José Ribamar Bessa Freire coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO).

29 de nov. de 2009

Tempo de sonhos

Quando ainda jovem eu imaginava que para mover as intrincadas engrenagens do mundo bastavam a palavra, carisma, ações pontuais, perseverança e, é claro, um pouco de sorte.Naquela época havia na cabeça da juventude sonhadora, um projeto de luta no horizonte. As portas da utopia mostravam-se escancaradas para quem quisesse entrar... Mas os anos foram seguindo e os sonhos, aos poucos, sendo substituídos pela realidade mundana. O inegável avanço tecnológico nos colocou diante dos equipamentos eletrônicos deixando-nos um tanto robotizados; e nós humanos, infelizmente, largamos de perseguir certos objetivos menos tangíveis.Num mundo globalizado e excludente caímos na luta diária pela busca do nosso sustento material. Exaustos, após um dia de trabalho, desistimos de ser inquieto culturalmente, e entregamo-nos, então, aos cuidados de um meio de comunicação direcionado e massificado. Devido a falta de incentivo a leitura e aos altos custos dos livros o gosto literário passou a ser um costume de poucos. Aos partidos de cunho socialista restou a delegação do viés político da consciência ecológica; enquanto a procura pelo alimento da alma restringiu-se a participação mecânica em alguns rituais de nossas devoções religiosas. O ser humano comum preferiu a segurança do coletivo a desenvolver seu potencial individual.Mas resta, ainda, algum sinal de fumaça desse incêndio de utopia, no coração de alguns poucos. E eles surgem através da Internet, por exemplo, nos blogs de informação que se contrapõem ao noticiário da grande imprensa. E nos blogs culturais com idéias e talentos, ainda, sem a luminosidade dos autores já consagrados.Estas manifestações continuam, também, nos movimentos religiosos que sempre pregaram a priorização dos valores humanos. Ainda assim, apesar de todas as suas contradições a humanidade sempre tem tentado acomodar-se as variações técnicas e sociais de cada época para encontrar seu rumo. E ela haverá de achar seu norte através do crescimento espiritual e da compreensão mútua. Se Deus quiser.....

12 de nov. de 2009

A Estrela do Mar

Ao chegar na sala de trabalho deparava com aquela criatura de poucas palavras e um jeito carinhoso e doce no trato com as pessoas. Compenetrada nos seus afazeres ela tinha sempre um sorriso alegre em seu rosto. Fiel a sua descendência, cursava na universidade o italiano, e ainda nas horas vagas atendia as encomendas de echarpes -habilidade cujas colegas descobriram que possuía. -Maristela! Tu sei bella. – Eu a saudava ao encontrá-la no serviço. Ela respondia olhando-me com alegria e estampando um largo sorriso em seu rosto. Essa saudação virou quase um mantra que se repetia em determinados momentos de descontração naquele saudável ambiente de serviço. Tempos mais tarde, quando da minha aposentadoria, eu havia adotado o hábito de eventualmente passar no antigo local de trabalho para rever os colegas que por lá permaneciam. E numa dessas casuais visitas tomei conhecimento que a Mari- apelido carinhoso pelo qual era tratada - estava afastada, e também estivera hospitalizada, por motivo de doença. Procurei e liguei para o numero de seu telefone que uma colega havia me fornecido. Quando ela atendeu o telefone, eu a saudei: -Maristela! Tu sei bella. A identificação foi imediata: -Mauro! Como vais! -Eu vou Bem! Disseram-me que estivesse doente. -Sim, mas agora estou bem. Não te preocupas que eu não vou morrer, não! Notei um barulho de conversa ao fundo; e ela me disse, naquela oportunidade, que estava reunida com algumas amigas no seu apartamento. Colocamos a conversa em dia e nos despedimos. Aquela ligação me confortou. No entanto, meses depois Mari, infelizmente, foi hospitalizada novamente e veio a falecer com o diagnóstico de uma doença fatal. E eu fiquei a pensar o quão frágil é a nossa vida. É mesmo um pequeno sopro divino. Tem certas pessoas que nos deixam tão depressa! Será que elas vão ao infinito, em direção ao porto da eternidade? Será que elas correm naqueles campos vastos de verdes sinistros e flores campestres? Aqui nós ficamos sem entender essa partida e por mais que procuramos, nosso pouco conhecimento não nos fornecerá respostas para essas indagações. A mim, pobre mortal, só resta acreditar que a Estrela do Mar subiu ao céu para brilhar na constelação de Deus. Maristela!!! Tu sei bella.

28 de out. de 2009

Pra onde foi o menino

Quando amanheceu percebi que ele já não estava mais junto a mim. Para onde fora o menino que havia em mim e fizera dos meus dias rios de felicidade e esperança? No meu entardecer senti falta dele. Olhei-me no espelho a sua procura... nos meus cabelos brancos a constatação dos anos. Nos meus olhos a falta daquele brilho radiante indicativo da sua presença. Vez por outra, sinto ainda querer me puxar pelas pernas das calças para reviver peraltices. Mas logo percebo que o sorriso fácil, a alegria incontida e a calma transmitida na segurança de que tudo acaba bem, aos poucos acabaram me deixando. A responsabilidade, o trabalho, as contingências da vida foram me tornando impuro a ponto de afastar o menino do meu convívio. A realidade tomou conta de seus ingênuos sonhos coloridos. Ele não conseguiu suportar o meu tempo adulto, a minha procura pelo ter em detrimento do ser e foi me abandonando. O meu coração que se fazia amarelo de Sol com recheios de sorrisos nos lábios agora é uma fonte de sentimentos contidos num rosto marcado pelos contornos do tempo.A vida sem ele é diferente; cheia de preocupações. Que será de mim, agora, sem as tintas que me emprestava fazendo-me encontrar ouro no final do arco-iris da minha vida colorida de otimismo e beleza? Por eu ter perdido a ingenuidade, o menino partiu. Pois ele não sobrevive quando nosso coração perde a inocência. Quando tudo flutua ao redor do lógico e do racional. Preciso dele, pois sua presença é que dá equilíbrio a minha vida e torna meu lado humano mais bonito. Mas ele, ainda, haverá de voltar um dia? Talvez, quando meu sorriso for mais além do que esse que hoje se vê em meu rosto. Ou quando eu chegar lá nas cercanias do tempo. Nos limites da outra dimensão. Quem, sabe?

14 de out. de 2009

CRUZ NAS REPARTIÇÕES PÚBLICAS

“Símbolos Religiosos nas Repartições Públicas do Estado de SP” (Fonte: FOLHA de SÃO PAULO, de 09/08/2009) “Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas.. Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião. A Cruz deve ser retirada! Nunca gostei de ver a Cruz em tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são vendidas e compradas... Não quero ver a Cruz nas Câmaras legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte... Não quero ver a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados... Não quero ver a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas (pobres) morrem sem atendimento.... É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa da desgraça dos pequenos e pobres.” Frade Demetrius dos Santos Silva * São Paulo/SP
reproduzido por esse Blog por considerar uma resposta sensacional do religioso

25 de set. de 2009

A Delegada da Pracinha

Não sei direito o seu nome Nisia ou Anisia. Era mulher de um senhor que conhecíamos como Baio - Aquele senhor que trabalhava no Porto.
A Delegada da pracinha. Assim é que a chamávamos devido ao seu cuidado com os bancos e tudo o mais que fizesse parte daquela praça. Já naquele tempo ela exercia seu direito de cidadã afugentando os moleques que tentavam bagunçar o patrimônio público. Uma senhora com espírito inquieto e sensível a proteção ambiental, numa época em que, praticamente, não se falava em ecologia. A hoje, quase centenária árvore, plantada no centro da nossa pracinha era sua protegida favorita. Ai, de quem ousasse se dependurar em seus galhos! Por detrás da janela de sua casa ela observava tudo e botava pra correr a molecada que, propositadamente, subia em sua copa. A antiga casa já não existe mais. Mas a sua vigília e a sua perseverança foram ingredientes indispensáveis ao florescimento da árvore que considero símbolo da praça Souza França. Sem o cuidado daquela senhora talvez ela não resistisse às peraltices da garotada, de pés descalços, livre e solta daquela década. São muitas as gerações que, até hoje, se abrigam sob a sua sombra. Embaixo de sua copa passaram as confrarias de amigos, o esquenta para os bailes do clube 3 de maio e os incontáveis namoros com direito a coração e flecha de cupido gravado, à canivete, em seu caule. Ela fomentou as reuniões de nascimento e acompanhou o amadurecimento do maior bloco carnavalesco de rua do carnaval lagunense- O Bloco da pracinha- e as diversas idéias que atravessaram o tempo e culminaram nos eventos que se instalaram, em definitivo, no calendário turístico da cidade. Dona Nísia ou Anisia deve estar cuidando de árvores iguais a esta, no paraíso, junto a Deus. E a sua árvore é a imagem do cotidiano, refletida na liberdade de pensar e fazer de uma gente vizinha a pequenina pracinha, no coração do nosso Magalhães.

11 de set. de 2009

Salve-nos,Deus

Ontem, a praia de todos, lustrada por um sol imponente e bordada pela espuma que derretia ao quebrar das ondas me fazia lembrar o barulho do refrigerante que tomei à pouco. Fazia festa as nossas vistas. Hoje, no horizonte do Mar Grosso, sumido na névoa do tempo de chuva, surge um barco de pescadores e cria um ângulo de esperança. De repente, tenho vontade de ir ao encontro do barco. Caminhar por sobre as águas? Que loucura! Lá pelo lado do pontal os botos dão uma trégua ao trabalho e as baleias não se atrevem a nadar no canal. Gaivotas escorregam no céu, entre a neblina. Mergulham no nada e tem tudo. Gosto de vê-las. Elas lembram liberdade aqui no leste. Bem longe daqui, no extremo de nosso território, notícias de ferro torcido, casas destroçadas, arvores arrancadas.... noites sem luz. A natureza revoltada, protesta! Florestas sem árvores, rios sem água, atmosfera carregada. No choro do homem o desespero de quem tudo perdeu. A mão estendida da criança a clamar por comida. O lamento da mulher cujo filho desapareceu. Do poder, a promessa do auxílio e o dinheiro que não chega. No universo de nosso coração só tristeza e solidariedade. Um sentimento de impotência.
Mais um barco de incertezas surge do nevoeiro, no horizonte. Salve-nos, Deus

19 de ago. de 2009

Tal como Antes

Cícero, orador emérito, respeitado por sua conduta ética na política e na vida pessoal, pôs em sua boca a indignação popular “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?”, indagou Marco Túlio Cícero ao senador Lúcio Sérgio Catilina, a 8 de novembro de 63 a.C., em Roma. Flagrado em atitudes criminosas, Catilina se recusa a renunciar ao mandato. “Ó tempos, ó costumes!”, exclamou Cícero movido por atormentada perplexidade diante da insensibilidade do acusado. “Que há, pois, ó Catilina, que ainda agora possas esperar, se nem a noite, com suas trevas, pode manter ocultos os teus criminosos conluios; nem uma casa particular pode conter, com suas paredes, os segredos da tua conspiração; se tudo vem à luz do dia, se tudo irrompe em público?”

16 de ago. de 2009

Vila Esperança

Era uma vila com povo pacato e acolhedor, de ruas estreitas pavimentadas com paralelepípedos e ornamentadas com construções coloniais raras que ostentavam grande riqueza cultural e histórica. Sua beleza retratada em pontos turísticos naturalmente preservados encantava seus moradores e turistas. Visitá-la era uma viagem no tempo pelos labirintos da memória nacional. Sua historia era contada nos escritos artisticamente trabalhados em vistosas placas de bronze colocadas na base dos monumentos distribuídos por suas diversas praças. No entanto o glorioso passado muito presente no futuro daquela vila parecia bloquear o entendimento da existência do que era novo. As pessoas eram como barcos com seus porões repletos de nostalgia ancorados num solitário porto. Elas ainda acreditavam em antigas praticas políticas e administrativas. Políticos de todas as partes socorriam-se, em épocas de eleição, de seu colégio eleitoral. Mas pouco ou nenhum trabalho ofereciam em benefício daquela vila. Tudo o que faziam era no intuito de atender interesses particulares dos seus moradores. Um dia, vieram os vândalos e começaram a mandar na vila. Depredaram seus monumentos e roubaram suas vistosas placas de bronze. E com elas levaram também um pouco da sua história. A insegurança, então, instaurara-se em suas ruas e vielas. O administrador parecia politicamente muito ocupado e não dispunha de tempo para se preocupar com acontecimentos que considerava corriqueiros na vida daquela vila. O Chefe da Segurança, uma autoridade com problemas de visão, também era portador de deficiência auditiva. Às vezes que conseguia ouvir a voz das ruas alegava falta de pessoal para realizar, com eficiência, seu trabalho. Noutro dia vieram uns técnicos e criaram o projeto de uma extensa ponte num ponto muito além de seu acesso principal, sobre a bonita lagoa que circundava aquela vila. Pareciam querer isolá-la geograficamente do resto da região. Era gritante o silencio das lideranças da comunidade em relação aos problemas que afligiam as pessoas. Eles eram incapazes de visualizar algo que viesse em beneficio daquele pedaço de terra. Depois vieram os ladrões e roubaram o banco que guardava as poucas economias do povo daquela vila. A comunidade foi empobrecendo cada vez mais, e nada se fazia para aliviar o sofrimento das pessoas. Ninguém comentava nada. Ninguém conseguia ver nada. A síndrome do Chefe de Segurança havia contagiado o povo. Não havia quem enxergasse uma luz no final do túnel. Os indivíduos perderam seu senso crítico e além de não fazer comentário sobre aquela situação ainda evitavam quem se insurgisse contra aquele estado de coisas. Uma grande escassez de suprimentos e de oportunidades, então, começou a se abater sobre a comunidade. E seus moradores partiram levando seus pertences, abandonando suas terras e casas, deixando a vila solitária. Uns poucos que permaneceram reuniram-se numa romaria a um monte que consideravam sagrado para orar e pedir aos céus, melhores dias. Acreditavam no milagre da vinda de um Deus surgido do mar para reabilitar suas vidas. E assim eles passam o tempo contemplando o mar. Na certeza que um dia Deus virá salvar, a Vila Esperança.

8 de ago. de 2009

Ciencia e milagre

Dia desses li nos jornais a reportagem de uma mulher que além de ouvir musica, via e sentia o gosto. Tal fenômeno tem uma explicação cientifica complicada que eu, pobre mortal e leigo seria incapaz de explicá-lo. Mas o importante é o fato, em si. Ela enxerga e sente, literalmente, a música. Meu pensamento então, reportou-se para a Idade Média onde uma mulher que revelasse ser portadora de tal prodígio, seria considerada uma bruxa e seu destino, certamente, seria a fogueira. Noutro tempo mais recente tratar-se-ia de um milagre. Atualmente, segundo estudos científicos este fenômeno embora raro e previsível é resultado de ligações neuroquímicas cuja manifestação acontece em um número muito pequeno de indivíduos. O progresso é uma das determinadas certezas do mundo da qual, particularmente, não sou muito entusiasta. As minhas leituras da época da faculdade apenas me fizeram crer que neste terceiro milênio triunfaria a razão. E isso não é ilusório diante do que a ciência pode oferecer. O problema são as contradições. Embora, no mundo, se produza comida para todos, ainda há fome. Desenvolve-se tecnologia de exploração em águas profundas enquanto que em terra firme há gente sem moradia. Enquanto no planeta Terra surge diariamente uma variedade de espécies de vida não catalogadas traçamos metas para conquistar o universo. Chove torrencialmente hoje enquanto a previsão do tempo previa muito sol o dia todo. Ainda falta muita coisa embora o conhecimento humano nos mostre que pode dar tudo. Acreditar em milagres torna-se um antídoto, diante da força da ciência e da imparcialidade dos números. O problema é definir o que seria um milagre. Seria um fenômeno que ultrapassa o desconhecido, que insolentemente desafia as fronteiras do real? Fica a pergunta no ar. Mas a coisa que eu sempre acreditei mesmo, é que o êxito das pessoas está em desafiar o que está estabelecido, não se omitir nem silenciar mesmo sob pressões poderosas e ameaçadoras e muitas vezes até, ir ao extremo dando a própria vida por suas convicções. Temos muitos desses exemplos na historia da humanidade. Penso que com tudo que se vê hoje em dia, saber da existência de pessoas capazes de perceber o mundo de maneira diferente, como enxergar e sentir o gosto da música, por exemplo, não deixa de ser um milagre.

12 de jul. de 2009

Saudade

Palavras são símbolos que quando pronunciadas suscitam em nós todas as emoções; de surpresa, de terror, de nostalgia, de pesar.... Elas são poderosas e podem desmoralizar uma pessoa até a apatia ou então exaltá-la a extremos da experiência espiritual e estética. Elas têm um poder arrebatador. Sua força, sua resistência e seu poder suplantam quase tudo que existe em nossa volta. Elas são perenes e firmes como a rocha. Tudo passa através dos tempos, exércitos, impérios e repúblicas. Mas as palavras não passam. Na nossa Língua Portuguesa existe uma palavra que não encontra significado igual em nenhuma parte do mundo seja em sentido e força, tanto no aspecto denotativo ( se isto for possível) quanto no conotativo. A palavra saudade, de origem tão obscura como o fundo dos mares portugueses, e tão misteriosa como a virgindade das selvas brasileiras não encontra par em nenhum dos idiomas falado no nosso globo. Os estudiosos da etimologia da língua portuguesa, também não são convincentes ao procurar uma explicação plausível para sua origem. Sem a possibilidade de definir a matriz dessa grata herança que a riqueza da língua portuguesa nos presenteou, resta-nos apenas a satisfação e a honra de tê-la em nosso vocabulário, sem o perigo de competição por parte de qualquer língua de dentro ou de fora de nossa família latina. E o que é mesmo saudade? Um sentimento que deve existir no coração de toda criatura humana, seja ela de qualquer raça, de qualquer parte do mundo, seja pobre, seja rica. A saudade não escolhe, não discrimina, não se faz de rogada para existir. Ela vem de mansinho ou vem fortemente, chegando quando menos se espera. A saudade é amiga da solidão, companheira inseparável do amor, visita invisível da amizade, às vezes pedaço de paixão, em muitos casos suave perfume de momentos de carinho e ternura. Realmente, não é fácil falar do sentimento da saudade. E é talvez por isso que ela só exista, como palavra, na Língua Portuguesa, na mística do povo de nossa raça, principalmente no brasileiro, esta maravilhosa mistura de sangue tropical. Defini-la com palavras é um exercício mental de difícil articulação. Ela encontra explicação somente nas lembranças solitárias de nossos pensamentos. Saudade é dor que sufoca o coração e alegra a alma. Saudade é um sentimento de presença do ausente, é lembrança do bem-querer, um doce convívio com a distância, uma alegre e agradável tristeza do ver-não-vendo, do amar sem o objeto do amor... Saudades de um tempo, de amigos, de familiares, de amores vividos, da terra natal... “Saudades de Laguna” sentimento de ausência da terra, titulo de uma música muito pouco lembrada, onde seu compositor Pedro Raimundo demonstra toda sua ternura na homenagem a nossa eterna, Laguna.

27 de jun. de 2009

Por que Escrevemos?

Aqui deste lugar, presenciando a luz refletida nas poças de chuva das ruas desertas de frio, vendo o mês junino escoar pelos ralos dos seus últimos dias, me ponho a refletir sobre as necessidades humanas. Mais precisamente sobre a necessidade da comunicação. E então surge a pergunta: Por que escrevemos? Escrevemos por instinto de auto-expressão. Escrevemos para diminuir a tensão emocional e não explodir e virar pedacinhos. Para entender nosso próprio mundo. Através da escrita comunicamos nossas impressões, idéias, pensamentos, sentimentos. Escrevemos para comunicar nossos medos e angustias, nossas coragens e ousadias e nossas descobertas. Para entendermos a nós mesmos. Escrevemos para espantar a sensação de desamparo. Para acabar com o isolamento. Para sair do exílio que, ás vezes, nos submetemos. Para nos livrar da solidão de nosso próprio casulo.
Estes são alguns dos motivos que nos levam a escrita. Mas na verdade, escrever é um ato vital. Escrevemos para continuarmos vivos. Escrever não é prazer, nem diversão. É sobrevivência!
O ato de escrever é um ato solitário de revelação. O escritor surpreende-se redigindo um texto inusitado. Ou mesmo um texto regular ou ruim. Mas ele se descobre na sua obra.
Para escrever precisamos vencer a anarquia latente que existe em nós, libertar a mente do ente físico e submetê-la ao espírito.

21 de jun. de 2009

Um sonho de junho

Caminhava apressadamente pela diagonal que corta o centro do jardim em direção a Igreja matriz. Queria sentir a egrégora daquele templo. Admirar suas artes sacras, sua arquitetura barroca e aproximar-me da imagem de Santo Antonio dos Anjos da nossa Laguna. Ofegante..., encontrei a porta da igreja trancada.
Um sentimento de frustração arrebatou-me por alguns momentos. Irritei-me por mais outros instantes e resolvi bater energicamente três fortes pancadas na entrada principal. Já ia desistindo, quando a porta entreabriu e alguém me franqueou a entrada. Caminhei, então, até entre as duas colunas que sustenta o mezanino, onde o Coral se reúne para entoar os cantos das magistrais trezenas.
Ergui a cabeça e avistei Antonio no centro do altar rodeado de pessoas. Tenso e surpreso esbocei gestos na tentativa de falar algumas palavras. Mas Antonio com um olhar firme e sereno interrompeu-me com perguntas, estabelecendo um diálogo que jamais eu os apagaria de minha memória. Perguntou-me ele, então: - De onde vindes, visitante? - Eu venho de longe para abraçar a tua causa. - O que vens aqui trazer? - trago um coração amigo, um espírito de paz e desejo prosperidade a todos. - Nada mais trazeis? - O povo da minha terra vos saúda e venera. - O que se faz em vossa morada? - Enaltecemos as virtudes e desprezamos os vícios. - O que vindes aqui fazer? - Esquecer minhas vaidades e purificar minha alma. - O que desejais? - Ser mais um entre vós. Nesse momento um facho de luz iluminou meu rosto. Acordei sobressaltado. Notei que havia sonhado um inusitado sonho. Por detrás da janela do quarto de hotel o sol castigava meus olhos. Lá fora um céu limpo e um sol de inverno. Uma névoa fria cobria a praia do Mar Grosso. Era 13 de junho.

24 de mai. de 2009

Crônica

De olhos perdidos na tela do computador, o homem sentiu a necessidade de espairecer lá fora. E então, saiu pelos corredores e pátios do condomínio, afora. O insuportável calor que sentiu quando deixou pra trás a sala refrigerada não amenizava a espécie de dor que congelava a sua alma e quase o paralisava. Encontrou pessoas e esboçou sorrisos obrigatórios. Tudo para ele era uma grande angústia. Abraçou afetuosamente a mulher que tratava da limpeza dos corredores -tudo indicava ser sua conhecida -Falaram-se. Na sua simplicidade ela contou-lhe de câncer e de enterros e do calvário das doenças e falou, também, das pessoas impiedosas. Ele só foi ouvidos. Disse-lhe apenas que era a vontade de Deus ” Deus sabe o que faz”. Ela assentiu com um gesto e despediu-se. Ele continuou pátio afora padecendo dos infortúnios do desamor, sentindo-se distante e solitário. Viu então ao longe um grande passaro voando no alto do morro, acima do ângulo da visão que seus olhos estivera toda aquela tarde. Sua plumagem era de uma brancura que ele pensara que nunca vira antes. Ele nem percebera que no vôo do pássaro havia um céu cor de chumbo ao fundo. Era um dia sem sol.
Então o homem viu graça na sua dor emocional. Ele era um homem qualquer.
"Felicidade se acha é em horinhas de descuido." Guimarães Rosa

10 de mai. de 2009

Por onde andas, Mulher?

Por onde andas mulher da concepção, da gestação e de todas as belezas que a ti reservou a criação.
Por onde andas mulher das sublimes canções de ninar da minha vida.
Da dor contida, das noites mal dormidas, da proteção destemida e das chineladas atrevidas.
Por onde andas, mulher da coragem disfarçada em fraqueza que mostrava com sabedoria e beleza a lição do seu dia a dia.
Da gargalhada altaneira e das diversas maneiras de tornar as dificuldades em mera brincadeira.
Por onde andas , mulher que embalastes meus sonhos de liberdade fazendo-me sentir senhor de minhas responsabilidades.
Que choravas teu pranto, calada, sem nos deixar pressentir preocupada com os muitos obstáculos dessa longa estrada.
Por onde andas mulher da palavra de conforto das horas atribuladas.
Da mão amiga, da solidariedade hipotecada, da caridade assistida e da decisão acertada.
Por onde andas mulher da fé bendita, da oração que clamava ao céu a proteção para teu filho fiel.
Da esperança infinita nas horas aflitas.
Por onde andas mulher que abraçavas com candura todas as ocorrências de tuas criaturas tanto na alegria quanto na amargura.
Por onde andas mulher, que só te vejo em antigos álbuns de fotografia, e em cada gesto em cada poesia, encontro a saudade de tua simpatia.
Por onde andas, mulher?

27 de abr. de 2009

Opinião

Pensar no turismo religioso como mais uma alternativa para nossa cidade é uma boa idéia. Basta tomarmos como exemplo o que acontece a Nova Trento com o culto a Madre Paulina.Um monumento à Santo Antonio conforme prevê o projeto do governo é magnífico. Já inicia agregado na sua concepção uma tradição religiosa centenária de uma cidade cujo patrimonio histórico é parte da historia nacional. Sem sombra de dúvida, neste quesito o projeto é irretocável.
Mas somente a obra sem a mudança da visão de turismo de nossos administradores creio não ser suficiente para proporcionar o efeito que tão magistralmente o projeto nos apresenta.
Vamos partir, agora, para uma visão mais abrangente e pensar de como sempre foi tratado o turismo na nossa cidade. Já observaram em que condições estão os pontos turisticos, que considero importantes, de nossa cidade? Tentem chegar ao Morro da Gloria! As estradas de acesso são as piores possíveis e não existe uma manutenção de conservação periódica do monumento. Também não temos um projeto de revitalização do local. Até hoje não foi criado um plano urbanistico com infraestrutura voltada para a exploração turística. E assim acontece com a Pedra do Frade, com o Farol de Santa Marta e com os Molhes da Barra. Além das más condições de acesso, é visível a nossa falta de estrutura voltada para a industria do turismo. Isso é fruto do nosso despreparo para administrar essa questão. E o problema não é dessa ou daquela administração, não! Sempre tratamos o assunto turismo, com muito amadorismo.
Como se não bastasse ainda temos o agravante político para não nos ajudar. Muda a politica estadual e os planos são deixados de lado. Por onde anda aquele projeto de implemento turístico estadual da interpraias?

24 de mar. de 2009

O Vírus é Prata

Ano de 1982. Na TV, o Programa do Chacrinha era a MTV tropicalista da época. A cantora Elis Regina morre de overdose. O melhor time de futebol que vi jogar, a Seleção Brasileira de 82, é eliminado da Copa do Mundo. A musica das paradas cantada no planeta era We Are The World, canção beneficente em prol do combate à fome na África. Um adolescente americano de 15 anos, Richard Skrenta cria, naquele ano, um “bichinho” que se tornaria um astro na orbe da informática: o vírus de computador. Batizado de Elk Cloner, ele estreou infectando os computadores da Apple II. Não era dos mais destrutivos. Ao celebrar as Bodas de Prata – 25 anos – os vírus evoluíram. E muito! Inauguraram roteiros virtuais que incluem cenas de discos rígidos aniquilados, dados destruídos, sites derrubados, informações roubadas e empresas paralisadas. Tornaram-se uma praga. Os vírus começaram se alastrando via disquete. Creio que os pendrive não lembram dele. Com a chegada da internet, passaram a se propagar por meio das estradas digitais. São os “bichinhos” virtuais mais difundidos atualmente. Quem já não foi “infectado” por um deles? Com o advento da internet, os vírus ficaram famosos. Ganharam nomes tão divertidos e surpreendentes quantos os das operações secretas da Polícia Federal brasileira, que caçam outras espécies de vírus. Esses, em muitos casos, letais. Ficaram famosos os vírus Sexta-Feira 13, Jerusalém, Anna Kournikova (tenista russa), Melissa, Love Letter (carta de amor), Michelangelo, I Love You (eu te amo). No submundo da internet transitam ainda os spyware e cavalos-de-tróia, parentes consangüíneos dos vírus. São lobistas cibernéticos. Eles têm a tarefa de abrir portas para os golpistas. Qualquer semelhança relacionada ao nosso submundo real é mera coincidência. Nos primórdios dos anos 90, territórios virtuais e reais são afetados pelo Vírus da Traição. Aprendi que não há vacina e nem antivírus. Ele já surgiu com as mais diversas extensões virais: .exe, .pdt, .bat, .doc, .dem, .pt, .psdb, .pif, .paf, .prof, .pof. Enfim. Putz! Apareceu um vírus.

24 de fev. de 2009

Lá vai..

Lá vai o bloco das multidões Getulio Vargas à dentro com gente de todas as tribos, de todos os credos, de todas as raças, de todos os cantos do país. A pequenina Pracinha se agigante com essa diversidade de estilos e cores. Bebem, pulam, confraternizam-se... Parecem astronautas flutuando no espaço sem gravidade, contagiados pelo universo do som das ritmadas canções baianas. Lá vai o bloco da Pracinha puxado pelo Trio elétrico. Nele está um pouco de nós um pouco de todos os vizinhos da Praça que o ajudaram a ser o maior bloco carnavalesco do sul do país. Um orgulho do carnaval lagunense, nascido e criado no nosso Magalhães. Êle já não exibe mais seu estandarte, orgulhosamente, desfraldado por uma porta bandeira franzina e muito conhecida de nossa comunidade que partiu sem dizer adeus. Mas o tempo sorriu e aliou-se a nós, tornando-o grande o bastante, para abraçar com seus tentáculos toda a rua Getulio Vargas. O povo se aglomera, se espreme nas calçadas, se dependura nos muros e se debruça nas soleiras das janelas. È muita a alegria que emerge da efervescente mistura de ritmo e satisfação em rever, no meio da folia, parentes e amigos que vivem distante e aparecem na melhor hora do nosso Carnaval. Ninguém se agüenta quando ele passa. Todos sacodem, gritam, exorcizam seus males, suas angustias. Lá vai ele tomando os espaços da rua em direção ao Monumento dos Trabalhadores. Símbolo da saga de uma gente desiludida, ludibriada por promessas insípidas que só vingam em épocas eleitoreiras. Lá vai o Bloco da Pracinha levando nossas alegrias e nossas fantasias. Lá vai o Bloco da Pracinha. Lá vai.....

14 de fev. de 2009

Porto solidão

Seria uma noite qualquer não fosse o lugar e o Luar. As pessoas passeavam, indiferentes, pela praia pisando a paisagem desnudada pelo clarão. Era uma imagem criada por um sonho. A Lua parecia uma medalha de prata brilhante pendurada no peito do céu do Mar Grosso. Lá estava ela, altiva e soberba com seu facho de luz iluminando nosso pedaço de Atlântico. Diva do seresteiro dos anos quarenta que por ela se encantou e do saudável romantismo da década de sessenta que a modernidade nos roubou ela também é testemunha das mudanças, dos fatos e das histórias que contribuíram positiva ou negativamente na formação do atual cenário sócio-econômico lagunense. Contemplá-la não é só um lampejo de nossa veia romântica; é também um exercício de reflexão e de lembranças. Uma viagem de volta ao passado. E eu, de repente, me vi pensando sobre o ciclo de acontecimentos que culminou na desativação do Porto de nossa cidade. È uma história que marcou a vida de todos os lagunenses e muito particularmente, a minha. Seu funcionamento envolvia um intenso movimento de estivadores a carregar os vagões com estoques do armazém central. Um vai e vem sem parar de duas locomotivas modernas movidas a óleo diesel que puxavam as cargas para cima do caís onde dois guindastes elétricos possantes as transportavam para os porões dos navios. Esse serviço, na maioria das vezes virava a madrugada com o pagamento de horas-extras aos trabalhadores, às custas dos armadores. Era uma fonte significativa dentre todas que ajudavam a movimentar a economia da cidade. Vítima da mesquinharia e da indiferença política, hoje, jaz, abandonado à sorte de uma retificação que não tem tempo de acabar. Mas ele guarda a saudade daqueles que partiram e a indelével marca dos que, por décadas, ali entregaram seu trabalho. Ainda ouço o barulho dos vagões sobre os trilhos, dos guindastes manobrando para suspender as cargas, do apito da locomotiva puxando o trem da saudade, dirigido por meu pai. O céu já é todo noite. A Lua, agora, vai alta iluminando a área escura e abandonada que restou de um Porto seguro. As ruas estão sozinhas sem vestígio de vida e me convidam a ir a lugar nenhum. Laguna...Praia.....Luar.....Porto solidão.

29 de jan. de 2009

Reminiscências

Era um cheiro, um aroma forte e bom. Quente como o verão lagunense. Ele entrava pelos cantos todos e hoje viaja pelos túneis de minha memória. Saía das muitas casquinhas de siri que se inventavam nos finais de semana. Para mim, ele começava antes, quando minha mãe se punha a amassar a farinha com a receita tradicional. Era um cenário completo, com personagens e gestos. Os elementos dessa narrativa não precisavam mudar. Depois dessa faina de organizar a mesa e amassar os ingredientes, as casquinhas eram colocadas sobre a mesa da cozinha, prontas para ir ao fogo. Quantas? Não sei, não saberia dizer, porque meus olhos se distraíam em meio à multiplicação das delícias, enfileiradas pouco a pouco na mesa, com minha mãe a pincelá-las com gema de ovo. Depois dos acabamentos elas se transformavam. Voltavam do fogão quentes e dourados, com muito brilho. Elas carregavam dentro da massa o carinho que minha mãe punha em todas as fritadas. Os amigos que visitavam a casa sempre saíam com esse presente possivelmente muito desejado por todos. A música andava também pelo ambiente, junto ao calor de tudo. Solidão nenhuma cabia por ali. Será que eu fantasiei um tanto cenário e personagens? Depois de tanto tempo, a memória ganhou licença para qualquer seleção imaginativa e livre. Talvez eu esteja me perguntando agora: “onde estão todos?” A vida anda. Os cenários mudam e também as personagens e cenários em nossas narrativas de vida.Mas a memória guarda aquela repetição que sempre cumpria o ritual da fundação do bem fazer, do espírito da comunhão. E ela sabia como ninguém preservar a família, a amizade e a união. Ouço suas risadas. Sinto o movimento da casa. Persigo pelo ar o cheiro das casquinhas. Ele ainda paira em minhas narinas. Vejo minha mãe andando pelo corredor ao lado da casa. Ela ainda acende a luz na caminhada da minha vida.

18 de jan. de 2009

Perdas e Ganhos

Pouca gente costuma levar a sério o antigo ditado popular. “Pra quem espera o tempo abre suas portas” Sempre se alimenta a esperança em algo que aguardamos....ao menos uma luzinha no final do túnel ( mais um) mas esse túnel não acaba nunca. Pra ver a luz mesmo, só morrendo pra nascer de novo, iniciando a vida novamente em uma outra realidade do tempo. O certo é que depois de anos na escola e cursinhos, faculdades e dificuldades (isso não foi um simples trocadilho), depois de anos e anos numa mesma instituição, numa mesma rotina, mesmos colegas e o stress dos chefes... ninguém agüenta! Então é chegado o dia de comemorar a independência seja lá do que for, o importante é comemorar, afinal resta pouco tempo, olha-se pra trás e faz-se o balanço das perdas e ganhos... Perdeu os cabelos, alguns ou todos os dentes, ganhou barriga, a alegria dos filhos, a preocupação com os filhos, ganhou umas entortadas na coluna,... à essa altura, com certeza, você já não é mais o príncipe que ela sonhou ....mas afinal, são anos investidos, então é melhor continuar a lavar suas próprias cuecas. Mas as reclamações por certo, continuarão com outras coisas banais quaisquer, não se faz necessário mencionar aqui a tampa do vaso sanitário essa já “Deu no saco!” ou então a atenção sem medidas, ao neto, deixando-o confiado demais. Enfim, uma infindável lista de impertinências caberia aqui. Então é olhar mesmo pra trás, imaginar-se lá com seus quinze aninhos novamente e sonhar tudo de novo. Mas agora com muito cuidado! Antes, é bom procurar ver se não existe um manual de instruções pra viver. É pra chorar ou pra rir?

9 de jan. de 2009

Informação

O papodaesquina está disponibilizando aos seus leitores a Barra de Vídeo onde é apresentado via youtube, videos de músicas nacionais e internacionais.

4 de jan. de 2009

Uma questão cultural

Seis de janeiro é lembrado como o dia que os três reis magos-posteriormente santificado no século VIII- teriam visitado o recém nascido menino Jesus. Na península ibérica, a data tem praticamente a mesma importância que o Natal. São 12 dias, a partir do natal até 6 de janeiro, que acontecem as apresentações dessa herança européia incorporada às nossas tradições populares chamada Terno de Reis. Ele, freqüentemente é associado à religião, e normalmente envolve cantigas, preces, toque de instrumentos de confecção caseira e artesanal, com tambor, pandeiro, reco-reco, violão, rabeca (espécie de violino rústico), sanfona, e muita cantoria. Além das bandeiras e estandartes que dão visibilidade a esta manifestação folclórica própria das nossas origens. Essa é uma tradição de origem luso-espanhola incorporada à nossa cultura popular. A vida moderna, através de suas facilidades, tem nos possibilitado o conhecimento de outras culturas que, de certa maneira, nos leva a negligenciar tradições centenárias trazidas por nossos ancestrais portugueses. A verdade é que a falta de incentivo, por parte de nossos órgãos de cultura, a esses grupos que representam a verdadeira expressão de nosso legado cultural desfavorecem a continuidade dos costumes. Mas o Terno de Reis, da localidade de Ponta da Barra da nossa Laguna, ignoram o descaso e resistem, heroicamente, continuando a fazer suas apresentações. Tempos atrás, esses grupos vinham para o bairro Magalhães e visitavam as casas cantando suas cantigas. Lembro-me bem que se aproximavam entoando uma canção que meu ouvido de menino jamais esqueceu do refrão: Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Venha abrir a sua porta Que nós queremos entrar Eles chegavam à noite com essa canção de chegada, que de longe se ouvia, onde o líder do grupo pedia permissão ao dono da casa para entrar. Despertavam quem estivesse dormindo. Era servido café aos componentes pelo dono da casa. Na saída cantavam a canção de despedida que agradecia a acolhida e as doações. Feliz o povo que consegue manter vivo seus costumes e suas tradições. Por favor, salvem a cultura da nossa terra. Viva, o Terno de Reis, o boi de mamão e o pau de fita.

30 de dez. de 2008

Adeus, Ano Velho!

Lá vai ele sumindo por entre os últimos dias de dezembro; levando consigo os dias de sonhos não realizados e noites mal dormidas. Sai de cena à francesa, sem se despedir e nem pedir desculpas pelos tropeços ocasionalmente provocados. Em sua bagagem vão os planos não concretizados.... o trabalho que não conseguimos, a vaga na universidade que não alcançamos, os amores não vividos, a palavra não dita , o gesto não revelado. O que chega vem trazendo a esperança de óculos. O otimismo iluminado nos fogos de artifícios e a paz desejada compartilhada nas refrescantes taças de champanhe. Aquele que parte sai, sem festa, carregado pelos sucessos de uns e desenganos de outros tantos. Entretanto eles trazem em comum o dia, esse pedaço de tempo destinado à criação humana situado entre o alvorecer e o crepúsculo. Que por sua vez nos entrega ao sol, o companheiro inseparável, que na sua viagem diária do Oriente em direção ao Ocidente nos acompanha nessa caminhada em direção ao futuro. E assim tem sido, ano após ano, pelos milênios da nossa existência. Mas o velho cumpriu sua missão. Cedeu, generosamente, seu período para que utilizássemos da maneira mais eficiente possível. Não se responsabilizará, em momento algum, pela consecução de nossos intentos. Nós o culpamos pelas crises e catástrofes que aconteceram durante seu ciclo. São 365 dias proporcionalmente distribuídos em estações que às vezes exageram na dose de seus atributos. E este ano, especificamente, parte deixando marcas pelos fenômenos e acontecimentos inusitados. O padre que, literalmente, foi para o céu; a enchente que varreu o Vale de Itajaí em nosso Estado; e a crise econômica mundial que alguns iluminados ainda insistem em dizer que não irá nos afetar. Só nos resta esperar pra ver. Ainda falta um dia e algumas horas. Eu só me lembrei das coisas desagradáveis que ele nos proporcionou. E nós já estamos ansiosos pelo novo que virá. Adeus, Ano Velho!

25 de dez. de 2008

A vida de trás pra frente

A Vida Deveria Ser de Trás Para Frente...A coisa mais injusta sobre a vida, é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás para frente. Nós deveríamos morrer 1º, e livrar-se disso logo. Daí, viveria em um asilo até ser chutado para fora de lá por estar muito novo. Ganharia um relógio de ouro e iria trabalhar. Então você trabalharia 35 anos até ficar novo o bastante para aproveitar a sua aposentadoria. Aí você curtiria tudo, beberia bastante, faria festas e se prepararia para fazer uma faculdade. Depois você iria pro colégio teria várias namoradas, viraria criança, não teria nenhuma responsabilidade, se tornaria um bebezinho de colo, voltaria para o útero da mãe, passaria seus últimos 9 meses de vida flutuando ..... E tudo terminaria com um ótimo orgasmo. (Charles Chaplin-Carlitos)

10 de dez. de 2008

O ditador do tempo

Li os jornais de hoje, e nada. Recorri ao rádio e à televisão. Mas somente um assunto dominava os jornais falados e os tele-jornais: a tragédia de nosso Estado. Pensei: escrever o que, sobre esse terrível acontecimento? Sobre ele tem muita gente falando e escrevendo até o que não deve. Com este pra lá e pra cá; lendo isso e lendo aquilo, eu buscava nada mais do que um assunto para postar no meu blog. Foi então que me veio à lembrança o quanto essa procura estava tomando do meu tempo. Como dependemos dele em nossa vida. A cada instante estamos sendo consumido pelo tempo. Essa impiedosa medida cronológica marca e controla sistematicamente nossa vida através de um austero ditador de ponteiros. E tudo que fazemos ou deixamos de fazer passa a ser controlado por ele, que tem, a audácia ou a habilidade de fragmentar, o tempo, em espaços cada vez menores. Acordamos, dormimos, estudamos de acordo com os intervalos por ele dividido. O tempo cronológico inelástico pode apenas ser dividido, re-dividido, mas jamais aumentado na sua proporcionalidade, a não ser que inventamos um novo sistema cronológico. E ele passa velozmente como água escorrendo entre nossos dedos. Vivemos embalados por esses segundos, que parece ter cada vez mais, uma duração menor. A aldeia global que democratizou a informação através da moderna tecnologia, diminuiu as distancias pela rapidez na propagação das noticias e na facilidade dos contatos pessoais. Este fenômeno parece ter encurtado o nosso tempo físico. Os acontecimentos, e eventos estão a se repetir em intervalos menores. Será que os anos estão ficando mais curtos? Olha aí, um outro Dezembro já batendo na nossa porta. Um outro Natal se avizinhando do nosso coração. O nosso espírito brilhando de solidariedade. Olha, o Papai-Noel sentado na poltrona, em sua Vila, na beira das Docas do Mercado. Olha, o centro histórico da Laguna todo iluminado. O comércio movimentado nas compras de presentes para os namorados, pais, filhos. Não esqueça daquela creche,... daquele necessitado. Não deixemos o tempo escapar sem nos doar,... sem participar. Bem,... eu vou parando por aqui. O ditador de ponteiros está trabalhando a toda velocidade. E eu preciso, também, fazer a minha parte. Feliz Natal!

22 de nov. de 2008

Olha só

Olha só, essa chuva incessante a encharcar os nossos dias. Há quase um mês ela inunda os planos de fim de semana, afogando em definitivo a nossa paciência. A água dessa primavera é tanta que até as flores parecem não ter coragem de desabrochar. Dirigindo no trânsito ou com guarda-chuvas nas mãos livrando-se das poças d`água, parecemos malabaristas. È só parar para observar o quanto de equilíbrio necessitamos para sair de casa com tamanha quantidade de chuva. Por onde anda nosso sol? Por onde anda o fabuloso ocaso do entardecer lagunense? O lindo por de sol que me encanta e alimenta minha alma com a performance de sua poesia silenciosa desapareceu por trás das nuvens escuras carregadas Deve estar se guardando para descortinar depois de um dia desses morimbundo de chuva. Mas ele voltará radiante pendurado na primeira oportunidade azul de um belo dia. Então irei me deleitar, quando o por do sol regressar com seu manto suave la adiante por trás dos morros pintando a Lagoa com seus raios, feito pinceis; finalizando num lugar muito distante, inalcançável, para nós. E quando o sol deitar para dormir vamos torcer para que o tempo não nos roube mais uma vez um novo alvorecer. Na esperança que os dias permaneçam limpos e puros sem a possibilidade de perdermos mais um fascinante por de sol.

12 de nov. de 2008

A história se repete

Quando chegava com meus filhos para visitar maus pais em Laguna, nossa entrada era pela porta da cozinha; a pequena casa parecia solitária e grande demais para minha mãe e meu pai. Ela sempre se colocava junto á cabeceira da mesa. Tinha um olhar distante, um semblante pensativo e preocupado. Perguntava-lhe sorrindo o motivo da sua preocupação e tristeza; e ela falava com um meio sorriso no rosto e lágrimas nos olhos da sua apreensão com relação ao nosso futuro. Isto a mais ou menos trinta anos atrás. Confesso que não conseguia entender o motivo de sua tristeza. Somos sete filhos, e todos fomos saindo para cuidar de nossas próprias vidas, com esposas, filhos, maridos. Mas o tempo, como um mestre exigente, vai dia após dia ensinando a lição da vida. E hoje, tal qual minha mãe a trinta anos atrás, me pego com os olhos marejados e o coração apertado quando vejo meus filhos adultos arrumando suas coisas e querendo partir atrás de seu futuro. Agora a preocupação é nossa, os pais somos nós: eu e minha esposa. Companheira das alegrias e dos infortúnios. Eles saem por alguns dias e o apartamento fica imenso, silencioso. Nesse silencio dá pra ouvir o eco de crianças correndo, de adolescentes implicando, de adultos dividindo comigo suas dúvidas, seus problemas e tristezas. As lágrimas me enchen os olhos. Lembranças me levam ao passado. Lembro-me que quando li depoimentos, reportagens e vários outros escritos sobre o assunto, me sentia preparado para o momento, mas nada se compara ao fato em si, ao instante em que se vive a realidade. Então me vem a mente o velho ditado que diz: “ os filhos não são criados para os pais e sim para o mundo”. Os nossos são três. Estão saindo, crescendo, querendo voar. “ Olá! Que cara de triste é esta? “ É minha filha sorrindo, com meu neto pela mão, entrando cozinha adentro vindo nos visitar. Convida-nos para sair e conversar. Tal como a trinta anos atrás, a história se repete.

20 de out. de 2008

Viva o Hoje

Várias vezes durante nossa existência ouvimos falar que a vida é curta, que devemos viver o dia-a-dia e que não adianta nada ficar preocupado com o futuro. No entanto, poucas são as pessoas que conseguem ter esse desprendimento.Sempre estamos preocupados, tensos, pensando nas coisas que podem, de uma hora pra outra, acontecer. Somos condicionados a pensar em tempo futuro. As pessoas que passam pela experiência da proximidade da morte geralmente passam a ver a vida por outro ângulo. Desprendem-se com mais facilidade das preocupações do amanhã e vive com mais intensidade o presente. Não tenha dúvida. A coisa mais importante que possuímos é o dia de hoje. Mesmo que esteja espremido entre o ontem e o amanhã, ele deve merecer sua entrega total. Só hoje você pode ser feliz; o amanhã é uma grande incógnita e ainda não chegou, e agora já é tarde para ser feliz ontem. A grande maioria das dores é fruto dos restos de ontem ou dos medos do amanhã. Nada de egoísmos, inveja e sentimentos pequenos que só atrapalham os planos de hoje e não ajudam a preparar o espírito para o amanhã. Viva o dia de hoje com sabedoria: decida como irá alimentar seus minutos, no seu trabalho, no seu descanso, e faça tudo o que for possível para que o dia de hoje seja seu, já que ele lhe foi doado com tanta generosidade. Respeite-o de tal maneira que quando for dormir, você possa dizer: hoje eu fui capaz de viver e de realizar!!! Os livros religiosos fundamentais como o Corão e a Bíblia tratam do assunto da mesma forma: a cada dia bastam suas tribulações. Tenha sempre um bom dia ... Carpe Diem : viva o dia!

6 de out. de 2008

O sol continua a brilhar

Nos molhes da barra me vi tomado pelas preocupações daquela quinta-feira tensa. O sol novamente aparecera depois de longos dias de chuva, e as tarrafas voltavam a bailar no céu do pontal. Na minha cabeça a constante lembrança da saúde abalada de minha irmã .Senti-me pequeno e solitário apesar dos muitos caniços que ali apontavam para o mar. Do mirante ao lado do farol, a ilha dos Lobos também sozinha, na imensidão do Atlântico. No lado sul do canal os grandes guindastes inertes sem movimentar qualquer carga. E no alto do Morro da Glória, a Santa virada de costas. Eu era só preocupação. Meus olhos, então, percorrem o espelho de água do canal que leva ao Porto e repousa na névoa da maresia que esconde os prédios que adornam a orla do Mar Grosso. Um forte açoite das ondas sobre as pedras, um cheiro de mar a prenunciar o verão na primavera lagunense. Navegando entre as ondas um barco sai barra afora a pescar. Quem sabe, levasse meus temores para além mar. Na viagem aos corredores dos meus vinte anos dourados encontrei um rapaz moço, encantado com os amores vividos em sessões de filmes renomados. No Cinema Paradiso dos meus sonhos os porteiros já partiram e o rapaz que vendia balas no hall de entrada, hoje é um respeitável senhor de sessenta anos. Restou um ponto de ônibus num prédio abandonado. Sob suas marquises, num vai e vem sem cessar, chegam pessoas de todo lugar e também partem sem regressar. Uma imitação da vida no cotidiano da cidade. Por onde andará Mariazinha? A namorada das nossas fantasias juvenis. Os biguás continuavam a mergulhar entre as pedras e, vagarosamente, fui me retirando daquele lugar mágico. Ah!...minha irmã. Minha preocupação.... Tudo não passou de um grande susto. Do exame sobrou apenas algumas dores no corpo e uma sensação de frio. O Sol continua a brilhar.Graças a Deus!

21 de set. de 2008

A terra vista de uma amostra

"Alguém pode dizer que é falta de assunto. Eu poderia escrever sobre as divergências quanto ao uso de grampos telefônicos, criticar a contradição da meca do capitalismo – que decidiu estatizar empresas privadas para salvar o que não tem conserto – ou falar das obscuridades da razão humana, tão claramente analisadas por Immanuel Kant. Poderia ainda dizer do estigma curitibano de fazer tempo bom durante a semana e chover, quase sempre, no sábado e domingo. E (por que não?) tecer esperança de uma primavera de dias ensolarados. Mas o tema que me comove é outro. Milhões em todo o mundo já viram o vídeo, outros milhões leram o texto. É assunto batido. Tudo bem, vá lá, mas numa época em que o mundo mergulha num oceano de crise sem saber a profundidade, nunca é demais tratar desses temas.
Trata-se de um texto/vídeo intitulado A Terra em Miniatura. Pode não ter lá o rigor científico – muitos dados têm mais de 10 anos –, mas nunca é demais. Mesmo que seja para lembrar que o planeta, muitas vezes, não é da cor que pintamos.
Mesmo que Iuri Gagarin tenha anunciado: "A Terra é azul".
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A Terra em Miniatura Se pudéssemos reduzir a população da Terra a uma pequena aldeia deexatamente 100 habitantes, mantendo as proporções existentes atualmente,seria algo assim: - 57 asiáticos- 21 europeus- 8 africanos- 4 americanos. - 52 mulheres- 48 homens- 70 não seriam brancos- 30 seriam brancos- 70 não cristãos- 30 cristãos- 89 heterossexuais- 11 homossexuais. - 6 pessoas possuiriam 59% de toda riqueza- 6 (sim, 6 de 6) seriam norte-americanos- Das 100 pessoas, 80 viveriam em condições sub-humanas. - 70 não saberiam ler, 50 sofreriam de desnutrição- 1 pessoa estaria a ponto de morrer e 1 bebê estaria prestes a nascer- Só 1 teria educação universitária- Apenas 1 pessoa teria computador- 40 pessoas não teriam acesso a água tratada. Restaria saber quantos são:
- os sem esperança
- os arrogantes
- os desprezados
- os sem escrúpulo
- os bons e os maus
- os sem destino.
Os.... Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Caetano Veloso"

Jornalista Célio Martins – Jornal a Gazeta do Povo – Londrina-PR

Aos leitores do papodaesquina um texto que considero de qualidade irretocável.

17 de set. de 2008

As possibilidades perdidas

Tomei conhecimento de alguns versos de um poeta mineiro chamado Emilio Moura. Era amigo de outro grande poeta, Carlos Drumond de Andrade. Se vivo fosse, teria completado 100 anos no mês de agosto próximo passado. Um desses versos, em especial, me chamou a atenção: "Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive". Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se realizaram. Por que sofremos tanto quando perdemos um ente querido?
Já que a morte é uma coisa inevitável e previsível da vida, o certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos convivido com uma pessoa, tão bacana, que nos proporcionou momentos agradáveis e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversarcom um amigo, para nadar, para estar com a pessoa amada. Sofremos não porque nossos pais são impacientes conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a eles nossas mais profundas angústias se eles estivesseminteressados em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos aexperimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: iludindo-se menos e vivendo mais.

6 de set. de 2008

Domingo

Mais um domingo. O primeiro domingo de setembro de 2008. Dia de sol, de almoço com a família, de shopping lotado. Na TV o anuncio de mais um futebol de uma seleção que não nos empolga mais. Dia em que também não passa nada que preste na mesma TV. E quem não tem TV por assinatura fica sem alternativa. Mas ainda bem que existem as locadoras: comédia, romance, drama, terror, documentário, temporadas de séries... às vezes, nada que combine com o domingo. Um livro pode ser a melhor saída, ou até a primeira escolha. Mas domingo também é dia de não fazer nada disso. Resolver ficar em casa no aconchego da família. Lá fora apenas o barulho dos carros e o vento a balançar a copa das arvores. Questão de opção, nada mais. Lembrei que pode ser dia de adiantar as coisas do dia-a-dia. Trabalhos, relatórios, releases, pesquisas... Ah! A internet voltou a funcionar. Vou dar uma expiada no papodaesquina. Domingo também é dia de navegar na rede mundial. Ainda bem que ela existe! Por outro lado, enche o saco. E como! Sempre achei e continuo achando o domingo um dia melancólico. Não tem jeito. Muitas pessoas já tentaram mudar essa minha impressão. Não teve jeito. Domingo é Dia das Mães, domingo é Dia dos Pais, domingo é Páscoa. Domingo é domingo e acabou. Mas feriado cair no domingo... ninguém merece! Domingo é dia de se reunir com os pais, do lanche com os amigos, de dormir até mais tarde, de sair da dieta. Domingo também é dia de ir ao Shopping. Não para uns conhecidos, que vão ao shopping todos os dias, só não no domingo. Estranho. Para os religiosos, ou não, domingo é dia de missa, dia de culto. Seja qual for a religião. Nas minhas retinas cansadas guardo a imagem das centenárias ruas da Laguna com as famílias caminhando em direção à Matriz. Cenas de domingo. Tenho certeza que todo mundo tem alguma registrada. Mas se isso tudo não basta, ou não agrada, acho que é melhor nem acordar no domingo. Domingo também é dia de dormir. É o que eu vou fazer agora.

20 de ago. de 2008

Navegando

Não faz muito tempo que desse fato nada se ouvia falar. Em qualquer momento o assunto, agora, é corriqueiro. É Internet pra cá, Internet pra lá ! Num país com índices significativos de analfabetos o assunto predileto é a inclusão digital. Cria-se um mito por trás de uma novidade. Blogs, sites de relacionamentos, MSN, skape, IM, uma infinidade de invenções comunicativas. Tempos atrás ao falar com um atendente de um call center qualquer se ouvia a pergunta: Qual é seu telefone de contato? Hoje se pede o e-mail.... Sem ter noção que a maioria das pessoas sequer sabe o que é e-mail. Dia desses, observei uma cena intrigante numa agência bancária. Ao ajudar a preencher um formulário, a atendente esbarrou na pergunta do cliente: O que é e-mail? Aqui pede um “e-mail”, disse ele. A funcionaria explicou que era um tipo de carta eletrônica e ali deveria ser inserido o endereço dele. Notei que o homem ficou, um tanto, desconcertado. Mas ela não lhe perguntou se ele tinha entendido. Só quem nunca teve acesso, desconhece. Só mesmo vendo pra crer. É um mundo inexplicável para alguém que tenha conhecido as máquinas de escrever Remington e Olivetti. Entretanto é um mundo extasiante. Imagens e sons surgem a vista, num piscar de olhos. Países, cidades, vilas, pessoas e variedades inigualáveis. Viaja-se e desvenda-se um mundo desconhecido. Mas a despeito de toda essa parafernália virtual tecnológica a fustigar nossa inteligência, nada há de se comparar à visão real da diversidade de cores, cheiros e sons que a mãe natureza põe ao alcance de nossos sentidos.Nada se compara ao cheiro de terra molhada pela chuva, numa tarde de outono; ouvindo a conversa alegre de pessoas e a algazarra de crianças entoando a antiga cantiga de roda, que faz lembrar nossa velha infância

15 de ago. de 2008

Zé da Silva

Domingo de sol, céu banhado num azul de dar inveja a brigadeiro. Na praça principal da cidade, atônitos, ouviamos Zé da Silva, morador das marquises da cidade. Com a veia do pescoço estufada, nas pontas dos pés e o dedo em riste gritava para a platéia numa espécie de discurso-profecia, ele dizia, com a simplicidade de suas palavras, mais ou menos assim: “ O Brasil está passando por muita mudança no seu jeito político. E a nossa cidade, também. Algema não é mais só pra ladrãozinho pobre, não! Lá pra cima tão prendendo e algemando os bacanas corruptos. Pena que eles logo são solto por um bacana, importante, também. Mas tão prendendo! Mesmo que não acredita, os derrotista, um novo jeitão está presente. Aquela velha politiquinha de dar com uma mão e pegar com a outra está se acabando. O povo dessa cidade conheceu outro tempero na eleição passada, o tempero da consciência. Aqui nessa cidade a última eleição mostrou resultado diferente do que era esperado por muita gente que já tão aí na política a muito tempo. Não era sem tempo. Aí é que eu digo - essas eleições municipais pode trazer muitas surpresas! Nem será tanta surpresa se nossa cidade escolher o candidato sem aqueles vícios antigos, de preferência um candidato que não venha escolhido antes da gente escolher. Olha, estamos caminhando prá isso. As famílias daqui já perceberam que ficar esperando favor, com o pires na mão, é pura ilusão. Por isso é que os mais novos já estão escolhendo candidatos com jeito de fazer política, diferente; por isso é que os mais velhos já estão mudando de posição, saindo do conformismo e concordando com as idéias boas. Mas logo vão aparecer os compradores de votos, aqueles que de uma hora prá outra passa a cumprimentar todo mundo, prometer emprego, promover churrasco.etc. e tal - Eu troco teu voto por uma carrinho cheio de compras, um punhado de tijolos ou de telhas! Aquela mania politiqueira cansativa e sem imaginação." -E nesse momento Zé da Silva é interrompido por policiais que querem retirá-lo, de qualquer maneira, do local. Mas com a intermediação de alguns ouvintes e aos gritos de Fica ! Fica! Fica! do povo, ele permaneceu ali no seu discurso. "Por isso, continuou o Zé, é que eu digo que nossa cidade vai escolher de um jeito diferente; nada de cartas marcadas, o jogo tem que ser limpo. Mas a gente precisa ficar ligado. Se a gente ficar acreditando naqueles candidatos com promessa de mudança facil, só vai sobrar pra nós ficar vendo os urubus se fartando na carniça.” Foi quando alguém gritou do meio do povo: - Solta o verbo Zé da Silva! Então Zé terminou sua fala, gritando e batendo no próprio peito: - Eu sou madeira de dá em doido. Eu sou o Zé da Silva!

29 de jul. de 2008

Um time chamado Avenida

Eramos jovens entusiastas e jogávamos futebol quase todos os dias. Os campeonatos de finais de semana, no campinho (praça Polidoro Santiago) nos incentivava a prática das famosas peladas, disputadas nas tardes ensolaradas da Laguna. Foi assim que aconteceu a fundação do Avenida. Time de futebol, pra lá de amador, da garotada da rua Getulio Vargas do nosso Magalhães. Eu , Marcio, Édio, Zelão, Edu, Gilmar e mais outros tantos vizinhos arrebanhados para formar a equipe. Foram muitos os adversários que enfrentamos descalços e sem camisas. Até que um belo dia, alguém, não me lembro quem, apareceu com um jogo de camisas emprestadas. Foi uma festa. Toda branca, com faixas azuis na frente e números pretos nas costas. E o Avenida, muito incentivado, continuava sua saga futebolística com atuações irregulares e inusitadas; perdia quando achava que ia vencer e vice-versa. Mas não demorou muito para o inesperado acontecer. O Tupizinho, time infanto juvenil do Tupi, uma equipe conceituada, com grandes atuações em campeonatos da cidade, do bairro Campo de Fora, convidou-nos para uma partida. Confesso que relutei, em aceitar, pois não tínhamos currículo e nem estrutura para tal desafio. Mas fui voto vencido. E lá fomos nós, numa tarde de sábado, a pé, com o saco de camisas nas costas. O nordeste soprava tão forte, que na paixão, ao darmos um passo a frente ele parecia nos arrastar dois pra trás. O campo do Barriga Verde, ficava onde atualmente é o Ginásio de Esportes, próximo ao nosso terminal Rodoviário. Ao chegarmos jogamos as camisas ao lado da trave e sentamos para descansar da caminhada. O Tupizinho já estava lá, com aquele ar de superioridade. Nunca tinhamos visto tamanha organização. Eles tinham técnico. Era o Afonsinho! A beira do gramado faziam alongamento enquanto o técnico se preparava para dar instruções.Uma frescura geral. Um detalhe importante: o árbitro da partida eles trouxeram, a tiracolo. Nós, do Avenida, apreciávamos aquilo tudo de longe. Até que, em dado momento, iniciamos o jogo. Começamos jogando a favor do vento, é claro. E logo nos quinze minutos iniciais inauguramos o placar- 1 a 0. O Avenida usava uma tática de jogo que somente muito mais tarde os grandes times europeus viriam utilizar. Ninguém guardava posição e todos atacavam e defendiam. Coisa de louco! Dez minutos para terminar o primeiro tempo fizemos o segundo gol e eles descontaram em seguida. Fomos para o segundo tempo vencendo de 2 a 1. Eles não se mostravam muito preocupados com a desvantagem no placar. Afinal, tratava-se de um time experiente com muitas horas de futebol. E agora jogariam a favor do vento, iriam contar com o cansaço e a maneira desorganizada de jogar, do Avenida. Mas a reação do Tupizinho demorou a chegar e aos quinze minutos para terminar a partida, fizemos o terceiro gol. Ai, então o desacerto foi total; os craques do Tupizinho começaram a discutir; um xingava o outro e parecia que iriam a qualquer momento se agredirem; e o técnico, desesperado, não parava de gritar da beira do gramado. Tinha uns auxiliares. È, os enjoados, tinham até auxiliares técnico! Um deles era o Edson(da Telesc) que foi embora, antes do jogo acabar.
Terminou a partida e a confusão entre eles era generalizada. Nós todos sentados próximo a uma das traves assistíamos a saída desastrada do Tupizinho. Sumiram de uma só vez por entre os grandes pés de eucalipto, que existia no campo do Barriga Verde. Esbravejavam e atiravam, aquela camisa amarela, na cara um do outro.
Saudades do Avenida. Era um grande time peladeiro.